I – Nomeando países, estados e cidades
Os nomes dos países são dados por fadas que fazem a ronda dentro da ação de amar. Após nomear os países, dançam uma ciranda realizada dentro da semente do girassol; a dança e a alegria os levam para nomear os estados e as cidades; terminado esse cansativo trabalho, dormem no interior das rosas azuis, frequentadoras dos rios de água sem destino determinado.
II – Coyacán – lugar do Coiote
Dessa maneira simples e real, surgiu o nome do México que, pelo sol que penetra sua terra, pode significar “Centro da Lua” ou, pensando mais forte “Terra dos Deuses da Guerra”, no entanto, o que nos interessa neste instante, é uma pequena cidade chamada Coyacán, “Lugar do Coiote”, um animal que representa sabedoria e intuição. Às noites, os coiotes sobem as mais altas montanhas e, organizando uma forma de coral, cantam lindas óperas à lua. As lágrimas da lua pingam na terra, fertilizando as orquídeas mais raras.
III – Nascimento de Frida
Na cidade pequenina de Coyacán, em 06/07/1907, nasceu a menina Frida. Filha de um imigrante alemão, fotógrafo artístico como profissão e a mãe, uma mexicana católica que não saia da igreja, rezando a Cristo e a todos os santos que vinham à memória.
A literatura tem dois mil braços e milhares de definições escondidas no centro do cérebro. Quando ela cria um personagem complexo, são seres multidimensionais e dinâmicos, podendo se transformar ao longo da história, infinitas vezes. A menina Frida, nascida com o olhar girando sobre o universo, é o retrato de um personagem complexo e, ao mesmo tempo a mulher que tornar-se-á a primeira artista surrealista da América Latina.
Para não passar ao lado das nuvens, o surrealismo foi um movimento artístico, lançado em 1924, por André Breton, em Paris, que pretendia e pretende buscar a expressão espontânea do mundo e das pessoas de um jeito meio automático falado pela voz do inconsciente. O sonho, o desejo, a mutação dos comportamentos políticos, filosóficos e científicos.
IV – Roteiro de uma tragédia
Frida, por algum mistério de capa arrastando-se ao chão, nasceu para ser mitificada, admirada, martirizada; sabendo que a tragédia seria seu ângulo de vida, desde a infância.
V – Frida criança
Ela era criança antecipada no tempo. Brincava todas as brincadeiras que o dia, e um pedaço da noite permitiam. Gargalhava quando o vento levava a folha de uma árvore ao céu; amava o momento em que as estrelas surgiam no espaço e se encantava como a lua se vestindo diferentemente a cada noite. Corria grandes distâncias com um único objetivo, de sentir que o mundo não devia ter fim.
VI – Ficção e a realidade
No ano de 2002, a diretora Julie Taymor aceitou comandar o filme Frida, um desafio que teria de caminhar entre a ficção e a realidade, isso porque o mundo da artista explodiu todas as possibilidades da linearidade de um viver. A movimentação do longa-metragem foi inspirada no livro escrito por Hayden Herrera, obra que levou quatro roteirista para adaptar o texto literário ao cinema.
VII – Pólio
A tarde não queria contar histórias e tampara os olhos para não ver a fotografia da natureza. Na escola, entre as lições orais e escritas, o mundo de Frida entrou num corredor temeroso, fora vítima de poliomielite. Durante o tratamento tentou pintar o que caminhava dentro de si. No final da doença, uma de suas pernas ficara mais curta que a outra. Para conviver com o problema, diante do seu ego, passou a usar saias e vestidos compridos, adotou também a calça comprida, imprimindo a primeira mudança no comportamento das pessoas.
VIII – Adolescência
Na adolescência, destacando-se no processo de aprendizagem e nas atividades artísticas; sofreu um acidente de bonde que, não sabemos se estava escrito, batera num trem. Frida teve onze fraturas na perna direita, um pé completamente esmagado e deslocado, grave fratura na região pélvica, outras na coluna cervical. Permaneceu três meses no hospital; tomou centenas de remédios, fez infinitas cirurgias, pintou muito, deitada, observando a vida pelo seu contrário. Nesse tempo pintou a obra-prima “Coluna Partida”.
IX – Diego Rivera
Andando pelas ruas, mancando em torno do passado, deu conta do que a acompanhava: era comunista, bissexual, beberrona.
Nesses passos em direção a algum lugar, conheceu Diego Rivera, um dos mais importantes muralistas do México. A paixão cruzou o olhar, a tinta, as pinceladas, o calor dos corpos. Casaram-se. Com Rivera percorreu o mundo, deixando e apresentando a sua arte aos deuses de pés de barro. Nas noites barulhentas dentro dos copos, conheceu os grandes mestres, empresários, tarados.
