I – A guerra
As nuvens tentavam formar uma consciência embalada nos céus – as nuvens não conseguiam, mesmo em pensamento, direcionar o mundo dos homens, crianças brincando de mocinho, bandidos, poder, ideologias e, na brincadeira temperada com uma colherada de loucura, conseguiram produzir uma guerra mundial.
II – Pós-guerra
A Segunda Guerra Mundial olhou-se no espelho em 1945, cabelos despenteados, maquiagem coberta de fumaça, mãos sem cuidados. Quarenta milhões de civis fecharam os olhos, feridos ou mutilados, saíram do mundo tentando uma explicação do acontecido, no grande vácuo além das estrelas. Vinte milhões de soldados desintegraram-se na poeira das bombas, das metralhas, dos ataques surpresas; voaram sobre os buracos negros; as causas que provocaram a guerra caíram e refletiram-se na inexplicabilidade das loucuras quase infantis brincando nos trilhos de uma ferrovia. As crianças soltaram balões infláveis, coloridos, comemorando o final da guerra.
III – 1959
Quatorze anos depois, em 1959, acontece uma história de amor, canto, dança, moda, costume, promovida pelos filhos daqueles que morreram ou retornaram das terras assustadas da Europa. É o surgimento da geração da ausência.
O desenvolvimento da história aconteceu assim: Jim Jacobs e Warren Casey fugiram de uma noite de sono, num bar lá pelos idos de 1971. Papel na mesa, lápis bem apontados, escreveram uma peça de teatro calcada no uso do couro, camisas coloridas, botas, motocicletas, carros antigos, modos rudes e grosseiros, músicas e guitarras elétricas, letras que abordavam os acontecimentos do dia a dia; as mulheres subiram as saias, os vestidos, organizaram-se em gangues e foram a luta. Esses grupos mudaram o jeito de ser, os costumes, a moda e a cultura do mundo inteiro.
A peça escrita por Jim e Warrrem acontece na fictícia Rudell High School; em Chicago. A história acompanha a vida de dez adolescentes e suas realidades batidas nos liquidificadores das madrugadas. Os namoros e consequências, os carrões, os drive-ins. Os temas musicais buscam as origens do Rock and roll, a pedra que rola movimentando as vozes, o balanço dos corpos, as loucuras dos deslocamentos eróticos explodindo nos pés.
A Broadway, símbolo das peças musicais que, de alguma forma desarmonizam a linearidade. A peça dos adolescentes e gangues alterou a aparência da própria Broadway, as filas, o público, o nome da peça “Greace” revelaram um musical duro, seco, rude, tema vulgar, atitudes agressivas, comportamentos na febre de um terremoto.
IV – Greace – peça teatral
Fotografa as questões sociais, resíduos da grande guerra, os adolescentes enfrentando o drama da gravidez, confronto e violência entre gangues de rua, o amor nascido nas mãos da amizade, da rebelião, das revelações sexuais e conflitos de classes sociais. O sucesso na Broadway apresentou e reorganizou o texto original. A peça Greace tornara-se o musical que permaneceu o maior tempo em cartaz no templo teatral até os dias atuais, atingindo mais de três mil apresentações.
A peça invadiu Londres, colocou os pés na Itália, na França e, antes que o sol percebesse conquistou o universo das artes.
V – Década de 50: tempo histórico da peça
Era noite, a Suprema Corte dos Estados Unidos, depois de contar as estrelas que dormiam no céu, decretou o fim da segregação racial nas terras de Tio San. A Segunda Guerra Mundial dera um lucro exorbitante aos americanos. Para investir o capital adquirido com a guerra, os americanos geraram a chamada “Guerra Fria”, um conflito de ideias. A corrida espacial nasceu de uma gravidez de poucos meses e muitos sonhos. A moda renovou as vitrines; a fotografia, arquitetura, cultura, música levantaram a poeira das calçadas; o cinema entrou em sua fase mais carrancuda e sorridente concomitantemente, os americanos transformaram a arte cinematográfica em indústrias produtoras de lucros. As mulheres entraram na morada das cores; Marilyn Monroe e Brigitte Bardot tornaram-se símbolos do belo e do erótico. O palco, o público, a alucinação; Elvis Presley, com o cabelo lustroso de brilhantina distribuía notas de uma música vibrada em orgasmos sonoros. Bil Harley, Chuck Barry, Chubby Cheker. A guerra do Vietnã, a Revolução Cubana, a Guerra na Coreia, a Bossa Nova, os Beatles, são produtos da mesma época.
V I – Um desvio de rota
O médico Raul Lamen, brasileiro, fazia especialização em medicina nos Estados Unidos e era fã de Elvis Presley. Numa segunda feira, passara quatro horas na fila do Mid-South Coliseum para comprar ingressos de um show que seria realizado por Elvis nos dias 27 e 28 do mês de agosto.
Indo para o hospital em Memphis, onde estudava, soube que o corpo de Elvis estava no centro cirúrgico. Na noite de 16/08/1977, seu corpo foi encontrado no banheiro de sua suíte em Graceland, residência oficial, sem vida. O médico brasileiro fez parte da equipe que realizara a autopsia no cantor. O corpo estendido sobre a mesa, a boca entreaberta, a língua parcialmente para fora, apresentando tonalidade azulada. O exame toxicológico não apontou o uso de veneno ou drogas ilícitas. Não havia vestígios de cigarros, de bebida alcóolica, mas o exame encontrou quatorze substâncias diferentes: analgésicos (codeína e morfina); ansiolíticos (Diazepan); sedativos – ethinamate, etclorvinal, pentobarbital e muito acima da dose indicada, o antidepressivo metaqualona. O Rock, naquela noite, não movimentou os teatros, as discotecas, os bares noturnos situados nas palmas das mãos de uma nação. Houve silêncio, dor, trauma e espanto.
