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sexta-feira 15 novembro 2024
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Comilanças Históricas e Atuais – Não deixem o amor morrer

I – O confronto
Há momentos na história dos homens, mulheres, idosos, jovens e crianças, que as flores abandonam as florestas, os jardins, as janelas onde moram os poetas e, inexplicavelmente, retornam ao ventre da terra. Os pássaros silenciam os seus cantos; as nuvens cobrem a lua; o sol tenta cobrir o seu rosto com suas mãos. Nesses fragmentos temporais, o delírio sai da sua toca escura como um breu, para invadir o coração dos homens, levando-os à guerra, à morte, ao sangue instável que caminha pelo rosto da terra.
A Segunda Guerra Mundial foi um fenômeno gerado pelo desequilíbrio, perda de lucidez, diante da vida, em nome do fanatismo insensato e genocida. Depois da guerra, há música se recusou a sentir o coração dos compositores por um bom tempo.

II – O berço e o sonho
Na década de 50 ainda na vivencia dos tempos conturbados, a Han Suyin, escreveu o romance autobiográfico “Coisas de Muito Esplendor”, uma história de amor mareada pela Revolução Comunista, a Guerra da Correa, o princípio da Guerra Fria. Ao lado desse caldeirão de fatos, a escritora levou em conta o racismo, o colonialismo, a exclusão do ser humano, conflitos culturais, e uma sociedade movida pelo ódio sem identificação e local de nascimento.

III – O calor do cinema
Em 1955, um pedaço de tempo fatiado pela convulsão dos sistemas políticos, o cinema adquiriu da escritora chinesa os direitos autorais do seu livro, para uma produção cinematográfica destinada a apresentar as profecias ditas e ocorridas nos novos tempos. O roteirista John Patrick foi convocado para executar a emigração da linguagem literária do romance para a linguagem em movimento do cinema. O diretor Henry King deu início à elaboração dos espaços, à iluminação, os testes dos atores, as leituras e ensaios, e o feto começou a tomar colheradas de vida, de paixão, de sentimento.

IV – Fatos que coloriram a história de amor
Era uma vez, umas páginas de livros escritas por um sábio chinês. Com a morte do autor, elas se apresentavam, uma vez por mês, para contar histórias. As histórias eram narradas da seguinte forma: “A primeira história se passou assim. A China cedeu Hong Kong ao Reino Unido, Inglaterra. A China comprava o ópio britânico, produzido em Barbados, pelo Império Inglês”. A segunda história “aconteceu uma guerra jamais vista no mundo. Muitos soldados deixaram de respirar. Dois aviões jogaram bombas em cidades adormecidas e as explosões engoliram as ruas, as casas, as igrejas e os homens”. A terceira história trouxe o desconhecido, ou seja, a Guerra Fria, uma guerra de disputas ideológicas, culturais, econômicas, poder bélico, potência global, corrida espacial”.

Assim as páginas dos sábios terminaram as suas narrativas históricas, e nós iniciaremos nossas incursões no corpo do filme “ Suplício de Uma Saudade”, uma fusão entre o contexto real e as aberturas para a vivência de um conto sobre corações que se amam, almas que sonham, espíritos que perpetuam as lendas vivas, que respiram dentro de cada um de nós.

V – O filme
O ano de 1949, emoldurado num quadro de porcelana, iniciou o plantio do comunismo na estrutura social e política da China. Mao-Tse-Tung arregimentou estudantes, camponeses, operários num grito explosivo e incontrolável. A Coreia do Norte, apoiada pelos comunistas russos, atacou a Coreia do Sul, protegida pelos americanos. O Muro de Berlim, signo carregado pela época, representava o universo dividido. Milhões e milhões de chineses, exatamente como está acontecendo agora na Ucrânia, fugiram para Hong Kong, a maioria era crianças que, num piscar de olhos, perderam casa, pais, amigos, escola.

Em Hong Kong, naquele mar de gente de todos os lugares do mundo, estava o jornalista, correspondente de guerra, que viera para cobrir o conflito entre as Coreias; um homem casado, levando dentro de si, a cultura americana, pois sua mulher vivia em Singapura, mantendo um casamento apenas de fachada. O nome do Jornalista era Mark Elliot.
A médica, Han Suyin, uma mulher eurasiana, filha de pai chinês e mãe inglesa, viúva de um general nacionalista; um militar desenhado e projetado para suspirar a cultura militarizada da China, até nos sonhos produzidos pelo pensamento; ela viveu essa cultura da infância à mocidade, porém, saiu de seu país para formar-se em medicina na

Universidade de Londres. Ela se encontrava em Hong Kong, trabalhando num hospital público, atendendo os refugiados da Revolução de Mao.

VI – No filme – O encontro
Aconteceu, num clube de Hong Kong, uma festa oferecida pela alta sociedade inglesa. A Dra. Han Suyin, embora sofresse uma série de preconceitos, de todos os níveis, fora convidada para o evento. O jornalista Elliot, embora não fosse bem visto pela sociedade, pois se tratava de um simples cidadão americano, também fora convidado. Os dois se encontraram na festa, ela uma médica viúva; ele, um ser solitário, perdido, deslocado, tendo como função documentar uma crise. Eles marcaram um encontro no restaurante Floating. A ideia que circulava em seu ser tinha um propósito jornalístico; ele tentaria através da vida da doutora entender o que estava acontecendo na região ao nível político, social, econômico.

