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quinta-feira 28 novembro 2024
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Comilanças Históricas e Atuais – O que seria de Paris sem a Torre Eiffel?

I – O fantástico
O cinema nasceu na França. Houve um namoro da fotografia e um alienígena que só aparecia depois da meia noite.

II – O plano
Os irmãos Lumiere prenderam o alienígena e fizeram o casamento entre os dois. A fotografia engravidou depois de 15 minutos de amor. Dois segundos depois aconteceu o nascimento do cinematográfico. O rosto era de fato o corpo de movimento.

III – Primeira apresentação
Os dois irmãos, usando o cinematógrafo, apresentaram a obra em 28/12/1895, na cidade de La Ciotat. Os filmes chamavam “L’Arrive d’um Train à La Ciotat” e “Empregados Deixando a Fábrica Lumiere”.

IV – A primeira apresentação
Os criadores usaram o cinematógrafo, a máquina de filmar, e um projetor. O filme foi projetado no Teatro Eden. Todos viram na parede um trem chegando à Estação de Ciotat. Papai Noel estava presente para ver a novidade, as renas diminuíram, estavam no bolso do bom velhinho. Muitos dos assistentes permaneceram estáticos; outros fizeram xixi, alguns fugiram desesperados pelas ruas. Papai Noel percebeu, com suas renas, que uma nova arte acabara de nascer.

V – O parto de um filme
A fotografa Alice Guy Branché sonhara que vira um girassol caminhando pela rua. Miélés sonhou com uma nuvem beijando um beija-flor. Os dois se uniram e introduziram a forma de narrar uma história usando o movimento proposto pelo cinematógrafo. Ela foi considerada a primeira roteirista do cinema: amor, paixão, brigas, retornos, aventuras. Miélés foi considerado o pai dos efeitos visuais.

VI – A conquista do cinema francês
Houve umas décadas que o cinema francês conquistou a França e o mundo. As salas cheias. A emoção batendo no coração do público aceleradamente. Beijos, declarações de amor, balas, pedidos de casamento. Amores grávidos. No segundo ou minuto escuro, surgiu a Primeira Guerra Mundial. As produções artísticas foram abaladas.

VII – O nascimento de Hollywood
Do outro lado do jardim, plantado de bombas, metralhas, corpos sem vida, os americanos produziram filmes de cowboys desbravando o Oeste, filmes de amor, filmes de guerra.

VIII – O cinema Francês
Em 1902, entrada de um tempo novo, Geórges Miélés, em 14 segundos, filmou “A Viagem a Lua”.
Coração cheio de futuro
Sonho de uma criança
Brincando de criança-futuro

E, 1960, Jean-Luc Godard filma os sentimentos de um jovem fora da lei, depois de matar um homem, foge em busca de uma sociedade que possa compreendê-lo. A mão do cinema francês delirou nas temáticas que marcariam o cinema como uma nova arte.

IX – Loucura, sonho, política abortando negócios e arte
Em 1889, no interior de um salão; políticos, empresários, negociantes, projetaram a Exposição Universal de 1889, em Paris, a partir de 06 de maio até 31 de outubro. Entre os projetos pensados, um deles destacou-se: abrir um concurso entre os arquitetos da França, para a realização de um monumento a ser colocado na entrada da Exposição. O arquiteto vencedor foi Gustave Eiffel.

X – Exposição de Paris
Gustave Eifell projetara: O viaduto Garabite, Ponte Dona Maria Pia, Portugal, Casa de Ferro, Viaduto de Sintra, ajudou na construção da Estátua da Liberdade, presente dos franceses aos americanos, pela liberdade da Inglaterra e a Declaração da Independência Americana. Pelo seu curriculum como arquiteto, venceu o concurso para projetar a monumento da Exposição.

XI -Realidade
Eiffel passou presenciando uma paixão entre o tempo e o mundo das ideias. Via os dias transparentes, as noites ocultas, as madrugadas carregadas de arrependimentos. As ideias iam e vinham. Até as pirâmides o visitaram. Nesse mundo de visitas e memórias, lembrou-se do amor louco que tivera com um jovem chamada Adrienne. Ele a beijava ardentemente em pensamentos, ouvia suas juras de amor, imaginava a cama, o mato, o tronco de uma árvore, a entrega, a penetração, as juras de amor eterno. Gustave nunca se masturbou tanto. Depois, sem nunca ter falado com Adrienne, casou-se com a deselegante Marguerite Gaudelete. A água ferveu sobre as chamas, um jogo de chá. Nesse exato desvario das estrelas, viu a estampa do projeto do Observatório Latting, de Nova York, que se estruturava sob uma enorme torre. Essa imagem levou Eifell a imaginar a construção de uma torre de ferro para a exposição, um projeto arquitetônico inspirou a criação do ícone parisiense.

