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quinta-feira 14 novembro 2024
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Comilanças Históricas e Atuais – O Poderoso Chefão II – O poder do Corleones

I – A máfia
Havia uma árvore vermelha no alto da colina onde, segundo dizem, Nero chorou durante três dias, desidratado de saudades da mamãe. As frutas dessa árvore chamavam-se, no território da Sicília, mafiusu. A sua certidão de renascimento foi registrada como adjetivo, uma função atada ao substantivo, possuindo as suas raízes emudecidas na língua árabe, sons abortados na solidão do deserto. Os árabes olhavam além das estrelas apagadas com a morte e as nomeavam de mahyas, coisa que significa agressivo, arrogante, vaidade, orgulho, arrogância, bravura e, muitas outras sonoridades que moravam nas tripas de alguém. Dessa palavra árabe, depois de séculos de evolução linguística, nasceu a palavra máfia, engordada com todos os significados citados. Na extensão do vocábulo, umas letras uniram-se em organização criminosa, disputa, concordância entre atos lícitos e ilícitos, uso da violência até o último espinho da roseira.

A máfia italiana caminhou por estradas próprias e diferentes, espalhando o sabor da vingança nascida na terra para a terra, e, nos momentos de descuido, para o mundo, sempre agindo e influenciando a literatura, o teatro e o cinema.
A partir do século XVII, na Europa e, principalmente na Itália, os gramados secaram, os riachos mudaram o seu curso, as óperas abandonaram os palcos, e foram cantar no vácuo escuro onde a lua se esconde. A fome, os conflitos e a pobreza mandaram cinco milhões de italianos para o Estados Unidos, na condição de emigrantes. Foram em busca de trabalho e sobrevivência.

II – Mario Puzo
Escritor Norte-americano, um sonhador durante à noite, um criador durante os dias. As suas publicações iniciais, alguns contos começaram pelas revistas. Ao passar das horas, na ponta da caneta, escreveu “O último Natal”; “A guerra Suja”; “O Imigrante Feliz”.

O padeiro entregou o pão das manhãs indecisas; o leiteiro deixou o leite sob a janela e, caso dos mais comuns, o correio deixou uma carta passada por baixo da porta. O texto que engordava o envelope, apresentava uma proposta ao escritor Mario Puzo, uma oferta de 5 mil dólares para que escrevesse um romance sobre a máfia. Os dias, os meses que passaram na frente da janela do escritor traziam notícias, recortes de jornais, edições de livros antigos, pesquisas… pesquisas… pesquisas. No ano de 1969, depois do nascimento das samambaias, Mario Puzo publicou o romance “O Poderoso Chefão”, sucesso sem controle, sem amparo diante da emoção que invadiu a América.

III – No cinema
O cinema, como sempre corre nesses acontecimentos, apaixonou-se pelo Chefão Mafioso Don Vito Carleone, representado por Marlon Brando. A adaptação foi realizada por Frances Ford Coppola, numa série de três filmes.
A série, caso raríssimo, foi considerada, no universo do cinema, como a maior realização cinematográfica de todos os tempos, desde a primeira respiração do cinema.

O Poderoso Chefão tem o seu início com o casamento de Connie Corleone e termina com o tiroteio que elimina os inimigos de Michael Carleone. O sangue, a dor, e o poder.

O Poderoso Chefão II abre a telona com a primeira comunhão de Antony Vito Carleone, filho de Michael e Kay e termina com a morte de Freddo, irmão de Michael, uma das cenas mais fortes realizadas por um diretor.
Essa parte II, é o nosso objetivo nesse texto, principia com uma cena inovadora na história do cinema, o enterro do irmão Vito Corleone, na Sicília. Sua mãe e seu semblante, sua beleza e tristeza no olhar, os tiros interrompendo o enterro, o término do férotro.

Sua mãe, na frente do chefão Don Ciccio, na Sicília, segurando a mão do menino Vito. A morte da mãe, a fuga do menino Vito Carleone. As cenas da noite dos tempos de Império Romano; as ruas escondendo suas histórias e a fuga do menino, abandonado, para a América. Essas cenas, em seu conjunto, consagra a grandiosidade das possibilidades da arte de contar história, concebidas pelo aparecimento do cinema, como produto do belo.

IV – O Poderoso Chefão – parte II
O tempo passou pelas ruas, cassinos, bares, bordéis, zonas de prostituição, mulheres perdidas pelos claros ou escuros, procurando clientes dispersos em intimidades que jamais ultrapassaram as linhas dos lábios. Carros seguindo os desejos dos pneus para cortar na esquina escorregadia pela deficiência de seu corpo. Polícia, motos, velocidade, corpos tentando voar sobre a solidão do asfalto.

Há três anos atrás, a voz de Don Corleone, “O Poderoso Chefão”, presa dentro de um caixão desfilou por essas avenidas, em direção ao Cemitério João Batista. Centenas e centenas de carros, por respeito, acompanharam a despedida de um chefe da máfia local.

