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terça-feira 24 dezembro 2024
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Comilanças Históricas e Atuais – Nomadland: os nômades da América

I – O início
Todos sonham com a Europa, uma realidade geográfica que viveu a escuridão das cavernas, as ondas migratórias, os dramas vividos no oriente, a Idade Média, o Renascimento. Os europeus resolveram, certo dia, após a invenção do algodão doce, construírem castelos, palácios, mansões para reis e rainhas, torres de ferro, igrejas encantadas, lendas, histórias, heróis e vilões, espalharam poesias pelas calçadas, monstros nos rios e nos seus mares, divulgaram lindas aventuras de amor, colocaram dentro de livros os Otelos, Desdêmonas, Romeus, Julietas, megeras domadas, criaram o comércio, expansão marítima, indústrias, guerras com sabor de vinho, morte, lucro. No canto direito de uma sala, no fundo de um castelo, encontraram um mapa desenhado por um bruxo que, na noite de São Tomé fora queimado em praça pública. Ele deixara um estudo sobre a transformação do passado em atração turística, em torno da evolução causada pelo tempo.

II – América
Os Estados Unidos, depois da Segunda Guerra Mundial, ampliaram mil vezes o poder que possuíam; a economia, força militar, desenvolvimento industrial, assumiram-se como trono do capitalismo, das reformas sociais, morais, artísticas e, até clarearam o mundo apresentando a morte em forma de um grande cogumelo. Rasgaram o céu, atravessaram o universo estelar, aproximaram-se dos sonhos dos deuses gregos e pisaram em solo lunar.

III – América e cinema
Esse povo entendeu que o cinema, a televisão, organizam jornadas fabulosas oriundas do passado, do presente e futuro, remexem nos desejos, nos fetos projetados em alguma certeza, agitam sonhos adormecidos e vivos, confirmando a origem do homem, a formação de grupos, de organização social; isto feito, acreditaram no líder, nos assessores, nos técnicos que iriam amenizar as suas dores ou realizar os seus sonhos.

IV – Sonho e perigo
Em 2008, enquanto a população americana dormia, os casais abraçados no calor do amor sincero, as crianças no quarto do corredor sonhando com jogos, tarefas, exercícios do professor esquisito e meio fora dos eixos, mas, no entanto, havia um desejo comum unindo a família numa grande manifestação onírica, ou seja, colocar o trailer na estrada, não se importando com a brisa, vento, movimento das nuvens; desejavam, na verdade, conhecer o Grand Cannyon, no Arizona. Outros americanos dormindo em camas separadas, sonhavam com as estradas, a música, as malas e a chegada no Parque Nacional de Yellowstone. Os casais com mais filhos pequenos, meninos e meninas, imaginavam a chegada na Walt Disney World Resort, na Florida.

No mesmo instante que os devaneios percorriam os telhados das moradias do povo da grande América, o governo, o congresso, as assembleias montavam um tabuleiro de xadrez econômico centrado nas centenas de repartições da famosa Casa Branca.

V – Plano econômico
O plano iniciava o seu significado com uma frase, um grito vindo da garganta: “Um plano amplo, poderoso, persuasivo, objetivando alavancar a especulação imobiliária”. O primeiro passo foi a liberação de créditos sem o mínimo controle. Os cidadãos dos Estados Unidos, mesmos os que não tinham as mínimas condições de pagar as prestações bancárias obtiveram empréstimos. Grande parte da população entrou nos bancos, emprestou o necessário e um pouco mais, alegre como um menino comprou a sonhada casa própria. As hipotecas preencheram os horários de trabalho dos grandes bancos. O que o senhor governo não pensou, porque presidente não pensa, foi a disparada dos valores dos imóveis, uma curva econômica nunca vista antes.

VI – O resultado
No final de uma tarde nublada, sem pássaros aninhando-se nas árvores, o sistema de empréstimo, compras e hipotecas entrou em colapso. O governo, em seu sonambulismo, reduziu o crédito, a compra e a venda de imóveis; houve aumento dos juros e o tradicional banco Lehman Brothers quebrou.

O mercado mundial levou um soco no estomago, os setores bancários e financeiros da Europa perderam o norte, o Brasil parou para respirar e retirar a bola do jogo. O quadro negro preenchido em todas as salas das faculdades americanas apontava uma consequência para o que ficou conhecido como bolha imobiliária: milhares de pessoas perderam suas casas, os bancos confiscaram os sonhos de boa parte da vida de uma nação. Os trailers usados para viajar pelos pontos turísticos construídos pelos pioneiros que abriram os limites do sol, da chuva, das tempestades, passaram a ser residências dos perdedores, dos falidos e desempregados.