Leitores até aqui os fatos são reais, a seguir, ao que se refere a construção da torre é real mas a história do reencontro amoroso é ficção.

XII – Sonho com cheiro de tempo
A Torre Eiffel começou a ser construída, em estilo Art Nouveau, até as lamúrias das peças eram de ferro.
Na noite de São Onofre, Gustave subiu até a parte erguida da torre e observou a cidade de Paris. A sua memória, um todo fragmentado, o levou a recordar as suas obras espalhadas pelo mundo. Em cada construção havia uma existência que rodeava todas as possibilidades dos acontecimentos que movimentaram, que agitaram o infinito possível.

Aberta a gola do paletó, passou as mãos pelas proximidades do coração, relembrando de sua paixão infantil. Viu a sombra da jovem Adrienne Bougés, o ardor encantado, incontrolável, arrebatador.
Um pássaro solitário voou rente aos olhos de Gustave, retirando-o do passado, do calendário apagado pelas horas. O arquiteto segurou nas mãos “do agora”, viu uma malha de aço embaralhada em si mesma. Pisou firme as margens do rio; caminhou em direção ao seu escritório.

XIII – A Torre
Os trabalhadores subiam e desciam. Milhares de parafusos encontravam o seu lugar determinado. Os guindastes a vapor trabalhavam sem se preocupar com os olhos dos curiosos. Num lapso dentro dos movimentos, um homem despencou nas águas do rio. As águas em correnteza, espertas, ágeis. Gustave pulou na boca do rio, nadou, segurou o operário e o arrastou para a margem, em segurança. No meio da multidão que assistia a cena, uma mulher elegantemente vestida, rica, casada, atentou para as ocorrências; essa mulher era Adrienne Bougés. Após a calmaria, a retomada dos trabalhos, ela desapareceu no amontoado de pessoas.

XIV – O jantar
Procurando oferecer mais segurança aos funcionários da Torre Eiffel, Gustave participou de um jantar na casa do empresário Burgés. O arquiteto fora pedir a compra de mais madeira, para fortalecer os andaimes. A família, todos nobres, estavam à mesa; havia também outros convidados; a filha do Comendador. Adrienne, estava ao lado do marido; e o reencontro aconteceu.

Depois desse reencontro, o filme abandona um pouco a construção da Torre, centrando o foco na redescoberta e revelação do passado dos personagens.

Houve outro jantar; festa de aniversário de Adrienne. Enquanto os dois dançavam a valsa, ela confessa-lhe que tinha assistido o resgate do operário das águas. Na festa de aniversário houve o jogo das cadeiras musicais. Os olhares, os sorrisos, a fuga para um canto da casa. Ela o beijou na bochecha.

Os minutos sempre passam em linha reta; ele a convidou para visitar seu escritório. Os dois saíram do escritório, caminhando nos passos da noite. De repente, sem avisos ou intenções, ela se atirou nas águas do rio. Ele pulou no desespero de salvá-la. Voltaram para o escritório. Ele acendeu o fogão, colocou um cobertor sobre ela, abraçaram-se, beijaram-se; a paixão cresceu e, como diziam os gregos, Eros, filho do fogo não deixa a memória morrer, nem os caminhos destruírem as andanças geográficas. Os encontros aconteceram sobre a lua que nunca se apagou; o vulto da Tour (torre) em construção acelerava os encontros amorosos, os risos, os gritos, os gemidos, desviaram os aspectos carrancudos das águas do grande rio.

XV – Eros retorna ao Monte Olimpo
Os pais de Adrienne descobrem o relacionamento. Eles dizem a Gustave que ela o estava enganando; era casada, e ele, embora engenheiro, não era bom o suficiente para ela. Adrienne sai correndo de casa, tentando pular o portão, nessa tentativa cai em uma da pontas do portão de ferro, sofrendo ferimentos abdominais. Ela estava grávida de Eiffel, mas o bebê não resiste. O marido Antoine de Restac, homem rico, influente na política, na economia, vem buscá-la no hospital. Ela segue com ele, para proteger o arquiteto Gustave. O marido, por vingança, poderia destruir o sonho de Eifell: o amor, a vida, o sacrifício e, nos fundos, a famosa Torre.

XVI – O nascimento de um ícone
Gustave sacode os seus sonhos, acelera a construção a Torre usando rebites no lugar dos parafusos. A Torre vestiu a sua roupa de três andares, respirou a época da industrialização. A sua função de abrir a Exposição de Paris em 1889 e comemorar o aniversário da Revolução Francesa, tornaram a missão incrustada em sua alma de ferro.

Os seus pés pesam sete mil e trezentas toneladas, as suas quatros bordas enganam o vento, as suas cores combinam marrom avermelhado, marrom mais claro e bronze. Mais de quatrocentos operários sonharam o mesmo movimento dos ferros subindo nas alturas. A sua estrutura tem 15 mil peças de ferro, todas conversam entre si; dois milhões e meio de parafusos e rebites ajustavam o seu corpo, sua altura ultrapassou os trezentos metros, quase que, mesmo sendo de ferro, ela brinca com as nuvens.

