I – Branca de Neve – explicação necessária
Havia muita solidão. O escuro da noite cobria as estradas, as casas, os rios, as árvores. Dentro das casas, há séculos, as famílias se reuniam ao redor do fogo. Para espantar o medo e as agonias trazidas pelas asas no negrume sinistro, os mais velhos contavam a história da “Branca de Neve”. Esses acontecimentos pertencem ao universo europeu, antes de atingir o mundo.
A história da “Branca de Neve”, contada por vozes ignoradas e cobertas pelo tempo, falava de uma rainha, mãe vivendo sem a presença do pai, portanto existindo num quadro marcado pela ausência, situação comum na época. Essa tal rainha tinha uma filha vivendo a sua infância. Dentro dessa mulher morava o medo, a realidade trágica existente dentro dos pais, ou seja, o terror de um dia qualquer, ser substituída pela filha, ser destronada, ultrapassada pela beleza da menina que brinca com as borboletas que vivem no bosque.
Os antigos europeus, camponeses ou nobres conheciam a dor de Édipo, o desespero que reveste a pele de Narciso, apaixonado pela própria beleza. Um fato marcante chama a nossa atenção, arrasta o nosso olhar, propondo-nos uma teoria interessante, em outras palavras, na antiguidade o edipianismo, o narcisismo já eram uma realidade atemorizadora tanto para os pais como para os filhos.
Assim, perseguindo a origem da história, a rainha não concebe a ideia de envelhecer com serenidade, de acordo com o desenvolvimento estabelecido pela biologia. A menina, na contramão do processo, cresce, evolui, transforma-se, enfrenta a puberdade, a adolescência, a fatalidade e determinação psicológicas penetrando no mundo da beleza, da amabilidade.
A rainha afasta-se da filha em relação à posse, ao status, ela é a nobre e a menina, embora linda é pobre. No entanto, considerando o ego, ela pergunta a um espelho mágico: “Espelho, espelho meu, existe alguém mais linda do que eu”? E o espelho, mágico e lacaniano, o psicólogo que acredita que só enxergamos no outro as nossas próprias características, nossos medos, pavores e nesse caso o espelho e a sua resposta tornam-se importantes: “Sim, minha senhora, a menina Branca de Neve é mais bonita”.
A rainha, edipianamente, manda o seu caçador matar a menina na floresta e trazer-lhe o coração da causadora de seu narcisismo. Como é do nosso conhecimento, a menina foge para floresta, encontra a casa dos sete anões que se tornam seus protetores. É evidente que os anões não são seres desenvolvidos, são pessoas afastadas de Édipo, pois não tem pais vivos, não se casaram, não tem filhos, são comprometido com os trabalhos nas minas.
Como já falamos a lenda existe à séculos, no entanto, o cineasta Walt Disney resolveu transporta-la para o cinema em forma de desenho animado. Nós não podemos precisar quantas versões existem sobre a história em referência, há infinitas. O Walt Disney trabalhando com sua visão sensível escolheu a versão escrita pelos irmãos Grimm, um texto marcado pela popularidade.
II – O filme
Branca de Neve é uma princesinha solitária, triste, mas acredita na vida. Ela vive com sua madrasta, mulher vaidosa, ciumenta, edipiana, narcisista, egocêntrica. A rainha teme que a beleza da menina supere a sua beleza, a sua condição imaginária e traumática. Como castigo e proteção transforma Branda de Neve em empregada, cozinheira, criadora de bolos, tortas e doces.
A rainha tem um espelho mágico e, teoricamente, como já dissemos, fundamentado em Lacan. Nos seus momentos de crise, que são vários, ela olha para o espelho e pergunta: “Espelho meu, existe alguém mais bela do que eu”? A resposta do espelho destrói a sua estrutura mental: “Branca de Neve é a mais bela de todas”.
