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sexta-feira 15 novembro 2024
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Comilanças Históricas e Atuais – A pureza do amor em uma rosa branca

Eu imagino a chegada de uma noite escura; a neve pintando as ruas e os telhados das casas, onde moravam famílias imbuídas de entendimentos, desentendimentos, abandono e privilégios, discordâncias e compreensões, amor e ódio, ciúme e desconfiança.

Nessa noite, olhando pela janela de terceira classe de um hotel barato, o cineasta Charles Chaplin conseguiu de alguma forma sentir integralmente as dores do mundo dentro do universo; sentiu em totalidade a ganância, a animalização do homem, a concorrência desleal, os conflitos amorosos, o descarte dos humanos desenquadrados dos dogmas sociais.

Em sua cabeça de cineasta do tempo das películas mudas, Chaplin deu início a construção de um personagem que reuniu em si, todas as antíteses sociais e humanas, toda a oposição entre a selvageria social e o amor que, naquele momento, não tinha casa para morar.

Assim sendo, criou um homem; colocou um chapéu coco em sua cabeça, uma bengala de bambu bem torta, calças largas, casaco apertadíssimo, sapatos enormes, remendos em inúmeros lugares do conjunto. A estética e o visual estavam elaborados. No interior daquele corpo, encaixou um estoque de sensibilidade que qualquer cidadão consegue possuir. Esse personagem possuía a capacidade de encontrar soluções para tudo; conseguia se livrar rapidamente de todas confusões que a existência coloca em seu caminho; sabe dançar, cantar, representar, rir e chorar. Ele se comunica com perfeição sem fazer uso das palavras; essa capacidade de integração estava em seus gestos, nas expressões do seu corpo e seu rosto, no seu olhar estampado pelo silêncio.

Esse personagem era um andarilho, um vagabundo, um homem caracterizado por um bigodinho estranho, mas só dele; era educado, cavalheiro, conhecia as etiquetas, usava um lencinho de 3 bicos no bolso da casaca. Esse vagabundo lutava para sobreviver, mesmo passando um pouco de fome, tentava trabalhar, mas não se enquadrava em normas estabelecidas, era um libertador, era capaz de amar com muita facilidade.

Esse andarilho foi rei do cinema mudo. Ele conquistou todos os seres da terra; eu me apaixonei por ele, pela sua roupa que estabelecia o confronto entre o escolhido e o absorvido pela sociedade. Apaixonei-me pelo seu andar, cada pé tentando ir para um lado, no entanto, seguia para frente.

Em 1931, o cinema falado dominava as casas de projeção e o público; era a moda extasiante do momento. Chaplin, porém, achava que o cinema falado retirava do autor a sua capacidade de interpretação. O seu coração resolveu lançar um filme mudo em sinal de protesto, no entanto, usa a conquista sonora como escada que complementa a atuação dos autores, e, assim, surge “Luzes da Cidade”.

O início do filme é uma obra de arte calcada na ironia. Numa praça qualquer, há a inauguração de uma estátua em homenagem a honra, a paz e a prosperidade. Ela está coberta com um lençol. Os políticos ocupam a praça, as autoridades civis, militares e eclesiásticas tomam conta dos seus espaços. Os puxas-sacos estão agitados para aparecer na cena. Todos os políticos fazem discursos. A voz é truncada por sons metálicos, o tom de voz se mistura com gritos selvagens. Chaplin entra no cinema falado, mas ironizando-o pela falta de clareza e comunicabilidade. A esposa do prefeito, com voz de galinha sem poleiro, descerra o pano. Nos braços da estatua, o vagabundo dorme profundamente, roubando a cena e zombando da comemoração política e dos olhares assustados do público. Ele desperta, se enrola todo, enrosca a calça no braço de outra estátua e o publico ri da honra, da paz e das prosperidades.

Como acontece em todos os filmes do andarilho, um guarda possesso com o acontecimento o persegue pela rua. Para fugir, abre a porta de um carro estacionado (usa o som), bate a porta do carro do lado oposto (usa o som) saindo numa calçada. Nessa calçada, sentada num banco de cimento, há uma vendedora de flores. Existe uma flor caída sobre a calçada, o vagabundo a recolhe para devolver à moça. Durante a devolução ele percebe que a florista é deficiente visual. A paixão atravessa o seu coração, ele e a florista têm deficiências diferentes, mas ambos são seres excluídos da sociedade. Nesse momento Chaplin usa o som para aprofundar a sensibilidade, colocando a trilha sonora composta por ele e um trecho da música La Violeteira. Ele a olha profundamente; ela tenta imaginá-lo, constatando a sua presença pelo toque. Chaplin consegue compor uma cena de amor perfeita, uma das melhores da história do cinema, uma cena que, como nenhuma outra, conseguiu mostrar a profundidade da arte cinematográfica.

A partir dessa cena, os dois encontram-se várias vezes. Partindo dessa vivencia, o vagabundo descobre a existência de um médico que tratava da cegueira. Por outro lado, descobre que o aluguel da moça e da vó está atrasado, motivo pelo qual as duas poderão ser despejadas.

A genialidade de Chaplin não conhece fronteiras, voltando à cena que os dois se relacionaram, sabemos que o vagabundo ao bater a porta do carro, passa uma imagem à moça que acredita estar diante de um homem rico, e Carlitos não desmente o imaginário da moça.

