Search
segunda-feira 23 dezembro 2024
  • :
  • :

Comilanças Históricas e Atuais – O curioso caso de Benjamin Button – nascer e viver

I – Nascer e viver
Os dias surgem estimulados pelo despertar do sol. As flores abrem-se procurando o banho de luz, os pássaros voam, dançam e cantam em busca do sonho sonhado. A humanidade transita pelas ruas, praças, parques, projetados pelas movimentações das intenções e acontecimentos. A noite vem distribuindo estrelas e reorganizando os astros. O amor observador atento das locomoções individuais, une homens e mulheres, espelhando sentimentos e paixões. A partir desses encontros, desenvolvem, lutam, estudam, amam, envelhecem, e partem para outras dimensões. Olhando a internalidade do universo, a vida caminha nas estradas sequenciais do tempo, minuto a minuto, ação por ação, até que as tarefas aconteçam e as histórias registrem as causas, as consequências, os sons e o silêncio.

II – A reflexão
As águas do Rio Mississippi embolavam-se perto da correnteza, quando o escritor Mark Twain, autor do romance “As aventuras de Ton Sawyer”, barqueiro do grande rio, questionando os filósofos e a si mesmo, as realidades que envolvia a existência da velhice e sugeriu: “ a vida seria infinitamente mais feliz se pudéssemos nascer aos oitenta anos e gradualmente chegar aos dezoito anos”.

Tomando como ponto de partida o pensamento de Mark Twain, o escritor Francis Scott Fitzgerald publicou, em 1922, o conto: “O curioso caso de Benjamim Buttom”, uma estranha história de uma criança, que nasce com uma doença, mesmo sendo bebê, possui todas as enfermidades e a aparência de um homem de oitenta anos. Benjamim tem cabelos ralos, brancos e uma barba longa. Benjamim; o “menino” já veio ao mundo falando; ele vai à escola, Universidade, apaixona-se e, dia a dia torna-se mais jovem. A linearidade temporal da vida é quebrada, Fitzgerald inverte a ordem do desenvolvimento humano, ou seja, nasce velho e alcança a morte na infância. O seu conto levou os leitores a fantasticamente encarar a inversão da rotina da vida.

III – O cinema no contexto
O curioso caso de Benjamim Button, um conto estranho, irregular, questionador, marca um encontro com profissionais da arte cinematográfica. Em 2008, após longas exposições sobre a obra literária, o diretor David Fincher adquiriu os direitos autorais para retransformar a linguagem da obra de arte. O roteiro do conto literário foi escrito, recriado, reconstruído por Eric Rolt. Os atores foram contratados e os ensaios começaram.

IV – O filme “O curioso caso de Benjamim Button”
O início do filme focaliza um hospital na cidade de New Orleans. Nesse hospital uma mulher de idade avançada, em seu leito de morte, dá um balanço em sua vida. Do lado de fora, uma tempestade sem rosto se aproxima, esse tempo horroroso, na verdade seria o feto do Furação Katrina. A câmera registra a senhora, o desfalecimento e a chegada de uma tragédia. A paciente chama-se Daisy e, ao seu lado está sua filha, Carolina, uma espécie de visita e acompanhante dos últimos momentos de vida de sua mãe. A relação entre mãe e filha sugere a existência de uma certa tensão. A matriarca, aos sussurros, pede a filha um diário que está em seus pertences e lê-lo para ela. O diário, um registro de todos os dias, da vida de uma pessoa, tem um caráter próprio. No filme, o diário é ilustrado por fotos, recortes de jornal e revistas. Na leitura do diário à mãe, Carolina descobre sua autoria; o diário fora escrito por Benjamim Button. A estrutura do diário centraliza-se na junção de várias histórias dentro de um macrocosmo de uma vida.

