I – Direito do senhor
A humanidade tem o direito adquirido de sonhar. O homem comum, o operário, o milionário, o trabalhador do campo, a criança e o universo, também, no instante necessário, sonham com mundos existentes e inexistentes. O homem das cavernas sonhavam com raios, trovões, ruídos, ventos e agitações nas florestas, e encolhido nas paredes frias da montanha, entrava no mundo onírico, bebendo medo e criando deuses.
II – Os folhetins
No final do século XIX e início do século XX, as pessoas sentavam-se nas salas, buscavam um bom lugar em frente à lareira; abriam os jornais repletos de informações, nas páginas centrais, a localização dos chamados folhetins, a transcrição de um romance, novelas, ou conto, publicados diariamente, capítulo por capítulo, ao longo de semanas, meses, anos. As histórias, os personagens, o amor, a paixão, os conflitos, as lágrimas e os milhares e milhares de seguidores e seguidoras que, após o término da leitura, esperavam com muita ansiedade pela continuidade do enredo que, como uma profecia, seria publicado no dia seguinte.
III – Século XIX e XX
No final do século XIX e início do século XX, a arte resolveu transformar-se, vestir novas roupas, modernizar-se, buscar morada no interior do ser humano, nos mistérios que envolviam as verdades mais profundas da natureza, da vida, da sociedade, das crianças e dos adultos, das cores, da linguagem, dos gestos, do silêncio abafado pela repressão de uma época.
IV – O momento revelado
Nós não sabemos com exatidão, se chovia, se o frio abraçava a noite, ou se o céu estava estrelado. A verdade companheira do tempo passado, do presente e do futuro, revelou-nos que, no início do século XX, um estudioso Emile Reynaud criou um sistema de animação de desenhos que projetava as imagens em movimento em sua parede. Outro francês Emile Cohl conseguiu realizar uma animação que contava uma história, tendo início, meio e fim. O nome desse desenho era “Fantasmagone”, projetado no Theatre Gynnase, causando espanto, alegria, curiosidade e muita emoção. No entanto, um pouco antes de tudo isso, os irmãos Louis e Auguste Lumière projetaram um filme, num café em Paris, criando uma nova maneira de ver e sentir o mundo, chamada de cinema.
Nesse instante, acompanhando o desenvolvimento do texto, gostaríamos de chamar a atenção dos nossos leitores para a importância dessa transição entre o século XIX e XX onde, na esquina da arte, houve um cruzamento do folhetim, publicado em jornal, do livro, da criação do cinema, de desenho animado, do impressionismo, do expressionismo, das teorias de Freud, de Piaget, e tantos outros que abalaram a época e o universo.
V – Pinóquio – um oferecimento que vem do fundo do meu coração
Na cidade de Florença, na Itália, vivia um jornalista, escritor, que usava o pseudônimo de Carlo Collodi. A sua vida não era muito fácil. Ele adorava o jogo de cartas e, como jogador, ganhava e perdia, de acordo com o andamento de sua sorte. No ano de 1881, Carlo resolveu escrever uma história destinada ao público adulto, juvenil e infantil, que, em sua concepção, seria publicado em folhetins, no Jornal Infantil de Florença. Sendo um homem que vivia o momento de transição do século XIX para o século XX, sentia a efervescência cultural e o contexto de sua existência dentro desse caldeirão de novas ideias.
No cair da noite, sentava-se em seu pequeno escritório e, da profundidade de seu coração, deu vida a um boneco de pau chamado Pinóquio, personagem que lhe ofereceu a oportunidade de adentrar aos mistérios da criação, dos conflitos infantis, da ausência da figura da mãe, do complexo de Édipo, a presença do pai criador, a verdade, a mentira, o desejo, o encantamento e o desencanto, a estrutura social, a tortura econômica, a pedagogia, a didática, a repressão e a luta para transformar-se num simples ser humano. A história de Pinóquio conquistou os leitores do jornal. Em, 1883, foi publicado em livro e, como um meteoro, conquistou o mundo. O cinema, a nova arte de século, disputou a possibilidade de transportar o personagem Pinóquio do jornal, do livro, para o universo do cinema, do desenho animado. Houve várias leituras, inúmeros questionamentos, várias camadas interpretativas. Para o nosso artigo, escolhemos a versão, a leitura feita por Walt Disney, de 1940, filme que conseguiu colocar o personagem na alma do público, torna-lo popular, e banha-lo com encanto, poesia, sensibilidade, emoção, encantamento artístico.
VI – O filme Pinóquio – O livro de Collodi, na leitura de Walt Disney
Era uma vez um homem comum, simples como todos os seres viventes que, num determinado momento de sua vida, descobriu um jeito de trabalhar com as imagens, desenhadas, dando-lhes vida através do movimento. Na lagoa das cem cores, onde moram as evoluções do saber, da arte, da técnica, alguém registrou nas águas mais uma invenção, a descoberta do desenho animado.