VI – Greace – do teatro ao cinema
Em 1977 começa a ser rodado o filme “Greace” sob a direção de Randal Kleiser. O roteiro do filme foi de Bronté Woordard, um texto fraco, mas apresentando todas as dificuldades de mudança de linguagem de um trabalho que nasceu para aos palcos de teatro. O elenco perambulou pelos espaços dos estúdios, buscando atores que, mesmo jovens pudessem interpretar adolescentes para viver o presente e os enigmas do futuro. John Travolta foi a primeira contratação, pois vinha do sucesso dos “Embalos de Sábado à Noite” que lhe rendera um Oscar. Para a sua parceira na história, Travolta exigiu a escalação de Olivia Newton-John, dona de uma voz e uma dramaticidade que iam além dos limites do projeto do filme. Os outros surgiram na correnteza dos acontecimentos.
O filme ultrapassou o significado da própria história. Na abertura, durante a apresentação dos créditos, há uma sinopse do conteúdo através de desenhos animados que homenagearam os personagens da Disney e de Hanna Barbera, o príncipe, a princesa, bambi, pássaros, feiticeiras, Penélope Charmosa, Dic Vigarista, todos imaginados na mesma época do enredo do filme.
VII – Nos tempos da Brilhantina: simplicidade
A câmera abre retratando as rochas, as ondas de um mar lindo e agitado, abrindo-se em mistérios e possibilidades. Os jovens Danny e Sand se apaixonaram e aproveitaram um verão inesquecível na praia. Quando voltam às aulas, descobrem que frequentam a mesma escola. Danny, Travolta, lidera a gangue dos T-Birds, um grupo de adolescentes, usando jaquetas de couro e muita brilhantina no cabelo, tendo por objetivo a conquista do maior número de garotas possível, vivendo naquele microcosmo da época; Sand, Olivia Newton-John, passa a conviver com a gangue das Pinks Ladies, liderada pela revoltada e sarcástica Rizzo, Chamming. No encontro dos dois jovens na escola, Sand percebe a duplicidade existente no caráter de Danny, ou seja, o jovem apaixonado e sensível da praia, tem que se transformar no líder de uma gangue e, por esse motivo, ser duro, agressivo, fruto de um instante da história e das transformações sociológicas.
VIII – Cenas
A dança, a música, se tornam elementos centrais e pano de fundo do enredo. Os dramas introduzidos no contexto musical identificam um universo vivencial daqueles adolescentes, como a cena bem elaborada, em que a personagem Rizzo confessa sua possível gravidez. O boato corre as salas de aula, os gramados da escola, a sala dos professores transformando-se numa comédia revestida pela dúvida, medo, insegurança. A narração de Sand sobre a sua paixão por um jovem romântico, nas suas férias na praia, confronta-se com a versão mentirosa de Danny que, num grupo de jovens fala sobre a sua vaidade masculina ao narrar uma noite de amor sobre a penumbra do cais.
John Travolta confere uma composição complexa a um personagem simples, no concurso de dança e na corrida de carro com o líder da gangue rival, uma interpretação intertextual com o filme “Juventude Transviada” e com o ator James Dean.
As cenas vividas por Rizzo trazem a abordagem sobre o papel da mulher na década de 50 e sua revolta social ao viver uma mulher livre sexualmente, independente e no controle de sua própria vida.
A presença de Sand no filme, uma espécie de contra ponto da personagem Rizzo penetra no universo da paixão, da ingenuidade, da poesia como modelo de vida da juventude que, de certa forma, antecipa a década de 60.
A sua voz cantando You’re the one that i want, em “Nos tempos da Brilhantina” marcaram os chamados “anos de ouro” do cinema americano, colocando-a na galeria mitológica de hollywood.
Meus leitores de todas as semanas. Este texto é uma homenagem a atriz Olivia Newton-John que faleceu no dia 08 de agosto em seu rancho na Califórnia, após uma luta de trinta anos contra um câncer de mama. Hoje, sabemos que a “Sand” deve estar conversando com os anjos sobre o filme “Greace – Nos tempos da Brilhantina”.
Receita
Talharim ao Molho de Requeijão com linguiça e bacon
Ingredientes: 400 g de massa tipo talharim (fresca); 1 cebola bem picada; 200 g de Bacon picados em cubos; 200 g de Calabresa picadas em cubos; 1 copo de Requeijão Cremoso; 200 ml de Creme de Leite; 100 g de Queijo Parmesão Ralado; Pimenta-do-reino; Sal; 10 folhas de manjericão; Salsa fresca
Modo de preparo:
Para a massa: ferva água (o suficiente) em uma panela e acrescente um fio de azeite e um pouco de sal. Coloque a massa e cuide para ela ficar no ponto. Escorra assim que estiver cozida e reserve.
Para o molho: aqueça o azeite em uma panela funda e frite o bacon, a calabresa e a cebola. Depois, acrescente o requeijão e o creme de leite. Deixe ferver.
Modo de montar: acrescente a massa ao molho, corrigindo o tempero, se necessário. Acrescente o manjericão rasgado e sirva em um prato fundo, decorado com ramos de salsa fresca.
Por Adriana Padoan