I – Coisa do psiquismo
Há coisas que acontecem com a história plantando bananeira. O navegador Cristovão Colombo descobriu a América, mas por um erro absurdo, achou que descobrira às Índias, e o que é pior, Colombo estava na América Central. O nome américa procurou puxar o saco de Américo Vespúcio, um navegador que discordara de Colombo afirmando que o genovês estava num novo continente. Pedro Alvares Cabral descobriu o Brasil, mas o termo América do Sul foi criação de Waldessen Muller, em 1507, acreditando tratar-se de um novo mundo com o envolvimento anterior de Américo Vespúcio.
II – Fatos traumáticos
A palavra Basquet tem uma parte implantada, isto é, basker, significando cesto; a outra parte foi soldada com maçarico, se refere a bola, a sua raiz, no entanto é ball. No ano de 1891, o professor de Educação Física James Naismith criou um esporte chamado basquetebol, muito menos violento do que o futebol americano, um jogo onde você sufoca na força física, o arrependimento de ter sido gerado.
Em 1884, um tal de Thomas Peebes, aluno formando em Princenton, levou uma prática para a Universidade de Minnesota, ou seja, uma fraternidade organizada para torcer por um time ou club. Em 1923 – Minnesota aceitou mulheres na torcida organizada e, na renovação surgiu a líder de torcida, menina inteligente, linda, capaz de dançar, representar ginástica rítmica e coreografia.
III – Amecican Beauty: Beleza Americana
É o nome do texto, depois nome do filme e ninguém poderia nomear melhor a situação explorada no longa-metragem de 1999, dois anos antes do 11 de setembro, quando as Torres Gêmeas, orgulho americano transformaram-se em pó, desespero, choro, morte, tragédia grega, americana, humana. A Beleza Americana é o nome de uma rosa, cultivado em quase todos os jardins das casas do Tio Sam. É uma flor para se ver de perto, pois não tem espinhos, não tem perfume, não é bonita como aparenta, mas é falsa até no pólen.
IV – O mundo das palavras
Alan Ball lançou-se na criação do texto “American Beauty” nos inícios dos anos 90. A sua cabeça, nesta época, pensava numa história destinada aos palcos dos teatros. O seu ponto de partida, pescado na sociedade, foi o julgamento de Amy Fischer amante Joey Buttafuoco, uma menina que, aos 17 anos, baleou e feriu Mary Jo Buttafuoco, esposa de seu amante – o caso envolveu mentira, sedução. Durante a composição percebeu que o texto fugia e contrastava com a linguagem teatral, daí ser, aos poucos, transformado em roteiro de filme.
V – O engajamento
Os americanos colocaram nos bolsos de suas calças jeans, ou nos ternos de todos os dias, comprados nas lojas de departamentos, o projeto American of Life, estilo de vida americano surgido depois das duas grandes guerras mundiais, que de certa forma, enchera, os Estados Unidos de dor, mutilações, tecnologia, produção em série, morte, e muito lucro.
As saídas sociais, econômicas foram padronizadas pelo eixo contido nos valores liberais. Enfeixando num maço meio desorganizado, o modelo de vida procura marcar um encontro com a felicidade: o casamento, a casa própria, linda além de seu valor, a cozinha sofisticada, os eletrodomésticos espalhados e compondo a decoração impecável, o sofá de seda ou de couro escolhido dedo a dedo, carro do ano na garagem, o Whisky, a pedra de gelo, uma noitada de amor plantada nos sonhos dos pioneiros que exterminaram os índios do oeste, sul, norte, leste e dos riachos que não corriam sob pontes.
VI – O roteirista monta um laboratório
Sobre a lâmina de um microscópio, o roteirista coloca uma família americana, uma espécie de estereótipo a ser meticulosamente estudada. O personagem central, olhando para si mesmo, apresenta o vestígio do sonho americano, falando-nos da seguinte forma: “Meu nome é Lester Burhan. Este é o meu bairro. Esta é a minha rua. Esta é a minha vida. Tenho 42 anos. Em menos de um ano estarei morto. É claro que ainda não sei disso. De certa forma já estou morto”.
A manifestação de Lester parece um poema que transita entre a incredulidade, a farsa, a acomodação, e a verdade sem pele, carne viva no corpo.
