I – Motivação
Alguma vibração, vinda do esconderijo onde as artes nascem, abateu sobre mim, minha sensibilidade, levando-me a visitar um momento mágico do cinema, que invadiu a consciência do povo americano e do restante do mundo, estou me referindo aos filmes classificados como Western, faroeste, procurando contar a história da colonização dos Estados Unidos sobre o olhar patriótico do homem branco.
Nesses filmes, misturado com a palavra matinê, infância, adolescência, pipoca, chocolates, balas da Embaré, Bis, namoradinhos, havia revolveres, rifles, vaqueiros usando chapéu Stetson, bandanas, esporas, botas, índios americanos, bandidos, homens da lei, caçadores de recompensa, cavalaria, colonos, sonhos, desilusões.
Os colonos, sempre homens brancos, honestos, seres humanos pacíficos, famílias em busca da Terra Prometida, com a esperança de construir uma grande nação, atravessavam a terra conduzindo grandes carroções. A câmera, sem avisos, subia os topos das escarpas e lá perto do azul do céu, as silhuetas, sombria dos índios violentos, indígenas caracterizados pela pintura no rosto e penas na cabeça.
A planície era abalada por gritos, berros, galopar confuso; os carroções em círculos, o mocinho olhava a mocinha apaixonada, e os índios de lança e flechas atacavam os heroicos colonizadores. Havia poucos rifles, um punhado de munição, os tiros certeiros, o desespero, os olhos embrulhados pelo medo, a morte aproximando-se. De repente a terra, os colonos, os cavalos ouviam o toque de um clarim, e a cavalaria americana punha os índios em fuga após matar metade dos selvagens. A mocinha beijava o mocinho, a bandeira americana tremulava, e a colonização do país caminhava, apesar de tudo.
II – A verdade dói
O tempo caminhou dentro de sua própria memória. Numa Universidade Americana um pesquisador chamado Dee Brown, um grande especialista da história americana, entrou de cabeça sobre milhares de documentos, registros de oficiais, biografias, depoimentos, descrições humildes expressas pelos lábios indígenas e, em 1970, publicou o livro “Enterrem o meu coração na curva do rio”, um título poético para um livro que apresenta o relato planejado dos índios norte-americanos. Esse livro, um estudo acadêmico, mudou totalmente a forma de olhar a conquista do velho oeste e o terrível processo de extermínio dos peles vermelhas, de sua cultura, de seus deuses, das suas histórias de amor, de suas lendas. Na minha opinião, simples e humilde, os Estados Unidos são um país mutilado historicamente, pois somente uma parte de sua saga foi nos revelada.
III – A dança com os lobos
O longa metragem “A dança com os lobos”, cujo roteiro está comprometido com a realidade do passado americano, realizado em 1991, dirigido, produzido e representado por Kevin Costner, me encanta na extensão dos encantamentos; primeiramente pelo título, uma poesia que ultrapassa o nivelamento da consciência.
IV – O título
A dança é uma arte gerada dentro do corpo. O corpo movimenta-se na efervescência da existência musical, do ritmo, da teatralização dos passos, das cores, da escultura e da expressão da emoção. O filme de Costner segura às mãos da realidade movendo-se em sua beleza musical. A arte da dança, por outro lado, no longa-metragem, está vinculada à imagem de um lobo solitário, um animal que simboliza a ligação entre dois mundos, o mundo físico e o espiritual, o visível e o invisível, representa também, a proteção, força, o amor.
V – O ser mutilado
O soldado John Dunbar está sendo atendido num hospital de campanha, durante a Guerra Civil. O seu pé direito fora despedaçado e os médicos vão amputá-lo. Numa cena simbólica que procura mostrar o limite da dor e da perda, o soldado consegue calçar as botas, fugindo do hospital e da mutilação do seu corpo.
VI – O seu fado e o suicídio
A palavra fado significa “aquilo que tem de ser”; uma força independente da vontade humana. Por outro lado o suicídio é um atentado contra a própria vida, a única posse transitória do ser humano. No caso do oficial, John Dunbar, um personagem mal resolvido que, observando a colocação das tropas inimigas na guerra civil, monta o cavalo Cisco, e sozinho galopa em direção aos inimigos procurando a sua própria morte. A sua ação assusta os opositores, causando medo, desespero, heroísmo, valentia, paralisia e derrota. O ato do oficial é reconhecido como um feito heroico, acontecimento que salva o seu pé, sua vida, e o direito de servir em qualquer posto de exército. Ele escolhe servir um posto longínquo, na fronteira do país, procurando entender a sua nação e a si mesmo.