VII – O Pinóquio dentro de escritor Colloti
Era mais uma vez, um escritor que criou a história de um boneco de pau. Essa narrativa carregava em si lições de moral e imoralidade do final do século XIX, esses ensinamentos se projetam por meio de uma fusão do humor negro com a ironia; encontros com personagens feios e maus como a Raposa Manca, o Gato Cego, o Papagaio Depenado, a Serpente que solta fogo, todos harmonizados dentro do contraste fantasia, sombra, castigos, violência.
O boneco imaginado por Collodi foi criado a partir de um pedaço de madeira mágica, um pedaço de pau que falava, ria, era revoltado, inadaptado. Ele nasce, ri do pai, rouba-lhe a peruca, chuta o nariz do pai, foge provocando a prisão do seu genitor.
O livro de Collodi possibilita várias leituras, pode apoiar-se nos conceitos Freudianos, na psicologia de Piaget, nos conceitos filosóficos, culturais e pedagógicos, do final do século XIX.
VIII – Pinóquio dentro de Walt Disney
Era uma vez o recomeço de uma nova visão. A leitura e adaptação da obra de Collodi pela Disney datada de 1940. O cineasta do desenho infantil parte da obra do escritor italiano, transformando-a numa obra prima do desenho de animação. Ele retrabalha a linguagem, a imagem, as atitudes do personagem, dando-lhe um banho de beleza, arte, renovação técnica, sensibilidade.
IX – A roupagem nova
Andando de um lado para o outro, no estúdio, Disney examina os detalhes produzidos pela equipe. Sua preocupação é transformar a história, todas as críticas políticas, sociais, econômicas, morais, educacionais propostas pelo autor do livro, em uma história humana, maravilhosa, usando efeitos modernos de animação, música, cores, os personagens pintados com traços de humanidade. Disney conseguiu realizar um longa metragem animado que recebeu 2 Oscars, e a consagração pública. Embora, em termos de bilheteria não conseguisse ultrapassar os lucros anteriores. A 2ª Guerra Mundial e um louco chamado Adolf Hitler, outro boneco de madeira, mais imbecil do que qualquer pedaço de pau, desviou o povo das bilheterias de cinema, causando uma luta entre Eros e Tanatus que, sem dúvida sufocou o mundo real.
X – O filme de infinitas vezes
Era uma vez, pelas tantas outras vezes, que um grilinho, com traços humanos, cantando uma canção dentro da fabulação, tendo a firme decisão de narrar a história de um desejo de conseguir ver alguma coisa transformar-se em realidade.
XI – Desejo
Parece ser um processo em movimentação, em busca de uma satisfação em obter algo, mesmo que seja impossível. O grilinho está na oficina de carpintaria de um homem idoso chamado Gepeto. O grilo assiste ao momento que o bom carpinteiro terminara o seu mais fantástico trabalho ao construir um boneco de um menino, uma marionete sem cordas, a quem da o nome de Pinóquio. No filme de Disney, o personagem foi refeito várias vezes até aproximar-se de um modelo humano.
A noite está no céu. Gepeto, antes de se deitar, pede à Estrela Guia que transforme o seu boneco num menino de verdade. Na cena temos o desejo manifestado, a presença da estrela e a crença, e o ideal de felicidade.
XII – A visão
No transcorrer da noite, agitado pelo vai e vem dos relógios, o grilo sente a presença da claridade entrando pela janela. A luz meio singular, era a Fada Azul, que entra na oficina de Gepeto e dá vida ao boneco Pinóquio, embora permaneça na condição de boneco. A transformação de boneco em menino de verdade dependerá dos atos praticados pela marionete, a suas atitudes deverão demonstrar coragem, sinceridade e altruísmo, ele tornar-se–á um menino. O boneco deveria chegar ao ânimo diário, destemor, realizador, autentico, digno, franco, caridoso, e preocupar-se com o outro. Em síntese, integrar-se aos ideais da sociedade norte-americana. Para dar apoio e orientação ao boneco a fada nomeia o grilo falante como a sua consciência, que, segundo Freud, é a capacidade de perceber o mundo exterior em suas realidades e seus sentimentos.
XIII – A vida e a rapidez
Gepeto ao ver o seu boneco falando e mexendo-se percebe que o seu pedido fora atendido. No dia seguinte, seria seu primeiro dia de aula. Pinóquio conhece, no caminho da escola, dois personagens que fazem parte do mundo: a raposa chamada João Honesto e o Gato Gedeão, que o convence a juntar-se ao show de marionetes de Stronbole, tornar-se artista famoso, sem a chatice da escola. Pinóquio conhecera a mentira, a desonestidade e o discurso como forma de convencimento; é vendido como escravo, e obrigado a atuar, ser explorado, dar muito lucro a seu dono.
No teatro, para evitar a sua fuga é preso. Recebe a visita da Fada azul, tentando entender o porquê de Pinóquio não estar na escola. O boneco constrangido começa a mentir, buscar desculpas, mas o seu nariz cresce rapidamente como a suas inverdades. O boneco descobre a dualidade da vida, a mentira e a verdade. A Fada o ajuda, prometendo-lhe que não o ajudará novamente.
