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sexta-feira 15 novembro 2024
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Comilanças Históricas e Atuais – Lagosta ao Thermidor em homenagem ao filme E o vento levou

I – O livro
Há momentos que as nossas ideias, decisões, atitudes, criações são frutos de um acidente, de uma trombada na vida.
Não sabemos o exato momento que a jornalista Margaret Mitchel, torceu o tornozelo, um tombo feio, que a levou a meses de repouso.
O dia amanhecia, acendia o seu sol interno; avançava em busca da tarde, e Margareth flertando com os seus pés inchados.

Para passar o tempo, leu todos os livros que encontrou, romances, poesias, contos, histórias reais.
Na manhã de um dia acomodado pela brisa do sol, resolveu contar uma história que envolvesse amor, amizade, trabalho, acontecimentos da nação, narrativas contadas em torno do fogão à lenha. Ela escreveu um romance de 1027 páginas envolvendo o sul, o norte, a guerra da secessão norte-americana, uma guerra civil que marcou a maneira da humanidade encarar a vida.

O nome do livro envolveu noites de sonhos, pensamentos, reflexões, desvios, papel picado no além da boca do lixo. O nome, por incrível que possa aparecer, saiu de um livro de poesia do escritor Ernest Drewson Doulson, no verso “I have forgot much, Cynara! Go me with the Wind”.

O livro foi lançado no período da depressão, estourou como uma bomba em meio a um público abalado, oprimido, agoniado. O livro vendeu um milhão de cópias no primeiro ano.

Algumas semanas após a publicação, o produtor de cinema David O Selznick pagou-lhe cinquenta mil dólares para realizar a adaptação cinematográfica.

II – O filme – a lenda
A palavra lenda surgiu no meio da evolução do latim, sustentada pelo significado “aquilo que deve ser visto, que deve ser lido”. O livro aborda a Guerra da Secessão, a guerra civil nos Estados Unidos. A palavra secessão apresenta a ideia de separação de alguma coisa, no caso a nação, que estava unida politicamente e, envolvida pela abolição da escravatura, foi desunida para, no futuro, formar outra nação em torno de novos ideais, reorganização política.

O filme lutou para conseguir o capital necessário a sua execução. Os roteiristas não conseguiam transferir a essência temática do livro nas páginas de um script que garantisse um panorama fiel da textualidade literária. Vários roteiristas desistiram na beirada da estrada. A localização do elenco tornou-se um combate diário e desgastante. A aparição de cada ator trilhou os caminhos do acaso, do surgimento empurrado pela vontade do próprio filme. No entanto, seguindo a linha do mistério, a câmera registrou as ações, as interpretações, a natureza sulista, produzindo um dos melhores filmes da América, obtendo a maior arrecadação que a alma do cinema presenciou.

III – O filme
O sol avermelhara todos os círculos da terra; a Guerra da Secessão galopava o seu cavalo branco no conflito que envolvia os sulistas escravocratas e o norte industrializado e abolicionista. Uma árvore, no meio da imensidão, despedia-se da paz, do riso, da música, da dança, e a terra colocara o seu coração acima de todos os interesses.

IV – A história
A personagem Scarlatt vive na fazenda Tara com seus pais e irmãs, um protótipo perfeito do latifúndio sulista.
Ela vive cercada de todos os rapazes casamenteiros, mas no início ela descobre Ashley Wilkes, que o ama em segredo, pois o rapaz casará em breve com sua prima Melanie, cujo casamento será anunciado num churrasco na fazenda de Ashley. Embora a situação pareça definitiva, Scarlatt declara o seu amor, paixão, desejo, ao jovem Ashley. É rejeitada por ele em todas as circunstâncias, exposições, e vozes embargadas dentro dos momentos.

Scarlatt, numa fração de segundo, coloca seus olhos em Rhett Butler, um convidado, aventureiro, navegador de inúmeras paixões pelo mundo, que lhe confessa os desígnios da guerra. O churrasco é interrompido. O cheiro, o gosto, a fumaça desaparecem na passagem do vento. Os homens presentes na festa, atendendo ao pedido dos acontecimentos, correm para se alistar, dizer o sim aos gritos do solo.

A correria dos machos desfila diante das câmaras, Ashley beija os lábios de Melanie, sua noiva, beijo de quem parte em direção as incertezas da vida. Scarlett assiste ao beijo e o seu corpo arde por dentro e por fora. Charles, um homem tímido, irmão de Melanie, pede Scarlett em casamento; mesmo não o amando, no giro dos acontecimentos, ela o aceita.

V – A morte
A noite veste o roupão do frio e da neve. Charles, marido de Scarlett morre de pneumonia. O seu estado de viuvez a leva a Atlanta para revigora-la. Mamy sua escrava e mucama declara: “Ela vai esperar o retorno de Ashley, eu a conheço”.

Em Atlanta, a luta de Scarlatt pula do seu peito. Ela monta um bazar de caridade para arrecadar fundos para a guerra. Os participantes fazem propostas em dinheiro para as suas damas. Rhett propõe uma quantia assustadora e consegue dançar com Scarlatt que, naquele momento sai do seu estado de luto.

O natal se aproxima, não há enfeites, presentes, nem canções. A Batalha de Gisttysburg, um confronto orientado pela violência, mata muitos soldados da cidade, o luto passa a pisar o solo de Atlanta. Ashley, de licença, visita a sua família, o mundo parece estar mutilado. Scarlatt o convida para fugir, abandonar as mãos da tragédia, beija-o no silêncio das horas sem respiração e sentimentos. Ashley retorna da guerra, caminha em busca do portão que o levará ao eminente mais próximo da atitude humana.

