No mês de janeiro, de 1938, a história do cinema parou em uma esquina qualquer, procurando pensar, refletir, sobre o destino que abraçara o engatinhar da sétima arte. Nesse mês, princípio de uma série de coisas, o filme “Branca de Neve e os Sete Anões” invadiu as salas de exibição dos Estados Unidos e do mundo. Filas enormes. Sucesso estrondoso, comentários, risos, lágrimas, muita pipoca, chocolate e maça do amor. A princesa, o príncipe, a bruxa, o sono profundo, os sete anões, o beijo e o renascer para a vida, transformaram-se na maior bilheteria do cinema naqueles tempos.
A Metro-Goldwyn-Mayer almoçou e jantou um prato temperado com dor de cotovelo, desejo, ganância. As noites foram mais longas e os dias arrastados e problemáticos. As equipes de produção mergulharam nas bibliotecas, nos arquivos de revista, na cabeça de Grimm, nos devaneios de Andersen, nas fabulações de Perrault, procurando uma história que tivesse alguma conotação com a história da Branca, tão branca, como a neve. A procura desvendou os mistérios de literatura infantil, mas nada os empolgou.
Na tarde de um domingo meio indefinido, lá pelas 6 horas da tarde, Dylan Brown, pertencente ao núcleo de criação da Metro, colocou o seus olhos sobre o livro “O Mágico de Oz”, de Lyman Frank Baum, e o universo cinematográfico moveu-se em direção ao inusitado.
As equipes de produção sacudiram os espaços do estúdio; cenaristas, técnicos das mais variadas especialidades trabalharam dia e noite, os roteiros foram escritos e reescritos, o elenco selecionou-se no circulo das emoções, a música “Over the Rainbow” nasceu dentro da alma de Haroldo Arlen e a letra, despertada, além dos dicionários, brotou das mãos de Edgard Yepsel Harburg; o público, carregando a fantasia no olhar, lançou os passos para o “Além do Arco ires”, e o filme O Mágico de Oz foi lançado em 15 de agosto, de 1939.
O filme apresenta duas partes significativas, embasando o desenvolvimento do roteiro. A primeira parte filmada em preto e branco, mas com tons em marrom envelhecido, técnica que dá um ar de documentação histórica à narrativa, se passa numa fazenda no estado de Kansas. A terra, o pasto, as plantações, as carroças, o carro de boi, o sol, o cheiro atravessado pelo vento, caminheiro da planície. Na casa da fazenda, mora o tio Henry, a tia Em, e amenina Dorothy de 11 anos, e seu cachorrinho Totó.
O início do filme mostra a senhorita Gulch pedalando a sua bicicleta, trazendo no bolso uma ordem judicial para levar o cãozinho Totó por agressividade a transeuntes. Há discussões, mas ordens jurídicas são ordens jurídicas. A senhorita Gulch coloca Totó numa cesta e parte em sua bicicleta. Dorothy entra em desespero, revolta, sensação de impotência.
Totó consegue se livrar do cesto, sente o aroma da liberdade, volta correndo para casa. Dorothy abraça o cãozinho, aperta-o em seu peito. O medo toma orientação em sua vida; a menina temendo o retorno da senhorita Gulch foge de casa com o cachorro. No meio do caminho lembra-se dos tios, a lembrança provoca o remorso e Dorothy retorna a casa da fazenda. Ao chegar, percebe a aproximação de um tornado girando em torno de si mesmo; a sua casa é arrastada para o meio da tormenta; o redemoinho leva Dorothy, vacas, pessoas, Totó, em direção ao infinito. Não há preocupação temporal, mas a casa aterrissa num mundo lindo, colorido, habitado por anões que aplaudem a chegada de Dorothy. A causa do aplauso é aparentemente simples. A casa pousara sobre a Bruxa Má do Leste, livrando-os das maldades, dos maus-tratos ocasionados pela Bruxa do Leste. Dorothy, a partir desse momento, passa a viver no Mundo Mágico de Oz.
A técnica usada por L. Frank Baum na produção literária de O Mágico de Oz, segue os modelos básicos da composição de livros para crianças, isto é, há um espaço, no caso a fazenda; há o universo dos adultos, existe o mundo de Dorothy e o cão Totó, um ciclo de vida marcado pelo desenvolvimento, aprendizado repleto de sensação, desejos, vontades, seguranças e inseguranças.
A chegada da senhora Gulch com seu rosto socializado, com a sua feição de agente da traumatizada civilização trazendo uma ordem judicial, marca da evolução dos adultos; essa marca jurídica abala o mundo de Dorothy, ameaça, oprime, desconstrói a vivência da menina, exatamente como o tornado; por isso Baum desloca Dorothy para outro mundo, embora colorido, irá atuar na ampliação do conhecimento da garota, colaborar na formação de sua imaginação, na captação das emoções contidas no ato de viver, da exploração dos sentimentos e na expressão através da linguagem.
No mundo de Oz, Dorothy recebe de Glinda, Bruxa Boa do Norte, os sapatinhos de rubi que pertencera a Bruxa Má do Leste, falecida sob a aterrisagem da casa de Dorothy. Recebe também, a notícia de que não poderá retornar à sua casa na fazenda sem à ajuda do todo-poderoso Mágico de Oz; assim, de um momento para outro, a menina precisa encontrar o tal mágico na Cidade de Esmeralda. Além dessa tarefa existencial, Dorothy conhece a Bruxa Má do Oeste, irmã da bruxa falecida, que jura vingar a morte de sua parente tão próxima.