O nome normaliza o existir; o bairro, a rua, a cidade, o Estado, o país estão soltos no ar, roteando o planeta, girando no espaço. A vida sob os meus nervos resistira a um tempo determinado, uma junção de semanas. Considerando o estado psíquico, penetrante, ele já está morto, o projeto de nação adormeceu dentro de uma caixa de fósforo. Após um processo de comunicação, Lester levanta-se, dirige-se ao banheiro, toma banho e masturba-se; sonho, imaginação, mecanicidade, solidão.
Carolyn, a esposa, no quintal, cuida de suas rosas “belezas americanas”, com delicadeza, bem vestida, jardinagem e elegância, gesto e sucesso, os vizinhos vibram, são tocados, impressionam-se.
VII – O casamento
O casamento de Lester faliu-se na curva marcada pela passagem do tempo. O seu problema, os embates dos vizinhos, tem de alguma forma relação com sexo. Ou a repressão costura no peito, ou a falta de sexo está trancada em uma gaveta, ou esqueceram de incluí-lo por desgaste espiritual. Lester, um homem de meia idade, tomado pela frustração, a vida toma a forma de um espelho e, nesse espelho, a rotina no trabalho, a pasmaceira dos colegas de infortúnio, a ausência de avanços no futuro, a droga do casamento, uma relação sem paixão, sem diálogo. A esposa, Carolyn, corretora de imóveis, dedicadíssima ao trabalho, vibra na comunicação com os clientes, mas é fria, distante, alheia aos detalhes que envolvem a família; insatisfeita com o jeito, as expressões, da filha, ninguém se une, todos se distanciam.
VIII – Jane: a filha
O comportamento carrega a infelicidade e a tristeza; o sentimento de rebeldia, da desilusão com o pai, a mãe, encaminha a menina a, em seu silêncio, odiar a família. O pai não consegue explicar-lhe os contornos da situação, dá gritos, esmurra a mesa.
IX – Os vizinhos
O casal de homossexuais, vivendo o sol e o trabalho. Um é gestor, lubrificador da América; o outro, anestesista, sabe bloquear a dor.
Frank, um dos vizinhos, dono de um comportamento excêntrico; ações movidas por um antigo militar, educado na barriga de um quartel. É um homem repressor que transforma a mulher num ser temeroso, catatônico. A sua essência cheira repressão, irracionalidade, incompreensão. Frank tem um filho chamado Ricky, um adolescente problemático, silencioso, misterioso, viciado e traficante. A sua vida é filmar a beleza da vida americana. Aliás, o menino fotografa a cena mais poética do filme, dois saquinhos plásticos voando na ventania da noite. Em seu íntimo, em algum lugar do seu machucado ego, é alucinado pela família e vida de Lester e apaixonado por sua filha.
X – A virada
Lester e a esposa Carolyn vão assistir a um jogo de basquete. A filha do casal se apresentaria como componente da torcida organizada. A líder da torcida, uma adolescente loira, linda, chamada Ângela, encanta Lester. O desejo adormecido sobe pelos seus pés, lhe invade o corpo, chega aos cabelos trazendo arrepios com sabor de juventude.
Para ele Ângela dança em sua homenagem, nua, cercada de pétalas vermelhas de rosas. Ângela, amiga da filha de Lester, vendia uma imagem falsa de uma experimentada amante, colecionadora de homens e rapazes, aventureira, sedutora, se entregava a conhecidos e desconhecidos. Seduzidos por essas imagens recriadas em seu ego, Lester rompe com essa falta, que dormia e acordava dentro de si; uma espécie de sofrimento atormentador de muitos homens e mulheres participantes da sociedade e, assim, joga tudo para o alto, mudando radicalmente de vida. Abandonou o emprego, as relações de trabalho, a obrigação com os horários, a falsidade, o seu mundo feito de mentiras.
Afasta-se do seu chefe, um homem insuportável, despede-se dos poucos e verdadeiros amigos, do local de tortura psicológica e da rotina de todos os mundos e segundos. Desperta o seu amor adormecido, começa a praticar exercícios físicos, correr pelas avenidas do bairro, pelos parques, sorri e conversa com comerciantes e vizinhos.
