I – Mistério
Um pastor de ovelhas ouviu um ruído estranho nas águas do Rio Missouri; a impressão transmitida pelo rumor, parecia que a água abraçara os descaminhos do mundo. O menino desceu a sua pequena montanha de pastagem e, agarrando-se aos barrancos, aproximou-se das margens agitadas pelas correntezas.
Aos pés de uma árvore pequena, dessas que se agarram nas laterais das barranqueiras, havia uma bola feita de um material brilhante e exótico, piscando… piscando… piscando. O pastorzinho de coração preparado para as descobertas, bateu os olhos com vontade de desvendar o significado do fato acontecido. Não demorou mais do que uns minutos alongados, e um ser vindo de um ponto qualquer, disse-lhe: “E a década de 60 que se descambou do seu espaço, vindo sentir o cheiro da terra.
II – Década de 60
O cheiro de pólvora misturado com o sangue corria pela consciência do povo americano; os Beatles, uma banda musical e, não os soldados do exército britânico, invadiram as terras e praças, e clubes, e campos esportivos das ventanias aspiradas pelo Tio Sam; meio milhão de jovens, homens e mulheres, participaram do festival de Woodastock; cantando, bebendo, fumando, escorregando sobre o lodo que vertia do chão; os astronautas Neil Armstrong e Buzz Aldrin, caminharam pela primeira vez o solo da lua. O astro chorou, uivou, esgoelou-se e, somando tudo, nada aconteceu.
III – Década de 60 segunda parte
Nós não sabemos até os dias de hoje, mas uns políticos neuróticos, colocaram a terra num congelador, permitindo que a Guerra Fria tornasse uma realidade; o jovem presidente dos Estados Unidos, John F. Kennedy foi assassinado. Na autópsia, os médicos entenderam que o seu cérebro estava repleto de sonhos. O negro Martim Luther King, na frente de 200 mil pessoas disse palavras mágicas “- Eu tenho um sonho”.
A década de 60 viveu duas partes que se completam; a primeira, fervida na inocência, no lirismo, na política com 10% de verdade, o que é muito; o idealismo dentro dos cadernos das crianças; o entusiasmo voando com o algodão brotando nos campos.
A sua segunda fase, banhada de mel e fel, a juventude realizou experiências marcantes com as drogas; a inocência dormiu, desmaiou e partiu; a revolução sexual aventurou-se pela vida; os Beatles abandonaram as músicas do período de candura e enlouqueceram-se no ritmo psicodélico; a segunda onda da revolta feminina, ultrapassou as esquinas claras ou escuras; centenas de manifestações a favor da etnia negra e dos homossexuais abriram as suas janelas; o papa João XXIII abriu o Concílio Vaticano II; no Brasil, o político João Goulart assumiu a presidência do país, como o primeiro presidente trabalhista, Jânio Quadros, presidente anterior, renunciou ao cargo, ficando 16 dias no banheiro sem pensar em levantar-se, nem poderia.
IV – Filme que marcou época – “Adivinhe quem vem para o jantar”
Hollywood conseguiu, em meio a esse mundo explosivo, realizar, à primeira vista, um dos filmes mais simples do período, mas mergulhado em grandezas e problemas tão profundos, que estavam no fundo do mar.
O roteiro original foi escrito por William Rose, em longas noites de luar revelador. Ele contou a todos nós a história de John Prentice, representado por Sidney Portier, um negro e Joey Drayton, interpretado pela novata Katharine Houghton, moça branca da classe média.
V – As ondas do Havaí
Os dois se conheceram nas praias do Havaí, numa noite em que a lua decidiu acordar mais cedo. A paixão, movida pelas ondas, atingiu os dois numa dimensão ilimitada. Sentiram o cheiro do mar, os gritos de Posseidon, a passagem do tempo, o canto dos pescadores e decidiram-se casar. John, o rapaz, era um médico negro; ela, Joy, era uma jovem da classe média, branca, linda e bem situada na vida. Um peixe pulou do alto mar, desafiando as ondas, e os amantes resolveram marcar um jantar, na casa de Joy, para que as famílias se conhecessem e aceitassem; um fato ou acontecimento, com a face dos anos 60.
VI – Os antecedentes
A negritude de John balança as bases do seu eu. A pergunta que circulava em seu sangue digitava um pensamento disforme: “- E se a família de Joy não o aceitasse; e se as restrições raciais que abalavam o país resolvessem impedir impondo dificuldades e obstáculos?
A sua parceira tenta acalmá-lo. Explica-lhe que os seus pais são liberais. Demonstra-lhe que toda a sua educação fora liberal.
