I – O escritor Lewis Wallace
O ano de 1827 entrou pela porta da frente na América do Norte. Nesse ano, a casa em que nasceu Lewis “Lew” Wallace, em Indiana, abriu todas as janelas, e o sol observou cada canto do velho casarão.
O menino acostumou-se com o vento que vinha do Norte; ouviu o canto dos escravos nas fazendas cultivadoras de algodão. As bonequinhas brancas, flocos gerados na força da terra, atingiam uma distância que os olhos não registravam. Ainda criança, reproduzia as lendas narradas pelos avós, nas noites iluminadas pelas chamas da lareira. Na mocidade, entrou na carreira militar; estudou direito para entender a face pluralizada da sociedade; participou da carreira diplomática, quando o entendimento de ações e fatos, tornavam-se obscurecidos; atuou na Guerra para a Anexação do Texas; lutou na Guerra da Secessão, sonhando com a libertação dos escravos; desempenhou o papel de governador do Novo México; foi nomeado Ministro responsável pelos negócios da Turquia e, percorrendo todos os momentos de sua vida, nunca encontrou-se com Deus. Era um ateu convicto, transparente, proprietário de conceitos, teses e estudos, reflexões sobre um universo, que não cabia a presença de Deus.
Era um dia diferenciado, os pássaros voavam em torno do além que limitava campos e florestas. Wallace viajava no trem vermelho, rodas coladas aos trilhos temperados com as dores da partida e a surpresa da chegada. Ao passar pela estação de Saint Louis, voz imprevisível do Missouri, colocou sua atenção na quantidade de torres de igrejas existentes na famosa cidade do “me prove”. O seu pensamento colocou em sua voz, dita a um amigo, o seguinte comentário: “Não posso, não quero entender, como tanta gente culta, acredita nas Escrituras”. O amigo, homem centrado no movimento do mundo, comentou: “Por que você não escreve um livro provando que Jesus nunca existiu. Derrube os mitos que se colocam na contramão de suas convicções”.
O conselho do amigo determinou o motivo pelo qual vivia nesse planeta. Motivado em encontrar a verdade, durante vários anos, percorreu todas as bibliotecas americanas, muitos arquivos europeus à procura de Jesus Cristo. A pesquisa preencheu centenas e centenas de páginas. A posse documental oferecia o suporte necessário para escrever sobre Jesus, o espaço onde viveu, suas pregações, vida e morte. Disse Wallace: ”A ideia portanto, mãe do meu enorme trabalho, funcionou ao contrário, ou seja, Jesus me descobriu, entendi que Ele realmente era Filho de Deus, o homem que veio para modificar o mundo, rejuvenescê-lo, plantar o amor, a justiça, a paz, nas terras adubadas de todos os jardins e no interior da humanidade. Dessa forma resolvi criar um personagem, uma história, um negativo de todas as vidas, na época de Jesus Cristo. Assim nasceu o romance Ben-Hur, o livro que desabrochou e renasceu em todos os países do mundo.
II – A época de Cristo
Nas ruas de Jerusalém havia casas comerciais para a venda de tapetes, mantos lindíssimos, alfaiates. A elite buscava nas lojas sofisticadas os unguentos para pele, resinas perfumadas que, vindo de longe, santificavam as noites de amor. A moda, vivia nas tecelagens, na feltragem, nas indústrias de couro. As casas de comida demonstravam os azeites, produção de pão, as carnes vindas de açougues bem montados. A construção do Templo e sua preservação reuniam pedreiros, carpinteiros, ourives, artesãos de prata e bronze.
A cidade de Jerusalém de vinte e cinco a trinta mil habitantes; na Páscoa, porém, a população atingia cento e oitenta mil pessoas.
A grande Jerusalém, nas festividades, tornava-se a capital dos peregrinos, os ricos, envolvidos pelo luxo; a classe média formada pelos artesãos, comerciantes, vendedores de estamparias; os pobres eram sombras elevados pelas ruas; os escravos dominavam as ruelas, as praças, levando a fome e a esperança; os trabalhadores livres comprando pombos e rolas, o salário fixava-se em um denário por dia. Na época de Jesus, no período da Páscoa, Jerusalém engolia a matriz da mendicância; correrias, desfile, festas – os mendigos fingiam ou atuavam de surdo, cegos, aleijados, os hidrópcos (inchados, transpiração, palidez).
