Era noite e a lua estava passeando pelo espaço. Deitei-me apoiada no meu próprio sonho. Nunca aconteceu comigo antes, mas sonhei colorido; as cores pintaram o universo visível e invisível. No início do meu sonho, vi Freud andando, apressadamente, a caminho da Universidade, numa das ruas de Viena. O relógio deu uma corrida; o sol brilhava; vi um mendigo artista, ou um artista mendigo, vendendo desenhos que ele fizera de uma igreja localizada numa Praça Vienense; não vendera nenhum dos desenhos. Esse pintor chamava-se Hitler. O relógio disparou, contorceu-se; fui lançada ao longe, numa montanha dos Alpes. Havia gente bonita, pessoas felizes, lindas; havia máquinas, holofotes, aparelhos de som, instrumentos musicais; ensaio de danças; números acrobáticos, e interpretações sérias, dramáticas.
Esse local maravilhoso era o set de filmagem do filme “A Noviça Rebelde”. O nome do filme é muito interessante, pois “noviça” é um substantivo que classifica a situação de uma mulher que está se preparando num convento para dedicar-se à Igreja, à obediência e castidade. Por outro lado, colado a esse substantivo, encontra-se o adjetivo rebelde, significando revolta, indisciplina, desobediência, contestação, e tantos outros sentidos alucinados.
No entanto, esse filme foi produzido no ano de 1964; no meu sonho, porem, acontecia naquele momento. O enredo do filme se baseia numa história real, a vida da família de cantores von Trapp, narrada por Maria von Trapp, no livro;” The Story The Trapp Family Singers”, adaptada em linguagem teatral na peça The Sownd Of Music, levada no teatro Lunit Fountanne, no ano de 1959.
Agora, aproveitando esse instante de sonho, de mensagens enviadas pelo safadíssimo inconsciente, vamos conhecer Maria, a noviça, no convento.
Como todas as formas que formam o desenho final dos Alpes, o mosteiro também o é. As freiras oram, cantam, vivem, cuidam dos necessitados, brincam, cozinham, comentam os acontecimentos que foram tecidos durante o dia. Lá fora há um cheiro de política, de nazismo, e um som estridente, desordenado, obsessivo, vindo de um homenzinho dono de um cérebro diminuto, mas apaixonado por conflitos.
Maria, a nossa personagem, freira fora de ocasião não consegue seguir as normas de condutas estabelecidas pelo convento. As irmãs fizeram uma música que define o choque existente entre o “ser” Maria e o “ser” freira. A letra diz: “Não para mais/não fica em paz/só faz se machucar/e dança quando vem pra missa/e canta para rezar/tem folhas no cabelo/e remendo no avental/tá sempre assobiando no convento/ e sempre atrasada!/
As feiras, a madre superiora, resolveram envia-la como governanta dos 7 filhos do Capitão Jorge von Trapp, viúvo e namorado de uma baronesa rica, entediante, enfadonha, maçante, sem criatividade, e o que é pior, não possui um pingo de amor.
A chegada de Maria, à mansão do capitão constitui-se na aproximação de um furacão. A luz invadiu a casa, a música habitou cada cantinho do palácio, a brincadeira substituiu a austereza do ambiente, e amor transformador, necessário, pleno, difundiu-se no coração das crianças, Maria liberta as crianças, caminham pelas ruas de Salzburgo correndo e cantando com as outras crianças. A beleza do filme, a natureza, a música conseguem acelerar o folego dos assistentes, os olhos são pequenos para filtrar tanta boniteza, como diria a Emília de Lobato.
A beleza da Baviera, fronteira com a Áustria, entrando pelos Alpes, penetra na música cantada pela noviça e pelas crianças, a dança, as brincadeiras, dão um brilho aos picos nevados que descem, lentamente sobre o verde dos gramados, das florestas, dos jardins, transformando-se em estreitos riachos procurando seus destinos e algum lugar nesse mundo.