Do outro lado da cidade, João Honesto e Gedeão vendem Pinóquio a um cocheiro que recruta meninos para leva-los a Ilha dos Prazeres. Novamente Pinóquio é enganado por João Honesto, conhece o menino Espuleta, um delinquente, e parte para Ilha dos Prazeres.
XIV – Ilha dos Prazeres
Na ilha dos prazeres não existem regras, nem sociedade, nem escolas; não há sonhos, sabedoria, preocupação com o outro: Todos podem fumar, jogar, apostar, destruir, brigar, beber. O grilo falante não tem o que fazer, o desequilíbrio generalizou-se. À noite, sem estrelas, a maldição, o projeto, a proposta da ilha, começam a movimentar-se, os meninos vão, aos poucos, animalizando-se, tornando-se burros de carga.
Pinóquio percebendo o crescimento de suas orelhas, um rabo dos mais peludos, orientado pelo grilo falante, pulam no mar e fogem. Ao retornarem à sua casa, descobrem que Gepeto, usando um pequeno barco, entrara no mar e fora engolido pela Baleia Cachalote.
Pinóquio, desesperado, entra no mar ao lado do grilo falante, começando a viver um novo processo, a preocupação com o outro. Pinóquio e o grilo são engolidos pela baleia, encontram Gepeto, elaboram um processo usando fogo e fumaça, fazendo a baleia espirrar. Todos são atirados em uma praia deserta. Pinóquio salva Gepeto, o gato Fígaro, a peixinha Cléo e o grilo falante, mas Pinóquio morre, retornando a sua origem de boneco. A Fada Azul surge dentro do vento, ressuscita o boneco Pinóquio. Dá-lhe a condição evolucionista de transformar-se em menino de verdade. O Grilo recebe uma condecoração de ouro, sendo nomeado Consciência Oficial do menino.
XV – O filme, mais uma vez…
O filme da Disney apresenta vários caminhos interpretativos, demonstrando a moral necessária para o desenvolvimento social, tais como, a valorização do trabalho, a equação capitalista, a importância da educação, as virtudes da classe média, a luta entre o poder e a realização e, neste contexto, Disney faz um milagre ao apontar que o Pinóquio é bom, bonito, simpático, mas sem conhecimento, preparo, experiência na vida, mas dono de um desejo imenso, ser um menino de verdade, capaz de crescer, vencer na vida.
XVI – Meu presente aos leitores.
Havia uma jaqueira no Sítio do Pica-Pau Amarelo. Um dia, desses bem vagarosos, o correio deixou um pacote nos pés da grandiosa árvore. As crianças correram movidas pela curiosidade. Apanharam o pacote, rasgaram-no, era o livro Pinóquio do escritor Carlo Collodi. Dona Benta apossou-se do livro, assumindo a missão de lê-lo para as crianças, 3 capítulos por dia.
A boneca Emília, mergulhada em pensamentos, imaginou: “Se Pinóquio foi feito de um tronco de árvore vivente, deve ter uma árvore dessas aqui no sítio”. Sendo uma boneca feita de pano e marcela, incumbiu tia Nastácia, de esculpir um Pinóquio para o sítio. Nastácia, usando um canivete, um pedaço de pau esculpiu o Pinóquio taubateano: João – Faz – De – Conta. E, dessa forma, Lobato uniu o sítio ao mundo, projetando aqui em Taubaté, um irmão para o Pinóquio.
Receita
Bonoffee de banana
Ingredientes:
200g de biscoito maisena; 100g de manteiga sem sal; 500g de creme de leite fresco pasteurizado (nata); 2 colheres de sopa (rasas) de açúcar de confeiteiro; 1 lata de leite condensado; 5 bananas nanicas
Modo de Preparo :
Coloque a lata de leite condensado na panela de pressão e cubra com água. Acenda o fogo, deixe a água ferver e quando o chiado da pressão começar, conte 35 a 40 minutos. Em seguida, desligue o fogo e deixe a panela esfriar. Só então abra a panela e deixe agora a latinha esfriar. Quando estiver fria, abra a lata, retire o doce de leite e reserve.
No liquidificador, coloque os biscoitos maisena e triture-os bastante até formar uma farinha. Corte a manteiga em pedaços e junte à farinha dos biscoitos. Molde a massa com as pontas dos dedos até que a farinha incorpore toda a manteiga.
Pegue uma forma com fundo removível e forre o fundo com a massa. Leve-a ao forno para assar a 180 graus por aproximadamente 15 minutos ou até ficar com aparência dourada. Coloque todo o doce de leite sobre a massa e, em seguida, as rodelas de banana.
Bata o creme de leite com o açúcar até formar picos (o creme deve formar pontas firmes, sem cair do fuê com facilidade). Com o auxílio de uma espátula, espalhe o creme sobre as bananas.
Leve a torta para a geladeira. Sirva bem gelada. Pode também polvilhar chocolate em pó sobre a torta.
Por Adriana Padoan