O Visconde Albatroz sobrevoou a floresta da Pureza, em torno das oito horas da noite. Lá das alturas usando o seu canto alentado, o Visconde anunciava a chegada da noite de Natal. A raposa azul saiu de sua toca, no topo da montanha prateada, com seus quatro filhotes, azuis da cor dos olhos do mar. As estrelas estavam no céu. A lua no mesmo lugar de sempre, assistindo a corrida entre São Jorge e o Dragão Sereno. As constelações escreviam os horóscopos da dona natureza, com pena de faisão e tinta de urucum.
Os rios nadavam dentro das suas margens; os pássaros compositores faziam o que de melhor sabiam fazer, música! O coelho branco de fraque e cartola ensaiava os canários, os pintassilgos, as araras, os sabiás, para o concerto da meia-noite. A raposa azul sentiu o cheiro que vinha da cozinha da dona coruja amarela, doceira de primeira qualidade e famosíssima nos reinos das fadas e das florestas encantadas. Era o cheiro característico que evaporava das panelas de geleias, de doces em calda, dos doces de corte, nesse exato momento caiu um galho da paineira lilás, provocando um ruído ensurdecedor. Os animais há muito tempo sabiam que a centenária paineira soltava, todos os anos, um de seus galhos floridos para decorar o caminho do Papai Noel. A raposa azul, comovida com a bondade das flores de paina sentiu a falta de sua filha Julieta, a raposinha mais azul daquela floresta, demasiadamente encantada.
O falcão do tempo se prontificou a voar além das cabeças das árvores, numa tentativa de localizar a raposinha desaparecida. Os moradores das montanhas, em conjunto, partiram na missão de busca, cada qual usando as suas próprias qualidades.
O que aconteceu de fato e passou longe da observação da raposa azul e dos seus vizinhos, foi à chegada da rena Dançarina, uma das mais vibrantes, brincalhona, engraçada, das nove renas do Papai Noel. Dançarina, não se sabe por que, levou Julieta para dar um passeio na terra do Coração, um pedaço da cidade do bom Velhinho.
Julieta andou pelas oficinas que fazem os brinquedos que, seguindo a vibração da alma, realizam os desejos dos meninos, meninas, jovens, senhoritas, senhoras e senhores; caminhou pelo bosque dos sonhos onde morava o lisianto Freudiato; entrou na casa do Papai Noel, onde um grupo de gaturamos ensaiava canções natalinas, imitando os famosos três tenores. Papai Noel, em pessoa, recebeu a raposinha Julieta. Conversaram sobre os variados anseios dos habitantes da Floresta Encantada. No final da conversa, Papai Noel entregou o nome, a letra e a melodia de algumas canções de Natal, solicitando à raposinha que explicasse as mensagens contidas nessas canções e as contassem aos habitantes da floresta.
Às doze horas de uma noite estrelada, o falcão do tempo avistou próximo ao monte dos Sanhaços, a chegada da rena dançarina e Julieta comodamente sentadas em um trenó pequeno, porém, de grande velocidade. A alegria, o espírito de Natal, a fraternidade retornaram a grande Floresta; dizem também, que todas as flores se abriram para perfumar a raposinha Julieta.
A meia-noite com a chegada do Papai Noel, o maestro Coelho Branco assumiu seu posto na orquestra, coração batendo em todos os lados do peito, o coral de sabiás, lindamente vestido, centralizou as emoções no olhar, com jeito de infinito, e a música trilhou os caminhos abertos pela presença da manjedoura, de José, Maria, os pastores e os reis magos.
Os sabiás, os pintassilgos, os canários, abriram os bicos:
Então, é Natal
E o que você fez?
O ano termina
E nasce outra vez.
Então, é Natal
A festa cristã
Do velho e do novo
Do amor como um todo.
Então, é Natal
Pro enfermo e pro são
Pro rico e pro pobre
Num só coração.
Então, bom Natal
Pro branco e pro negro
Amarelo e vermelho
Pra paz afinal.
A raposinha azul, Julieta, tomou a palavra, a música, a orquestra dizendo: “Toda canção nasce dentro do coração de alguém. Deus abre as cortinas que cobrem a luz do sol. Os sons, as notas musicais saem dos dedos do Senhor, navegam pelo espaço até chegar no peito de algum artista, nas cordas de um violão, de um piano, de um violino, ou de outros instrumentos, tocados por anjos fantasiados de gente e as palavras rompem o sentido da musica, despertando os movimentos da harmonia.
Hoje é Natal, o nosso silêncio interior pergunta o que fizemos. Fizemos o que havia para ser feito. Muitas ações, no entanto, não se realizaram. Não chorem, o ano nascerá novamente, pois Natal é, antes do próprio tempo, o renascimento.
Lá na ponta daquela nuvem, caminhava um homem enfermo, um homem rico, um homem pobre. Eles se olharam, eles se tocaram e o Natal estava dentro do doente, do milionário, do Zé ninguém.
Na curva do caminho, entre os arbustos surgem um jovem branco, uma criança negra, uma mulher amarela, a jovem mãe vermelha e, na manjedoura de Jesus, todos estão apenas pintados da mesma cor, da cor universal.
Feliz Natal!
Receita: Torrone gelado
Ingredientes
Merengue:
3 claras de ovo; 6 colheres de sopa de mel; 1 colher de raspas de laranja; ½ xícara de chá de amêndoas; 1/2 xícara de chá de damasco em cubos; ½ xícara de chá de uva passas branca sem semente; 1/3 xícara de chá de castanha de caju granulada.
Amaretto, cointreau ou cachaça a gosto para macerar as frutas secas (opcional).
Chantilly:
1 xícara de chá de creme de leite fresco.
Modo de preparo:
Toste as amêndoas até ficarem crocantes e soltarem o seu aroma. Depois de esfriarem, corte grosseiramente para obter pedaços menores e reserve.
Merengue:
Numa panela coloque o mel e leve para ferver em fogo médio/alto ( aproximadamente 2 a 3 minutos). Assim que estiver borbulhando, desligue o fogo.
Numa batedeira, coloque as claras para bater em neve e derrame pouco a pouco o mel ainda quente sobre as claras batidas em neve, deixe bater até esfriar. Esse procedimento deve levar de 5 a 7 minutos.
Acrescente as frutas secas ao merengue que já está frio. Uma dica: caso queira dar um sabor mais alcóolico a receita, macere as frutas secas picadas ( passas e damasco ) e deixe-as marinar por 15 minutos em um destilado como o cointreau ou Amaretto.
Junte também a castanha de caju granulada, as amêndoas e as raspas de laranja. Bata levemente, apenas para misturar: 10 ou 15 segundos são suficientes. Retire da batedeira e reserve.
Chantilly:
Em outra tigela, derrame o creme de leite fresco bem gelado. Bata o creme de leite até chegar ao ponto de chantilly.
Misture tudo e coloque em um refratário forrado com papel filme e leve até o congelador por no mínimo duas horas.
Desenforme e decore a gosto.
Por Adriana Padoan