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terça-feira 24 dezembro 2024
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Comilanças Históricas e Atuais – Barrabás e o início do Cristianismo

I – O escritor e o Nobel
No ano de 1891, domingo, dia de uma santa de um lugarejo, nos cantões da Suécia nasceu o escritor Par Lagerkvist. Brincou nos campos floridos, sentiu o cheiro de leite vindo das fazendas locais, estudo o que havia para ser estudado. À noite, sob um céu diferente, iluminado, mas mantendo espaços vazios e escuros, o menino-moço caminhava pelo mundo grego, romano, europeu; alguns lugares esquecidos por desinteresse irracional de alguns estudiosos. Na idade em que as letras abrem as portas da comoção, escreveu poemas, peças de teatro, contos, novelas. A sua literatura entrou em milhares de casas no mundo, mudando muitos roteiros internos, de pessoas vivas e confiantes, redirecionando-as para novos caminhos.

II – O encontro com Jesus
Par Lagerkvist, naquela manhã de abril, anunciadora de um tempo diferenciado, depois do café e de um pedaço de chocolate, saiu para caminhar num campo de girassóis. Levava na bolsa um caderno, vários lápis e uma bíblia, companheira da família há muitas estações fragmentadoras dos redesenhos da natureza.
Sentou numa pedra modelada pela antiguidade. Abriu a Bíblia no Novo Testamento. Em imaginação, seguiu Matheus por caminhos bem estreitos, leu e ouviu os passos de Jesus, o movimento da massa popular, e a voz que traçava novos contextos religiosos, sociais, humanos. Os seus olhos de escritor, observaram que havia histórias inacabadas; na curva das cascatas da pedra que chora, encontrou-se com o evangelista Marcos; Lucas chegou um pouco mais tarde, João chegou no despertar das estrelas, e o escritor ouviu a história do Nazareno, pelos lábios de quem presenciara todos os acontecimentos que envolveram a vida do homem, do carpinteiro da Galileia. O vento, vindo do Norte, convidou João a retornar à sua caverna. O apóstolo levantou-se, viu um ninho de beija-flor, conversou com a família dos pequenos pássaros, e de passo a passo, sumiu na febre que o atormentava aquela noite.
O poeta Par Lagerkvist, dando um balanço espiritual em tudo o que ouvia, sentiu forte estigmatização literária, no momento do julgamento de Cristo; sentiu cheiro de sangue, acusações, silêncio e defesa, o cenário, os personagens, a verdade circulando nas pedras das praças, das ruas, nos casebres escuros ou iluminados.

III – A alma e o lápis
Par Lagerkvist sentou-se em seu escritório, reuniu centenas de folhas em branco. Fechou os olhos, controlou os movimentos do coração, vestiu roupas feitas de ficção, deu um balanço em sua sensibilidade, abriu uma porta que poderia existir, saiu por caminhos que poderiam ser reais, aproximou-se da cena do julgamento de Jesus, filho de Maria e José, enviado por quem tem o tempo, os acontecimentos, as razões, nas palmas das mãos.

IV – Julgamento
O sol ofuscava a imagem de Jesus. Pilatos, governador, mostrava no olhar as suas dúvidas, a justiça e a injustiça, a verdade e a mentira, o medo e a ameaça, todos de mãos dadas, ao lado de Anás, Caifás, e um homem, que fora anteriormente condenado pelo governador, assustado com os acontecimentos, presenciava os movimentos da história, era Barrabás uma incógnita no tempo.

O povo na praça, afastados de seus controles, inúmeros sacerdotes do templo insuflando a massa, a guarda romana tentando impedir uma invasão no lugar onde o julgamento acontecia.

V – A justiça afastada
Pilatos entra no olhar de Cristo perguntando-lhe: “Você é o Rei dos judeus”? Jesus, devolvendo-lhe a visão da alma, responde-lhe: “Meu reino não é desse mundo”. Essa colocação tira o governador da rota da normalidade, jogando-o no universo imenso e ilimitado das profecias. Tentando acalmar o povo ordena o açoitamento de Jesus. O tronco, o chicote, os cuspos, a feitura da coroa de espinhos. A cena em que as duas mãos de Jesus são filmadas, os dedos trêmulos anunciam todas as dores do mundo. Jesus é condenado a morte, Barrabás e libertado segundo uma lei tradicional da páscoa, e a flor de um velho ipê, mesmo distante, tomba nas águas de um rio, carregado pelo peso de suas lágrimas. Ele não luta, só desliza as suas pétalas em direção ao mar.

