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segunda-feira 23 dezembro 2024
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Comilanças Históricas e Atuais – Não se compra o amor

Um dia desses, cheio de vida, fui visitar o sitio de um amigo, nas imediações de São Luis de Paraitinga, terra que possibilitou o desenvolvimento da história do Vale; terra de Oswaldo Cruz, de Elpídio dos Santos, o poeta mais aquecido do Brasil, do grupo Paranga, da Dona Cinira e tantos outros. O sítio do meu amigo chamava-se Platão, um fato inusitado em plena Serra do Mar; com seu sorriso, ele vestia uma camiseta com o desenho do astro americano James Dean, um jovem artista que marcara uma geração, não só americana, mas mundial.

Perguntei-lhe se ele conhecia a história de James Dean, ou usava a camiseta por ditames da moda e, aproveitando o momento, questionei-lhe porque o sitio tinha o nome do filósofo Platão. Ele pensou, entrou nuns momentos de divagação, respondendo-me: -“assisti ao filme Juventude transviada, num cinema de Taubaté. A fila era comprida, havia policiais acompanhando os movimentos; havia também católicos radicais afirmando que era um filme produzido pelo diabo, usando o povo americano como cidadãos manipulados pelo demo”.

Confesso que no final do filme, chorei muito; nunca esqueci as expressões do astro James Dean, por isso comprei essa camiseta; não consegui digerir o mundo vivido pelo personagem Platão, interpretado pelo artista Sal Mineo, creio que a filosofia do pensador grego Platão, esteja naquele corpo tombado, usando um pé de meia da cor vermelha e, a direita azul. Essas cores, para mim, retratam a possibilidade de entendermos as palavras do filósofo grego. Diante dessa minha certeza, nomeei o meu sítio de Platão.

Dito isso, sentamo-nos à sombra de um abacateiro. Havia uma brisa suave, vinda lá dos lados da antiga Grécia. Combinamos que, em dez tópicos, entraríamos nas profundezas do coração de Nicholas Ray e o que pretendeu alertar o mundo com o filme Juventude Transviada.

I – Guerra
Quero que você preste atenção, não precisa queimar centenas de neurônios. Na Segunda Guerra Mundial, um dos maiores absurdos desse planeta, os Estados Unidos da América, mandaram para a Europa, palco dos acontecimentos, 16 milhões de soldados americanos. Como disse Fernando Pessoa, um anjo da literatura portuguesa, muitos lares presenciaram a partida dos pais, dirigindo-se a uma área abraçada à vida e à morte. Hitler, nesse momento, lia na solidão do seu banheiro, historinhas pornográficas; enquanto em muitas casas americanas, o país via e ouvia o choro das mães, os olhos vermelhos dos pais, os choros acelerados dos irmãos, tirando as lágrimas do peito e testemunhando a ida dos filhos em direção aos campos de batalha; nesse mesmo instante, Hitler terminara a leitura de sua revistinha e num acesso de loucura, chamou sua secretaria chamada Dona Raik, aproximou-se, tentou tocá-la, mas nada aconteceu, o tirano ficou furioso.

II – Dez anos depois da guerra
A geração pós-conflito assustara-se ao ver as cidades crescerem para o alto, dentro de tubos de concreto chamados edifícios. As casas abandonaram as fotos antigas, tornando-se belas, funcionais, sedutoras, tocadas ao calor do erotismo engatinhante. O plástico de todas as cores e trejeitos substituiu o rosto pesado do ferro; o rádio deu um salto e invadiu a alma das donas de casa; a TV, recém lançada, financiada pelas grandes indústrias mudaram o comportamento das crianças, dos jovens, dos pais e dos avôs. O casal americano, ao acordar de manhã, antes de abrir os olhos, pensava nos objetos novos que surgiram enquanto dormia, a vontade de tê-los, antecipava-se ao lançamento do produto. Era a vontade de consumir a novidade, comprar a nova forma de agir, amar, viver, ter, sonhar.

