I – A Inglaterra: terra nublada
Não havia sol; o vento resolvera mudar o seu roteio. Em uma casa de classe média, numa cidade acanhada, nasceu o menino Ridley Scott, filho de um engenheiro do Exército Britânico. Homem de cálculo, projetos exatos, mas que acreditava no aspecto desconhecido do universo, produtor de lendas e teses universitárias.
Rudley morou no país de Gales. No andar dos relógios estourava a Segunda Guerra: explosões, desejos, desespero, luta pela vida e medo da morte. No final da guerra estabeleceu-se em Hartbun, área industrial, e as milhares de chaminés pareciam parte de um cenário pertencente às veias da industrialização.
No ano de 1962, por vontade própria, entrou para a BBC, criando cenários para os programas de auditório. Em 1965, segundo as batidas exasperadas de seu “eu” psíquico, matriculou-se no Curso de Direção Cinematográfica.
Fez séries para televisão, dirigiu propagandas, dirigiu o filme “As Duelistas”, de 1977, obtendo um prêmio no festival de Cannes.
Em 1979, trabalhou na direção do filme “Alien”, filme de ficção científica. Nos começos da década de 80, foi para os Estados Unidos, para trabalhas na Warner Bros, tendo um objetivo específico, dirigir o filme “Blade Runner”. Filme que teve várias indicações para o Oscar.
II – A semente de Blade Runner
As ervilhas rasgavam o corpo da terra e nasciam para o mundo. Havia bezerros cantando canções nos currais, as fadas voavam as copas das árvores. Nesse ambiente bucólico, o escritor de ficção científica Philip K. Deck, uma expressão participante da história literária norte-americana, escreveu o romance: “Os Androides Sonham Com Ovelhas Elétricas”. O ano de 1968, ano em que o livro foi escrito, propunham a explosão do mundo. O tema central de livro de Philip é a luta terrível travada entre a tecnologia, produtora de robôs com inteligência artificial, e a humanidade assustada, questionadora dos futuros da humanidade. Desse universo de desassossegos nasceu o texto para o cinema chamado de “Blade Runner”.
III – O nascimento de “Blade Runner
O título, como tudo na existência do ser, nasce no mundo múltiplo das palavras. O nome do filme nos leva em direção a infinitos significados: matar, lutar, descartar, tirar de circulação, eliminar, passar a foice, colher. De qualquer ângulo que interprete, a palavra carrasco passeia por traz dos mundos dos significados. O filme foi realizado, mas o público não entendeu, causando um fracasso de bilheteria. O tempo acomodou a crítica, o mal-estar, o silêncio. No entanto, após o seu lançamento em fitas de VHS, vestiu as roupas as produções clássicas, tornando-se um ícone cult na vida cinematográfica. Assim, o diretor Scott, os produtores, o studio, resolveram refilmá-lo, procurando esclarecer, ao público, pontos obscuros que permaneceram no interior psíquico do público comum.
IV – Blade Runner, segunda versão de 1982
A história situa-se em novembro de 2019, em Los Angeles. A cidade não tinha mais nada das belezas do aqui e agora. A explosão de gases destroem as bocas das chaminés. Essa luz abafada ilumina a cidade espalhada num plano inferior. O cenário é sombrio, sonambúlico, desesperador. A imagem de um olho azul é filmado bem de perto, a cidade transparece dentro de sua córnea, a força do olhar paralisa um momento, dentro do tempo. Veículos voadores desesperam-se no céu escuro; um prédio piramidal surge no centro da incompreensão visual, a altura é espantosa. O voo dos carros apresenta-nos o sucesso tecnológico, uma pessoa fuma no confronto com a luz, ventiladores giram lentamente. Propaganda voa em telões, vozes anunciam terrenos à venda em outros planetas que estão sendo colonizados.
