I – Eu sou um brinquedo
A natureza não sabia o seu nome de batismo. As aves, as borboletas, os animais, as estrelas falantes o chamavam de Homo Sapiens. Esse indicativo estranho e singular, segundo os peixes dos rios, significava “homem sábio”. Ele andava, corria, entrava nas cavernas; colhia frutas, caçava, lutava e, de acordo com suas aventuras, conseguia pensar, gostar, chorar, rir; admirar o sol e a lua.
Certo dia, branco como a luz, esse homem retirou argila das margens do rio, e com muita calma esculpiu um boneco de barro e o adorou. Há quarenta mil anos, tempo não marcado no rosto do próprio tempo, as adolescentes colocaram as mãozinhas no ídolo de barro e, como um redemoinho de alegria, começaram a brincar com o boneco de argila criado pelo Homo Sapiens. Assim, nas falas dos arqueólogos, na África e na Ásia, nasceu o brinquedo para pintar o coração dos jovens, dos adolescentes, e dos homens que guardaram, dentro dos sentimentos, uma lasquinha da infância. No Egito, enquanto milhares de trabalhadores erguiam as pirâmides, um faraó nascido numa concha do mar, fez para o seu filho, uma criança de olhos azuis como o infinito, o primeiro brinquedo do mundo; uma coisa muito simples chamada chocalho, mas que, nas noites de calor avançado, fez as areias do deserto dançarem e desenharem centenas de dunas.
II – As bonecas – mundo dentro do mundo
A humanidade caminha em direção a um universo desconhecido e impróprio aos cientistas mais ousados. Nesse andar sem distância precisa e exata, costuma sentar-se à sombra de uma palmeira e criar tudo o que sai do zero.
Ele olha para a realidade e sua feição de existência, de verdade cravada pelas mãos de um ser onipotente. Usando a criatividade, que mora dentro de si, o homem consegue dar uma nova ordenação ao que vê; alarga, expande os traços feitos pelo real, reproduzindo uma nova imagem brotada nas montanhas da imaginação.
Nessa estrada ele conversa com as abelhas, filosofa com o beija-flor, conta lendas ao bem-te-vi, e, dando um pulo até a nossa querida pré-história, já encontramos bonecas imaginadas pelos artistas que refletiam sobre a educação e a vida exemplificada.
As bonecas localizadas antes da história eram feitas de madeira mole, couro de animais e da palha de alguns vegetais.
As crianças ganhavam essas bonecas embaladas pela lenda que narrava a vida de um faraó, bem velhinho que, montado num astro banhado a ouro, distribuía bigas para os meninos e bonecas, fabricação própria, para as meninas.
As crianças adoravam esse faraó e seus presentes. No Egito, quando uma criança adoecia e, depois de longos cuidados e tratamentos, vinham a falecer, o avô chorava, a avó orava por intenção a deusa Hathor, os irmãos cantavam as músicas da deusa Bastet; a mãe pensava na proteção da deusa Maat; o pai chorava em homenagem a deusa Nut, e a deusa Néftis, secretamente, colocava as bonecas das crianças em seus túmulos.
III – Papai Noel
Nos Estados Unidos da América do Norte, sob os braços da Estátua da Liberdade, num dos cantos de uma sala da Casa Branca, existe uma indústria chamada Mattel, produtora de brinquedos. A sua sede em El Segumdo e, atualmente por méritos próprios, é considerada a maior produtora de brinquedos do mundo, chegando a vencer a empresa vermelha de Papai Noel, Mamãe Noel, Titia Noel, Avô Noel, Avó Noel, Madrinha Noel, Amiga e Amigos Noeis.
Os brasileiros produzem carrinhos, ônibus, trenzinho, aviãozinho, bonecas e uma tal de Barbie.
No ano de 1918, o Mattel deu a notícia de que criara, em seu polo empresarial, uma divisão de produção de filmes infantis. Ela, procurando entender o processo, somou os brinquedos, os enredos, os artistas, os diretores, e centenas de câmeras cinematográficas. Não podemos citar números exatos, quando enfocamos a Mattel, porém, existe um número de filmes que entram nas páginas dos jornais e revistas especializadas que apontam uma totalidade de quase cinquenta filmes.
