I – Os anos assustadores
O mundo girava em torno do lucro, da produção, da criação do mercado de consumo. As indústrias trabalhavam todas as horas do dia e um pedaço avançado da noite. Os operários eram prisioneiros das horas; os patrões viviam sobre a fumaceira das chaminés, os créditos para as compras eram oferecidos nas calçadas dos bancos; um gnomo saído da gravidez de uma pedra inventou a venda em prestações; o seu sonho dividido em 40 meses. O mercado especulativo, devorador solitário, montou equipes de vendas imortais e convincentes. Na velha Europa, os países criaram lendas dentro dos castelos envelhecidos, entraram em guerra e arrastaram boa parte do mundo para viver o conflito.
II – Conto curtíssimo
Era a vivência do ano de 1929, em uma noite sem movimento de asas dos pássaros da escuridão, a Bolsa de Valores Americana enroscou os pés no tapete da sala, caindo de cara no chão.
Essa simples queda provocou, no mundo, o desemprego em massa; houve milhares de falências, acompanhadas do som de um tiro; os suicídios tentaram se esconder no topo das árvores de copa fechada. A pobreza sentou nos bancos de madeira, espalhados pela terra, a fome bateu nos estômagos, nublando os pensamentos.
III – O cinema tem olhos no rosto e na nuca
Era noite. O sono entrou numa carruagem e se perdeu por estradas inexistentes. O diretor de cinema Oliver Dahan vasculhou os tocos de lenha da lareira em busca de uma vida que transformasse em história, em um suspiro que podia representar uma Europa em guerra e a crise de 1929 que balançara a estrutura do mundo; ele procurou uma voz, a dor, a solidão, o retrato vivo de uma época. Às 2 da madrugada, os seus sonhos lhe apresentaram a cantora Edith Piaf.
IV – Processo de criação
No ano de 2007, o diretor Oliver Dahan e Isabelle Solbelman escreveram o roteiro de “Piaf, Um Hino ao Amor” e iniciaram as filmagens preocupados em resgatar os principais momentos da vida da cantora e o instante histórico que o seu estar neste mundo, documentaram com precisão.
V – O roteiro e as imagens
A sua mãe era cantora de rua de uma Paris imunda, um lixo provocado pela crise e pela guerra. A noite trouxeram a neblina que ofuscava o olhar. Sua mãe pegou em suas mãos e a levou até a ponte do rio dos indecisos e a abandonou.
Ela foi levada pelo pai para morar com a avó, uma cafetina da época que Quasimodo tocava os sinos de Notre Dame. No bordel da avó ela se torna uma menina protegida pelas prostitutas locais. Sem mais nem menos, enfrenta uma cegueira temporária. Ela esconde-se do mundo e o mundo camufla-se em sua frente. Uma das prostitutas do bordel fez uma coleta de dinheiro e, todas juntas fizeram uma peregrinação para pedir a Saint Thérese de Lisieux pela cura dos olhos da menina Piaf. Milagrosamente a doença se afastou dos olhos da criança.
Aqui, nesse trecho, vou fazer uma breve interrupção para narrar um fato de Taubaté. Don Epaminondas, nosso primeiro Bispo foi fazer um tratamento no Rio de Janeiro. Em frente ao sanatório onde ficaria hospedado, viu uma livraria. Foi até lá para comprar um livro sobre Tereza D’Ávila. Por engano, retirou da prateleira a vida de Santa Terezinha. Leu o livro em uma única noite. A sua fé brotou em seu corpo e o curou. Chegando de volta em Taubaté, deu início à construção do Santuário de Santa Terezinha, baseada na igreja de Saint Pierre de Lisieux.
Retornando ao texto, Piaf estava cansada da casa da avó que não lhe dava atenção, por isso vai morar num circo com o pai que era contorcionista. Pouco tempo depois, transforma-se em cantora de rua. Encontra o sucesso a partir do momento que canta “Marselhesa” num instante que o povo necessitava de sentir emoção e carinho. Ela existe, a rua existe, ela canta e sonha com amores possíveis e impossíveis, com músicas reais e músicas que ainda não foram feitas.
O diretor Oliver Dahan coloca no caminho de Edith o dono de um cabaré chamado Le Gerny’s. Esse homem de nome Louis Lepree, dá-lhe o apelido de “La môme Piaf”, que significa pequeno pardal.
A noite de estreia, as celebridades estão presentes, curiosos e esperançosos, entre eles o ator Maurice Chevalier, a compositora Marguerite Monnot, que se torna sua amiga. Nesta mesma noite é apresentada aos magnatas das gravadoras.
Em 1936, Piaf gravou seu primeiro disco “Lês Mamês de la Cloche”, foi bem aceito pela crítica e pelo público. Esse disco, traduzido para o português significa “Damas do Sino”.