III – Os efeitos do pós-guerra
O filme Juventude Transviada começa; os quadros cheirando a celulose desfilam pelo projetor. Um jovem chamado Jim Stark, representado por James Dean, recendendo a evaporação do uísque barato, completamente bêbado, sendo levado de um lado a outro pelo seu andar, consegue enxergar um brinquedo jogado ao chão, um boneco de corda daqueles que batem pratos metálicos. Jim, o personagem deita-se ao chão, identifica-se com o boneco, acaricia-o como quem sente a leveza da infância. Ele está de terno, suas mãos trêmulas brincando com o sonho inanimado; esse gesto nos permite assistir a um conflito entre o jovem e a infância, uma luta nascida dentro do corpo de Jim. A corda do boneco termina; o brinquedo paralisa-se, Jim cobre-o com um jornal, cuida do tempo infantil, levanta-se. Tenta caminhar, é levado ao Distrito Policial.

No distrito há uma jovem linda chamada Judy, queixando-se ao delegado, do próprio pai. Dos seus lábios partem denuncias seríssimas. O pai a odeia, acha que é uma vagabunda, não aceita o seu toque, encolhe-se, por isso fugiu de casa, em plena madrugada. A guerra mundial aconteceu, acabou, mas deixou pais encapasses de entender o desenvolvimento sexual das filhas.

IV – Repartição
Na outra repartição o menino John Crawford tenta explicar porque atirou em vários filhotes de cachorro, com o revolver da mãe. O seu pai está ausente; a sua mãe, viajando; todos são frutos da nova sociedade pós-guerra. No caso específico do adolescente John que, naquele dia completara mais um ano de vida, a sociedade retirou-lhe a esperança de receber dos pais o gesto mais sincero do mundo, um beijo ou um abraço, significando a crença de que a vida está em sua alma, em seu espírito e no seu pertencimento neste universo.

O jovem Jim, bêbado explica ao delegado que seu pai é um frouxo, totalmente dominado pela mãe; ele não tem o pai que necessita; mas, por outro lado, não tem a mãe que o entenda, que o ame, que o complemente como as mães complementam os filhos.
Esses três personagens do filme Juventude Transviada representam, prototicamente, a geração pós-guerra que nasceu no mundo amedrontado, apavorado, mas embebido pela esperança. Na próxima semana continuaremos com as temáticas e as consequências infiltradas na juventude que, ironicamente foi denominada transviada.

Receita

Costela ao molho Barbecue
Ingredientes:
2 colheres de sopa de açúcar mascavo; 1 colher de sopa de páprica doce; 1 colher de chá de pimenta caiena; 1 colher de chá de pimenta do reino, 1 e ½ colher de sopa de sal; 1 colher de sopa de café solúvel

Ingredientes para o molho barbecue:
2 colheres de sopa de óleo; ½ cebola picada; 2 dentes de alho picado; ½ colher de chá de páprica doce; ¼ de xícara de chá de uísque, 1 colher de sopa de molho inglês; ½ xícara de chá de açúcar mascavo; ½ xícara de chá de vinagre de maçã; ½ xícara de chá de polpa de tomate; sal a gosto; ¼ de xícaras de chá de água.

Modo de fazer:
Em uma tigela coloque 2 colheres de sopa de açúcar mascavo, 1 colher de sopa de páprica doce, ½ colher de chá de pimenta caiena, 1 colher de chá de pimenta do reino moída, 1 e ½ colher de sopa de sal, 1 colher de chá de café solúvel tradicional e misture. Espalhe bem a mistura de temperos em 1 ½ de costela suína inteira, enrole a costela, coloque dentro de um saco plástico e deixe marinar por 12 horas na geladeira. Depois de 12 horas, retire da geladeira, envolva a costela em folha de papel alumínio e coloque em uma assadeira com o osso para baixo. Leve ao forno pré-aquecido a 180 graus por 3 horas, até ficar macia e assada. Retire a costela do forno, descarte o papel alumínio com cuidado. Pincele o molho barbecue e leve ao forno novamente por mais 10 minutos. Retire do forno e sirva com batatas fritas.

Modo de preparo do molho barbecue:
Em uma panela em forno médio aquecida com duas colheres de sopa de óleo coloque ½ cebola picada, 2 dentes de alho picados, ½ colher de chá de páprica doce e refogue por mais ou menos 5 minutos. Adicione ¼ de xícara de chá de uísque, 1 colher de sopa de molho inglês, ½ xícara de chá de açúcar mascavo, ½ xícara de chá de vinagre de maça, ½ xícara de chá de polpa de tomate, sal a gosto, ½ xícara de chá de água e deixe em fogo baixo por 15 minutos. Apague o fogo e reserve.

Por Adriana Padoan