A nomeação das personagens do Mundo de Oz segue um roteiro simbólico preciosíssimo, amparado pelos pontos cardeais, frutos da observação dos homens ao longo do século, ou seja, o sol nasce no mesmo lugar, morre no ponto escolhido, desloca-se de acordo com sua vontade e, por isso, norte, sul, leste e oeste. A vida de Dorothy no mundo do Mágico de Oz não possuía bússola para sua orientação, tudo estava fora do lugar. A mensagem sobre o deslocamento descontínuo é muito clara, quase transparente.
Ao saber da sua permanência obrigatória no Reino de Oz, a menina soluça baixinho; sente-se perdida, seus olhos captam as realidades de um novo mundo; na verdade, está excluída naquele mundo, não há pertencimento; precisa iniciar um percurso programado por outros, para retornar ao seu meio. O caminho coberto por tijolos amarelos é lindo, mas por outro lado, é a representação das transformações que ocorrerão na vida de todas as crianças. Ela entra na estrada amarela, caminha passo a passo; na suavidade de seu caminhar, encontra o Espantalho, um ser meio desajeitado, feito de palha, que ardentemente deseja um cérebro. Ele foi criado, exerce um único trabalho, acha-se insignificante, excluído, deficiente, solitário. O seu objetivo é poder pensar, refletir, chorar, rir, amar, viver, sofrer, encontrar um lugar no meio de todos os viventes.
A poucos metros de distância, encontra o Homem de Lata, um resquício da Idade Média e suas armaduras, todavia, está comprometido com a modernidade, com a era da robotização mas, naquela estrada, junto aos demais, pretende ter um coração. Quer ouvir os seus batimentos cardíacos; imaginar-se um ser normal, capaz de amar, de sentir emoções, de chorar, sem se enferrujar.
Na curva da estrada, ouviram uns gemidos agoniados, correram para descobrir o que era; eles encontraram um Leão, o rei dos animais, envergonhado pela sua covardia, uma deficiência que o isolava, que o excluía do seu reino. Ele daria tudo para obter coragem, superação, valorização própria.
Eles conseguiram encontrar a Cidade de Esmeraldas, encontraram o Mágico, conversaram, apresentaram-lhe os seus problemas. O Mágico pensou, tirou a cartola, fez-lhes uma contra proposta: “vocês precisam trazer-me a vassoura da Bruxa Má do Oeste”. Eles acalentando um pouco de dúvida partem em direção a casa da bruxa. Todos entram, a mulher maldosa coloca fogo no braço do Espantalho; Dorothy enche um balde de água e o atira no braço do amigo, respingando na bruxa; ela se desfaz como uma bruxa de espuma, exatamente como o Super-Homem em relação a Kryptonita, ou qualquer humano diante de segredos e mistérios acobertados pela força da psique. Eles conseguem a vassoura da bruxa e, antes que o inesperado renasça, partem para casa do Mágico de Oz.
O Mágico, para a surpresa do grupo, só era mágico, ou seja, um criador de ilusão, de truques, um encantador. Mesmo assim, sem penetrar no mundo infinito do ser humano, sem mergulhar nas profundezas da mente que movimenta a humanidade, pediu ao Espantalho que fechasse os olhos e precipitasse para dentro de si mesmo. O Espantalho, o Homem de Lata, o Leão e Dorothy fizeram o mesmo mergulho. Molharam o corpo, tingiram a alma, sentiram o calor e o frio, sede e satisfação, amor e dor.
O Espantalho achou um cérebro novinho, preparado para ser preenchido; o Homem de Lata emergiu com um grande coração, fixado dentro do peito, preparado para começar a sentir emoções; o Leão covarde rugiu como se estivesse nas savanas da África, não deixou de ter medo, mas a coragem deu-lhe a força espiritual capaz de enfrentar qualquer situação. Dorothy descobriu que, sempre soubera como voltar para casa. Bateu os tornozelos por três vezes e, rapidamente retornou à fazenda, em sua casa dizendo: “Não há lugar melhor do que a nossa casa”.
Receita
Ingredientes:
1 pacote de massa folhada; 1 gema de ovo para pincelar; 3 colheres (sopa) de azeite de oliva; 1 cebola pequena picada; 3 dentes de alho amassados; 4 tomates sem pele e sem sementes picados; 500 gramas de peito de frango temperado, cozido e desfiado; 150 gramas de queijo mussarela de búfala cortada em rodela; 1 lata de milho verde; 1 lata de ervilha; sal a gosto; pimenta-do-reino a gosto; orégano a gosto; salsa (ou salsinha) picada a gosto
Modo de preparo:
Use a massa folhada de acordo com as instruções da embalagem. Corte um círculo de 22 cm de diâmetro, pincele a gema e leve ao forno, preaquecido, a 200 ºC até dourar.
Em uma panela, aqueça o azeite, doure a cebola e o alho e acrescente o tomate, o milho e a ervilha. Tempere com o sal, a pimenta e deixe cozinhar por 5 minutos. Junte o frango e refogue por mais 5 minutos.
Deixe esfriar e recheie a massa já fria.
Polvilhe o orégano, a salsa e distribua as rodelas de mussarela de búfala.
Leve ao forno, preaquecido, a 220 ºC até a mussarela derreter.
Por Adriana Padoan