I – O safari
A diretora de cinema Merian C Cooper realizava um safari na África, uma das diversões mais singulares de Hollywood, na década de 30. O sonho era formado por partes estanques, isto é, conhecer a África, o povo, as tribos, os animais. A visão dos animais passava por um processo de escolha, que levara em conta o tamanho do animal, a beleza, a ferocidade e, depois, apontava-se a arma de fogo, o tiro rompia a normalidade daquele instante, o corpo da fera tombada no chão, o couro para tapete da casa do atirador e a cabeça do animal selvagem enfeitando a parede da sala de visita numa residência da grande América do Norte. A África chorava, a terra emudecia, a manada abaixava a cabeça e, mesmo sem sentido, a vida continuava aos solavancos
II – Os sonhos artísticos criadores de vida
Num castelo, situado em algum lugar do mundo, sentada numa cadeira de balanço, Madame Leprince Beaumont, criadora da história “A Bela e a Fera”, pensava na espiritualidade que movimenta a ficção.
Na África, na imensidão encostada em mundos perdidos, a diretora de cinema Merian C Cooper observa um grupo de macacos reais. Suas ideias são levadas a imaginar se em alguma época existiu um macaco gigante em um recanto africano e, se por algum fenômeno esse lugar se manteve intocado, preservando animais gigantes. O que ela estava antecipando, no vai e vem da vida, era o mundo de Jurassik Park, de Spielbergue.
No ano de 1932, Merian Cooper recebeu um contador para trabalhar na empresa cinematográfica RKO, dirigida por David Selznick. Nesse estúdio, na sala de projetos, conheceu Wellis J. O Brien, realizador de efeitos especiais. Conversaram sobre a possibilidade da realização do filme King Kong; convidaram o criador de Tarzan, Edgard Wallace, para colaborar na criação do enredo, e a imagem de King Kong começou a nascer, entre certezas e incertezas. O problema maior foi a criação de uma ilha no Pacífico, que se constituísse num espaço onde a pré-história permanecesse intocada.
O enredo de King Kong surgiu no histórico americano que enfrentava a depressão econômica, o povo mergulhado na miséria, o sonho fugiu da cabeça das pessoas. Nesse contexto sufocante, King Kong trouxe o sonho de volta; ele representa uma aventura, uma história, o medo, o novo, o desconhecido. O gigante estava na tela, sua presença virou pesadelo, os olhos enormes em todas as janelas, seu olhar representa a opressão do Estado. Ele, Kong, apaixonara-se pela jovem Ann. As cenas da Fera e da Bela apresentam um espaço entre a impossibilidade e a dimensão erótica; essa relação aproxima-se do chaveiro e das chaves de Freud.
O mais importante do filme de 1933,
está no coração de Kong, na curiosidade
que espelha a sexualidade no tempo.
A ternura!
As doses de delicadeza!
O espetáculo em Nova York.
As luzes, as cores, o inusitado.
A fuga de Kong, o cheiro do trágico.
A procura da jovem Ann.
Destruição, pane, o urbano plastificado.
A escalada no Empire State.
Prédio mais alto do mundo,
Em 1933, esbarrava nas nuvens,
Kong baleado por aviões.
Kong despencando do alto do prédio.
A morte longe do seu habitat.
O cadáver que não foi derrotado,
Pelos aviões.
O amor à garota Ann o venceu.
Amor em extinção.
O tempo dentro dos cinemas vendeu pipoca, chocolates, refrigerantes. Em 1975, na piscina montada num estúdio, Spielberg deu vida ao seu tubarão branco. As cenas internas e externas foram guiadas pela sugestão. O tubarão foi sugestionado pela noite, pela sonoplastia, pela sombra, mas, mesmo assim, criou um novo tipo de espetáculo, o cinema apoiado na tragédia grega.
Pois bem, em 1976, o diretor John Guilhermin, associado ao produtor Dino de Laurentis, resolveram refilmar King Kong. O novo roteiro foi escrito por Lourenço Sempre e James Ashmore Creelman. A base textual e porto de pesquisa consistiu no trabalho de M. C. Cooper e Edgard Wallace.