VI – Cinema visto por dentro
O diretor Oliver Dahan administrou problemas dificílimos. Na cabeça do elenco, à atriz Cotillard representando a cantora Edith Piaf, tinha 22 centímetros a mais, o que a obrigou a trabalhar encolhida o filme todo, surge uma personagem nem sempre elegante, costas encurvadas, gestual marcante. Ela consegue interpretar a insegurança que a cantora não teve na primeira infância. Durante sua primeira apresentação, ela traduz o olhar temeroso de Piaf, o esbarrão no microfone e tudo renasce de uma hora para outra.
Ela consegue envelhecer diante de nossos olhos, num trabalho de composição perfeita. Interpretando a juventude de Piaf consegue disfarçar sua beleza usando prótese, líquidos para representar suor nos lábios superiores, consegue passar a ideia de glorificação e decadência.
VII – Os confrontos
A cantora mudou de mentor musical, apresentou-se no famoso Bobino Music Hall, foi para o Music hall ABC; suas músicas representavam sua trágica história passada nas ruas de Paris. Lançou-se numa carreira internacional. Em 1947, fez seu primeiro show nos Estados Unidos. Retornou a França e conhece o pugilista Marcel Cerdan, com quem teve um grande romance.
Felicidades nas tardes uivantes de Paris, as noites trazendo o amor de todos os tempos; a alegria de uma criança brincando no palco.
O céu, os ventos sem origem.
O avião de Marcel dançando
Em palcos escorregadios.
A QUEDA. A MORTE. O AMOR E O LUTO.
A perda do homem que colocara o sorriso em seu rosto, o reumatismo que aparecera de repente, três acidentes de carro, a morfina, o traumatismo craniano, a fragilidade. As tentativas de retorno e os desmaios no palco. Mesmo sendo exigida pelos fãs, viaja para o Sul da França ao lado do marido Theo Sarapo e de sua enfermeira.
Em 10 de outubro de 1963, depois de sono bem sonhado, sente a hemorragia magoar seu corpo; e o câncer de fígado não lhe dá alternativa.
A pequenina, a frágil, a feioso, faleceu lembrando pedaços das letras das suas músicas:
“Eu não sei o nome dele, eu não
Sei o nome dele.
Ele me amou a noite toda
E deixando-me para o meu destino.”
“O legionário”
“Sou apenas uma garota do porto,
Em uma sombra da rua
E no entanto eu passei pertinho de você.
O seu cachecol de seda
Flutuava nos seus ombros
Os amantes de um lindo dia
Eu limpo os copos
No fundo de um café
Tenho muito o que fazer
Para poder sonhar
E nesse cenário
Banal a chorar
Me parece ainda
Vê-los chegar”
“Meu Senhor”
“Hino ao Amor”
“O céu azul sobre nós pode desabar
E a terra pode bem desmoronar
Pouco me importa. Se você me ama.
Não me importo com o mundo inteiro
Enquanto o amor inundar minhas manhãs.
Enquanto o meu corpo tremer sob suas mãos.”
(“Hino ao Amor)
RECEITA
TORNEDOR E REDUÇÃO DE BALSÂMICO COM PURÊ
Ingredientes: 01 filé mignon cortado a Tornedor; 02 batatas Asterix médias; 2 colheres de sopa de creme de leite; 01 colher de sopa de azeite; 200 ml de aceto balsâmico; 01 colher de sopa de manteiga; Sal e pimenta a gosto; Presunto de Parma
Modo de preparo: Comece por descascar as batatas, cortar em cubos médios e cozinhar em água com um pouco de sal, pois a batata ainda receberá tempero. Enquanto isso, tempere o filé com sal e pimenta-do-reino. Para fritar a carne, utilize uma frigideira de ferro ou uma frigideira antiaderente bem quente. Nela, derreta a manteiga e junte um fio de azeite para não queimar.
Então, sele a carne fritando por cerca de 4 minutos de cada lado, deixando formar uma crosta bem dourada. Dessa forma, você mantém toda a suculência do filé entre as fibras. Em seguida, leve em uma forma para o forno pré-aquecido a 250°C por cerca de 15 minutos.
Nesse meio tempo, volte para as batatas. Após o cozimento, escorra e reserve um pouco da água levemente salgada. Em uma tigela, junte a batata cozida, o creme de leite, o azeite e duas colheres da água usada para as batatas, batendo tudo com a ajuda de uma batedeira até que se forme um creme homogêneo. Ajuste o tempero com sal e pimenta-do-reino.
Em seguida, prepare uma redução de vinagre balsâmico. Para isso, ferva o vinagre em fogo bem baixo. Ao reduzir pela metade, o líquido deve ficar espesso, na consistência de uma calda. Enquanto isso, pegue algumas fatias de presunto de Parma e asse sob papel manteiga em forno pré-aquecido a 250°C por uns 10 minutos. O objetivo é deixá-los bem crocantes.
Por fim, retire a carne do forno e deixe descansar por cerca de 5 minutos. Então, sirva o filé de Tournedo Rossini sobre o purê de batatas. Finalize regando a carne com a redução do vinagre balsâmico e lascas de presunto de Parma crocantes por cima.
por Adriana Padoan