Na chegada na casa paterna de Joy, os pais sentem-se angustiados, a surpresa ultrapassa a fronteira entre o discurso humanista e as palavras que discordam e estão atreladas à violência. O filme discute o problema da etnia gerada no eu e criticada nos outros.
A família da jovem não está ligada à monstruosidade do segregacionismo, pois pertencem à ideologia dos progressistas e são representantes da sociedade que vivem a produção artística e, seu pai, é um jornalista combativo. O problema apontado no filme enquadra duas situações, isto é, a vida publica do pai jornalista, defensor dos movimentos antirracistas e a vida privada, familiar, isolada das atividades.
A mãe de Joy percebe o problema de seu marido Matt, um escritor de mente aberta, no entanto, sentiu-se muito incomodado, tentando esconder a discriminação oculta.
VII – A submissão
O drama da etnia negra pode internalizar a submissão, lutando em silêncio e recusando qualquer mudança social em nome de uma servidão voluntária. A empregada da família, uma negra chamada Tillie, não aceita a presença do noivo na casa de seus patrões, tomando uma posição contra o casamento, atitude totalmente racista.
O filme, como obra de arte, aproxima-se dos valores pessoais e coletivos. A atitude política que apresentamos nas ruas e o fechamento de vários ideais externos que massacramos em nossos lares.
A chegada dos pais de John, negros ao longo da vida, não aceitam o casamento do filho, tentam colocar barreiras para desmistificar o amor.
O roteirista, usando a psicologia, a penetração no interior de todos os personagens e dos acontecimentos, coloca um discurso nos lábios de Matt (Spencer Tracy) analisando a humanidade como um todo; dentro de cada ser humano existem coisas maiores que orientam a vida: o amor, a alma, a luta, o sofrimento e a vontade de Deus.
No caso específico do ator Sidney Portier, não podemos deixar de lado, pelo aspecto histórico, que foi o primeiro astro negro a entrar no elenco de protagonistas de Hollywood.
Embora viva, nesta história, um médico de grande sucesso, o casal só se beija uma vez, fato que leva o movimento negro a apontá-lo como uma simples adaptação ao gosto dos poderosos americanos. Ele, segundo o movimento negro, passou por um processo de domesticação, situação que jogou açúcar no filme.
Ao colocar os personagens numa casa de alto padrão, excluíram os negros que habitavam os bairros pobres, os guetos, levando a história a uma tentativa de “higienizar” uma raça através do casal.
Durante o desenvolvimento do filme, quase não há aproximação física entre John e Joy e, na outra ponta dos relacionamentos, o valor das imagens perdem a força viva do ator ou atriz, como acontece com a mãe de John que, transparece envolvida num ato de ingenuidade, medo, e não como mãe e negra.
Mesmo que numa capelinha, no meio de um campo, cercada de flores; os sinos badalam os sons da esperança, lembraremos da suavidade, da poesia, da beleza, de “Quem vem para jantar”.
RECEITA
TORTA CREMOSA DE PALMITO
INGREDIENTES
Massa: 2 xícaras (chá) de farinha de trigo; 150 g de manteiga ou margarina; 1 gema; 1 pote de iogurte natural; 1 colher (chá) sal; 1 gema para pincelar.
Recheio: 3 colheres (sopa) de azeite; 1 cebola picada; 1 tomate picado; 1 vidro grande de palmito; 1/2 xícara (chá) de azeitonas; 1 lata de ervilha; 1/2 xícara chá) de salsa e cebolinha; 1 pote de requeijão cremoso; 1 colher (sopa) de farinha de trigo; sal e pimenta a gosto.
MODO DE PREPARO
Recheio: Em uma panela, aqueça o azeite e refogue a cebola; junte o tomate picado e frite. Adicione o palmito, a ervilha, as azeitonas, o sal e a pimenta e cozinhe por alguns minutos. Acrescente o requeijão cremoso, a salsa, a cebolinha e a farinha e cozinhe por mais alguns minutos. Coloque em um recipiente e reserve
Massa: Em um recipiente, coloque a farinha de trigo (mas reserve um pouco dela), a manteiga ou a margarina, o sal, a gema e o iogurte e misture com as mãos (neste momento, se for necessário, utilize a farinha reservada para dar o ponto). Deixe descansar por aproximadamente 10 minutos coberta com um pano. A seguir, abra parte da massa com auxílio do rolo. Coloque em assadeira redonda (nº 24) de fundo falso. Coloque o recheio frio. Abra o restante da massa e cubra a torta. Pincele com a gema. Leve ao forno pré-aquecido (180ºc) por 20 minutos.
Dica: substitua o recheio de palmito por atum, frango, bacalhau, camarão ou legumes.
por Adriana Padoan