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quinta-feira 26 dezembro 2024
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Comilanças Históricas e Atuais – O Último Samurai e a ocidentalização do Japão

I – O último samurai
Os filmes namoram entre si; ficam noivos e geram filhos. Esses filhos, mesmo tentando criar uma grande obra cinematográfica, algumas vezes, por reflexos da lua em alto mar, ou pela luz do sol criando o mel das abelhas, narram histórias semelhantes, trabalham o mesmo tema, correm atrás da mesma mensagem.

Participando deste meu pensamento, quando assistimos ao premiado “Dança com Lobos”, entramos no coração dos homens que vem de longe e, antes que chova, se apaixonam pela cultura de um povo que a construiu ao longo dos séculos, sem pensar em universidades; no caso focado por nós, nesse momento, trata-se da cultura indígena. O filme Pocahontas, da Disney, rasteja-se no mesmo assunto, o filme Avatar amarra a mesma linha. Na literatura brasileira temos o livro “Caramuru” e “Uraguai”.

O filme o “o Ultimo Samurai” evidencia um assunto que frequenta a história de dezenas de filmes que, no contexto, abordam a cultura moderna, estranha, em relação à cultura de um povo primitivo, como já mencionamos.

Olhando para o filme em questão, há um afastamento do olhar Hollywoodiano que fita, constantemente, o herói americano superior e grandioso em relação ao mundo cultural abordado. Em “O Último Samurai” o herói é um homem preso em si mesmo, tentando visualizar novos horizontes, nesse aspecto, mesmo interligado a tanto outros, provoca uma inovação, uma nova visão.

II – Os segredos do Japão
Os kami Izanagi e Izanami se apaixonaram olhando as flores das cerejeiras. O beijo que volteou a alma dos amantes, nasceram os três maiores Kami do universo: Amarerasu, deus do sol e senhor dos céus; Tesukuyomi, deus da escuridão e da lua. O Izanami, aquele que convida e Izanagi, aquele que é convidado eram deuses – Céu e Terra. Eles criaram Qyashima, as oito ilhas do arquipélago japonês.

III – Japão e o mundo
A Europa revolucionava as artes no século 19, penetrando no interior imaginado pelos sonhos da sociedade. O Japão, no outro respiro do mundo, permanecia na calmaria do isolamento. Em uma nascente de sol, do ano de 1853, o comandante naval americano Mattew Terry, com o sangue correndo além do consciente, atracou no porto de Tóquio com uma frota de navios modernos, lindos, embandeirados e atrevidos.

O Japão não encontrou saída na terra, no céu, nas águas do mar; teve que se abrir ao mundo exterior. De imediato, assinaram um tratado com os E.U.A., no ano de 1854 permitindo que os navios de Tio Sam atracassem nos portos japoneses.

O povo do Japão não entendia os acontecimentos que se desenrolavam nas gargantas do mundo. Esse sentimento estranho dividiu o Japão ao meio. Nas suas ruas e campos, havia aqueles trabalhadores que se apaixonaram pela modernização; nas estradas mais longas, o povo recusava a modernidade, preferindo o tradicionalismo, o ruralismo, um Japão sem alterações.

Os resultados, como sempre acontece, foi o confronto, a Guerra Boshin, ou Revolução Japonesa.
No lado do progresso, estava o Imperador Meiji; apoiado por nações com interesses em ocidentalizar o Japão e o país gerasse novas possibilidades comerciais.

Do lado do muro contrário habitava o xogunato Tokugawa, tentando manter um governo que vinha da Idade Média. O líder era chamado de Xogum. O objetivo dessa guerra civil era que o famoso Xogum entregasse o poder ao Imperador.

IV – O último Samurai”
O filme foi produzido no ano de 2003. O diretor, Edward Zweck sempre sonhou com uma realização de uma história brotada no Japão oriental, em processo de transição cultural. O roteiro foi escrito pelo próprio Zwick, com o auxílio de John Logan. O soldado Nathan Algren ficou na responsabilidade do astro Ton Cruise, considerada uma de suas melhores atuações. Ken Watanabe vive o líder Katsumoto, indicado ao Oscar.

A trama foi inspirada na “Rebelião Satsuma” comandada por Saigô Takamori em 1877 e na ocidentalização do Japão por potências coloniais, embora seja atribuída em grande parte aos Estados Unidos.

Após o retorno do Imperador ao poder central do Japão, o governo passou a contratar generais e engenheiros ocidentais para treinar e equipar o exército do império contra os samurais (chamada também de Meije).

A palavra samurai, em japonês, significa “aquele que serve”, que tem lealdade, empenho, um guerreiro que possui um código de honra até a morte e, principalmente, muita habilidade com a espada, Katana.

V – O enredo
Um soldado americano, Nathan Algren, veterano das guerras indígenas e civil, considerado um herói americano, é convocado, juntamente com o Coronel Bagley, para participarem do treinamento do recém-criado Exército Imperial Japonês, para poder enfrentar a revolta dos samurais, donos da tradição cultural do país.