III – 1976 – Renascimento
Apoiando-se na estrutura e nas guerras que movem o mercado do petróleo, sangue misturado com óleo diesel, um navio está de partida de um porto qualquer da América do Norte. É noite, há mistério, equipes camufladas sobem as escadarias de embarque; um jovem, Jack Prescott, paleontólogo, embarca no navio clandestinamente. Comandando o destino da embarcação, Fred Wilson, ambicioso do mundo com cheiro de gasolina, parte em direção a uma ilha desconhecida, inexplorada onde, segundo ele, há milhões de barris de petróleo
IV – A ilha
Não é grande e nem significativa.
Está agarrada no peito do
Oceano Pacífico.
Sobre ela existe uma nuvem,
muito baixa,
Acariciando a cabeça da ilha.
Mistério, ocultismo, bruma…
Como as palavras e as imagens refletem pontos de vistas diversificados, para o egoísta petroleiro, a nuvem permanente indica a existência do líquido negro; para Prescott, um cientista, existe alguma coisa na ilha que justifica os seus fenômenos.
O navio parte sobre o comando dos sonhos masculinos, desenhados em notas de dolar. Mesmo no cansativo movimento do navio atravessando águas solitárias, Prescott avista um bote perdido além da respiração dos deuses molhados. Os marinheiros arrastam o bote e, em seu interior, desmaiada, existe uma mulher chamada Dwan, dona de uma história, loira, linda, e a mulher penetrou o segredo dos machos.
V – O desembarque na ilha
O local é paradisíaco, florido, pedras milenares, cachoeiras de águas proprietárias do passado, presente e futuro.
A expedição caminha os descaminhos da inexistência. De repente, sem qualquer pista esclarecedora, surge uma muralha alta, forte, percorrendo grandes espaços. Aos olhos da expedição, encontraram uma proteção, essa proteção leva ao medo, o medo carrega a ideia de segurança. A ilha era habitada por índios pintados e mascarados, a muralha representa uma divisa entre a vida e a fé; existe, talvez na floresta que circundava a muralha, um deus, um mito, um representante do inexplicável.
Os índios observam atentamente a jovem Dwan, os seus olhos claros, cabelos loiros, pele branca, beleza nascente na individualização. Os selvagens gesticulam, querendo a mulher branca, a fada que não era fada, a beleza vivendo no universo de outras belezas. Há tiros, algumas mortes, e a tripulação defende a única mulher do navio. O cientista Prescott, paleontólogo, enumera algumas dúvidas em sua cabeça: o porque da muralha, a pintura dos primitivos, a música, a dança, o interesse pela mulher branca, a preocupação com a floresta.
VI – A fé, a união de mundos
Noite de lua cheia, redonda como a vestimenta da terra. Uma jangada indígena aproxima-se do navio. Sem muito esforço, sequestram a mulher branca. Organizaram uma espécie de altar para as oferendas; amarraram a mulher branca, batucaram chamando Kong. As árvores da floresta agitaram-se; um gorila de 13 metros surgiu, viu a bela e a levou para o seu mundo.
VII – O seu mundo
Duas montanhas irmãs demarcavam a beleza do território de Kong. A natureza, com sua beleza inicial, sem o toque do homem, indicava a permanência da terra primordial. Ele coloca o dedo no corpo de Dwan, ampara-a nas mãos, aproxima-a dos seus olhos, brinca com ela, tudo com a autorização e entendimento de Freud.
VIII – A tentativa de salvamento
Uma parte da expedição segue pelo chão revelado da floresta. Kong luta pela sua bela, mata porque o seu sonho e sua querência estão ameaçados. Prescott consegue escapar com Dwan.
IX – O dolar e o lucro desumanos
Fred Wilson não encontrou na Ilha uma gota de petróleo, porém encontrou Kong. Sua ideia gerenciada pelo lucro, dinheiro as toneladas, projetou Kong como espetáculo público e símbolo do seu império empresarial. Quando o macaco pré-histórico veio tentar recuperar Dwan, que marcara o seu coração, foi preso em meio a centenas de litros de sonífero. Kong é retirado da sua ilha e preso no porão de carga do navio.
X – Nova York
Multidão na praça. O palco ricamente cenarizado. Dwan amarrada no altar das oferendas. Aos berros, modulações que antecede o suspense, as cortinas sobem.
O povo vê um macaco pré-histórico, enorme, coroado, amarrado. Os seus olhos sentem e captam a imagem de sua Dwan, o seu cheiro entra em sua alma, em nome a psicanálise freudiana, arrebenta as correntes, a jaula, libertando a sua sensualidade interna. O povo se desespera, pessoas destroem pessoas, Dwan é levado por Prescott. Kong vira carros na rua, destrói as linhas férreas e os trens, a procura de Dwan, a cidade de Nova York parece feita de papel.