V – A introdução no enredo
As imagens invadem o interior de um edifício. Tudo escuro, sombreado; uma pessoa fuma. Na mesa está um aparelho que lê retina, um avaliador de mentes futuristas, imagens de um mundo inexistente. Há um homem suspeito na sala. Ele é suspeito de ser um replicante, um robô feito a imagem e semelhança do homem, para ser um escravo no processo de colonização planetária. Esse aparelho mede flutuação da pupila, dilatação da íris. Há um questionário sobre as coisas simples da vida, do passado, da história pessoal, das memórias. O interrogado mostra-nos as suas mãos, são pequenas. Ele segura uma arma minúscula. Ele mata o policial do interrogatório. O primeiro tiro atravessa o corpo, a mesa, o escritório. O segundo derruba a parede. O nome do replicante é Leon, que foge em seguida.
VI – O policial eliminador
O ex-Blade Runner, aposentado é escolhido para caçar quatro androides, nexus 6, que se revoltaram com o trabalho escravo, fugiram da colônia planetária; vieram para a Terra em busca de respostas. Deckard é intimado pelo agente de polícia Gafl e seu antigo chefe Bryant. A missão recebida é rastrear os fugitivos, matá-los, ou seja, eliminá-los. Os quatro replicantes fugitivos são Leon, Roy Batty, Pris e Zhora. Esses replicantes, criados em laboratório, como todos nós estão procurando entender o tempo, a vida e a morte. Eles estão em busca de um tempo perdido e, de certa forma, buscam o criador tentando ampliar o tempo programado da vida.
VI – A consciência que resta dela
Rick Deckard ganha a vida eliminando robôs revoltados com seu destino; a sua atitude ao matá-los, não é considerada assassinato, mas uma maneira de desprogramar cópias dos seres humanos, projetados para viver quatro anos.
É muito claro para nós que há uma analogia áspera com o extermínio de seres humanos na sociedade atual; nós conseguimos entender as vítimas da violência policial; existe a realidade dos trabalhos escravos nos canaviais do nordeste e nas indústrias texteis paulistas; a realidade aparece na tecnologia que permite a fabricação de pessoas, de peças, para atender ao mercado de produção.
VII – O encontro com o criador
Deckard recebe a missão e não há mais meio de recusá-la. Entra num carro voador e vai ao encontro do intocável Dr. Eldon Tyrell, dono da corporação industrial. Ele é um homem ligado a bioengenharia e produtor de replicantes. Ele criou uma assistente especial, uma replicante que recebeu implantes de memória em seu sistema. Essas memórias são da sobrinha de Tyrell. Ele submete-se ao famoso teste, Deckard descobre que a assistente chamada Rachel é uma replicante, mas o seu tempo de vida é mais prolongado.
VIII – Uma caçada
Deckard persegue o androide Leon. Encontra em seu quarto uma série de fotografias. As fotografias assumem a função de uma referência de congelamento de um tempo, uma comprovação que houve um passado momentâneo na vida de um androide, e parte de um pedaço de sua história. As fotos são analisadas com o auxílio de uma máquina. Ele encontra uma escama de uma cobra no canto da foto. Através dessa escama descobre que Zhora era uma dançarina que, em seu número, enrolava-se numa cobra. Como todos os animais também eram androides, havia as lojas criadoras de animais clonados.
Ele a persegue pelas ruas. Atira em suas costas, duas vezes. O corpo tombado no chão, Deckard questiona a sua missão. Leon ataca Deckard, é uma luta movida pelo ódio e raiva, Leon aponta a sua arma na cabeça de Deckard, Rachel surge no meio do povo e atira em Leon, salvando Deckard.
IX – O encontro
Roy busca pistas para conseguir chegar ao criador. Ele consegue chegar até o fabricante de olhos e, través dele, fica sabendo que a única forma de chegar até o intocável criador é através do geneticista J. F. Sebastian.
Enquanto isso, Sebastian caminha em direção ao seu apartamento, e no cominho, encontra Pris escondida no meio de um monte de lixo. Ele, solitário, leva a replicante ao seu apartamento, onde ele cria brinquedos robôs para lhe fazer companhia.
O seu prédio é velho, decadente e abandonado, mas ali ele vive com seus androides de brinquedos. Embora seja um geneticista, fabricante de olhos para a corporação Tyrell, sofre de uma doença caracterizada pela síndrome do envelhecimento precoce, o que o transforma num androide em termos de vida.