Os curiosos do poder montavam as tendas para o “Tamhuý” – tigela dos pobres, contendo pão, favas, algumas frutas. Do outro lado da cidade, havia o Quppah – cesta dos pobres, distribuindo roupas usadas.
Os jovens de várias partes do mundo, lugares longínquos ou próximos, chegaram a Jerusalém para receberem aulas com mestres famosos. Esses mestres funcionavam como universidades de renome e construção de intelectuais.
O Templo de Jerusalém empregava, nessas comemorações, dezoito mil pessoas. O Templo, por outro lado, era o centro político, religioso, sede do poder judaico.
Cristo, na época realizou uma grande marcha, modelo de objetivação que marcaria o futuro do homem. Saiu com seus apóstolos da Galileia até a cidade de Jerusalém.
A situação sócio-política-econômica da época tinha um formato de uma longa forja espremendo o povo. Os gritos populares denunciavam inflação galopada, salários baixos, pagamento de impostos, domínio romano, greves e revoltas.
Nas pregações de Jesus o povo tomava contato com o outro modo de vida, o poder não podia ser filho da dominação; era preciso gerenciar as atividades em direção ao bem comum. O diálogo tem uma força indescritível que direciona todos os viventes em direção à justiça, à paz. Essa crença levo-o a invadir o Templo, morada de Deus e sinopse de todos os bancos econômicos, troca de dinheiro, venda de produtos da época; Jesus entrou destruindo uma ideia visual e comercial, que inutilizava a fé: “Pregou, gritou, chutou mesas, destruiu barracas comerciais dentro do templo, que mutilavam a casa de Deus”. Essa ação corajosa, manifestação do respeito e da fé, condenou, de imediato a voz de Cristo, transfigurando-o na oposição ao templo e ao Império Romano.
Enquanto isso, num ponto qualquer da cidade, o Príncipe de Hur, comerciante, exportador e importador, filho de Miriam, irmão de Tirzah, dirige os seus investimentos. O seu servo Simonides, pai de Ester. Apresentava-lhe o lucro obtido nas suas distantes viagens comerciais; na outra ponta do relacionamento recheado de lucro, Ester, prometida a outro, batia o seu coração na fundura do coração de Judah.
O livro de Lew Wallace passeou por todos os palcos dos teatros do final do século XIX e início do XX.
Em 1907, o cinema tentava ajustar as suas imagens nas poucas salas de projeção, o público chorava, apertava mãos em nome das paixões, descontrolava-se diante do futuro. Pois bem, em 1907, houve uma versão cinematográfica de Ben-Hur. O filme tinha quinze minutos abalados pela velocidade das imagens. A maior parte do tempo, o cineasta usou na corrida de biga. Causou espanto, contração muscular, beijos e mãos fora dos lugares corpóreos listados para o amor.
Em 1929, o liberalismo econômico destampou todas as latas de lixo, a especulação financeira deteriorava os alimentos abandonados pelo excesso. A recessão entrou no mundo e os pobres reviravam as latas de lixo. Nesse ano o diretor Fred Níbio refilmou a história de Ben-Hur. Ele, Níbio, empregou efeitos especiais, a cena da Batalha Naval carimbou uma época. Corrida de Bigas, fotografada por 42 câmeras acompanhando a luta da passagem dos cenários; mais de 56 metros de celulose foram usados; quatro mil extras foram contratados para acompanhar os bonecos nas arquibancadas. Muitas cenas foram coloridas, à mão, quadro a quadro. A versão cinematográfica de 1959, dirigida por Willian Weyler, produção de Sam Zimblist e roteiro escrito por uma infinidade de profissionais, rastreou os estudos a procura de um astro para interpretar Judah Ben-Hur. O primeiro possível foi Burt Lancaster; leu o roteiro, mas não gostou, segundo o seu depoimento, estava afastado de Cristo; o segundo, Paul Newman, afirmou que as suas pernas não se ajustavam ao saiote de Hur, eram muito tortas, Marlon Brando, não imaginava-se como Hur, depois da juventude revoltada da motocicleta, Rock Hudson, marcado pelos beijos românticos em seus filmes anteriores, não encontrava motivação; Geoffrey Horne, Leslie Nielsen, Kirk Douglas, excluíram-se por vários motivos. Após a passagem da peneira no estoque dos astros, Judah Ben-Hur encontrou-se com Charlton Heston.
