Eles caminharam por um período de 3 dias. Atravessaram rios, riachos, montanhas; entraram no coração de algumas florestas. Por fim, penetraram no vale de Tehacán bem no coração do México. Nessa região, marcaram duas áreas para escavação arqueológica; a ansiedade, a dúvida e a certeza deram as mãos e dançaram uma canção do ritual Maia. Em uma dessas áreas demarcadas para escavação, desenterraram uma espiga de milho. Levaram-na ao laboratório arqueológico da cidade do México e identificaram a data de existência – 7.000 anos antes de Cristo.
Os Maias viviam alimentando-se do milho e, por esse motivo respeitavam-no, adoravam-no; os Incas, os Astecas, os Olmecas, na aproximação do sol e do verão, organizavam rituais religiosos em homenagem ao Deus Sol e ao milho, o cereal cujo nome, traduzido, significa: “sustento da vida”.
No ano de 1493, o navio do conquistador Cristovão Colombo rompeu as ondas do mar; mar salgado, bravio, revoltado, raivoso, temeroso; um monte de água temendo a revelação de sua existência, pelo navegador genovês que descobriu a América. Em seu Diário de Bordo, o aventureiro e descortinador de um mundo novo escreveu que, “comera umas sementes que nascem e se desenvolvem numa espiga. Comera as sementes cozidas, uma delícia! Os nativos chamam essas sementes de milho. Estou levando uma boa quantidade desse cereal para ser plantado em terras europeias.”
No caso do Brasil, estudos genéticos e arqueológicos afirmam que os nossos indígenas conheciam o cereal há, aproximadamente, 5.000 anos. Uma lenda Tupi-guaraní elabora uma série de acontecimentos na tentativa de explicar a origem do milho. Essa lenda conta que: “houve um período no Brasil dominado por uma grande seca. As florestas ardiam em chamas, a fumaça impedia os olhos e a realidade medonha não era vista; as águas do rio minguavam, exigindo a fuga dos cardumes de peixes; os animais morriam ou desapareciam. O Grande Espirito resolveu socorrer a tribo que habitava os pés de uma montanha. O cacique era um velho índio, conhecido pela sua sabedoria, coragem, bondade. O Espírito que anda conversou com o cacique durante o voo de uma corujinha hospitaleira. No final da mesma tarde os dois guerreiros mais valentes da tribo entraram em combate de vida e morte. Os gritos chegaram aonde a alma não alcança; os pés dos guerreiros riscaram o chão erguendo poeira, poeira navegante dos céus; bichos, flores, aves, curupiras, assustaram os seus próprios espíritos. De repente o mundo entrou num silêncio aterrador; o fogo sumiu; a água retornou ao colo dos rios, os animais regressaram das grandes distâncias. O corpo do índio, que morrera em combate foi enterrado na oca do velho cacique. No terceiro dia, após o sepultamento, nasceu nas terras que cobriam a cova do falecido, o pé de uma planta linda; planta que já nasceu sorrindo, oferecendo-se como alimento, para salvar a tribo da fome e do desespero.”
A poetisa Cora Coralina, doceira das mais famosas do Brasil, enquanto fazia compota de limão verde, escreveu o poema: “Oração ao milho”. Nesse poema, Cora escreveu, em uma das estrofes:
“Senhor, nada valho.
Sou planta humilde dos quintais pequenos e das lavouras pobres.
Meu grão perdido por acaso, nasce e cresce na terra descuidada.”
Monteiro Lobato, escritor de Taubaté, na saga do Sitio do Pica Pau amarelo coloca a negra Nastácia, depois de um longo dia de trabalho na sua cozinha, sentada num velho banco de madeira.
A noite já era feita. Os sacis nasciam no taquaral do tempo dos Coronéis e Barões; a Cuca despertara na cabeceira da Serra da Mantiqueira. Nastácia, com uma espiga de milho na mão, pois a imaginação de senzala em movimento – da palha da espiga de milho, fez um fraque, uma cartola, sapatos grandes, gravata, e, com as mãos tremulas implantou os cabelos do milho no alto da espiga; da mesma maneira, deu-lhe um rosto; usando fubá em ponto de polenta para fritura, fez as orelhas, o nariz e o pescoço. Deu-lhe o nome de Visconde de Sabugosa, um filósofo, cientista, escritor dos bons e, a partir desse momento a cultura passou a morar na casa de Dona Benta.
A noite partiu. As estrelas dormiram, os astros ressonaram nas nuvens; só o sonho de Nastácia permaneceu, o milho falante, Visconde de Sabugosa. Após a história contada, narrada, vamos à receita:
Torta salgada de milho
Ingredientes:
350 g de linguiça fresca fininha picadinha; 1 cebola picadinha; 4 dentes de alho picadinhos; 1 e ¼ de xícara de leite; 1 e ¼ de xícara de óleo; 3 ovos; 1 lata de milho verde escorrido; 1 pacote de preparado para creme de cebola; 1 xícara de chá mais 3 colheres de sopa de farinha de trigo; Cheiro verde picado a gosto; 1 colher de sopa de fermento em pó; 300 g de mussarela ralada no ralo grosso.
Modo de fazer:
Frite a linguiça na própria gordura até dourar. Acrescente a cebola e o alho e doure por 5 minutos.
No liquidificador, bata o leite com o óleo, os ovos e o milho até triturar bem. Transfira para uma tigela e incorpore o creme de cebola e a farinha. Adicione o refogado de linguiça. Tempere com cheiro verde e agregue o fermento. Despeje em forma retangular (33 por 21 cm) untada com óleo e enfarinhada. Polvilhe a mussarela pressionando levemente e leve ao forno médio, preaquecido (180ºC) por cerca de 40 minutos ou até dourar. Sirva cortado em quadrados.
Por Adriana Padoan