I – O autor do livro
John Boyne estava sentado no banco de uma praça chamada Recanto das Rosas. De repente, sem avisos ou querências, sua mente pegou carona num barco apaixonado pelas águas do mar e pelo tempo. As ondas que sacudiam, pela beleza da precisão poética, várias partes do mundo, vendo acontecimentos alegres, tristes, trágicos ou cômicos, balançaram o barco do escritor e sua mente, ultrapassando as batidas do coração, lembrou-se da Segunda Guerra Mundial, uma fatia dolorida da caminhada humana.
A sua alma pensou no holocausto, nos campos de concentração, no desespero da escuridão que nada explica, na loucura que penetra dentro do homem, levando-o a acreditar que existe raça superior ou inferior, ou seja, o desejo que vem das cavernas escuras da morte. E a morte dilacerando a verdade dos fatos nos campos da guerra, nos gritos que surgem no peito de pessoas concentradas num espaço fechados, isolado, marcado pelas lágrimas e lembranças do amor perdido.
II – Holocausto
Os olhos do escritor se fecharam, mergulharam em minutos de catarse, expulsando para fora do corpo as coisas que são anormais à natureza desenhada por Deus. Viu um homem em estado bruto chamado Adolfo Hitler; percebeu o nascimento da violência, da brutalidade, da bestificação. Enxergou inúmeros trens bafejando colunas de fumaça, carregando milhares de judeus em direção ao fim da coerência que agita a força de um ser, de uma alma, de um sentimento chamado razão. Os trens, como brinquedos barulhentos antecipavam o desfecho histórico das pessoas que pisavam um palco sem canto, sem luz, sem narrativas.
As suas mãos de artista buscaram as letras para, em forma de um flashback, escrever uma história narrando os fatos que cicatrizaram os passos incertos de um povo e de várias nações. No entanto, lembrando-se do horror do holocausto, resolveu abordar esses instantes insanos sob a ótica de duas crianças, procurando, dessa forma, trabalhar com a antítese desse desgosto, introjetando na consciência infantil, a amizade em tempos de guerra, a inocência, o amor, a admiração, a vida em forma de fé e esperança.
III – O livro
Foi assim que o livro “O Menino do Pijama Listrado” recebeu um cheque escrito vida, leitura, lágrimas, fotografias navegando a paisagem das nuvens, além das possibilidades das alturas indefinidas.
O livro foi lançado no ano de 2006, penetrando o interior de milhares de leitores, pisando o chão de infinitas salas de aula, vestindo a roupagem de teses acadêmicas nos quatro cantos do universo.
O menino do pijama listado de John Boyne baseia-se numa situação real, apesar do artista ficcionar a verdade dolorida e exposta no seio da claridade que ilumina todos os dias.
Houve um campo de concentração chamado Auschwitz; existiu concretamente um comandante chamado Rudolf Hoess, que de fato morou com a esposa e filhos, numa casa colada à cerca do campo de concentração.
Como no livro e no filme, da janela do quarto de um de seus filhos, era possível ver o interior de Auschwitz. Rudolf Hoess foi preso e julgado. No seu julgamento o juiz perguntou-lhe: “O que o senhor dizia aos seus filhos ao verem aquelas pessoas esqueléticas, morrendo de fome, quase cadáveres”? Rudolf Hoess fitou os olhos de seu julgador e, calmamente, respondeu: “Eu dizia aos meus filhos que não eram pessoas, eram seres sub-humanos”.
IV – O filme
A direção do filme e o roteiro foram realizados por Mark Herman e filmado em Budapeste em setembro de 2008.
O personagem principal da história é o garoto Bruno, um menino de 9 anos, dono de uma vida repleta de felicidade ao lado da família. O filme aborda a vida de Bruno em Berlim, morando numa casa de alto padrão, cercado de amigos que o acompanham na escola e nas brincadeiras de rua, mergulhados nos risos, na força da imaginação, nos jogos de bola e na idealização de um mundo revestido de beleza, onde os sonhos revivem o prazer de correr, gritar, cantar e esperar pela noite que anuncia uma pausa, procurando projetar o dia seguinte.
