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sábado 5 outubro 2024
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Comilanças Históricas e Atuais – Apocalipse Now: A loucura provocada pela guerra

1 – O recrutamento
O filme Apocalipse Now faz a sua abertura mostrando uma floresta respirando o verde que vem com o vento. A música agita as folhas e a poeira amarelada tenta desenhar movimentos abstratos nas raízes de árvores centenárias.
A câmera passa por uma movimentação, deslocando-se para a intimidade de um quarto, onde o capitão Willard, semivestido, embriagado, deitado sobre uma cama, olha o ventilador de teto e ouve o som violento de um helicóptero. Os sons se fundem, e a realidade interpenetra na consciência do personagem, costurando mundos distantes e próximos. Dois soldados do exército americanos tentam trazer o capitão à realidade, que se localiza na superfície do corpo, da alma, e da sua esperança, da sua ação, na chamada Guerra do Vietnã.

2 – A missão
Transportado ao quartel comandado por homens que decidem o destino de pessoas, que não conhecem o capitão, entram em contato com o motivo central de sua presença naquele espaço; o significado dos olhares dos soldados graduados pela hierarquia que, na dança de verdades assustadoras, tentam solucionar os conflitos, as surpresas, as estratégias estancadas e desviadas dos roteiros previstos. Neste momento acinzentado, o capitão Willard entra em contato com sua missão, um projeto perigoso e secreto, destruir o famoso oficial Kurtz, altamente condecorado, pertencente ao 5º Batalhão das Forças Especiais que aparentemente enlouqueceu.
Essa pretensa loucura o levou a dirigir e comandar sua própria unidade militar fora do Camboja, uma figura temida pelos militares americanos, norte-vietnamitas e Vietcongues.

3 – Um olhar de Freud
Existe na guerra algo que está acima do prazer; as figuras de Eros e Tânatos, oposição sobre o amor e o ódio, atração e repulsão, a preservação e a destruição, o embate entre a vida e a morte. Um instinto está colado ao outro, embora haja predominância do instinto da morte, ambos são essenciais e atuam ao mesmo tempo nas relações sociais. Assim haveria nos conflitos bélicos ou não, motivos nobres ou vis, declarados ou ocultos, idealistas ou mercenários. Todos eles serviriam de fachadas para os desejos destrutivos inconsciente que, em nossa opinião, simples e despreocupada com a sabedoria em alta escala, poderia levar o ser humano à loucura.

Retornando ao filme em questão, embora não seja o primeiro filme a procurar caminhos explicativos sobre o Vietnã; não resta dúvida que Apocalipse Now conseguiu ser um dos mais impressionantes sobre o absurdo que envolveu o momento e o ambiente histórico do combate. A atmosfera narrativa expôs o horror, o delírio, a loucura, a revelação, o impulso que leva o ser humano à destruição de si e do próximo.

4 – O roteiro
O roteiro foi escrito por John Milius, com base no livro “Coração das Trevas”, de Joseph Conrad; as reportagens de Michel Hers, jornalista que cobriu o conflito por um ano, publicando suas reportagens na revista “Equire”, textos que geraram o livro “ Despacho do Front”, e, por motivos óbvios, aproximamo-nos, também, da “A Peste” de Camus, o existencialista que analisou a guerra, o mundo, o ser humano e a vida, como um estoque de grandes absurdos. O seu livro aborda, de forma clara e específica, a crença que o homem tem em sua invencibilidade, incompatibilidade consigo mesmo e com os que vivem ao seu redor.

5 – O enredo
Durante a Guerra do Vietnã, lá pelos idos de 70, o capitão Willard, como já falamos, recebe a missão de localizar e matar o soldado mais promissor e que também era o comandante das Forças Especiais do Exército, que pelas suas atitudes enlouquecera, refugiando-se nas selvas do Camboja, onde comanda um exército de fanáticos. Willard navega rio acima, durante os dias e as noites, em busca do espaço trágico onde se localiza Kurtz. O rio, a navegação, o desespero e o desequilíbrio, transformam cada vez mais aprofundado o risco da missão, à medida, que o capitão Willard adentra o coração das trevas, representado pelo domínio de Kurtz, dentro do seu espaço e de sua sombra.

6 – A morte de Kurtz
Considerado um semideus, seus adeptos matam um touro, uma das cenas mais trágicas apresentada pelo cinema. A morte do animal coincide, inclusive na violência, com a morte de Kurtz, pronunciando no plano de sua própria morte: Horror! Horror!

O filme procura dentro de sua proposta, intertextualizar a jornada de Willard e a sua navegação seguindo o curso do rio, usando um barco patrulha, acompanhando e vendo, eventos inacreditáveis, comprovando que inexiste falta de sentido na guerra promovida pela sede de poder, que estimula a vivência humana.

A viagem, longa ou infinita, no círculo que une o desgaste físico e emocional, perpetuando a ignorância ou o saber, representa o reencontro com a Odisseia, com a Arca de Noé, com Os Lusíadas, com os satélites projetados pelo ser humano e colocado em orbita ao redor da Terra ou de qualquer outro corpo celeste.

A ciência, detentora do macro mundos da pesquisa, enviou milhares na grandiosidade do espaço. Quando o satélite apresenta falhas, como marcou a vida do oficial Kurtz, pedaços dos seus corpos orbitam sem um porto de chegada, tornando-se, com o passar dos anos, o chamado lixo espacial.

“Meu sonho é este: uma lesma andar no fio de uma navalha e sobreviver” – poeta T.S.Eliot, “Os homens Ocos” – no filme dito por Kurtz
“Eu adoro o cheiro de Napalm pela manhã” – Apocalipse Now
“Quando os que mandam perdem a vergonha, os que obedecem perdem o respeito” – Georg Christoph Lichtenbery

7 -Coppola
O filme de Coppola, é um alerta a humanidade sobre o perigo e a tragédia de todas as guerras, de todos os tempos, das imbecilidades silenciosas.

Para demonstrar uma série de planos chocantes no som, nas cores e o que representam: soldados surfando sob a cantiga da metralha, personagens grotescos, animalescos, como o comandante que ama o cheiro de napalm pela manhã. Esses personagens, vivendo acontecimentos insanos e a insanidade do entorno confirma que o absurdo é da essência da guerra, desde as pré-histórias.

No exato momento em que Coppola está filmando, o movimento denominado contracultura está com os pés nas ruas. A sua preocupação, visto pelo todo, é a negação da cultura imposta, padronizada. O movimento pretende destruir tabus, contrariar a cultura normatizada e quebrar pelo meio os padrões culturais que dominam uma sociedade, buscando colocar o jovem da época em contato com as realidades do globo terrestre, uma união e integração da cultura total e humana.

8 – Stufen – Hermann Hesse
“Como toda flor fenece e
Toda juventude,
A idade se curva, floresce
Cada etapa da vida
Floresce cada sabedoria,
Também toda a virtude
A seu tempo e não pode para sempre durar”

RECEITA

AFFOGATO

Ingredientes: Café expresso ou instantâneo; 2 cubinhos de açúcar (opcional); Cerejas; Biscoito amanteigado; Licor; Chocolate ralado

Modo de Preparo: Prepare (antes e deixe esfriar) cerca de 200ml ou 300ml de café forte e reserve. Triture com as mãos um biscoito amanteigado em cada uma das xícaras e coloque algumas cerejas, um pouco de licor. Em seguida, coloque uma bola de sorvete e raspe um pouco do chocolate nas xícaras. Por fim, coloque o café e sirva.

por Adriana Padoan