No entanto, os gestos, os assuntos, as vozes, os sorrisos, as tristezas, a admiração, o desejo, os levaram em direção à coragem que move a existência do amor e, em nome do destemor que caminha na frente das grandes paixões, desafiar cinco mil anos de cultura costuradas nos pensamentos de um enorme vulcão.

VII – Desenvolvimento amoroso
Eles se encontraram na medida que a vida permitia, autorizava. Os dois viveram os espaços relevantes de Hong Kong; uma terra semeada por uma cultura que nunca teve um princípio definido. Na lagoa, na praia, ele acende um cigarro. Ela, quebrando as correntes ideológicas pede-lhe um de seus cigarros, um produto da formação cultural americana, um acende o cigarro do outro, sem tirá-los dos lábios. Uma antecipação do beijo que abonaria a entrega amorosa dos espíritos que sonhavam com a vida, mesmo sabendo do risco da morte. Eles pactuaram a necessidade de viver, mesmo entre Eros e Tanatos. O mundo, o universo, os deuses, a imbecilidade humana estava sendo desafiados pelo amor, sustentado pelo direito de ser livre.

VIII – O lado sem lado do coração
Através da força do olhar eles reconheceram a face do amor; no toque de mãos, sentiram as chamas que tingem o amor de vermelho. No encontro dos lábios descobriram que o amor é uma fusão, uma costura que os levava a serem únicos. A sociedade os oprimiu, feriu, agrediu, isolou-os. A família, local onde somos projetados como seres realizadores, fechou-lhes as portas. Ele não conseguiu o divórcio; ela foi despedida do seu emprego.

IX – A colina
Os dois descobriram uma colina elevada, gramada, alta, encostada ao céu. No topo da colina havia uma árvore centenária, testemunha de amores eternos, suaves, impedidos, vencedores e derrotados. Uma borboleta pousou no ombro de Elliot, símbolo da eternidade na cultura chinesa. Os corpos, os beijos, os elos celestes uniram os seres, os amantes, como as águas de um rio que desaguam no destino.

Houve um outro amanhã. Ele viajou para cobrir a guerra na Coreia. O amor vivendo nas profundezas das cartas e do pensamento. A garotinha refugiada da guerra, derruba um pequeno pote contendo tinta vermelha, que mancha o chão. A médica adotara a criança que perdera as referências familiares. A menina entra em pânico, chora, sente o futuro que caminha na distância; e Elliot, com sua máquina de datilografia, sente a partida de sua alma, voando na elevação sustentada pelo espírito e fumaça.

Ela corre em direção a colina. Tudo está lá, nada fora destruído. A grama parecia mais verde; a árvore, mais perto do céu. A borboleta pousou no tronco, pertinho de sua mão. Por uma fração de segundos, ele surgiu sorrindo e, depois desapareceu. Nós sabemos mesmo sem aprendizagem técnica que o amor é um orvalho eterno. O filme “Suplício de Uma Saudade”, no entanto, nos apresenta de forma trágica, impiedosa, o destino da geração pós-guerra, pós Mao, pós Coreias, Vietnãs, pós Ucrânia. As lágrimas escorrem dos meus olhos nesse momento, amado leitores. Porém, lá na agudeza do meu ser e de todos os nossos seres é possível gritarmos: ”Não deixem matar o amor.”

RECEITA
SCOTCH EGGS

Ingredientes: 6 ovos cozidos; 350 g de barriga de porco picada; 4g de sal; ¼ colher de chá de pimenta da Jamaica; 1 colher de sopa de tomilho fresco picado; ½ colher de chá de pimenta branca; 1 colher de sobremesa de salsa fresca picada; 1 colher de sálvia picada; ½ colher de chá de noz-moscada ralada; 2 ovos batidos; 120 g de pão ralado; óleo para fritar.

Modo de fazer: Antes de começar, ferva os ovos. Coloque os ovos em uma panela e a tampa com água fria. Deixe ferver em fogo alto e, em seguida, reduza o fogo para fogo médio por 3 1/2 minutos. É usar um cronômetro para isso tena certeza de obter uma boa gema úmida. Se preferir uma gema firme cozinheira por 4 minutos. Coloque os ovos em uma tigela com água gelada ou sob a luz até que esfrie. Isso impede que os ovos desenvolvam um anel cinza perto da gema. Quando os ovos estão completamente frios, descasque-os debaixo d’água. Misture com a carne o sal, a pimenta, a salsa picada, a sálvia picada, o tomilho picado, a pimenta da Jamaica e a noz-moscada. Leve à geladeira por cerca de 30 minutos antes de usar. Agora divida a carne em 6 porções iguais. Forme cada porção e molde uma bola redonda ao redor do ovo. Quando todos os ovos estiverem cobertos pela carne passe pelo ovo e depois pela farinha. Se preferir uma casca extra crocante, repita o mergulho no ovo e passe novamente na farinha de rosca. Aqueça o óleo até ficar bem quente. Com cuidado, coloque os ovos no óleo e frite. Escorra os ovos cozidos em papel absorvente.

Por Adriana Padoan