VI – Barrabá – o livro
Lar Lagerkvist, após essa visão, resolve escrever uma história sobre a síntese de todas as incertezas e certezas que pairaram sobre os acontecimentos que marcaram e dividiram as etapas da humanidade. Ele escolhe uma das testemunhas que viu a condenação de Jesus, Barrabás. O artista escolheu um personagem forte, no entanto, não há referencias históricas sobre sua existência, não há documentos sobre o seu viver e, nem sequer, alguém que o tenha conhecido. Porém, esse ser, destituído de provas dos seus momentos, pode representar a luta, a premeditação, os lances acontecidos a cada segundo, do nascimento e crescimento do cristianismo. A obra “Barrabás” de Par Lagerkvist recebeu o Nobel de literatura. Foi adaptada para o teatro. O produtor cinematográfico Dino de Laurentes comprou os direitos do livro para adaptação ao cinema e, em 1960 o entregou ao diretor Richard Fleicher, e ambos, ao lado do roteirista Christopher Fry realizaram a versão definitiva e perfeita da obra do escritor sueco para as telas dos cinemas mundiais.

VII – Etapas do filme
O astro Antony Quinn entra no corpo de Barrabás. Veste o seu manto de frequentador da noite, beberrão, líder de um grupo de ladrões, guerrilheiros, revoltados contra os sumos sacerdotes e o Império Romano, a sua conduta circula entre o conflito, a morte, a violência, o bem e o mal, a dúvida, e vagas lembranças de sua origem, mas sabe ter sido filho de uma prostituta. A sua liberdade no lugar de Jesus, o leva a desvendar o valor, o fascínio, a liderança de Jesus na história e dentro dele. Não há como negar que a figura de Jesus, um ser sublimado por ele, costurado em sua pele, passa a viver, de longe e bem próximo, as suas atitudes.

VII – Crise de consciência
Ao sair da prisão e presenciar Jesus carregando a cruz em direção ao Calvário procura por sua amada Rachel (a atriz Silvana Mangano) que, na ausência de Barrabás, se converte ao cristianismo. O conflito entre a paixão, o sexo, a bebida, o riso, a dança, se conflita com a aderência de uma nova ideologia, a fé, a um revigoramento do amor, e a reorganização social.

Barrabás não entende, mas os sacerdotes do Templo condenam-na à morte por apedrejamento por traição. Ela é levada até a pedreira. A multidão comandada pelos sumos sacerdotes, lançam as pedras sobre o seu corpo, e a sua vida se liberta por meio da morte. Pedra por pedra, ela se transforma em uma martir, documentando o princípio da luta do cristianismo em se tornar a verdade que direcionará a formação de um novo tempo. Barrabás se revolta, chora, anda perdido nas ruas de um mundo em transformação. A sua consciência indecisa o orienta a assaltar uma comitiva do templo, roubando o carregamento de ouro. Ele não entende os motivos da ação, mas novamente é preso, levado a trabalhar nas minas de enxofre da Sicília, até a morte. Ao adentrar na escuridão de um universo subcutâneo, uma espécie de ventre da terra, é acorrentado a outro homem chamado Sharack, preso por defender as ideias de Cristo. Em sua medalha de identificação, há uns riscos formando uma cruz, símbolo das palavras de Cristo pelas terras da Judéia, e também, um signo da entrega, da redenção, da ressuscitação, gesto identificador da vida eterna.

Mesmo na profundeza da terra Cristo acompanha Barrabás. As palavras do escravo e condenado Sharack transmitem esperança, os fundamentos da doutrina de Jesus, os novos enfoques da vida criada por Deus, a verdade que queima como marca no avesso do avesso da humanidade. A mina desaba, a morte devassa, pela terra que se desfaz; pelo fogo das caldeiras, pela água que abre os labirintos entre os corpos, a riqueza, a escravidão humana. Só dois, o crente e o homem sem fronteiras, se salvam.

Os dois homens são retirados dos abismos desfeitos, vão trabalhar numa área de agricultura. A terra, o arado, as sementes, a origem da vida, atuam sobre Barrabás, conduzindo-o a pensar no tempo; ele retira a sua medalha de identificação do pescoço, entregando-a ao cristão Sharack para colocar a cruz de Cristo no lado oposto a de César – é o abandono de um deus terreno e o princípio da identificação de outro, que Barrabás conhecera.

VIII – O circo Romano
O Império Romano conviveu, durante séculos, lado a lado com a superstição. A superstição venceu guerras, delatou conquistas, carimbou as moedas para as cobranças dos impostos. Essa mesma crença existente no vazio das coisas, levou um casal de nobres conduzirem Barrabás e Sharack a Roma, sede da política, do poder, do amor, da fidelidade e traição.

Os dois foram entregues do Coliseu de Nero, um espaço construído para acalmar a população, distribuir alegria e diversão a um povo marginalizado e enganado pelo sistema. Ali a população de Roma assistia ao combate de vida e de morte, entre condenados, servos e escravos.

Barrabás foi treinado para transformar-se num gladiador; Sharack também foi treinado para matar em nome de César e salvar a sua vida, permanecer no mundo pela vitória.

IX – A luta – ser e tentar
Tervald (Jack Palance) era o ídolo, o herói do povo. Era escravo, na arena conquistara a liberdade, porém não partiu, ficou parado para ser eternamente glorificado.