V – Mudança de Berlim
Numa tarde sem começo e perto do fim do dia, o menino Bruno, filho de um dos comandantes que servem ao exército nazista, descobre que a família mudará de casa e deixará a linda Berlim. O pai fora promovido e comandará um campo de concentração chamado Auschwitz. A mãe, uma submissa, mas conhecedora da realidade, explica ao filho que a mudança tem uma razão de ser, ou seja, seu pai será promovido e fará um novo trabalho que será importante para todos os membros da família. O menino sente um desconforto inexplicável, uma sensação de abandono, de mudança na estrutura simples de sua vida, mas, por outro lado, passa a acreditar que seu pai está trabalhando para melhorar o mundo.
VI – A nova casa
A casa nova transmitia a sensação de isolamento, de afastamento da sociedade, de algo meio escondido, por isso ausência de vizinhos, de lojas comerciais, de parques públicos, e sem crianças para brincar, para viver, para sonhar. Desde a sua chegada na casa nova e estranha, Bruno percebeu a alguns metros de sua residência, uma cerca de arame farpado parecendo uma fazenda.
Numa quarta-feira, silenciosa e nebulosa, Bruno foge dos olhares de sua mãe e dos soldados nazistas, e corre em direção à cerca, onde conhece um menino de pijama listrado, sentado no chão, o olhar perdido na distância, o medo preso dentro de si, a fome estampada no desenho riscado pelo desespero. Era um menino judeu, um prisioneiro chamado Shmuel, um ser humano dono de uma longa história. Bruno, movido pela curiosidade, pergunta ao garoto judeu como era a vida na fazenda e, a partir desse contato começa a visitar o amigo todos os dias, levando-lhe comida e realizando grandes descobertas.
VII – O enigma
Bruno sabia, pelo menos, que havia um grande enigma por traz daquela cerca. Num dia de festa na casa de Bruno, Shmuel é enviado para o local dos festejos, não por ser amigo, mas para lavar as taças. Bruno lhe oferece um lanche, porém são apanhados em flagrante; o preconceito da família extrapola os sorrisos e Bruno, assustado, nega ter-lhe dado comida, afirmando que não o conhecia. Shmuel é rigorosamente punido e o menino alemão sente uma dor interna e o arrependimento balança a sua estabilidade emocional.
No dia seguinte, Bruno vai ao campo de concentração pedir desculpas a Shmuel, encontrando-o mais triste; o seu rosto refletia uma dor profunda misturada ao medo, e relata ao menino alemão o sumiço de seu pai. Ao menino alemão não há outra saída, ele precisa ajudar o amigo a localizar o seu pai. Bruno, num certo dia, veste um pijama listrado, cava um buraco embaixo da cerca, arrastando-se, entra no campo de concentração e abraça o amigo.
Aos poucos, em movimentos lentos, Bruno descobre a realidade da vida no interior daquele espaço, nada parecido com a propaganda nazista. Eles caminham juntos, procuram pelo pai de Shmuel em vários barracões. Do lado oposto, um grupo de prisioneiros é empurrado por soldados alemães e na rapidez, nos gritos de comando, na violência, os dois meninos são levados juntos com os adultos.
VIII – A câmara de gás
Eles são conduzidos para um cômodo escuro; todos se despem, os dois garotos presenciam o fechamento das portas, e o gás começa a sair pelos canos instalados nas paredes. Eles se apoiam segurando as mãos um do outro; a história de uma grande amizade tomba no chão gelado, e a infância é destruída por uma xenofobia sem o mínimo sentido lógico, mas nascido na cabeça de um homem movido pelo ódio, rancor, fúria, asco, repugnância de si mesmo.
Receita
Rote Grütze
Ingredientes: 100 g de açúcar; 250 ml de suco de uva; 250 ml de suco de laranja; 250 ml de vinho tinto demi seco; ½ fava de baunilha cortada longitudinalmente; 75 g de amido de milho; 100 g de amoras limpas; 250 g de cerejas sem sementes e cortadas ao meio; 300 g de framboesas limpas; 200 g de morangos limpo e cortados ao meio.
Modo de preparo: Numa panela média caramelizar o açúcar. Dissolver o caramelo com os 2 sucos e o vinho. Acrescentar a fava de baunilha e ferver até o caramelo derreter completamente. Engrossar o líquido com o amido de milho e em seguida acrescentar todas as frutas. Servir com sorvete de creme ou chantilly. As frutas são para decorar, então se não encontrar todas as frutas, colocar as frutas vermelhas que encontrar ou outras de sua preferência.
por Adriana Padoan