V – Uma narrativa dentro do contexto
A história começa com a narrativa lembrando a epopeia pessoal vivida por um relojoeiro cego, construtor de um relógio pera o terminal ferroviário de Nova York. Durante a construção do relógio, seu filho único vai para a Primeira Guerra Mundial e acaba morrendo no campo de batalha. A dor, a agonia, a desilusão, não o afasta da obra que está executando. Na inauguração do relógio na estação, com a presença do presidente, a população percebe que o ponteiro dos segundos gira em sentido contrário, registrando o tempo oposto ao presente. Tudo poderia ser revertido. Os mortos na guerra poderiam reviver, retornar às suas casas. Após a inauguração, na proximidade da noite, o relojoeiro entra num barquinho, sozinho, e desaparece no mesmo retorno das ondas e das profundezas.

No calor do final da Guerra, o empresário Button, corre em direção a sua casa, para acompanhar o parto da sua esposa. Ela deu à luz, mas sofrera uma hemorragia que lhe levara a vida. Antes de respirar pela última vez, solicitou ao marido que desse um lugar, nesse mundo turbulento, a seu filho. Ao ver o filho, porém, solta um grito de pavor, a criança nascera com o corpo, a pele, os movimentos, de um velho de oitenta anos. O pai agarra o bebê, grita sons que nunca foram expelidos, corre pelas ruas, chora, passa pelas margens do rio. Pensa em destruí-lo no vendaval das águas e, na amenização do seu surto, deixa o filho na porta de um asilo para velhos.

VI – Um lugar para o bebê
Um jovem casal negro, formado por Quennie e o namorado, responsável pelo asilo, recolhem a criança; um médico o examina, apontando as suas doenças: artrite aguda, catarata avançada, osteoporose, o que o leva a uma existência breve. Ela lhe dá o nome de Benjamim, segundo a Bíblia, gerador do povo de Israel. O menino de 80 anos passa os seus dias ouvindo as histórias daqueles homens idosos e Benjamin passa por um processo de rejuvenescimento.

Benjamim em sua rota parra o rejuvenescimento apoia-se em muletas ao dar os passos em direção ao seu destino, acompanha um amigo que ia visitar sua amante, sente o vento da liberdade. Numa festa acontecida no asilo, deixa de usar muletas. Vê Daisy pela primeira vez, o seu coração faz um discurso interno e a paixão entra pelo seu olhar. Ele e a menina projetam os instantes de revelação. Daisy descobre que Benjamim não é um homem idoso, mas em transformação constante. Passam os dias juntos; à noite, na procura da lua, conversam sobre o outro lado do mundo. Benjamim cresce e bebe juventude, toma banho sozinho, atravessa a puberdade. A cada dia que passa, a força de todos os corpos, penetra em sua alma. Os seus amigos idosos vão, aos poucos, a caminho de viagens inesperadas. Na chegada da primavera, visita o porto e embarca num navio, como marujo. Na adolescência, passada em país distante, ama uma prostituta.

Aos dezessete anos ainda parece um homem de meia idade. Ele retorna ao mar, despedindo-se de Daisy, uma menina de doze anos. Ele viaja, sente o cheiro do mundo, é apresentado a Ásia e outros países; Daisy inicia o seu aprendizado de balé. Em suas viagens, apaixona-se por Elizabeth, mulher casada, nadadora que tentara atravessar o Canal da Mancha. Depois do amor despertado, ela desaparece, deixando-lhe um bilhete.

O destino, mudando a rotina dos tempos, coloca Benjamim na Segunda Guerra Mundial. Ao retornar do centro da violência do mundo, parece um homem de cinquenta anos e Daisy, uma bailarina de vinte. Os dois jantam em um restaurante à luz de velas. Ela fala-lhe de sua vida e de seus amantes. Ele fala dos encantos e desencantos de pátrias distantes, mas lutando pelas mesmas coisas.

VII – O amor vivenciado
Benjamim conhece o pai, tornando-se seu herdeiro. Antes do falecimento do pai, Benjamim o leva a beira do lago verde para ver o nascer do sol; a paz, o perdão, os sentimentos brotam dentro da luz vermelha do Sol.

