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segunda-feira 23 dezembro 2024
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Comilanças Históricas e Atuais – O dor e as lágrimas do pianista – Chopin

I – Guerra e família
O diretor de cinema Roman Polanski viveu dentro do calor da história. Não foi um simples leitor, um crítico, um observador, o cineasta viveu os horrores da Segunda Guerra Mundial, um acontecimento aparentado como o Apocalipse de João. A sua mãe morreu em um campo de concentração. Não viu estrelas, não se despediu do luar, não deu tempo de olhar uma margarida solitária nascida entre as pedras de um jardim morto.
Ela ligou o chuveiro
A água desceu gostosa,
Quentinha,
Veio a fumaça junto
Com os vapores
Ela morreu sonhando
Com um mundo coberto
De flores!
O pai de Polanski foi levado a outro campo de concentração; viveu a loucura, o som das botas, os cachorros matadores de carne e rasgadores de corpos, conseguiu sair vivo, mas nunca mais foi o mesmo homem, perdeu a razão que existe entre um passo e outro.

II – Roman Polanski o diretor
Ele era adolescente, andou pelas calçadas do medo, sobreviveu, por milagre, a brutalidade, a pobreza, a fome, o roubo, do Gueto da Cracovia. Lutou briga de rua defendendo o seu direito de comer uma batata cozida, andou pelas ruas escondendo-se dos nazistas, pedia esmola; nas noites vagava sem destino entre a vida, as bombas, os incêndios, a morte, os corpos espalhados nas ruas. A noite escondia-se na floresta comendo raízes e frutas desconhecidas. Andava sujo, rasgado, um mendigo perfeito.
No peito havia o som de
Uma música
O coração doía, mas confiava
Havia como crença numa santa linda
Santa para a fé, esperança, arte.

III – O louquinho que não cresceu
Era um horário envergonhado. O presidente da Alemanha Von Hindenburg, sonhando com todas as mulheres que amou, com as ordens que saíram de sua boca, sonhou que chupava um pirulito de cereja, beijava a bailarina nua, deu o último suspiro, não subiu nem desceu, virou esterco debaixo da terra. Só o seu cavalo de estimação chorou.

IV – O fantoche costurado com loucura
Um homenzinho, acanhado, suado, tomou os poderes do presidente morto; o exército fez-lhe um juramento de fidelidade. Hitler teve uma coceira nas nádegas, era vegetariano, mas adorava salame, salsicha, chouriço. De tanta coceira resolveu invadir a Áustria. Em Varsóvia vivia o grande pianista polonês Wladjslaw Szpulman, seus dedos eram mágicos, ele trazia a alma de Chopin para os teclados, os suspiros de George Sand, o desespero da escola romântica.

V – A morte e a poesia
Era uma noite sem marcas nem vontade de viver. Hitler, homenzinho, criou a noite das Facas Largas, um plano para matar todos os seus opositores, muitos morreram sonhando com Chopin, fadas, santas, vendedoras de algodão-doce coloridos.
Em pouco tempo, Hitler depois de descobrir que só possuía um testículo, colocou as suas tropas de choque em frente aos pontos comerciais judeus, proibindo a entrada de clientes e compradores. Ameaçam, assustavam, batiam.
A noite não foi bonita, os peixes afundaram-se nas águas do rio; as flores tombaram as pétalas, os pássaros destruíram os seus ninhos. Nessa noite Hitler discursou após uma diarreia hidroelétrica: os judeus passaram a ser homens de 2ª classe, cassaram os seus direitos políticos, proibição de casar ou relacionar-se sexualmente com pessoas de sangue alemão. O ratinho chamado Jacob, morador de um porão de bar, deu uma rosa à ratinha Elza. Transaram entre o amor e o ódio; geraram 15 ratinhos com a cara de Hitler.
Poesia e dor
Noite dos cristais
Foi um gesto de vingança contra a morte de um diplomata alemão, bissexual, bêbado e colecionador de bonecas de porcelanas. Noventa judeus foram mortos, trinta mil foram presos e enviados a campos de concentração, tomaram as propriedades dos judeus e transferiram aos arianos, raça inventada pelos nazistas.

VI – O Gueto de Varsóvia
Foi o maior gueto feito aos judeus. Enfiaram quatrocentas mil famílias numa área restrita. Eles plantavam a fome, doença, deportações, medo, mataram mais de 300.000 judeus.
O sol apontava em seu
Espaço de todos os dias.
Suas luzes, seus raios,
Denunciavam as rações alimentares.
Os assaltos, a fome, a sede,
O desfazer do ser humano.

VII – O filme
O pianista Szpilman, um dos maiores da Polônia, interpretava Chopin, numa radio de Varsóvia. Os dedos, o coração, as lágrimas, em sua cabeça passava o exato momento em que Chopin compusera a música, estava apaixonado novamente.

A câmera faz um giro pela beleza de Varsóvia, as águas do rio, os beijos alucinados, o calor da música de Chopin. De repente, vindo de um ponto qualquer, as bombas explodem sobre a cidade, atingindo a rádio e o espirito do músico. A arte não conseguiu salvar a vida, o risco, a ignorância.