Na batalha, no espetáculo, Sharack se recusa a matar o oponente, mesmo a pedido do povo e da nobreza. Como e sendo cristão, deixa a arena.

Julgado pelo nobre, encarregado do Coliseu, recebe uma proposta: apagar a cruz na medalha e matar se necessário. Sharack escolhe o Cristo, é condenado a morte. O nobre olha o rosto de Barrabás, segura a sua medalha de identificação, identifica a cruz de Cristo, perguntando-lhe: “Você acredita em Cristo”? Barrabás responde-lhe: “Eu tento, mas não consigo”. Sharack é assassinado pelo herói Tervald e Barrabás sente o cheiro da Liberdade mais uma vez.

X – No Palácio
Era dia de verão, Nero, o Cesar do período, vestido de mulher, toca a sua lira, deitado sobre o peito do Centurião Commudos. Enquanto canta, dá gritinhos e olha a janela: “Como Roma é feia, tudo tão antigo, vou incendiar a cidade, vou colocar a culpa nos cristãos e farei um bela cidade, que ficará eternizada”.

Enquanto isso, na arena, sob os gritos de milhares de fanáticos, loucos, esfomeados, Barrabás mata, sem piedade o maior herói de todos dos tempos, Tervald. A arena silencia, perde o fôlego, entra em estado de ebulição. E Barrabás mais uma vez torna-se um homem livre.

À noite, andando pelas ruas, percebe que Roma está sendo destruída por um incêndio sem dimensão. Por um momento, segurando uma tocha, Barrabás acreditou na volta de Jesus e na construção de um novo mundo. Como um homem descontrolado, ajuda a incendiar a cidade que sediou o Império Romano. Barrabás é preso e condenado a crucificação.

Na cruz, como um cristão que procurou reencontrar-se com Jesus, disse suas últimas palavras: “Escuridão, entrego-me a tua guarda! Eu… Barrabás”!!!

Receita

PÃO DE FERMENTAÇÃO NATURAL

Ingredientes para o fermento:
Coloque numa vasilha 100 ml de água e dissolva 100 gramas de farinha de trigo branca. Tampe e deixe descansando em local arejado, sem ser na geladeira, por 24 horas. No dia seguinte, abra, coloque 1 colher (sopa) de farinha de trigo + 2 colheres (sopa) de água filtrada e mexa. Tampe e repita o mesmo processo a cada 24 horas, por mais 5 dias.

Ingredientes para fazer pão: 500 gramas de farinha de trigo sem fermento; 1 xícara (chá) de água fresca; 1 xícara do fermento que preparou; 2 colheres (sopa) de sal.

Modo de preparo: Coloque a água e a farinha de trigo numa vasilha e misture bem com as mãos, até que a massa fique densa e seca. Moldele a massa em forma de bloco, cubra e deixe descansando por 30 minutos na geladeira. Coloque a massa no bowl da batedeira e acrescente o e o sal e bata na velocidade 1, aumentando na medida em que a massa for ficando compacta. Quando a massa estiver em forma de bola e desgrudando do bowl, estará no ponto. (Caso não queira usar a batedeira, sove com as mãos. O processo manual levará uns 10 minutos, até que a massa esteja ao ponto de desgrudar das mãos). Coloque a massa numa fôrma já untada com óleo, polvilhada com um pouco de farinha de trigo, cubra e deixe descansando por mais 30 minutos, em temperatura ambiente. Após esse tempo, unte as mãos com óleo e espalhe a massa sobre uma bancada e dobre a massa pegando pelas pontas dos lados, como se estivesse embrulhando. Coloque novamente na fôrma untada com óleo, com a emenda voltada para baixo e deixe por mais 30 minutos descansando, repetindo o mesmo processo mais duas vezes. Após todos esses processos, a massa terá crescido bastante, já no ponto para ser modelada. Espalhe farinha de trigo sobre uma bancada, coloque a massa e passe um rolo e comece a fazer os moldes. Pegue a massa pelas pontas e comece a dobrar, até ficar bem redonda, o estilo do pão (pode fazer também o molde em forma de baguete).
Coloque a massa numa tigela ou um cesto de fermentação, conhecido também como banneton ou brotforem (é um cesto onde se coloca a massa de pão para ser modelada e descansar). Polvilhe a tigela com farinha de trigo, com a parte menos lisa (das dobras) virada para cima e cubra com plástico filme ou um pano limpo, deixando descansando na geladeira por 12 horas. Após esse tempo, coloque os pães em fôrmas com papel manteiga ou, untadas com manteiga e farinha de trigo e faça cortes na superfície dos pães em forma de cruz ou outros cortes de sua preferência. Por fim, retire do forno, espere esfriar e sirva seu pão, um dos mais antigos pães do mundo. É um pão com casca firme, crocante e delicioso.

Por Adriana Padoan