IV – O nascimento de uma ideia
Era uma manhã de sol morno. A empresária Ruth Handler, sócia da Mattel, observava sua filha Bárbara brincar ao lado do pequeno arbusto do jardim. Bárbara era uma criança que via o mundo em sua distância. Naquela manhã, ela brincava com bonecas feitas de papel, pelas suas mãos.
Ruth percebeu, de relance, que Bárbara, ao brincar com as bonecas, atribuía a todas elas, obrigações de adultos – arrumar filhos para escola, cozinhar, varrer a casa, lavar panelas com águas da imaginação. As bonecas projetadas na época eram réplicas de bebês, jamais de adolescentes ou mães.
A cabeça da empresária, após a observação das brincadeiras da filha, percebeu que na estrutura do mercado de consumo, não havia um elemento: A CRIAÇÃO DE UMA BONECA COM O CORPO DE UMA ADOLESCENTE.
Apresentou a ideia aos diretores da companhia. Eles gostaram do projeto, mas definiram que não era o momento.
V – Uma viagem
O mundo não precisava de revolução, de conflitos, derramamento de sangue. Mesmo pensando assim, em 1956, estourou a revolução Húngara, um carro na contramão da racionalidade.
A família de Ruth Handler, marido e filha, resolveram visitar a Alemanha, onde aconteceria uma exposição de brinquedos mundiais.
Em um dos passeios, numa loja de brinquedo e livraria, Ruth deu de cara, de frente, de encontrão, com uma boneca alemã chamada Bild Lilli.
Era uma boneca de figura adulta.
Linda. Sarada. Bem vestida.
Ao lado da boneca
Dezenas de roupas
Endossadas pela moda
Bild Lilli, com seu sorriso, sempre estivera na cabeça de Handler. Agitada, descontrolada, comprou três bonecas, pedaços de sua ilusão.
Deu uma para a filha Bárbara.
Ela gritou de alegria.
As outras duas foram analisadas, parte a parte, pelos projetistas da Mattel.
O que eles não sabiam, e nem podiam perceber, era o fato de que a boneca alemã Lilli fora baseada, pensada, recriada, vivida por uma personagem popular, dos quadrinhos desenhados pelo artista Rainhard Beuthim, para uma tirinha do Jornal de Berlin Mild.
VI – Sensualidade
Lilli foi esculpida como uma loira sensual.
A sensualidade a projetava nos estudos, na qualificação do trabalho. Ela tinha um objetivo na vida; faria tudo para conquistá-lo. Não hesitava em usar homens poderosos para consegui-los.
Dez anos depois da 2ª Guerra Mundial, Lilli foi exposta nas vitrines das lojas, pela primeira vez no ano de 1955, na Alemanha.
Considerando a estética da boneca, a beleza, a elegância; um fenômeno transparente e real aconteceu no primeiro momento, estourou no consumo do público adulto.
As crianças amaram a Lilli pelas roupas que a acompanhavam: maiôs, vestidos curtos, longos, de trabalho, uniforme escolar. As meninas encontraram uma nova diversão: vestir e desvestir Lilli.
VII – Retorno
Na volta da família Handler para a América, Ruth redesenhou a boneca, deu-lhe o nome de Barbie (Bárbara).
O lançamento da nova boneca se deu em 1959. A boneca usava um maiô listrado de zebra, em preto e branco e um rabo de cavalo criado somente para ela. A empresa soltou duas versões, considerando o gosto da população americana: loira e morena, e destinada à população adolescente.
VIII – O processo
A Louis Marx Company da Alemanha processou a Mattel em março de 1961, fato que levou a mídia americana para o topo da escala publicitária. As alegações não entraram com grandes denúncias, mas com a exigência de seus direitos:
• Infringindo a patente de Greiner & Hausser, para a realização do quadril de Barbie, alegaram, então, cópia de Bild Lilli.
• Alegou que a Mattel “falsa e enganosamente se apresentou como tendo originado o design”.
