I – PRIMEIRO FILME NATALINO
A cena mostrava uma mulher colocando duas crianças para dormir, na véspera de natal do ano de 1898. Elas dormiram no velho tapete da sala, esperando a chegada de Papai Noel. Ela os coloca na cama, ajeita os travesseiros e as cobertas, saindo bem devagar para não fazer barulho. Desliga a luz com suavidade e a neve continua caindo sobre o telhado, as janelas, as árvores da floresta movimentadas pelo vento que passa lentamente, congelando-se nas estradas e caminhos.
Antes que a verdade apareça, as renas estacionam o trenó, no espaço que aproxima a realidade e o sonho. Papai Noel desce pela chaminé encoberta pelo nevoeiro, penetra na sala vazia, deixa um presente para cada criança. Sem fazer ruídos prolongados, coloca um pinheiro no canto direito da sala entorpecida pelo frio, os enfeites estão amarradinhos nas pontas dos galhos úmidos, como bracinhos estendidos em direção às orações e as crenças. Aquele senhor de cabelos cumpridos e barba branca esfrega as mãos, ajeita o pinheiro em direção a esperança; os seus movimentos parecem um cavaleiro mágico sorrindo, depois da missão cumprida. Sua imagem, aos poucos, começa a desaparecer, no exato momento que as crianças acordam radiantes e felizes com os brinquedos, a árvore de natal, e doces feitos pelos anjinhos que ajudam o bom velhinho. O encantamento acontece, as renas puxam o trenó em direção ao tamanho do mundo. Estamos falando aqui, neste texto, do primeiro filme feito sobre o natal, chamado Santa Claus, realizado em 1898.
II – O auto do livro
A casa do senhor J. Clarence Davies e Rosalie Loewi festejavam o nascimento do menino Valentine Daves, naquela manhã de agosto de 1905. O menino mamou e, no prazo certo, deu de observar a vida correr, brincar e visualizar a autenticidade do universo onde vive a humidade. Frequentou as escolas, serviu o exército na guarda costeira. Na mocidade estudou na Universidade de Michigan. Tomou gosto pela arte, escreveu nos jornais e revistas. Abandonou o negócio imobiliário da família em Nova York, passando dedicar-se à literatura, teatro e cinema, suas paixões.
Era um dia de semana próxima das festividades natalinas. Valentine entrou na Loja de Departamentos chamada Macy’s, uma das mais famosas de Manhattan. Comprou poucos objetos necessários ao seu trabalho. Entrou numa fila que atravessava boa parte de uma das repartições planejadas para essas ocasiões. As festas natalinas espalhavam o seu perfil pelas ruas e praças. Entrou numa fila irracional, para poder aproximar-se do caixa. Olhando, avaliando a loucura provocada pelo consumo, pensou por um breve instante, o que Papai Noel faria, ou pensava, sobre o comércio realizado em seu nome. No meio do burburinho, começou a pensar num milagre que poderia acontecer na Rua 34, endereço da loja em que estava, e o texto começou a engravidar-se e nascer.
Depois de escrito, corrigido, lapidado, encontrou-se com o diretor de cinema chamado George Seaton e propôs-lhe transformar a sua história “Milagre na Rua 34” em um roteiro cinematográfico. Ele mesmo produziu o roteiro e Seaton tomou por base a sua primeira escritura. Em 1947, o filme foi lançado pela Fox nos cinemas, com o nome de “O grande coração”.
A Fox, preocupada com a bilheteria, ocultou que o filme girava em torno de uma história de Natal, lançando a fita no verão, no mês de junho. O sucesso foi enorme, havia filas para entrar no cinema, e o produtor artístico foi considerado um realizador de uma das melhores produções da Cinematografia natalina. Valentine Davies escreveu várias peças para Broadway, inúmeros roteiros para o cinema, mas o enfoque apresentado em “Milagre na Rua 34”, publicado em livro em 1947, data da primeira versão cinematográfica, o imortalizou. Em 1961, aos 55 anos, morreu gargalhando de um comentário crítico sobre o seu trabalho.
III – “Milagre na Rua 34” de 1947
Na primeira versão de “Milagre na Rua 34”, Natalie Wood interpreta Susan, garota de 7 anos de idade. A educação que sua mãe Dorey lhe deu, mesmo sendo alta funcionária de uma grande loja de departamento, a direcionou a não acreditar em contos de fadas, fantasias e, principalmente Papai Noel. Em seu cargo, Dorey torna-se responsável pela organização do Desfile do Dia de Ação de Graças, evento que apresenta as novidades para o natal que se aproximava, festa que se tornou o evento mais significativo de Nova York. Ela contratara um senhor para representar Papai Noel no desfile comemorativo. O ator Edmundo Gwenn interpreta o “bom velhinho” no cortejo de 1946 e, posteriormente, na loja. A Loja Macy’s encanta as crianças e os adultos e a interpretação de Edmund Gwenn é considerada uma ultrapassagem na arte de representação. O psicólogo da Macy’s, percebendo a atuação de Kris Kengle como Papai Noel, a veneração de Susan pelo símbolo natalino, o respeito de Dorey pelo trabalho de Kris; a afirmação do contrato defendendo a ideia de que é o verdadeiro Papai Noel, leva o psicólogo a denunciá-la como louca.
O advogado Fred o defende no tribunal. O juiz pede provas de que Kris é o verdadeiro Papai Noel. A peça acusatória na versão de 1947, discute se Noel existe ou não. Susan ama o velhinho, em nome do amor, amizade e a recuperação de sua capacidade de encontrar-se com o sonho é através da amizade com Kris que a libertara do seu micro-mundo adulto, manda-lhe uma carta dizendo que acredita nele.
