I – O sonho
Antes de perceber o voo dos pássaros de três cores e a forma como pousou no galho de uma árvore, carregada de frutos vermelhos, nessa hora de hoje, o meu pensamento viajou pelas ruas da Grécia antiga. Vi um homem chamado Aristóteles rodeado de meninas e rapazes. Ele explicava que a vida era impulsionada pelo mundo animado. Nos vemos nessa duplicidade, a nossa vivência é a roupa da alma, ela comanda o princípio da nossa atividade, a alma em forma de corpo, nos carrega em direção da força do pensamento, do fazer, viver, amar, sorrir, sofrer lutar. No entardecer de qualquer pedacinho de tempo, fechamos nossos olhos e, continuamos a nos movimentar em outra nuvem.
II – A escritora
Era noite e os objetos estavam em seus lugares. As estrelas comentavam os acidentes do dia anterior. Numa das ruas da Inglaterra, chamada de Nova York, no bairro de classe média de Cheettum, no município de Manchester, no ano de 1849, nascia a menina Francês Hodgson Burnette. A família sempre afirmou que ela chorou demais depois de entrar neste mundo, choro intraduzível.
De acordo com as combinações entre a economia e a política, atitudes que fazem parte do viver, morou em vários lugares, bairros simpáticos e antipáticos. O sei pai, mesmo trabalhando sob a luz do sol, foi acometido por uma AVC, e a morte não demorou a chegar. O avô materno ajudou na criação dos filhos; a mãe, ligada no cheiro da vida, lutava pela sobrevivência da família. Do avô, a menina Francês ganhou vários livros. Ela os lia num cantinho da sala.
Passando da casa da família para residência dos amigos, na cidade de Plenduton, região metropolitana de Manchester, frequentou uma boa escola, por um ano.
Nessa cidade leu um livro de fadas, de personagens fantásticos, até mudar-se para Salford. Ela nunca esqueceu do jardim que havia na casa anterior. Nos seus cadernos antigos escreveu várias histórias com desfechos muito próximo à explosão de processo imaginativo.
A família, enfrentando a luta que possibilitava a respiração, mudou-se infinitas vezes, ela morou nos Estados Unidos, conheceu mundo e pessoas diferentes. Casou-se duas vezes, mas os maridos não tinham noção do significado do viver, de dividir os sentimentos que se enobrecem diante do gesto de amor. Todas as suas uniões foram desfeitas. Desses casamentos, mesmo feito por retalhos, ela teve dois filhos, Leonel e Vivian.
A sua luta não teve paradas para descanso; a sua produção literária envolve cinquenta e três romances para adultos, trezes peças de teatro e, no final da vida, escreveu “O Jardim Secreto”.
Dois motivos a levaram a retornar aos seus jardins dos tempos infantis: a morte do seu filho Leonel, menino de 16 anos, dono de uma inteligência brilhante; e a perda da sua casa Maytham Hall, em Kent, sul da Inglaterra. Ela arrendara a terra por 10 anos, mas o proprietário a vendeu em 1908. Nesta casa ela viveu os anos mais belos e felizes de sua vida.
Nesse período, as editoras renovaram a técnica de publicação de livros, criando o processo das ilustrações, desenhos maravilhosos, a colocação de detalhes coloridos em cada página.
As crianças e as ilustrações levaram “O Jardim Secreto” para o mundo inteiro. O livro ocupou todos os lugares disponíveis do carro de Papai Noel. As renas trabalharam como nunca, deixando “O Jardim Secreto” diante o olhar do Natal e dos sonhos que voam sem preocupação com o destino.
A escritora Francês faleceu aos 74 anos, sonhando com o seu jardim secreto e com mais três mil roseiras plantadas em fila. Em cada pétala das rosas geradas pela beleza e cruzamento das cores realizadas pelas árvores, havia uma pequena história escrita.
III – O filme “O Jardim Secreto”
Há várias filmagens do texto escrito por Francês, no entanto, seguindo vários critérios, a fita de 1993, tornou-se um clássico.