O caso foi resolvido no Tribunal em 1963 e em 1964 a Mattel comprou os direitos autorais e de patente da Greiner&Hausser para a fabricação da boneca Bild Lilli que passou a se chamar de Barbie, por 21,6 mil dólares. Nesse instante, olhando para o azul que cobre a cabeça de todos nós, mas principalmente dos jovens, Barbie abriu as porteiras do mundo, pediu licença e entrou para contar as suas histórias.
VIII – O bom velhinho e Barbie
Não podemos afirmar, no entanto, que a trajetória de Barbie, pelo universo que reje as leis que administram o mercado e o comércio do brinquedo juvenil, foi de calmaria, compreensão e respeito.
Na Escola Lincon, famosa pelo seu passado e presente, os pais dos alunos se reuniram, produzindo um manifesto que abriu as portas da história, ao afirmar que não estavam satisfeitos com a introdução da boneca Barbie entre os seus filhos.
Os papais ficaram assustados com os seios da bonequinha Barbie. Houve gritaria, passeata, depredação e discursos políticos.
Em nenhum momento da historiografia, da existência comprovada do nascimento dos brinquedos, uma simples bonequinha enfrentou tantas mudanças.
A pedagogia americana preocupou-se com o olhar de Barbie, uns olhos que matariam Freud, pois fitavam os lados, os encostos da terra encantada. Exigiram, aplicando a lei da boa compostura, que a bonequinha olhasse para frente.
Às vezes, por algum motivo, esquecemo-nos dos fatos. Os acontecimentos podem ser seríssimos, a localização ultrapassa as estrelas, abre trilhas no chão, aprofunda a sua presença e deixa a sua estampa gravada: a bonequinha Barbie foi o primeiro brinquedo feito pela humanidade, que foi divulgada pela televisão.
Nesse Natal, não considerando a distância, se você puder, entre numa Casa Assistencial para jovens e adolescentes carentes, abandonadas pelos seus ancestrais. Não faça barulho, aproxime-se, não olhe para as mãos trêmulas de Papai Noel. Passe as mãos suavemente pelos cabelos que dormem em travesseiros costurados com sonhos e deixe, ao lado dos olhos que já sentiram a realidade do mundo, uma bonequinha Barbie. Após esse gesto, olhe fortemente para o rosto de Noel, mas faça de conta, como nas histórias infantis, que não está percebendo a lágrima infiltrando e molhando sua longa barba branca.
Nesse Natal, por motivos muito especiais, resolvi contar a história da Boneca Barbie. No próximo capítulo, olhando para dentro de mim; comentarei o filme.
RECEITA
TORTA DE NOZES CREMOSA
Massa: 1 pacote de Biscoito de maisena, 100 g de manteiga
Recheio: 1 Leite condensado 395 g; 3 ovos, 1 colher (chá) de amido de milho, meia xícara (chá) de açúcar, 1 lata de Creme de Leite, 1 xícara (chá) de nozes picadas
Finalização: 1 pacote de Biscoito a seu gosto e nozes
Modo de Preparo:
Massa: Em um liquidificador, bata o Biscoito de maisena até obter uma farofa fina. Coloque essa farofa em um recipiente, junte a manteiga e misture até obter uma massa homogênea. Forre o fundo de uma forma de aro removível (26 cm de diâmetro), e reserve.
Recheio: Em uma panela pequena, leve ao fogo baixo o Leite condensado, as gemas peneiradas e o amido de milho, mexendo sempre até obter um creme levemente espesso. Cozinhe por mais cerca de 2 minutos. Reserve. Em outra panela, junte as claras e o açúcar, misture bem e leve ao fogo baixo, mexendo vigorosamente sem parar, por cerca de 3 minutos, tirando a panela do fogo por alguns instantes a cada minuto, continuando a mexer, para não cozinhar. Transfira para uma batedeira e bata até dobrar de volume. Misture delicadamente o Creme de Leite. Acrescente o creme de Leite condensado reservado e as nozes. Despeje na forma com a massa, cubra com papel-alumínio e leve ao freezer por cerca de 12 horas.
Finalização: Desenforme a torta, coloque os Biscoitos em toda a lateral e sirva decorado com as nozes.
por Adriana Padoan