A noviça rebelde usando o seu jeito de ser, de viver, de enfrentar este universo, rompeu as regras que dominavam as condutas das freiras isoladas nas sombras do mosteiro. Vivendo os seus dias na mansão do capitão Trapp da mesma forma que sentia o seu pulso bater no mosteiro, desfez a ditadura que batia no coração do militar.
Havia uma lareira, as línguas de fogo subiam pelo ar, sem a mínima presa. O capitão, homem moldado em cobre, pegou o violão, deu vida aos seus dedos e cantou uma música que fala das flores edelweiss, pequenas, brancas, namorada dos Alpes; flores que sentem as lágrimas de uma noiva desconsolada pela perda do seu amor. E, esse mesmo amor, saindo da ondulação das cordas do violão transpassaram o coração da noviça e das crianças. A letra, embora simples, encantou uma borboleta sentada no lustre: “todas as manhãs, /você me saúda,/pequena e branca/ limpa e luminosa/você parece feliz de encontrar-me/edelweiss”!
A pequena noviça, com o grupo de criança, representa uma das peças mais conhecidas da Áustria usando marionetes, para o comandante de homens e armas. As marionetes dançaram e cantaram: “gato de chuva, bigode de gato/ laço de fita, cordão de sapato/flor na janela e botão no capim/ coisas que eu amo e são tudo para mim/… lá vai na montanha um pastorzinho/ grita pra cabra o seu gritinho/quando ele grita pro cabritinho/ logo ele acorda o lugar todinho/”.
Numa casa, no pé da montanha, o primeiro Ministro da Áustria treme diante de Hitler. O nazista, sem tinta no coração assina o “Anschluss”, a anexação da Áustria. A noviça arruma as crianças, abraça o capitão sem dor chorada, coloca a família cantando num festival, e, assim foge com a família, vencendo o rancor nazista.
O filme A Noviça Rebelde
Tem 56 anos completos.
O ator Christopher Prumer,
Que interpretou o Capitão Trapp,
Faleceu em 02/02/2021 aos 91 anos,
Dizem, não sabemos, canta edelweiss,
Num palco de nuvens dentro da lua
Julie Andrews vive seus 85 anos
Cada fio de cabelo tem uma lenda dos Alpes
O menino mais velho das crianças
Do filme A Noviça fez o primeiro Homem Aranha.
Eu, sonhadora em cores, acordei, no palco das marionetes.
Mas valeu a pena!
TORTA SACHER
Ingredientes:
Massa: 140 gramas de manteiga; 110 gramas de açúcar; 140 gramas de farinha de trigo; 110 gramas de açúcar de confeiteiro; 1 colher de chá de essência de baunilha; 6 gemas; 6 claras;140 gramas de chocolate amargo ou ½ amargo; 200 gramas de geleia de damasco ou pêssego.
Cobertura: 200 gramas de chocolate amargo; 200 gramas de açúcar; 125 ml de água.
Modo de preparo:
Massa: Em um recipiente, coloque a manteiga em temperatura ambiente, a baunilha e o açúcar de confeiteiro e misture. Adicione, uma de cada vez, as gemas peneiradas e misture. Em banho-maria, derreta o chocolate e acrescente a mistura. Na batedeira, bata as claras em neves com o açúcar. Quando estiverem bem firmes, coloque-as na massa. Aos poucos, vá colocando a farinha de trigo peneirada na massa e misture delicadamente. Forre uma forma de fundo removível com papel manteiga. Unte as bordas da forma com manteiga e polvilhe com farinha. Coloque a massa na forma e leve ao forno pré-aquecido a 180º durante uma hora. Deixe esfriar. Tire o papel manteiga e desenforme. Corte a torta ao meio, formando 2 discos. Passe a geleia (não pode estar gelada) nos dois discos e junte-os. Passe a geleia ao redor da torta também.
Cobertura: Em uma panela coloque o açúcar com a água. Deixe em fogo baixo por 5 minutos e deixe esfriar. Derreta o chocolate em banho-maria e, aos poucos coloque na mistura de açúcar com água. Despeje a cobertura em cima da torta e com uma espátula, alise-a bem. Sirva com chantili.
Por Adriana Padoan