Um empregado do correio decide livrar-se de milhões de cartas endereçadas a Noel. Ele, por resolver um problema de trabalho, envia a tonelada de carta a Kris, no tribunal; as cartinhas eram de crianças de todas as colônias americanas.
Fred, o advogado, usa as cartas como prova de identidade de Kris. O juiz entende que o correio é um órgão do governo, motivo pelo qual, merece o crédito de todos.
As crianças e toda a população de Nova York, foram abaladas pela dúvida que era a verdade central do julgamento de Kris, causado por um psicólogo frustrado, invejoso e incapaz de entender o porquê a fé existe; o porquê a crença permanece dentro de cada casa e de cada criança.
O filme “Milagre da Rua 34” obteve e indicações ao Oscar de 1948: muitos críticos de cinema o indicaram como melhor filme. O jurado pensou no parque, no circo, no Papai Noel, e retornando ao jogo de bolinhas de gude; os amantes da arte, comovidos com a unidade do olhar, valorizaram o trabalho do ator coadjuvante, aquele desempenho, e se esforça, para que o filme alcance o seu objetivo.
O autor da história, vencendo a fila da loja, o rosto fechado dos caixas, foi indicado como criador de uma história original. O roteirista, embora tenha se baseado no livro e no roteiro feito pelo escritor, foi indicado como colaborador na arte de adaptar o texto de uma linguagem para outra, ou seja, da escrita para o mundo da imagem em movimento.
A noite veio como todas as noites. O apresentador, da festa do Oscar, contou piadas sem graça. Tentou cantar a pasmaceira e permaneceu firme, em pé, diante de milhões de ouvintes.
Uma estrela apontou um caminho que leva, pobres e ricos, em direção à poesia. A poesia, sem chorar muito, deu ao filme “Milagre na Rua 34” os Oscar aguados em ouro: Ator coadjuvante, História original, Roteiro adaptado.
Em 1994, Hollywood lançou o remake do filme de 1947. A história não mudou, apenas refilmou algumas cenas, procurando atualizá-las. O trabalho de Richard Attemborough, como Papai Noel, está sublime; Mara Wilson, jovem atriz, interpretando Susan, a criança que existe em todos nós, atingiu a perfeição. Na versão de 1947, Papai Noel conversa com uma criança estrangeira; na versão de 1994, Papai Noel conversa com uma criança muda em libra, a linguagem através de sinais.
Agora, neste momento
Precioso, numa terra
“onde cantam os sabiás”
Dos lábios da história,
Não precisamos afastar
O “cálice”.
Em nome do menino que,
Ao crescer disse:
“Batam, e a porta
Será aberta. Todos
Os que buscam encontrarão”.
Feliz Natal!
RECEITA
CHESTER COM FAROFA
Ingredientes do Chester: 1 xícara (chá) de manteiga; 1/2 xícara (chá) de salsinha picada finamente; Suco de 1 limão; Pimenta-do-reino preta moída a gosto; 1 chester descongelado
Ingredientes da Farofa: 1 xícara (chá) de bacon defumado cortado em cubos pequenos; 2 colheres (sopa) de manteiga; 2 colheres (sopa) de azeite; 1 cebola descascada e cortada em cubos pequenos; 4 xícaras (chá) de farinha de mandioca; 1 xícara (chá) de uva-passa; 1 xícara (chá) de sálvia picada; 2 colheres (café) de sal
Ingredientes para a Montagem: 4 cenouras descascadas e cortadas em palitos grossos ou cenouras baby; 1 colher (café) de sal; 1 colher (sopa) de açúcar mascavo ou uma colher de sopa de melado de cana.
Como preparar o Chester: Pré-aquecer o forno a 250° Celsius por 20 minutos. Retirar o saquinho com os miúdos de dentro do chester e reservar. Em um recipiente, misturar a manteiga, a salsinha, o suco de limão e a pimenta.
Muito delicadamente para não romper a pele do chester, com as mãos ou com uma espátula, separar a pele sobre o peito do chester, da carne e espalhar 2 colheres de sopa da manteiga temperada por debaixo de pele. Reservar o restante da mistura.
Como Preparar a Farofa: Cozinhar os miúdos reservados em água até ficarem macios (aproximadamente 20 minutos) e picar em pedaços pequenos. Em uma panela, dourar o bacon, acrescentar a manteiga, o azeite, a cebola e os miúdos e refogar; acrescentar a farinha, as uvas-passas, a sálvia e o sal e misture até a farinha começar a dourar. Reservar.
Montagem Final: Rechear o chester com a farofa, encher toda a cavidade do peito do chester e levar para assar em forno a 250° Celsius por cerca de 20 minutos (sem papel-alumínio); Retirar da assadeira do forno e cobrir o chester com papel-alumínio. Regular o forno para 200° Celsius e devolver a assadeira ao forno. Assar por 1 hora ou mais, de acordo com o tempo indicado para o peso na tabela da embalagem. Retirar o papel, distribuir as cenouras ao redor do chester e salpicar com sal e açúcar mascavo; devolver ao forno até o termômetro pular, o que leva, em média, 1 hora e 30 minutos de acordo com o peso do chester e as diferenças entre os fornos. Depois de retirar o papel-alumínio, pincelar o chester com a manteiga restante e regar a cada 30 minutos com os líquidos da assadeira. Deixar a ave descansando por pelo menos 20 minutos antes de fatiar. Servir quente.
Por Adriana Padoan