VII – O Cinema, a Academia, o Oscar
Poucas pessoas estavam na festa do Oscar de 2021, a Covid-19, cumpria uma missão estranha e arrepiante, ou seja, fazia a sua caminhada recolhendo vidas e as enviando para o além explicado e comovido. A festa iniciou exatamente as nove horas da noite. Muitos artistas presentes levaram um impacto quando foi anunciado “Nomadland”, dirigido pela chinesa Chloe Zhao como o melhor filme e direção; e Frances Mcdormand ganhou o prêmio de melhor atriz.

VIII – O filme Nomadland
O roteiro tomou como base o livro da repórter Jéssica Bruder que, durante três anos acompanhou, entrevistou centenas de pessoas vitimizadas pela resseção imobiliária transformadas em nômades e vivendo em trailers, passando por cidades, estados em busca de trabalho temporário.

A personagem central Fern, interpretada pela atriz Frances é uma mulher de 60 anos que perdeu a sua casa, o seu marido morreu, o emprego, passando a viver como uma nômade pelas estradas do Oeste Americano. Enquanto viaja sem destino, em busca da algo obscuro, afirma que não é uma sem teto, mas uma mulher sem casa, arrancada de sua vida pela incapacidade administrativa do governo do seu país.

IX – Ser ou não ser
Ela já fora professora de uma escola primária, amou e foi amada, respeitou as crianças e, por elas, foi respeitada. Os efeitos cruéis do sistema capitalista refletem-se no rosto da personagem como desenhos feitos a fogo; as rugas, a tristeza, as sombras dentro dos olhos, a falta de sorriso, a ausência dos diálogos.

X – O novo cinema
O filme mistura personagens reais e fictícios, as histórias de cada um são narradas através de poucas palavras e muitas imagens. São pessoas que perderam, tornaram-se doentes e solitárias, largaram todas as coisas que estruturavam a vida, partindo em busca de trabalhos momentâneos que documentam, de forma cruel, que a realidade possuidora de pensamentos tão distantes, pode estar próxima, e, na maioria das vezes ocultada nas entranhas de países que se apresentam como potências mundiais.

A existência passada em Vans não entra no catálogo da política, não recebe ajuda econômica ou planos de saúde, a precariedade de sentir-se humano não tem poder de escolha, não permite emitir opiniões ou participar de julgamentos sobre direitos e deveres. A sua liberdade está envolvida na aparência de uma luta diária pela sobrevivência. Fern transmite no olhar a dor penetrante, o apego misturado ao orgulho de possuir uma Van, um veiculo que recebe a chancelaria de ser um lar.

XI – A beleza desfeita
A Van corre pelas estradas, a paisagem é infinita e amarronzada, são lindas porque fazem parte de uma nação. Uma de suas paradas acontece no deserto local onde caminha pela areia, sozinha em seus pensamentos, saindo em uma cachoeira. A sensação do banho transmite a emoção de que a vida permanece em seu corpo, fazendo parte da natureza.

Há uma cena em que a tela se divide; em um canto existe uma casa iluminada e, no outro, a sua Van, são duas formas de vida, duas faces do capitalismo. Ambas são lares, as duas são estilos e modos de se viver.
Assim, de estrada em estrada, de cidade em cidade, ela trabalha de balcão de entrega, em cuidadora de banheiro público, na colheita da beterraba. Os nômades tentam sobreviver com o dinheiro da aposentadoria, mas é impossível. De vez em quando eles se encontram, cantam, conversam, dançam, sonham por breves instantes.

Ao amanhecer começam a cruzar o país, colocam seus banheiros, baldes de plásticos dentro das Vans; partem como papel tocado pelo vento, transformando-se em mão de obra barata e descartável. E o filme, doído como a perda da dignidade apresenta a sua grande temática, isto é, a vida do desamparo.

Receita
COOKIES COM GOTAS DE CHOCOLATE E NOZES

Ingredientes: 90 g de manteiga; 60 g de açúcar refinado; 100 g de açúcar; mascavo; 1 ovo; 1 colher (de chá) de extrato de baunilha; 2 g de bicarbonato de sódio; 170 g de farinha de trigo;1 pitada de sal; 50 g chocolate ao leite em gotas; 40 g chocolate ao leite em gotas para decoração; 50 g de nozes picadas; 40 g de nozes picadas para decorar

Preparo: Misture a manteiga, o açúcar refinado e o açúcar mascavo em um bacia de uso culinário até incorporar os ingredientes. Adicione o ovo e a baunilha e bata bem. Acrescente a farinha, o sal e o bicarbonato de sódio. Coloque o chocolate e as nozes e mexa suavemente. Em uma assadeira untada, faça bolinhas com a massa. Por cima, coloque as gotas de chocolate e as nozes para decoração. Deixe um espaço de 5 cm entre cada bolinha.
Descanse a massa no freezer por 20 minutos e então assar por 15 minutos em forno preaquecido a 180°C.

Por Adriana Padoan