VII – A literatura das Américas
A literatura-norte-americana apresenta algumas características que a marcam significativamente. Uma ideia que percorre a criação dos artistas americanos está a tendência de isolar o personagem numa cabana, numa casa deserta, num forte vazio e sem vida, em contato direto com a natureza, produzindo um tipo de mito que aparece em artistas como Cooper e Thoreau.
“Em dança com os lobos” o oficial John W Dunbar ao chegar ao forte abandonado observa uma bandeira americana tremulando com o vento, tão solitária quanto ele. Na elevação do posto à margem direita de um rio John vê um lobo, com duas patas brancas, observando os seus mínimos movimentos. O lobo parecia saber que aquele homem se integraria a natureza passando por transformações psíquicas e físicas demasiadamente importantes.
VIII – Os sioux
A tribo sioux habitava nos arredores do posto. John queima a carcaça de um alce morto no rio; a fumaça negra sobe em direção as nuvens brancas de um céu dono de si mesmo. Os índios descobre pela fumaça de um único soldado no posto que fora abandonado. O primeiro encontro, na passagem do tempo se dá através de gritos e gestos ameaçadores de ambos os lados. A aproximação entre colono e colonizado se dá lentamente. Um dia, sem marcas próprias o oficial Dunbar encontra a índia “De Pé com Punho”, viúva, muito machucada. Essa viúva fora raptada pelos índios, há tempos, quando ela era criança, após o ataque a uma fazenda. O seu contato com a tribo destrói as barreiras raciais que moravam em seu interior. Ele conhece o índio Paço Esperneante que lhe diz: “De todos os caminhos desta vida, existe um que realmente importa. É o caminho para o verdadeiro ser humano”.
Dessa maneira, ao lado de fotografias de uma natureza deslumbrante, o oficial que partiu para conhecer a fronteira começa a conhecer-se a si mesmo. O filme “Dança com os lobos” aproxima-se do espiritualismo, transportando-nos pelo interior do coração humano. O homem branco entra na cultura indígena procurando desmistificar a imagem de homens selvagens ao mostrar ao mundo um povo digno e honesto.
IX – Símbolo
Um dos momentos mais significativos do filme ocorre quando Dunbar morde o coração de um búfalo, após uma caçada, cena que eleva a história do cinema. O que acontece é a divisão do que move a vida selvagem para sustentar o valor da vida humana. Em outra cena, ele troca o uniforme de soldado por adereços indígenas e, à noite, em torno de uma fogueira, sozinho, dança um ritmo indígena com passos e movimento tribais. A cena ocorre sob o olhar distante do lobo, e é a partir daí que o lobo e o seu instinto selvagem passam a alimentar-se nas mãos do soldado.
Ele se apaixona por De Pé em Punho, casa-se com ela no ritual do povo Sioux, combate o exército branco e para não prejudicar a tribo, parte com a esposa em busca de uma nação que ainda não existe. O filme termina com o casal subindo uma escarpa gelada, deserta, misteriosa e o índio “Vento no Cabelo”, no alto de uma montanha gritando: “Dança com os lobos!”…”Dança com os lobos”!
Ao trabalhar com o filme “A dança com os lobos” mesmo não tendo intimidade com a poesia meu coração escreveu:
Receita
Salmão ao molho de alcaparras e aspargos
Ingredientes: 500 g de Salmão; 1 cenoura; 200 g de aspargos; Salsinha picada finamente; Sal; pimenta-do-reino a gosto; 5 colheres de sopa de manteiga; 50 g de alcaparras em conserva; Azeite de oliva para untar.
Modo de fazer: Corte o salmão em duas partes, fatie a cenoura em palitos e os aspargos corte em 2 partes. Reserve. Em seguida tempere o salmão com sal e pimenta, disponha em uma forma untada com azeite, leve ao forno por cerca de 20 minutos. Enquanto o peixe assa, em uma frigideira adicione 3 colheres de sopa de manteiga, quando derreter a manteiga adicione as alcaparras e acrescente a salsinha, desligue o fogo. Reserve. Em outra frigideira antiaderente coloque 2 colheres de sopa de manteiga e adicione a cenoura e os aspargos, tempere com sal e refogue por cerca de 1 minuto. Retire o salmão do forno e sirva-o acompanhado dos legumes refogados, regando-o com o molho de alcaparras.
Por Adriana Padoan