A bailarina Daisy coloca os seus pés em todos os palcos do mundo; vive grandes amores e encontros momentâneos com pessoas conhecidas e desconhecidas. Em uma tarde, na esquina de um desencontro, Daisy é atropelada, e o balé abandona as suas pernas. Na noite de São Leopoldo, em Paris, durante as badaladas dos sinos, Benjamin ama Daisy, no quarto de um hotel. O vento norte os leva para uma longa viagem, amam-se acompanhando a paixão da terra e das nuvens; compram um duplex, um ponto no universo para um casal de quarenta anos. Daisy abre uma escola de dança. A música, os movimentos do corpo, os pliés, os tendus, os adagios e Daisy comunica a sua gravidez a Benjamim. Os dias correm e batem em todos as portas, antes do nascimento de Carolina. O tempo continua navegando como um furação; Daisy envelhece e Benjamin rejuvenesce. A sua cabeça descobre a verdade dolorosa ao ver a filha nos braços de Daisy, em breve ele será o companheiro das brincadeiras de Carolina. O desespero afunda-se em sua pele e Benjamim foge para os mistérios do mar. A partir desse ponto, o roteiro fílmico exibe uma das cenas mais comoventes da história da sétima arte, ou seja, Daisy recebe Benjamim com quatro anos de idade, ele confessa que sabe que viveu uma vida inteira, mas não se lembra de nada. De repente, no meio da tela de cinema, vemos Daisy segurando um bebê nos braços; a criança tenta olhar nos fundos de sua alma e, como um chama que se apaga, morre mergulhado no vazio da vida, dos sentimentos, da sinfonia que nunca fora executada.

VIII – Aos leitores
Meus leitores de todas as semanas, no filme “O curioso caso de Benjamim Button”, o tempo tem rosto, personalidade, racionalidade, agindo como um personagem. A sua ação transforma a narração, assumindo a função de senhor absoluto da razão e dos acontecimentos.

A inversão do tempo, psicologicamente falando, nos leva em direção ao desconhecido, ao contato com o fim real, mas não elimina o temor e a aceitação pacífica da chegada, da parada em um porto qualquer. O tempo objetivo e subjetivo são apresentados no filme, na cena em que Daisy, no seu leito de hospital, vê beija-flores voando através da vidraça da janela. Na explicação que o capitão de um barco dá ao marujo; ou seja, a vida do beija-flor está em sua velocidade, fator que determina o seu início e o seu fim. No instante da guerra em alto mar, quando um submarino atira na embarcação de Benjamim, e um beija-flor voa sobre a dimensão do oceano, fora do seu espaço natural, do tempo cronológico, exemplificando a dor que existe na inversão temporal da alma e do corpo.

RECEITA

RECEITA CREME BRULEE

Ingredientes: 1 litro de creme de leite fresco; 1 vagem de baunilha; 10 gemas em temperatura ambiente; 150g de açúcar; Açúcar dourado para queimar.
Modo de fazer: Pré-aqueça o forno a 100 graus. Gentilmente aqueça 1 litro de creme de leite fresco com as sementes de uma vagem de baunilha. Quando ferver, retire do fogo e deixe esfriar 10 minutos. Bata as gemas 10 (12 se os ovos são pequenos) e 150 g de açúcar até obter um creme fofo. Adicione o creme de leite e mexa com uma espátula. Filtre através de uma peneira fina e deixe descansar até que o creme fique bem liso. Verter esta mistura em 6 ramequins (forminhas) e assar em banho-maria durante 1 hora, 1 hora e 15 minutos, mesmo um pouco mais se necessário. Deixe esfriar e guarde na geladeira por pelo menos 3 horas. Antes de servir, polvilhe o açúcar dourado (pode ser mascavo) e caramelize o topo com um maçarico de cozinha. Sirva imediatamente depois de queimar com o maçarico.
Dica: A fragrância tradicionalmente é a baunilha, o ideal é usar sempre a fava mas nada impede que você substitua ou some essência de lavanda, flor de laranjeira, água de rosas, alcaçuz, cardamomo, café, etc…

Por Adriana Padoan