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quinta-feira 9 janeiro 2025
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Comilanças Históricas e Atuais – O rei e eu e sua transformação

I – Tempos de guerra
Ainda havia a Grande Guerra na Europa. As bombas explodiam o chão e as almas, tanques de guerra abriam caminhos imaginários, a cidade de Hiroshima procurava-se entre os escombros, os mortos, os desesperados, os assustados. Um menino, que até hoje não conseguiram identificar escreveu em uma parede “Apocalipse”!

II – A força das estruturas narrativas
Em 1944, época febril em decorrência dos conflitos humanos, a escritora Margaret Landon, publicou o livro: “Anna and the of Siam”, baseado nos diários da educadora inglesa Anna Leonowens; um registro de sua viagem ao Sião, hoje Tailândia e suas experiências educacionais, no palácio do rei, um mito criado pelas nuvens que profetizavam os descontroles da vida e do poder. O sistema político estabelecia um projeto que elevava economicamente uma minoria; porém, a grande massa popular do país convivia com um estado e o Estado inchados pelo acumulo de ignorância devidamente planejada.

III – Um dia depois do outro
O diário da professora Anna Leonowens, companheiro dos movimentos dos dias e das noites místicas, impactou o grande público, o leitor necessitado do esclarecimento e verdades de outros universos. As editoras compuseram e remodelaram as capas das novas edições; os professores, nas salas de aula, apresentaram os gritos que partiram de bocas esfomeadas e costuradas com barbantes. O teatro varreu o palco com vassouras feitas de magias, tragédias, comédias; loucura das cascas retorcidas de uma laranja.

O cinema tirou o pó das câmeras, engraxou-as com o óleo extraído do estado subcutâneo da modernidade. Abraçaram-se ao livro, despertaram suas paixões encolhidas, submergiram-nas para o além de cérebro, um mundo desconhecido e, por isso, afastado dos costumes ocidentais.

IV – A gravidez e as projeções
Na entrada das portas, que se abrem para a manifestação do processo de criação, as linhas escritas nas páginas do livro da professora Anna pularam para os palcos dos teatros e reproduziram-se nas cabeças dos roteiristas do cinema.

Assim, no final da década de cinquenta, momento de reorganização da vida surgiram dois trabalhos que, cada qual a seu jeito, indicaram a riqueza das possibilidades de recriação de histórias que podiam brotar do famoso diário. Em primeiro plano apareceu o filme “Anna e o Rei do Sião”, de John Cromwell, um drama escrito, produzido e filmado em 1946. Neste mesmo ano os instrumentos musicais deram vida ao espetáculo “O Rei e eu”, baseado numa peça da Broadway, ganhando as telas cinematográficas do universo, ou seja, narrativa, música, canto, dança, pipoca e balas de cerejas.

V – Novas vertentes do reinado do Sião
Em 1999, as mãos de Richard Rich, seguiram as mudanças das estações da arte, produzindo o filme de animação “O Rei e Eu”. No canto de uma sala, ao lado de um piano solitário, Andy Tennant escreve e filma o drama “Anna e o Rei”. O lendário reino da Tailândia alimentou por muito tempo a produção de peças de teatro, musicais e dramas que atravessaram as linhas da intertextualidade literárias.

VI – O reino encantado de Walter Lang
Em 1956, o diário da professora e o romance de Margaret Landon, tocaram o coração do cineasta Walter Lang. O centro de suas emoções e a sua leitura do romance, distribuíram sensibilidades nessa vastidão de terra que habitamos.

O cineasta contratou o roteirista Ernest Lehman para produzir e colocar no papel a sua visão sobre o reinado de Sião. Contratou o artista Yul Brynner, de origem russa, para interpretar o rei Mongkut de Sião. O fato mais relevante dessa contratação é que Brynner interpretava a mesma personagem num musical da Broadway, de grande sucesso. O ator aceitou participar do filme, fazendo uma combinação de horários entre o teatro e o cinema. Para viver Anna nas telas, Lang escalou a atriz Debora Kerr, dona de uma voz linda e suave e, participando da vida e do tempo, trabalhara em grandes filmes nesta fase de Hollywood.

VII – O Rei e Eu de Walter Lang
Anna parte da Inglaterra Vitoriana, após perder o marido num acidente e juntamente com o seu filho Louis Leonowens, menino inteligente e observador, parte para um país chamado Sião, governado pelo bárbaro rei Mongkut. Ela fora contratada para ensinar inglês e cultura ocidental aos filhos do rei, uma turminha de 70 alunos.

A sua chagada no país revela a existência de um povo sofredor, trabalhando em transportes sobre elefantes, transportando pessoas de bicicleta, comércio de rua desordenado, congestionamento no porto, gritos, correrias, carros velhos circulando por ruas sujas e estreitas.

Ao chegar ao Palácio Real, resplandecendo em ouro, prata, pedras preciosas, cortinas caríssimas; Anna percebeu que todos obedecem cegamente ao rei, são súditos bem vestidos, mas de cabeças baixas e submissos. O mundo da corte não representava a realidade do país. Todas as atitudes faziam parte de um jogo de manipulação de um poder real que impõe, ao povo faminto, uma visão de mundo particularizada e grandiosa de sua majestade. Para esse mundo ter o direito de existir a injustiça necessita caminhar pelas ruas, campos, praças, lagos, e na relação imposta a um povo sem voz, sem esperança, sem a certeza do que ocorrerá no amanhã.