A guerra continua a caminhar os seus passos incertos. A cidade é cercada. Scarlett deve entregar o bebê de Melanie aos vitoriosos da cidade. No meio da noite, diante de um céu sem estrelas, Scarlatt chama Rhett e solicita seu apoio para leva-la à fazenda, um bom refúgio que Tara se transformara. As rodas da charrete, o chão erguendo-se como um velho tapete e o retorno à fazenda. Tudo deserto. A mãe falecera de febre tifoide, e o pai apresenta sinas de demência.

Até o céu tem a forma de um deserto desumano; Scarlatt jura diante de um mundo dividido. Ela fecha os punhos, olha para o impossível a lutar, a entrar num combate para salvar as irmãs, o seu corpo e alma, o que sobrou de um mundo falecido. “Juro, olhando Deus como testemunha. Nunca mais, nem por um segundo, sentirei fome novamente. Nem que eu precise mentir, nem que as minhas mãos roubem, nem que o meu cérebro e sua força trapaceiem, nem que eu precise matar, destruir, silenciar”!

A noite chegara pelo seu lugar comum. Scarlatt, suas servas e alguns parentes, ainda trabalhavam no campo de algodão. Mãos sofridas, as costas doendo, os pés curtidos pela terra.

O sul encontrou o seu lugar na história e na derrota. Ashley retorna à sua casa, parece um pedaço do que fora. Os amigos, os companheiros, estão enterrados em algum lugar esquecido. Scarlatt propõe, mais uma vez, fugir com Ashley, beija-o, mas a realidade não se afasta da mesa onde os alimenta.

O norte, vencedor, aumenta as taxas sobre as terras do sul, Scarlett mente e rouba o noivo da irmã e o seu negócio, do rico Frank Kennedy.

A coragem de Scarlett, sozinha numa charrete, passa pela ponte de uma favela. É atacada por um bando de deserdados. Um ex-escravo a salva. A cena apresenta o desespero do pós-guerra. Frank e Ashley vão até a ponte para se vingar do acontecido, o marido de Scarlett morre tentando defender sua honra.

Rhett, um aventureiro que sempre desejou Scarlett a pede em casamento. O seu juramento, feito na fazenda, realiza-se pouco-a-pouco. Procurando cumprir o seu compromisso, ela aceita o pedido de casamento. O amor ainda não exposto acompanha o casamento. Scarlatt tem uma menina Bonnie Blue, mas em seu interior ainda ama Ashley.
O filme, procurando apresentar um lado do sul, através de Melanie, o lado sério, bom, faz de sua morte a profecia do futuro.

Ashley, o homem sulino por essência, coloca o amor de Melaine dentro do seu coração.
Rhett retorna de uma festa, completamente bêbado, discute com Scarlett sobre um abraço que dera no viúvo; a leva para o quarto do casal e a possui. Em desespero e desiludido, parte em viagem com a filha. Ao retornar da viagem, na sequência das presenças e ausências, Scarlett confessa-lhe que está grávida. Os dois discutem e lançam as dores internas no rosto dos conflitos restantes. Scarlatt perde o controle, o grito, a raiva embutida, e tomba escada a baixo, tombo em que provoca o aborto.

A filha Bonnie, um ser nascido dentro das verdades e mentiras da vida, monta o seu pônei, tentando escapar do instante presente, pula com o pônei o mesmo obstáculo que matara o seu avô, o seu corpo voa por um espaço sem retorno, tombando sobre as terras de Tara, transformando-se em mais uma vítima de uma guerra sem fim.

Rhett arruma as malas, coloca os seus pedaços psicológicos no canto da mala, espalha os restos do homem que fora, mesmo sem consciência de algumas realidades, e retorna ao mundo que nunca lhe pertenceu.

Neste instante, o ego de Scarlatt acorda de um longo tempo de angústia, e a sua voz trêmula confessa a Rhett que nunca amara Ashley. Rhett fixa os seus olhos na alma de Scarlett, sente que a terra do sul corre pelo seu corpo, no lugar da vida, do sangue, da emoção. E o vento levou, filme que penetrou nos poros de milhões de pessoas, encerra-se na fala dura de Rhitt: “Francamente, minha querida, eu não lhe dou a mínima”.

Receita

Lagosta ao Thermidor

Ingredientes: 4 colheres (sopa) de manteiga; 3 colheres (sopa) de farinha de trigo; 500 ml de leite; noz moscada e pimenta do reino e sal a gosto; 200 ml de creme de leite; 200 g de frutos do mar (lula, camarão e marisco); 600 g de lagosta fresca; 100 ml de vinho branco seco; 1 colher (sopa) de mostarda Dijon; 150g de queijo parmesão ralado; 100g de tomate cereja.

Modo de fazer: Primeiro faça o molho bechamel: derreta 3 colheres (sopa) de manteiga lentamente em fogo baixo e acrescente a farinha de trigo até ficar uma mistura homogênea. Mexa um pouco até o cozimento e acrescente o leite. Deixe ferver e coloque uma pitada de sal e noz moscada. Acrescente o creme de leite e reserve. Tempere os frutos do mar e a lagosta com o vinho branco, a mostarda, pimenta e sal. Sele a lagosta em um frigideira. Em um panela fervente, cozinhe a lagosta com água em abundância por cerca de 15 minutos. Retire a lagosta da água, separe a carne da casca, coloque a carne da lagosta dentro da casca e cubra com o molho bechamel. Por último, coloque o parmesão por cima e leve para gratinar. Pegue os frutos do mar, coloque em uma frigideira com a manteiga restante e sele até que fique ao dente. Acrescente o tomate cereja à frigideira até que diminua de tamanho.

Por Adriana Padoan