Nesse apartamento, Deckard descobre Pris, misturada em meios a manequins. A sua morte revela a violência e a vontade de viver. A sua luta contra a morte choca e deprime o Blade Runner Deckard.
X – Roy e o retorno à criação
Sebastian conhece o replicante Roy, líder da revolução. Coloca-o em seu carro e o leva ao enorme apartamento de milionário da Fundação Criadora dos androides. O apartamento de Tyroll é enorme, iluminado por milhares de velas. Roy vai até o seu criador, pedindo-lhe mais tempo de vida, pois é muito temeroso viver entre a programação, o tempo, a vida e a morte. Tyroll confessa-lhe que não possuía o poder para prolongar o tempo de vida; era a única ação que não tinha o poder para realizá-la.
Roy aproxima-se do seu criador; dá-lhe o beijo da morte; pega-lhe a cabeça, quebrando-a com suas mãos; vaza os seus olhos com os dedos, eliminando-lhe a percepção do mundo pelo olhar.
Deckard inicia a sua perseguição do líder Roy, que fugira pelos telhados. A chuva ácida não oferece um minuto de trégua. A luta entre os dois ultrapassa os limites da normalidade. Roy quebra três dedos da mão de Deckard. O Blade Runner tenta pular de um prédio a outro, fica agarrado a uma viga. Roy percebe que a sua existência está no fim, sente perda de sensibilidade na mão direita. Retira um prego de um trilho que apoiava as vigas do teto, atravessando sua mão com o prego enferrujado, como se fosse uma crucificação; encara o rosto de Deckard expressando o medo da morte, e o salva puxando-o com a mão onde o prego atravessara. Senta-se em sua frente, segura uma pomba branca; entre as suas lágrimas e a água da chuva, pronuncia um discurso que enobrece o filme.
-“Eu vi coisas que vocês não imaginam. Naves de ataque em chamas ao largo de Orion. Eu vi raios-c brilharem na escuridão, próximos ao portal de Tannhauser. Todos esses momentos se perderão no tempo, como lágrimas na chuva. Hora de morrer”.
Roy, no fim do filme, ao recusar destruir Deckard, recusa-se a matar o que seu coração, sua evolução emocional procurou durante sua ínfima existência. Destruindo a vida do outro, estaria destruindo sua própria vida, sua razão de existir, anular a sua busca pelo tempo. A mesma mão, atravessada por um prego, sinal de sua morte, assume a realidade do seu criador, salvando o futuro e o tempo de vida de Deckard.
A cabeça baixa de Roy; as lágrimas misturando-as às águas da chuva, o voo da pomba branca, selam a presença da metafísica em Blade Runner.
Deckard retorna ao seu apartamento; acorda Rachel que poderia estar sonhando com a vida estendida na vontade de Deus. Os dois fogem daquele mundo agoniado pela tecnologia. Saem do quarto escuro; entram no elevador tão incerto; acomodam-se no carro, deixando os pneus rodarem por uma estrada linda, infinita, sem tempo determinado.
As cabeças de Deckard e Raquel
Unidos nas suas duvidas
Sonham com o sol
Sentem a respiração
De um unicórnio
Mas com muita vida
Galopando por uma floresta
Sem início e sem fim.
Receita
PÊSSEGOS ASSADOS COM CREME DE MASCARPONE
Ingredientes para o creme: 4 gemas de ovos; 1 colher de açúcar de confeiteiro; 400 g de queijo mascarpone; 1 colher de sobremesa de baunilha.
Ingredientes para o pêssego: suco de 2 laranjas; 1 taça de vinho licoroso; 2 colheres de açúcar mascav; 4 pêssegos cortados em 8 partes.
Modo de fazer:
Para o creme: bata na batedeira todos os ingredientes até formar um creme e ponha na geladeira por 2 horas.
Para o pêssego: Ponha os pedaços de pêssego numa travessa os regue com a misture as laranjas, o vinho e a açúcar mascavo. Asse no forno pré-aquecido a 200 graus por 10 minutos
Montagem: Em uma taça coloque alguns pedaços de pêssego e o creme de mascarpone. Decore como desejar.
Por Adriana Padoan