VIII – No Gueto de Varsóvia
Szpilman convive com o sofrimento da família, a fome, o medo, os conflitos. Vê o menino com o pai morto sob o colo. A morte dos judeus nas ruas, sem causa, sem justificativa, sem necessidade, eles matam pelo delírio sexual de Eros.
Por uma simples coincidência de um fã, ele é isolado da família. Todos são vítimas da loucura do campo de concentração. A sua vida, sob foco da câmara e a poesia do cinema, vive em fuga constante. Ele foge, dorme em buracos, pedaços de casas bombardeadas, carregando a fome, a sujeira, a sede e a voz suave de Chopin. Tanatus, o deus da morte se aproxima, mas não se encanta em leva-lo. Ele não perde a sensibilidade, a gentileza, a resistência e, escondido em restos de bombardeios, toca com os dedos no ar, no vazio, as polonaises de Chopin.

IX – A fuga na solidão
Andando, sozinho pelas ruas e desviando-se dos objetos jogados pelas pessoas, lembranças de presentes e amor, passando rente aos corpos espalhados pelas calçadas, mortos sem memória ou referência. A sua emoção de pianista, embora destroçada, navega pelos amores espantosos de Chopin, pelo sorriso de George Sand, paixão realizada acima das nuvens.

Pisou sobre esquinas desertas, prédios tombados, casarões transformados em montes de entulhos. Os corpos aumentam o volume dos destroços. As mensagens não existem; há o pânico, o grito, a poeira e o medo da morte.
Os seus dias eram longos, arrastados, apertados em esconderijos imundos. O suicídio passou pela sua cabeça e descambou nas águas do rio.

Ao anoitecer, isto por que a noite sempre chega, ele encontrou um buraco no sótão de uma casa aniquilada. O seu desejo de ver a lua, o levou a um corredor escuro e ele deu de frente, rosto a rosto, com um capitão alemão Walmohosenfeld, um homem condecorado; um momento, no filme, que um judeu olha dentro dos olhos de um nazista. A voz do capitão, ao descobrir que se trata de um judeu pianista, mas acima de tudo um homem.

O capitão o levou até a sala que, um dia, fora de jantar. Num dos cantos havia um velho piano; o capitão exige que o pianista toque.
As unhas enormes, mãos sujas e machucadas, sinais de quem tudo perdeu, até o nada desapareceu. A sua alma colocou sua sensibilidade nas teclas imundas do piano. Ele encontrou a voz de Chopin, o amor de Chopin, e tocou, tocou como quem se entrega a morte. O capitão se emocionou e o escondeu em um cubículo mais protegido. Todos os dias, o capitão trazia-lhe um bolo de carne da receita alemã.

A vida encosta o desfecho da história quando os corpos não conseguem continuar em pé, no chão ou no ar. O exército soviético invadiu Alemanha, o pianista, cabeça na beirada do vento, ganhou a vitória, a liberdade, o direito de tocar e sonhar.

O capitão que o ajudara fora preso, condenado a crimes de guerra, e o pianista não pode ajuda-lo.
Aos meus leitores, leitoras, crianças: o compositor Chopin nasceu em uma aldeia, mas o sino da igrejinha tocou. Ele foi o menino prodígio dos salões. Ele morreu de tuberculose, sufocado, no meio dos amigos e cercado de flores.

Seguindo a sua vontade expressa em vida, retiraram-lhe o coração depois de sua morte, o colocaram dentro de uma urna de cristal com conhaque, ou seja, atitude comum na época. A urna de cristal foi introduzida dentro de um dos pilares da Igreja de Santa Cruz. Os nazistas bombardearam a cidade, arrasaram as ruas, as praças, mas nenhuma bomba acertou a igrejinha de Santa Cruz.
Meus leitores fechem os
Olhos.
Sonhem com um piano branco.
Sintam que estão aproximando-se das nuvens.
Orem uma oração,
Aquela que lhe toque profundamente
E ouçam o coração de Chopin,
Dentro de uma coluna da igrejinha de Santa Cruz,
Tocando Apolonaise nascida
No coração, na poesia, na música, e no conhaque.
Este é o filme O Pianista,
O resto é só lágrima e verdade

Receita

Receita de Bolo de Carne Alemão

Ingredientes: 500 gramas de patinho moído; 50 gramas de bacon, 150 gramas de linguiça de pernil; 1 cebola bem picadinha; 2 dentes de alho bem picadinhos; ½ pimenta dedo de moça picadinha; e 2 colheres de sopa de farinha de rosca, sal e azeite a gosto.
Recheio : 1 cenoura cortada em tiras fininhas, 6 fatias de queijo muçarela; 5 ovos cozidos.

Modo de preparo: Primeiramente processe a carne, a linguiça, o bacon e a pimenta; em seguida, misture os itens processados e adicione a cebola, o alho, a farinha de rosca e o sal. Misture bem com as mãos até que fique homogêneo. Posteriormente, abra um retângulo, faça um camada com a cenoura, cubra com o queijo e coloque os ovos enfileirados. Enrole fechando bem as laterais e besuntando de azeite. Feche qualquer espaço por onde o queijo possa vazar. Leve ao forno alto até que fique dourado.

Por Adriana Padoan