VIII – Primeiro confronto, um simples combate
A professora só pode se manifestar mediante autorização do rei. Os filhos são apresentados à mestra inglesa, no entanto, ao passar pelo pai real, todos colocam a cabeça sobre os seus pés.

Mesmo sem poder falar, ela se dirige ao rei para cobrar cláusulas contratuais que não estavam sendo cumpridas. Segundo o que fora combinado, ela teria uma casa ao lado do palácio, promessa que não fora levada em conta. O rei, do alto do seu poder lhe diz: “O rei promete, mas pode esquecer, e, jamais deverá ser cobrado pelo seu esquecimento. Assim sendo a moça fica no palácio”.

É uma posição trágica, dura, triste. Nunca o poder mostrou a sua face como nesta cena. Tentando colocar o seu ponto de vista à majestade, ela pronuncia a expressão et cétera, termo que pode ser abreviado pela sigla etc, etc, etc,…Essa abreviação sempre significou “e outras coisas semelhantes”. A voz que pronunciou essa sinopse linguística vem do Império Romano, do mundo dos soldados e senadores. O rei do Sião gostou tanto da expressão que, comicamente a pronuncia centenas de vezes durante o filme.

A cabeça de Anna circulou o cosmo pedagógico, filosófico, psicológico, histórico, que lhe apontou um caminho: “É preciso desmontar esse mundo injusto, desleal, rude, vazio, etc, etc, etc…”.

O argumento do filme pisa um terreno polêmico, político, cultural, apontando o enorme vácuo existente entre os países orientais e ocidentais. Mesmo sendo ou tornando-se uma postura crítica, a história possibilita um papel, uma missão ao mundo ocidental, ou seja, exercer uma atitude civilizatória, etc, etc, etc…

Procurando disfarçar o aspecto de catequese, os dois personagens se conflitam, discutem, cantam, dançam e, o que está em jogo é a atitude arbitrária do rei e a resposta debochada de Anna.

Ela conquista os filhos do monarca, traz autoridades britânicas para politizar os pensamentos violentos do rei. Há uma cena no filme, um diálogo rápido onde o rei apresenta a sua visão sobre a mulher no seu reinado: “O rei é uma abelha, ele voa, rompe distância em busca das flores, a mulher representa as flores que, em sua beleza, servem à autoridade e ao prazer real, etc, etc, etc…”; essa visão machista subalterna da mulher começa a se quebrar, quando o coração bárbaro do rei treme ao sentir a presença de Anna, ao ouvir-lhe a voz, a perceber que existe mais uma estação no tempo de Sião, a presença do amor.

IX – A surpresa
O palácio, o silêncio, o poder assustado, a política de dominação apresentando um estado febril. O rei transformado está morrendo, o seu universo fora desfeito, os seus olhos buscam os olhos de Anna, o suspiro liberta a alma do grande rei, que morre murmurando: etc, etc,etc…

Seu filho e sucessor anuncia mudanças fundamentais, que guiarão a nova Tailândia; conceitos que vieram nas asas dos pensadores gregos, europeus ou de qualquer parte do mundo que sonha com a liberdade.

Cinema é cinema
A arte está em sua pele.
A exibição do filme foi
Proibida na Tailândia.
No entanto, a paixão e a beleza
Presentadas no filme serão eternas etc, etc, etc….

Receita
ARROZ FRITO TAILANDÊS

INGREDIENTES DO ARROZ FRITO ASIÁTICO PARA 2 PESSOAS:150g de arroz tipo jasmim ou o nosso arroz comum; 300ml de água para o arroz; 3 colheres de sopa de óleo; 2 ovos; Meia cebola roxa picada; 4 dentes de alho picado; 1 pimenta dedo de moça picada; 300g de camarão sem casca e limpo; Cebolinha a gosto; 1 abacaxi para servir de recipiente (opcional); 2 fatias de abacaxi picado; 6 colheres de sopa de molho de peixe; 4 colheres de sopa de molho de ostra ou shoyo; ½ colher de sopa de óleo de gergelim

MODO DE PREPARO:
1. Cozinhar o arroz com a água e uma 1 colher rasa de sal por 12 minutos, com fogo baixo. Reservar o arroz. 2. Em uma panela ante aderente bem aquecida, juntar uma parte do óleo e saltear o camarão rapidamente. Retirar da panela e reservar para que não perca a textura. 3. Juntar mais um pouco do óleo e refogar o alho e a cebola por alguns segundos. 4. Adicionar o ovo e mexer rapidamente para que ele fique no estilo de ovo mexido. 5. Adicionar os pedaços de abacaxi, o arroz, a pimenta picada, o molho de peixe e óleo de gergelim e misturar tudo muito bem. Adicionar os camarões já salteados ao final. 6. Tire todo o conteúdo do abacaxi e use a casca como prato. Você também pode finalizar o prato decorando com cebolinha picada e flores comestíveis.

Por Adriana Padoan