Os dois filmes, o primeiro e o segundo, conseguiram relacionar o conceito de família estabelecido pela máfia, a exposição, a violência e a vingança, do negócio e do poder, do sacro e do profano, ou seja, do dinheiro direcionado à fé e ao profano.

No O Poderoso Chefão II, Copolla conseguiu dirigir duas histórias concomitantemente, paralelas e elucidativas.
A primeira narrativa continua a mostrar o macrocosmo de propriedade do Poderoso Chefão. Apresenta um Michael amadurecido e rompendo os limites da negociata ilícita da família. A lei que rege a família e os negócios e a obstinação pela ampliação das atividades movidas pelo seu “ser” mafioso. Ao lado dessa fixação, o filme procura mostrar toda a infância, adolescência e a mocidade de Vito Andoline “Carleone”. Após a máfia matar sua família, o menino foge de sua cidade na Sicília, partindo ao encontro da América. O menino doente, o navio, o isolamento, o silêncio aproximando-se da esperança ao ver a Estátua da Liberdade.

O homem adulto, casado, com filhos, anda pelas vias da cidade procurando ganhar a vida, da forma que a respiração apontar. Na localidade havia um mafioso chamado Don Fanucci que, no seu conceito de crime, exigia de todos os comerciantes uma parte dos seus lucros.

A cena da morte de Fanucci é indispensável para a narrativa. Há milhares de pessoas no espaço público. É dias de procissão, de fé, de banda de música e Fanucci caminha entre o povo, dentro de um impecável terno branco.
Vito caminha sobre os telhados das residências, sem tirar os olhos do mafioso. Há uma escada na casa do gangster.

No topo da escada, Vito Carleone o elimina, numa cena que marca a violência e o desvio da narrativa. A fama, a tomada do poder, o aumento dos ganhos econômicos, as atividades daquele que vence, mata e elimina. É o início e o surgimento do Poderoso Chefão. A procissão para os fiéis entra em pânico, o padre desaparece, e a santa tomba do altar espatifando-se na calçada.

Do outro lado, na narrativa para tela, Michael parte em busca dos grandes negócios. Penetra no mercado de Las Vegas, Los Angeles e viaja até Cuba, procurando ampliar a mercadoria do riso e do prazer. A sua estada em Cuba, coloca o filme no coração da história, na euforia de um povo cubano tomando a posse do seu país, enquanto as tropas de Fidel Castro invadem os prédios do poder público.

Nessa visão histórica, no meio da desordem da existência, Michael descobre os seus aliados, companheiros de longas retas da vida, tentam matá-lo. A paranoia do personagem abraça a sua vida sem sufoca-la. No entanto, o seu pensamento e razão percebem que o seu casamento com Kay acabara; mandara matar o seu próprio irmão Fredo. É acusado pela justiça, as consegue escapar ileso, como acontece nos casos das nossas C.P.I.’s. O seu poder, a sua força, a sua presença, o seu passado e presente, levam Michael até a janela de sua casa, a mesma janela de onde assistira a morte do irmão Fredo. Seus olhos, fitando os vidros e as cortinas, através da voz do vento norte, que estava só, e o medo brincava com o cavalo São Jorge.

Receita

NHOQUE RECHEADO COM QUEIJO

Ingredientes do Nhoque: 2kg de batata descascada, cozida e espremida; 1 xícara (chá) de leite; 1 colher (sopa) de sal grosso; 2 folhas de louro; 3 colheres (sopa) de manteiga; 2 colheres (sopa) de creme de leite; 2 ovos; 2 e 1/2 xícaras (chá) de farinha de trigo. Margarina para untar. 1 pacote de queijo parmesão ralado para polvilhar (100g).

Recheio: 1 e 1/2 xícaras (sopa) de mussarela em cubos pequenos.

Molho: 2 colheres (sopa) de azeite; 1 cebola picada; 3 dentes de alho picados; 1kg de carne moída; 20 tomates picados; Sal e pimenta-do-reino a gosto.

Modo de preparo: Em uma panela, misture todos os ingredientes da massa, reservando 1 colher (sopa) de manteiga. Misture até a massa ficar homogênea. Coloque a manteiga reservada na mesma panela, misture e leve a massa ao fogo médio, mexendo até desgrudar do fundo da panela. Desligue o fogo, espere a massa esfriar e modele as bolinhas. Abra as bolinhas na palma da mão, coloque um cubo de mussarela no meio de cada uma e feche. Arrume as bolinhas em um refratário untado com margarina e reserve.
Em uma panela, aqueça o azeite, refogue a cebola até ficar macia, adicione o alho e frite a carne moída até ficar dourada. Reserve. Bata os tomates no liquidificador e despeje em cima da carne. Acerte o sal, a pimenta e espere ferver. Despeje o molho sobre o nhoque e polvilhe parmesão. Leve forno médio, preaquecido, por 20 minutos ou até gratinar. Sirva em seguida.

por Adriana Padoan