A direção e andamento do projeto saiu da cabeça de Agnieszka Holhand; o roteiro partiu do coração de Caroline Thompson, e os atores, embora a maioria crianças, atuaram como os artistas adultos que conseguem, sair do seu corpo, para movimentar-se e representar o mundo do outro.
IV – Uma história de amor
Havia uma mansão chamada Misselthwarte, localizada nos pântanos de Yorkshire; um lugar onde o amor estacionou por uns tempos e, depois, dormiu por outros tantos, esperando ser despertado.
Lord Archibalde Craven amou a menina linda chamada Liliás. Olharam tanto para a lua que, o astro da noite fechou seus olhos; beijaram-se tantas vezes, que a macieira da mansão, geradora de maçãs cor de fogo, passou a parir maçãs verdes.
Casaram-se na tarde em que o pássaro invisível, saiu de sua toca e dançou um ritmo estranho inventado na costa da Índia.
O seu amor espontâneo empregou cinquenta duendes das matas e, juntos fizeram um jardim sem igual no planeta Terra. Ele construiu o jardim filho de seu sonho e deu de presente para a sua amada, a linda Liliás.
Ali, entre as flores vindas de países distantes, entregaram as suas almas e a mutacionaram de um corpo para outro. Ela engravidou quando a flor “Jada Vine” brotou na terra.
A água do riacho regou a profundidade da terra. Lá do fundo dos mundos brotou um pé de árvore verde apontando a flor de açafrão. Na mansão, em uma cama de séculos anteriores, Liliás deu à luz ao menino Colin Craven, sendo proprietário do mesmo rosto da mãe.
Os ventos viraram, as borboletas beberam néctar cheio de encanto, e a senhora Liliás, guardando dentro de si, muitas saudades do jardim, levantou-se, deu de mamá ao filho, e foi visitar o seu jardim brotejado pelos seus sonhos. Perto da mão esquerda da cachoeira, nascera uma das flores mais raras do mundo chamada Koki’o, ou trombeta dos anjos.
Ela sentou em seu balanço e o vento norte balançou os seus cabelos, pensou no marido, em Colin, nos corredores da mansão. Num pedaço de segundo, coisa insignificante, desceu do céu um anjo, todo de banco; veio buscá-la para cuidar do jardim da casa de Deus. Ela teve sono, sentiu o seu espírito leve subir às alturas. A sua morte foi cantada dentro de uma rosa, por uma orquestra de polén mágicos.
Lord Archibalde sentiu uma pontada no peito. Suas costas dobraram, a felicidade foi engolida pela tristeza e solidão. Ordenou que murasse o jardim, cobrissem o muro com heras, trancassem as entradas para ninguém penentrar e recolheu dentro de si mesmo, deixando os cuidados da mansão e das terras a má, a vilã, Medlock, empregada de longos anos.
V – Mary Lennox
A sobrinha do Conde Archibalde morava na Índia com os pais. Ela nasceu sem a atenção paterna, foi criada pelas empregadas. Não aprendeu a sorrir, a olhar a beleza do mundo, fez muita amizade com a solidão. Dos pais, a quem tentava amar, não recebia carinho, afagos, atenção, dedicação, apreensão.
Não sabemos o porquê, mas a terra chorou, tremeu, zangou-se, partiu-se e aconteceu um terremoto. Muita gente faleceu e seus pais também. O nome da menina, agora órfã, era Mary Lennox e, por decisão dos parentes adultos, a enviaram para morar na mansão do tio Archibalde, a mansão de Misselthwaite. A viagem fora longa, da Índia à Inglaterra, mas ela chegou, como todos os homens chegam com vontade de chegar.