III – O filme Ben-Hur – enredo
O ano 26 a.c., na cidade de Jerusalém existia um príncipe judeu, chamado Judah Ben-Hur. Morava em uma mansão sonhada naquelas eras. Hur era rico, defensor do povo, da fé, da tradição dos judeus; oponente a violência do domínio romano. Morava com sua mãe Miriam, sua irmã Tirzah, centenas de criados e trabalhadores. O seu servo Simonides, vendedor dos produtos gerados pela terra e comercio de Judah. Simonides tinha uma filha chamada Ester, prometida em casamento.
Judah dá-lhe de presente de casamento, uma carta de alforria; retira o anel de escrava dos dedos de Ester e o coloca em um de seus dedos, troca que eterniza a paixão entre os dois. A vida, sem definição própria, espera pelos dias seguintes. Em Nazaré, o filho do carpinteiro José, lava madeiras, faz mesas e bancos, refletindo sobre os momentos das águas e dos tempos.
IV – O poder – o homem – a estupidez
Na infância de Judah, nos tempos das cavalgadas, das caçadas, dos jogos; o menino Messala, amiguinho de todos os enfrentamentos, pensa e sorri no mesmo universo. Na lua da boca do Lago, Messala parte para Roma, levando as propostas, as vontades e o desejo de estudar, aprender, preparando-se para a vida.
Messala retornou a Judéia para comandar a Fortaleza de Antônio, símbolo da opressão de César na Judéia. O encontro dos amigos, tantos anos depois, serve como documento cultural, político, ideológico de uma época. Messala aprendeu a ideologia de César, o poder, a divindade, a conquista, o fortalecimento do Império; Judah tornara-se um homem fortalecido em sua fé, sente uma chama dentro de si, a expulsão do poder romano. Messala, em nome de uma amizade passada, pede a Judah que traia o seu povo, a sua gente. O conflito, a posição ideológica, afasta o romano do judeu, e a amizade se desfaz num jogo de palavras, gestos, raiva, incompreensão.
Lá fora, nas ruas da Judéia, Jesus fala do amor, da paz, da fé, da solidariedade, usando a pedagogia, a retórica e a arte.
V – A fatalidade, funcionamento da história
Jerusalém, com raiva nos olhos, recebe o novo governador, Valerius Gratus. Soldados romanos, penachos, espadas, cornetas, hinos fortalecendo o domínio. As ruas em festa e medo, fé e castração do pensamento. Uma telha solta, da Casa de Judah, escorrega e assusta o cavalo do governador. Tombo, susto, alguns ferimentos. Judah é preso por Messala e enviado às galés; sua mãe e irmã recolhidas ao presídio romano. Simonides é preso e torturado. Cristo prepara-se para a sua grande missão.
VI – O primeiro encontro
Judah e outros prisioneiros, amarrados, caminham em direção as galés. O sol, as chibatadas, calando os presos pela violência. A sede estrangula o raciocínio e a pele. Os soldados param em Nazaré para dar água aos cavalos. Por vontade de Roma, os prisioneiros tomam água, mas Judah não tem esse direito. O céu, a terra, o pó, o corpo de Judah tombado no chão. A dor, o desespero, as lágrimas, os lábios partidos. Jesus se aproxima, passa-lhe os dedos em seus cabelos, e dá-lhe água. O comandante da guarnição surge envolvido pelo seu descontrole, com o chicote na mão, olha para Jesus e paralisa-se. O rosto de Jesus não é mostrado ao público que assiste ao filme. A câmera pega os seus cabelos, a roupa de tecido grosso, a altura, os braços. No entanto fotografa o rosto do comandante romano; o medo, o respeito, o reconhecimento de uma força invisível.
