I – O mar
As águas do mar encostavam suas ondas no corpo dos rochedos. Aves voavam sobre o azulão movido pelo oceano, tentando localizar os cardumes de sardinhas desatentas aos desafios impostos pela difícil arte de viver. A jangada e o jangadeiro sonhavam com a pesca prometida a longo tempo pelos santos protetores do reino das águas batizadas pelo sal. O momento era de movimento e calmaria, de rugido e canto, de imaginação e realidade.
II – O salto
No meio do manto esverdeado estendido sobre o volume de água, sem avisos anunciados ou precipitados, um peixe saltou a cima dos limites possíveis e, agindo como um trapezista contorceu o corpo sobre si mesmo, formando um vácuo profundo na corrente de ar e, da mesma forma que subiu, elegantemente mergulhou nas águas assustadas, abrindo um redemoinho desenhado pela força da natureza.
III – O anjo
O anjo do Senhor chamado Unel, responsável pela beleza do cosmo, viu o peixe, viu o jangadeiro, as gaivotas, os desejos, as esperanças navegando no império de Neturno, deus romano do mar, das fontes, dos rios, dos riachos e dos criadores de cavalo. O anjo Unel caminhou sobre as danças das águas, aproximou-se do rochedo, chamou o peixe saltador, o poeta das alturas. O peixe subiu, nadando em torno do anjo, deu duas voltas, agitou a cauda e silenciou-se! O peixe grande, vivo, elegante observava os mínimos detalhes a sua volta. O corpo esguio demonstrava a sua força e o seu domínio. A cabeça saliente, boiando na superfície das águas, também chamou à atenção. A nadadeira dorsal iniciava-se na cabeça, corria pela extensão das costas, terminando na cauda. Assumindo a sua condição e essência, parecia um cavaleiro das águas límpidas, transparentes, puras, um ser ecológico por devoção e amor a vida.
IV – Pintura
O anjo segurou o espírito das tintas, do cromatismo que anda pelo mundo e, seguindo a vontade do supremo começou a repintar o peixe de 40 quilos.
O pincel girou no espaço, a cor azul acariciou o peixe; o verde azulado complementou a agitação da beleza. Os flancos foram dourados em fração dos segundos; pingos claros distribuíram-se entremeando a cor do ouro. Diante da beleza distribuída em quantidade, o mar entendeu que o peixe Dourado, símbolo da liberdade, da luta, da garra, da rapidez, do salto acrobático, precisava voltar ao seu mundo de ondas, da espumeira branca, da névoa oceânica, do brilho avermelhado do sol.
V – O rio
O anjo permitindo que a emoção brilhasse adiante de sua imagem, enveredou-se na direção do grande rio, morada de Iara, de Yemanjá, de Sinann, de Afrodite. O Dourado da água doce esperava pelo anjo na cabeceira das águas. Era um peixe menor do que o seu irmão do mar, porém mantendo as mesmas características. O seu amor, pela dimensão do afeto e meiguice marcou as histórias dos rios. Os peixes Dourados da água doce amavam-se na temperatura das águas límpidas; a benquerença da paixão seguia o ritmo da dança do pescador Glauco por Cila, dança que simbolizou, na lenda, os movimentos do amor no calor do espírito. Por esse motivo, depois da paixão, vem a piracema, palavra indígena que significa “saída de peixe”. O Dourado enfrenta as grandes correntezas, uma luta movida pelo impulso do amor até encontrar um lugar suave e seguro, para gerar os seus ovos.
VI – Pintura
O anjo sentiu a vida disparar pelas margens do rio. O espírito das cores estava em suas mãos, e o Dourado percorreu o corpo do peixe, reflexos avermelhados misturaram-se ao ouro vivo; as escamas receberam estrias escuras e o peixe em agradecimento, saltou além do sombreado das nuvens. O anjo sorriu e elevou-se aos céus. O Dourado partiu para o seu mundo de sonho, de luta, de amor, e contemplação da natureza e da sua maneira de ser e existir.
Receita:
File de Dourado com farofa crocante e purê de batata doce
Ingredientes:
2 files de dourados com a pele (200 gramas cada); 2 colheres de sopa de azeite; 2 colheres de sopa de óleo de soja; 1 limão; sal e pimenta a gosto.
Purê de batata doce – ingredientes: ½ quilo de batata doce; 1 colher se sopa de manteiga; ½ xícara de chá de creme de leite fresco; sal a gosto, 1 colher de chá de páprica picante, raspas de noz moscada.
Farofa crocante – ingredientes: 1 colher de azeite ; ½ cebola pequena; 1 dente de alho; 100 gramas de farinha de mandioca; 50 gramas de castanha de caju picada; 1 colher de sopa de manteiga.
Modo de fazer:
Coloque o peixe para marinar com o limão, o sal e a pimenta por 2 horas.
Coloque o azeite e óleo juntos numa frigideira antiaderente em fogo médio. Quando estiver quente junte o peixe com a pele para baixo e deixe dourar para que fique crocante, depois vire o peixe e sele o outro lado. Desligue o fogo e deixe terminar de cozinhar o seu interior no forno pré-aquecido a 200 graus. Reserve.
Purê de batata doce: Cozinhe a batata doce com a casca em água e uma pitada de sal. Quando estiver macia, descasque-a e bata no liquidificador com a manteiga, creme de leite, a páprica picante e a raspas de noz moscada até virar um purê. Acerte o sal
Farofa crocante: Refogue no azeite a cebola e o alho até ficar macios. Acrescente a farinha e deixe dourar. Coloque sal a gosto. À parte doure a castanha de caju na manteiga e adicione ao restante da preparação
Por Adriana Padoan