A resposta leva a rainha a ordenar a seu caçador que leve Branca de Neve à floresta para matá-la. Além da morte exige que lhe traga o coração da menina dentro de uma caixa de joia, como comprovante de sua morte. Nesse ponto, tanto a lenda como o filme encostam na peça de teatro “Édipo Rei”, de Sófocles, autor grego. Na mesma linha de pensamento o coração representa o órgão humano que o inconsciente não controla e, a caixa de joia, é o símbolo mental do desejo.
O caçador a levou em direção à floresta, mas não teve coragem de matá-la. Os animais da floresta, representando um confronto entre o racional e o irracional, salvam a menina, levando-a á casa dos sete anões. Ela entra na casinha, dá alguns passos, vê sete cadeirinhas agrupadas na sala. Os anões trabalham em uma mina de diamantes e pedras preciosas. Ao retornarem do trabalho cantando o hino aos operários pequeninos, encontram Branca de Neve deitada em três de suas camas. Ela acorda, conta a sua história, e os anões a recebem em troca de seu trabalho. Cozinhar, lavar as roupas, limpar a casa. A arte de Disney é repleta de emoções, sentimentos, identificações, o que o leva a nomear os anões: Mestre, o líder; Feliz, anão em equilíbrio com o mundo; Zangado, o homem em constante conflito; Soneca vive em dormência permanente; Dengoso, a atração dos cavalheiros andantes; Atchin, companheiro da alergia e Dunga, o mudo atrevido.
O filme da Disney dividiu muito bem a fabulação da lenda, ou seja, a rainha descobre que Branca de Neve ainda vivia. Mesmo representando o contraste do seu narcisismo, ela se transforma em bruxa, uma velha senhora vendedora de frutas. Branca Neve recebe uma maça, ao comê-la ingere o sono da morte, encanto que se quebraria no dia em que recebesse o beijo de amor. A maçã leva a menina ao mundo da regressão, como leva Afrodite a Guerra de
Troia, como levou Eva a destruir a inocência de Adão.
Os anões, sabendo que ela dormia profundamente, colocaram-na em um caixão de vidro. Antes da chegada da noite, do acendedor de estrelas no céu, começar o trabalho, o príncipe a toma nos braços, beijando-a com os lábios repletos de amor, como disse Rômulo diante de Roma. Branca de Neve abriu os olhos, sorriu, desmistificando o edipianismo, o narcisismo, a síndrome de Eva, a inocência do anjo caído. E, assim, Walt Disney realizou o primeiro filme de longa metragem de animação. O filme foi lançado em dezembro de 1937, no Circle Theatre, com uma das maiores bilheterias do passado cinematográfico. O Walt Disney criou, acreditou, lutou, trabalhou dia e noite, sonhou além dos limites.
Assim é a vida,
Simplesmente é assim.
Receita:
Pudim de claras
Ingredientes:
Para o Caramelo: 6 colheres (sopa) de açúcar; 8 colheres (sopa) água.
Para o Pudim: 6 claras; 12 colheres (sopa) de açúcar, raspas da casca de limão
Modo de Fazer:
Caramelo: Coloque o açúcar e a água numa forma para pudim e leve ao fogo baixo, mexendo até o açúcar dissolver e perder os grumos. Quando a calda dourar tire do fogo. Com a ajuda de uma colher espelhe sobre toda a forma.
Pudim: Na batedeira bata as claras em neve. Sem parar de bater, vá polvilhando o açúcar aos poucos até obter o ponto de suspiro, acrescente as raspas da casca do limão. Com uma colher coloque o suspiro na forma caramelizada, apertando delicadamente para evitar a formação de ar. Leve em forno brando, em banho-maria por aprox. 40 min ou até o pudim ficar levemente dourado.
Desligue o forno, deixando a forma dentro dele por uns 10 min com a porta entreaberta para que a mudança brusca de temperatura não murche o suspiro.
Desenforme com cuidado, passando a faca nas bordas da forma.
Por Adriana Padoan