A mansão parecia o ABC de um longo mistério. Ela nunca tivera carinho, mas aprendera a mandar, ordenar, afastar as pessoas que cuidavam dela. Não tinha a menor condição de cuidar de si. Continuava a viver na solidão e a explorar os cômodos do casarão. O tio Archibalde nunca estava presente, sempre cuidando dos negócios e fugindo do amor perdido. À noite, na hora de dormir ouve gritos, choros e gritos de ira. Mary continua a fazer as suas buscas e descobre o quarto do primo Colin Craven, um hipocondríaco que acreditava que ia morrer logo, ficaria corcunda como o pai, não era contaminado por nenhuma esperança, fé, crença. Nunca saíra daquele quarto, por isso não aprendera a andar.
O tio Archibalde está no casarão e precisa conhecer a sobrinha que está hospedando. O encontro entre os dois não houve sorrisos, abraços, diálogos esclarecedores. A mente do Conde registrou o porquê não dava atenção ao filho, pois o seu rosto era idêntico ao rosto de sua mãe. A sobrinha, por puro castigo, tinha o mesmo amor à natureza, exatamente como a esposa Liliás.
Mary faz amizade com o menino Dickon, filho de uma cozinheira. Ela descobre, ao vasculhar o quarto da senhora Liliás, fechado a anos, a chave do portão do Jardim Secreto, presente do amado Archibalde. Ao lado do menino Dickon, Mary entra no jardim que foi a declaração de um grande amor. O jardim é lindo, mas sem vida, a maior parte de sua beleza secara, grande parte das flores minguaram a sua beleza. Ela e Dickon começam e planejam recuperá-lo.
Embora Colin Craven pertencesse a nobreza, Mary cria coragem para dizer-lhe todas as verdades do ato de existir. Ele não era doente, apenas temia a vida e passara a acreditar que realmente era um doente terminal.
Ao ouvir a verdade, as três crianças entraram no Jardim Secreto e a vida retorna colorida, linda, as cachoeiras retornam ao seu compromisso com a beleza da terra.
O Senhor Lord Archibalde, pela primeira vez aceita a morte da esposa que, naquele universo cercado de flores, estava no sorriso do filho Colin Craven que, no sopro do renascimento das coisas, ria, corria, brincava, beijava o pai.
VI – A visão do cinema
O cinema trabalhou muito bem separando os elementos marcados pela magia, quase nula no filme, pela crença em si próprio. Não há elementos que surjam do nada e do medo, a beleza do filme ultrapassa o lado sombrio da vida – as flores brotando da terra, as borboletas voando amor e destino. O Jardim Secreto poliniza o desabrochar da vida. A nossa alma conta-nos uma história, que poderia e está, dentro de nós mesmos. Assim, caminhando nas ruas do mundo, a humanidade em seu todo, tem um Jardim Secreto dentro de si. O poder político e econômico tem o dever de cuidar do Jardim de cada homem, mulher, criança. Devem criar leis que destruam as pragas, os matos, os insetos que corrompam as flores que estão sob a pele de cada ser humano. Cabe a humanidade, de vez em quando, identificar o poder que bebe poesia, música, carinho, cinema e, não o poder que, em nome de uma falsa paixão, faz brotar da terra a corrupção, a deslealdade, a covardia, a falsidade. Essas flores deverão ser eliminadas do nosso Jardim Secreto, pois se identificam com o lado impuro e estéril.
RECEITA
CRUMBLE DE MAÇÃ
Ingredientes do Crumble de maçã: 150g de manteiga (vegana ou tradicional) gelada; 150g de farinha de trigo; 150g de açúcar.
Recheio: 4 maçãs em cubos; Suco de 1/2 limão; 50g de açúcar mascavo; 100g de açúcar.
Modo de preparo: Corte a manteiga gelada em cubinhos e misture com as pontas dos dedos com a farinha e o açúcar até formar uma farofa. Logo, reserve na geladeira por 20 minutos. Para o recheio, misture bem os ingredientes e coloque no fundo de forminhas refratárias tipo ramequins. Assim, cubra com a farofa reservada na geladeira e leve ao forno médio, preaquecido, por 25 minutos ou até dourar a superfície. Por fim, retire, deixe amornar e sirva.
por Adriana Padoan