Algren é um herói perdido dentro de si mesmo. Nas suas noites, nas suas lembranças dos combates, da violência, dos conflitos traumatizantes, das mortes trágicas espalhando sangue sobre a terra, transformaram-no em um alcoólatra andando pelo mundo sem início e sem fim.

Algren, no Japão, inicia o seu trabalho de treinamento do Exército Meije. Os soldados japoneses não conhecem o domínio do armamento moderno. Os tiros afastam-se dos alvos percorrendo distâncias invisíveis. O combate corpo a corpo não obedece às técnicas de um exército, os homens são despreparados para enfrentar qualquer combate.

Os soldados do Exército Imperial não estão preparados para um conflito armado, mas mesmo nestas condições, seu comandante e inimigo Bagley, insiste em enviá-los para a batalha.
A luta acontece em uma floresta; os soldados confundem-se com os troncos de árvores; a câmara registra o fogo, as sombras, os tiros, a morte.

Algrem luta até as suas últimas forças, as suas ações perseguem a sua e a morte dos inimigos. O seu olhar de combatente percebe o momento que é rendido, cercado pelos samurais inimigos. O líder dos samurais, o samurai Katsumoto, impressionado com a sua experiência em combate, poupa-lhe a vida. Ele se aproxima, observa, e a sua expressão ultrapassa aquele instante; derruba uma barreira erguida pela incompreensão humana. A sua ordem, que partiu do seu interior, resolve levar Algren como prisioneiro.

VI – Os americanos e os samurais
Os dias nascem na comunidade. Homens e mulheres andam pela mesma estrada social. A cultura parece um barco correndo pelos rios, costurando os conhecimentos brotados na Idade Média e formando canteiros ao redor da vida.

A voz de Katsumoto, líder samurai, soa como a voz dos antigos filósofos que sentiam o cheiro da vida. Algren, a cada tempo passado, aumenta a sua paixão pela cultura, pelos valores dos guerreiros, pelo amor que se realiza no olhar de ternura, paixão, respeito. A cabeça do soldado começa a formar escudo contra as forças imperiais, a ocidentalização de um país que, nas noites estreladas, tem sonho para sonhar. O filme, em seu todo, penetra nos terrores do modernismo internacional, o medo do armamento de última geração; a comércio louco e gelado destruindo a natureza, a cultura, a forma simples de amar.

O líder Katsumoto andando ao lado do americano; ele é sensibilidade levada pela inteligência, amparada na bravura, lugar onde nasce a confiança cantada pelo instinto. A filmagem em contraluz revela o céu avermelhado que marca fundo a silhueta dos personagens, da natureza, das águas do rio, da linha do horizonte.

VII – Os samurais e a modernidade
O filme não tem compromisso em detalhar o trabalho de Cruise, nem elevar o líder dos samurais ao status de mito. A grande preocupação que desfila na tela é o combate entre duas culturas distintas dividindo o país. O soldado americano se encontra na vida cultural dos samurais. O segundo combate não está centralizado na ideia de um exército vencedor, mas o que virá depois da morte, do último suspiro de uma cultura e o canto da vitória da ocidentalidade do Japão, a industrialização, a produção em massa, a educação procurando o seu reflexo em outro planeta.

Na segunda batalha, os samurais são esmagados, destruídos. Katsumoto morre segurando a mão do soldado Algren e, morrendo, entrega-lhe a sua espada. É o fim da era das espadas e o início da industrialização moderna.

A cena final, quando Algren entrega a espada de Katsumoto, ao Imperador do Japão, não está entregando-lhe a espada do último samurai, mas o encerramento de uma época, de uma cultura, de um perfil de vida, de uma linha que dividirá a tradição e a chegada da modernidade.

A espada – adaptação de um conto japonês

Ele era jovem, gostava de sol,
De lua, e da vida que mora
Nas ruas.
Uma noite ele sonhou com
Um homem idoso.
Era o espírito da Katana.
Ele pediu ao jovem que
Limpasse a espada
Estava com uma gota de sangue
O idoso, espírito, defende a vida
Mas odeia o fim e a morte.

RECEITA
YAKIMESHI JAPONÊS

Ingredientes: 1 peito de frango temperado e cortado em cubinhos (pode ser substituído por presunto ou calabresa); fio de óleo; 1 cenoura ralada; 1 cebola; 1 dente de alho; gengibre a gosto; ervilha a gosto (de preferência, a congelada); 4 escumadeiras de arroz; 2 ovos batidos; 2 colheres (sopa) de shoyu; 1 colher (sopa) de óleo de gergelim.
Modo de preparo: Em uma panela funda, frite o frango temperado em 1 fio de óleo. Quando estiver quase pronto, adicione a cebola, o alho, o gengibre, a cenoura, a ervilha. E frite por mais aproximadamente 2 minutos. Faça um omelete e corte em quadradinhos. Adicione o arroz, o omelete, o óleo de gergelim, o shoyu e mexa bem.

Por Adriana Padoan