No transcorrer do casamento, na hora que não entra em relógio, Rivera entregou-se a vários amantes, e o casamento chegou ao fim.
X – Os amores de Frida
Frida olhou para o empresário Rockfeller, o chamado magnata dos negócios. Amaram-se em iates, nos hotéis mais caros do mundo, nos parques projetados pelo deus Eros. Descasaram na movimentação das ruas, sol escaldante, na porta de um banco.
Conheceu Leon Trostski, um escritor que conquistara o mundo, um intelectual reconhecido pelo mundo universitário, marxista, revolucionário, organizador do Exército Vermelho, rival de Stalin. Frida apaixonou-se por esse homem; quando estava com ele, na rua ou na cama, sentia que entrara nos mistérios dos homens. Frida estava olhando a cidade por uma janela, as estrelas estavam apressadas, os astros perderam a rota. Trostski fora assassinado nessa noite e o coração de Frida misturou-se ao sistema celeste.
XI – Gosto de sangue na boca
Na noite da morte do intelectual russo, Frida entendeu que o seu casamento com Diego Rivera foi uma tentativa de encontrar a si mesma, mas, com certeza, não se encontrou o seu eu, porém deu de cara com o fracasso.
XII – O filme
O filme, a partir da colocação, enfoca na telona umas cenas, que não tem justificativas, como o corte de cabelo, uma passagem por um estado psicológico sem suporte. Frida e outros amantes e mulheres, passa por um processo de embelezamento, ausência dos buços, as marcas dos ferros dos aparelhos diminuídos, o desvio das câmeras em direção às pernas.
No lado aposto, os movimentos revolucionários da vida da pintora que, por falta de foco e direção, não entendeu que ela queria caminhar sozinha através do tecido social costurado com panos tão diferentes e contraditórios.
A sua base de vida se tornou uma série de diálogos sobre arte, história, política, feminismo, mesmo que, por um compromisso com o seu passado, nunca se declarou ser uma feminista.
Quando o seu casamento com Diego Rivera, contratou a costureira mais famosa do México. Essa profissional correra o mundo fazendo vestidos de noiva às deusas do universo artístico e senhoras do topo da alta sociedade. Sentindo a realidade do que ia fazer na própria pele, na hora do casamento trocou o vestido de noiva branco e pesado de pedrarias, com o vestido de uma das empregadas da cozinha, mas com o cheiro do México.
Os cabelereiros dos salões mais sofisticados do mundo, não conseguem entender o seu gosto em relação aos cabelos:
Adoro prendê-los
Com minhas tranças,
Com as fitas coloridas
Do meu país.
Com as flores do meu jardim
Por isso, pinto flores,
Assim elas não morrem!
O filme não mostrou o seu acidente de carro. O asfalto, o cheiro de gasolina, a ruptura da coluna vertebral. A lesão que lhe atingiu o útero impedindo de ser mãe. Mesmo em período de primavera mexicana, sua perna direita fora amputada, em 1950.
O filme Frida não levou o tempo para dentro das telas dos cinemas. Ela tinha 47 anos e amanhecera acreditando que todos os dias são feitos de pensamentos navegantes de mares profundos. Usando uma cadeira de rodas, passou pelos cômodos da casa. Uma foto aqui, outra ali, mais adiante o seu pequeno corpo cercado por milhares de pessoas. E o silêncio se fez! O seu corpo foi encontrado sem vida; a ciência diz que partira levada por uma ebolia pulmonar; outros apontam o excesso de remédios para diminuir a dor do corpo, da vida, do universo.
No seu diário, anotações escritas com letras e gemidos, ela escreveu: “Espero alegre a minha partida e espero não retornar nunca mais!” Esse seu diário secreto, cheio de anotações, transformou-se em livro. Embora, o filme Frida, tenha mostrado apenas um pedacinho de sua vida, valeu pela coragem de caminhar pela consciência de quem, com certeza, transformou-se numa estrela que acompanha as lendas contadas pela lua.
RECEITA
SALPICÃO MEXICANO
Ingredientes: 3 xícaras (chá) de frango cozido e desfiado; 1/2 avocado firme em cubos; 1/2 pimenta dedo-de-moça sem sementes picada; 1 tomate sem sementes picado; 1 xícara (chá) de azeitona verde picada; 1 e 1/2 xícara (chá) de maionese; Sal a gosto; nachos para acompanhar.
Modo de preparo: Em uma tigela, coloque o frango, o abacate, a pimenta, o tomate, a azeitona, a maionese, tempere com sal e misture bem. Forre uma travessa com o nachos, coloque o salpicão por cima e sirva.
Por Adriana Padoan