VII – O fado cantado no mar
Judah serve três anos na galé romana. Ninguém justifica o fato, mas Hur é transferido para o navio do Consul romano Quinto Arrius, comandante da frota contra navios piratas. Guerra no mar. O cheiro da morte transpondo as ondas. Judah salva os prisioneiros. Salva o Consul comandante que vence a batalha. O mar movimenta os seus membros chamados ondas, todos os poros do oceano estão recobertos de sangue humano.
VIII – O desejo aprofundado
Judah e Arrius desfilam em carro aberto nas ruas de Roma. O povo desesperado chora e agradece a vitória. Tibério, o Imperador, dá a liberdade a Judah, uma carta de Alforria. As festas se sucedem nos palácios imperiais. Judah torna-se o campeão das corridas de biga nos circos de Roma. O astro chamado Marte resolve, ninguém sabe o motivo, aparecer na grandiosidade do céu. Arrius, aproveitando o mistério sem fim, adota Judah, dá-lhe o seu anel com o seu sinete, permitindo-lhe que retorne a Judéia, para resolver casos pendentes.
IX – O cheiro da Judéia
Judah reencontra Ester, Simonides, e sabe que sua mãe e sua irmã estão mortas. Procurando vingança, corre contra Messala no Grande Circo. Vence a corrida; recebe uma coroa de louros das mãos de Pilatos. Entra no subsolo do Circo, Messala está morrendo, o seu corpo quebrado e terrivelmente mutilado, um anúncio do final do poder romano, reúne forças para dizer a Judah: “A corrida não está ganha; está começando; procura por sua mãe e sua irmã no Vale dos Leprosos, são presentes de Roma
X – Jesus, o reencontro
Judah, Miriam, Tirzah e Ester partem do Vale dos Leprosos em busca de Jesus. Do outro lado, Pilatos julga Jesus e o condena a morte. Jesus caminha pelas ruas de Jerusalém carregando a sua cruz. Judah se aproxima do condenado e o reconhece, era o homem que salvara a sua vida. Ele retribui o gesto, dando água a Jesus. As ruas parecem não ter fim; o suplício percorre metro a metro, até o Gólgota. A crucificação acontece. As câmeras não focalizam o rosto de Cristo, mas a expressão de Ben-Hur é mostrada em detalhes; as lágrimas banham o seu rosto, a sua dor; a vida do homem de Nazaré correndo para o fim e a injustiça escurece o sol, a chuva lava a tragédia humana, o sangue corre por cima da terra formando pequenos riachos. Numa gruta, onde Ester, Miriam e Tirzah se esconderam da chuva e da escuridão, a lepra abandona seus corpos e a vida regressa lentamente, enquanto Jesus entrega o seu espirito ao Deus Pai.
Receita
Bolo de Nozes
Ingredientes da massa: 04 ovos; 125 g de açúcar; 125 g de farinha de trigo peneirada; 01 colher de sopa de fermento
Modo de preparo da massa: Bata na batedeira o ovo e o açúcar até formar uma massa volumosa. Desligue a batedeira e acrescente aos poucos a farinha misturando com uma espátula bem devagar. Por último, acrescente o fermento e misture delicadamente. Coloque a massa em forma redonda untada com margarina e farinha e leve ao forno por 30 minutos a 160 graus.
Ingredientes do recheio: 01 lata de leite condensado; 200 ml de creme de leite fresco;
100 g de nozes picada
Modo de preparo do recheio: Em uma panela, coloque o leite condensado, o creme de leite e as nozes. Cozinhe mexendo sempre para grudar no fundo. Mexa até engrossar e deixe esfriar antes de usar.
Ingredientes da calda: 300 ml de creme de leite fresco; ½ maço de basílico/manjericão; 100 g de chocolate branco derretido
Modo de preparo da calda: Coloque o basílico/manjerição no creme de leite e deixe marinando por 1 hora. Peneirar o creme de leite amassando o basílico/manjerição com uma espátula para deixar o creme de leite bem saboroso. Misture o creme de leite já peneirado com o chocolate derretido. Sirva separadamente.
Por Adriana Padoan