Para tentar salvar vidas inocentes, Dwan encontra-se com Kong. A cena é emocionante, o olhar da fera justifica a sua existência; ele coloca Dwan em sua mão; lembra-se das duas montanhas do seu vale; por analogia, escala as Torres Gêmeas. Para ele, lá no alto, bastava olhar para a bela, observar a beleza projetada no espaço. Os aviões do império americano, todos armados com metralhadoras, condenam Kong ao fuzilamento. O seu sangue brotou do corpo, do rosto, dos braços. A dor nunca sentida não tinha razão de ser. A sua figura feita no início do mundo tombou, rolou pelo espaço, voou no reencontro com o vento, arrebentou a vida no asfalto de uma avenida de Nova York, representante do mundo sem encanto, sem amor, sem movimento desinteressado.
Luzes, repórteres, polícia,
curiosos andando sobre seu corpo.
A tribo indígena que
habitava a ilha, lá no pacífico,
perdeu seu deus, seu mito,
sua história e,
como criança que não cresceu,
morreu sem amparo, sem medo,
sem dança, sem King Kong.
Ela, apenas, fechou os olhos para vida!
Eu não sei o que me leva em direção ao cinema. Sei que, nas estradas por onde os roteiristas caminham, os diretores captam a energia dos atores, as câmeras fotografam a dor, o riso, a tristeza e a alegria gerados no calor das expressões artísticas; há, também, um lugar especial para a profecia. Assim, meus leitores, quando Kong escalou as Torres Gêmeas, levando em suas mãos o amor em forma de uma linda mulher, a sua vida aproximou-se da morte. O filme, uma obra de arte narradora de sua história, documentou a grandiosidade das Torres para a humanidade. Era noite, elas estavam vivas, iluminadas, simbolizando a conquista da escultura, da engenharia, da arquitetura, uma espécie de afeição desenhada pelo progresso de um povo.
Olhando por esse lado, antes de morrer, King Kong fez questão de documentar as Torres Irmãs, antes que o fanatismo alucinado, do dia 11 de setembro de 2011, abatece o símbolo erguido pelos passos dos homens e mulheres, bebês, jovens, adultos, engenheiros, arquitetos, pedreiros, pintores, sonhadores, e as Torres Gêmeas expirassem no chão.
Receita
CHICO BALANCEADO
INGREDIENTES:
Caramelo: 1 xícara e 1/2 de açúcar(270g); 1 xícara de água (240 ml); banana 6 a 8 unidades.
Creme de baunilha: 3 gemas grandes; 1 lata de leite condensado (390g); 1 xícara de leite (240 ml); 1 caixinha de creme de leite (200g); 1 colher de chá de essência de baunilha (5 mL).
Cobertura: 3 claras; 3/4 de xícara de açúcar (135g); Essência de baunilha 1/2 colher de café de essência de baunilha (1 ml)
MODO DE PREPARO:
Caramelo: Em uma panela no fogo, adicione Açúcar e deixe começar a derreter. Adicione 1 xícara de água (240 mL); misture bem e deixe fervendo até dar o ponto de fio; deixe esfriar; Adicione rodelas das bananas em um refratário; Adicione a calda de caramelo por cima.
Creme de baunilha: Em uma panela, adicione 3 gemas (peneiradas); 1 xícara de leite (240 ml). Misture bem. Adicione 1 lata de leite condensado (390g); 1 caixinha de creme de leite (200g) e misture. Leve ao fogo médio e quando começar a ferver, cozinhe por mais 7 minutos, ou até que comece a engrossar (sempre mexendo). Desligue o fogo e adicione Essência de baunilha 1 colher de chá (5 ml). Misture. Adicione o creme na travessa e leve para a geladeira;
Cobertura: Em uma panela no fogo, adicione 3 claras; 3/4 de xícara (135g) de açúcar. Misture bem até o açúcar dissolver por completo. Transfira para uma batedeira, bata por pelo menos 5 minutos. Adicione 1/2 colher de café (1 ml) essência de baunilha e bata mais um pouco. Adicione por cima da travessa fazendo picos com uma colher. Use um maçarico ou leve ao forno para dourar um pouco.
Por Adriana Padoan