Sua esposa Carolyn se envolve com Buddy, seu chefe e admirador, sente uns minutos de felicidade e insatisfação, alegria e tédio. Sua filha Jane Foge com Ricky na passagem de um dia triste e chuvoso; Carolyn e o amante são flagrados por Lester. Ela dirige o carro para qualquer lugar, entre raios e tempestades; pensa em suicídio, coloca uma música no rádio do carro, ouve a frase: “Você só é uma vítima se escolher ser uma”, estaciona o veiculo nas proximidades de um lago, chorando pelo impossível.
Lester, em sua casa, recebe a visita de Frank, o militar durão, de carreira, de combate, que tenta beijá-lo, revelando a sua homossexualidade reprimida há tempos. Lester, sem muito jeito, o afasta de si, rejeitando a realidade e a vida.
Ângela, a amiguinha de sua filha entra em sua casa, abraçando-o, beijando-o e, iluminada pelos raios que riscam o céu, além das janelas, entregando-se a Lester. O momento é de amor, de despertar-se para a vida, porém, antes que o desejo se aproprie da sua existência, Ângela confessa ao enigmático Lester, que é virgem. A dignidade humana penetra no espírito de Lester; olhando o vaso de flores vermelhas sobre a mesa, contendo rosas sem perfumes, mas símbolos da beleza americana, lembra-se de sua filha, pensa nas milhares de jovens que, em suas casas, sonham com a esperança; Lester desiste dos seus sonhos, de suas vontades reprimidas, abandonando um sentimento de amor momentâneo. A porta se abre, raios e trovões iluminam a nação, Frank entra e atira na cabeça de Lester. O corpo tomba, a morte toma conta da noite, do “American of Life”, mesmo sem vida, os olhos de Lester, que viram tantas coisas, sorriem.
O filme “Beleza Americana” recebeu cinco Oscar, inclusive o de melhor ator para Kevin Spacey que, no momento de receber o prêmio disse: “Eu amei interpretar Lester porque nós testemunhamos suas piores qualidades e ainda aprendemos a amá-lo. Este filme para mim, é sobre como qualquer ato de uma pessoa, retirado do contexto, é condenável, mas a alegria deste filme é a beleza real”.
Receita
Bolo Red Velvet
Ingredientes:
Massa: 1 xícara e meia (chá) de Leite; 1 colher (sopa) de suco de limão; 1 xícara (chá) de manteiga sem sal em temperatura ambiente; 1 xícara e meia (chá) de açúcar; 3 ovos; 1 colher (sopa) de essência de baunilha; 1 xícara e meia (chá) de farinha de trigo; 1 colher (sopa) de Chocolate em Pó; 1 colher e meia (sopa) de fermento em pó; 1 colher (chá) de corante líquido vermelho.
Recheio e Cobertura: 2 xícaras (chá) de cream cheese (450 g); meia xícara (chá) de manteiga sem sal em temperatura ambiente; 1 colher (sopa) de essência de baunilha; 1 xícara e meia (chá) de açúcar de confeiteiro peneirado
Modo de preparo:
Massa: Em um recipiente, misture o Leite com o suco de limão. Reserve até talhar. Em uma batedeira, bata a manteiga com o açúcar até obter uma mistura esbranquiçada. Com a batedeira ligada, adicione os ovos, um a um. Acrescente a baunilha e bata. Em um recipiente, peneire a farinha de trigo, o Chocolate em Pó e o fermento. Com a batedeira ligada em velocidade baixa, vá intercalando a adição do leite com o suco de limão e dos ingredientes secos peneirados. Adicione o corante e misture bem. A cor da massa deve ficar bem vermelha, se necessário, adicione mais corante. Despeje a mistura em três formas redondas (20 cm de diâmetro) forrada com papel manteiga no fundo e laterais e leve para assar em forno médio (180°C) preaquecido, por cerca de 50 minutos.
Recheio e Cobertura: Em uma batedeira, bata o cream cheese com a manteiga até obter um creme bem liso. Adicione a essência de baunilha e bata. Adicione o açúcar de confeiteiro e bata bem. Reserve em geladeira.
Montagem: Utilize a própria forma que assou o bolo para fazer a montagem. Coloque uma das partes da massa e coloque uma camada de Recheio. Coloque a outra massa e mais um pouco de recheio, finalizando com a última massa. Leve ao freezer por cerca de 1 hora. Desenforme o bolo e cubra com a Cobertura. Utilize os próprios farelos do bolo e frutas vermelhas para a decoração.
Por Adriana Padoan