O seu peso total, qualquer balança mensura, são apenas dez toneladas. A Torre Eifell, mantem um segredo, contado somente aos anjos, ela possui 20 mil lâmpadas, para ajudar iluminar Paris.

XVII – A Torre em suas histórias
O seu estilo é Art Nouveau, um corte para estender o conceito de arte. Tudo começou e aconteceu assim: em 1895, o comerciante de arte e colecionador chamado Siegfried Bing, solicitou a arquitetos e designers a redecoração de sua galeria, a L ‘Art Nouveau, localizada em Paris, eles usaram materiais novos como ferro, vidro, cimento, aço e outros elementos jamais usados em obras de Arte. Esse emprego e renovação da forma de ver o mundo chamou Art Nouveau.

A Torre Eiffel recebeu o apelido de “Dama de Ferro”. Porém, mais de 50 artistas famosos e opositores, a chamaram de “Monstro”, ”Ridícula Torre”, “Chaminé de Fábrica”, o Vaticano afirmou “É uma humilhação diante da Catedral de Notre Dame”.

XVIII – Torre Eiffel – monumento de ideias
A Tour (Torre), mesmo criticada por muitos, abriu a Exposição Internacional de Paris de 1889, recebendo 35 países do mundo, inclusive o Brasil, que teve o seu salão de exposição na Rua Lafayette, 1889, o Brasil expôs pedras preciosas, o exotismo indígena, a Bandeira Imperial, o retrato do Imperador, fotos da abolição, convite à imigração, sistema de alambiques e serviu “frango ao molho pardo”.

E, 1901, a tarde brilhava sobre Paris. O brasileiro Santos Dumont, pilotando seu dirigível nº 6, voou de St. Claud até a Torre Eiffel. Ganhou um prêmio de 100 mil francos. Foi festejado como o herói da Dama de Ferro.
Em 1902, o alfaiate austríaco Franz Reichet, fez um paraquedas lindo, colorido. Subiu até o primeiro andar da Torre. Uma banda de música tocou o hino austríaco. O alfaiate-cientista, diante da multidão, pulou. Seu corpo veio caindo.

A morte já o aguardava.
Em 1925, o vigarista Victor Lusting, conversou durante duas horas, mas conseguiu vender a Torre como sucata a um ferro velho.

Em 1926, o piloto Leon Collete sobrevoou Paris com sua aeronave, cantou, fez poesia, deu com a mão ao povo; porém ao voar sobre a torre, enroscou-se em uma antena. Nesse dia, incomum, a morte voava em uma vassoura azul.
Hitler visitou a Torre Eiffel, não conseguiu esconder o seu medo. O Fuhrer subiu. Ao descer e colocar as botas no chão, passou os dedos trêmulos sobre o bigodinho desenhado por Chaplin. Dando a seguinte ordem ao general Dutrich von Choltitz: “exploda a Torre e Paris!” O general desobedeceu a ordem e saiu cantando: “Para que chorar o que passou, Lamentar perdidas ilusões.”

O filme “Eiffel” na tentativa de cruzar ficção com a realidade esqueceu-se de apresentar a grandiosidade dos acontecimentos que motivaram a construção da torre. O reencontro inexistente entre Gustave e Adrienne afastou a possibilidade de contar a história da Torre Eiffel e seu arquiteto, perdendo-se numa história amorosa, fictícia, que jamais ocorreu.

Receita
GALINHA AO MOLHO PARDO
Ingredientes: 1 galinha caipira; Sangue da galinha; ½ xícara de chá de vinagre de vinho tinto; ½ xícara de chá de óleo; 1 colher de sopa de maisena; 4 dentes de alho amassados; 1 cebola picada; Salsinha picada; Sal e pimenta-do-reino a gosto;1 folha de louro; ½ xícara de shoyu; uma pitada de vinagre de maça ou limão.

Modo de fazer: Ao colher o sangue da galinha, misture-o em metade do vinagre. Corte a galinha em pedaços e tempere com a pasta de alho e cebola, o restante do vinagre, sal, pimenta-do-reino e salsinha, a ½ xícara de shoyu, 1 pitada de vinagre de maça ou limão. Deixe descansar por pelo menos 1 hora. Numa panela, aqueça bem o óleo e refogue o alho amassado e a cebola picada. Acrescente um a um os pedaços da galinha e deixe dourar. Acrescente água, tampe a panela e deixe cozinhar. Quando a carne da galinha estiver macia, adicione o sangue e a maisena, mexa e deixe aquecer, sem ferver, por mais alguns minutos. Se o molho ficar muito grosso, acrescente um pouco de água quente. Sirva com arroz.

Por Adriana Padoan