Ele só tem na cabeça uma certeza, ela precisa de auxílio. Para ajuda-la a ir ao médico e pagar o aluguel atrasado, o vagabundo arruma um emprego na limpeza pública, recolhendo os excrementos dos animais deixados nas ruas. Ele, o carrinho, a vassoura, uma pá e um balde. Eis que, suavemente, passa um elefante caminhando tranquilamente pelas avenidas. Ele pede a conta, e mostra não precisar de som para representar tamanha calamidade.

Sempre a procura de trabalho aceita uma luta de boxe, a luta é um bailado, nunca ninguém cruzara a dança com o medo, vivacidade, franqueza diante da fortaleza e, mais uma vez, penetra no cinema sonoro, para documentar a loucura do gongo nas interrupções da luta e dos se reinícios.

O acaso aproxima-se do vagabundo, ele está à beira de um lago, refletindo sobre o seu encontro com a florista, a sua história de vida e o amor que agita o seu peito. Eis que, de repente surge um milionário bêbedo pela perda da mulher, um sofredor vitimizado pelo amor sem distância ou medidas. O homem usa uma corda, amarra uma pedra na ponta e parte em direção à morte. O vagabundo o salva, dá-lhe uma lição de vida, de moral, força e esperança. Os dois tornam-se amigos, o vagabundo conhece a mansão do ricaço, vivem as festanças das noites, frequentam os restaurantes, os salões de dança, ganhando até uma festa em sua homenagem. Nessa festa o vagabundo engole um apito. Procurando explorar esse fato cômico ao máximo, Chaplin usa o som novamente, retirando risos de plateia.

A relação do vagabundo com o milionário costura a existência a uma crítica social das mais sérias e profundas dentro de uma fita cinematográfica. O ricaço só conhece o vagabundo quando está bêbado, alcoolizado, entorpecido pela visão esfumaçada, sem uma única referencia à conscientização das diferenças sociais. Porém quando sóbrio e dono de suas faculdades mentais, dos seus negócios, das suas riquezas, exclui a presença do vagabundo insignificante.

Certa noite, na casa do milionário embriagado o vagabundo recebe mil dólares para ajudar na recuperação da amada; nesta mesma noite a casa é assaltada e a polícia é chamada. Retornando ao estado de lucidez, o milionário acusa Carlitos de roubo. Ele consegue fugir do empresário, escapa do mordomo, dribla a polícia e corre à casa da florista entregando-lhe os mil dólares. Após a entrega o vagabundo olha a florista usando a visão da alma, a imagem e a trilha sonora unificam-se sobre a força de Deus. Na saída, na despedida, avisa a florista que permanecerá fora da cidade por uns meses.

A trilha musical acompanha os passos do vagabundo. Há nuvens no céu, o sol procura iluminar pedaços dos arvoredos e das águas do rio. O vagabundo, carregando sua vida única e indecisa, penetra na cadeia pública, onde verá somente as imagens invisíveis, aquelas registradas na memória.

Numa manhã comum e sem direcionamentos precisos, o vagabundo sai da prisão, caminha pelas ruas, suas amigas de longa data. Na calçada onde conhecera a florista, vê uma rosa branca caída no chão. Abaixa-se para pegá-la, recebe um chute de dois meninos vendedores de jornais.

A florista, agora dona de uma floricultura, juntamente com sua avó observa a cena. Ela se dirige ao vagabundo, dá-lhe uma nova rosa e uma moeda, tocando-lhe as mãos. Seu coração dispara, seu mundo apresenta seu próprio cheiro. Ela reconhece o seu benfeitor. Os seus lábios de floristas que vê o universo pergunta-lhe: “Você”? Ele balança a cabeça confirmando a história, o destino e a realidade. O vagabundo acompanha o seu olhar na profundidade dos grandes enigmas, perguntando-lhe: “Você pode ver agora”? Ela responde-lhe: “Sim”, tentando segurar o choro.

E o cinema produziu uma narrativa mais simples e profunda da história da arte. O amor vestindo a roupa de singeleza, da comoção despedida, da paixão intensa, da verdade que paira sobre a cabeça do ser humano, e da vida banhada no mais relevante romantismo, deixando, porém, o desenlace dos acontecimentos para o público completar e sentir.

Eu, como escritora do texto,
Gostaria de ter comigo,
A rosa do início do filme.
E, nas noites prateadas,
Daria tudo para ter comigo,
A rosa do final do filme.
E, como um “Avatar” da floresta,
Diria ao mundo “Agora eu vejo você”

Receita
ELTON MESS
A combinação de morango, suspiro e chantilly se transformou em uma das sobremesas mais apreciadas na Inglaterra, a Eton Mess. O nome, Eton Mess, se refere à escola de internato para meninos lá no Reino Unido. Diz à lenda que a sobremesa foi criada para ser algo bem montado. Mas por alguns motivos os ingredientes se misturaram e virou uma bagunça (em inglês,mess). Confira o passo a passo aqui!
Ingredientes: 200g creme de leite fresco; 30g açúcar confeiteiro; 150g morangos frescos; 40g de mini suspiro ou suspiro normal quebrado.

Modo de preparo: Numa tigela bater o creme de leite e açúcar de confeiteiro, em ponto de chantilly em picos firmes. Se quiser picos moles também pode. Os morangos já devem estar higienizados e picados. No recipiente de escolha, forrar o fundo do copo com alguns suspiros, a próxima camada é de chantilly, depois os morangos picados. Repita as camadas. No copo americano usado consegui fazer mais uma cada de suspiro e chantilly. Finalize com morangos fatiados ou os picados, ou suspiros para decorar e deixe gelar.

Por Adriana Padoan