I – A cinderela e o príncipe
Era uma vez uma menina chamada Ella. Em uma noite sem estrelas, Ella perde a mãe. Seu pai, ainda jovem, casa-se com uma viúva, mãe de três filhas, meninas que não foram contempladas com a boa vontade da natureza. Com a morte do pai, a madrasta transforma-a em empregada doméstica da família. A partir desse momento, segundo o universo significativo de uma língua, Ella, tem o seu nome associado a função e ao seu trabalho, isto é, Cinde, significando cuidadora de casa. Dessa junção surge o nome de Cinderela. Mas do que o nome, “Ella” perdeu sua identidade, sua liberdade, o direito de sonhar.
II – O castelo
Do outro lado da vida, no mundo dos castelos, o príncipe solitário, sem companhia, sem amor, sem segurança do seu futuro e do seu reino, resolve procurar uma esposa. Para isso organiza um baile como nunca fora visto. Esse baile tinha música, poesia, mulheres, personalidades habitando a verdade dos seres humanos. O príncipe apaixona-se por Cinderela, a protegida por uma fada, carruagem, horário existencial, sapatinho de cristal, símbolo dos passos que uma pessoa tem condições de caminhar. A transformação milagrosa coloca a realidade do mundo em seu lugar.
III – Cinema – O código Hays
Entre os anos de 1930 e 1968, por um desequilíbrio momentâneo no estatuto de moralidade que rege um país, surgiu uma série de normas regulamentando os assuntos, a técnica de filmagem, as abordagens cinematográficas sobre a vida social dos Estados Unidos da América. Por essa época, muitas produções artísticas foram consideradas imorais e tiveram que enfrentar os olhos vesgos de uma censura guiada por dogmas religiosos.
IV – A princesa e o plebeu
Foi nessa época que o cineasta William Wyler, produtor de Bem Hur, resolveu revisitar o conto de fadas “Cinderela”, escrita por Charles Perrault, em 1697. Contratou o roteirista Dalton Trumbo para retrabalhar a história. O sonho dos anos 1600 foram lavados com as tintas de um novo tempo e, através de uma adequação de linguagem, nasceu “A princesa e o plebeu”, uma inversão da realidade, do contexto, do giro das câmeras cravando a reviravolta do mundo na moldura das imagens.
V – Os testes para as atrizes
A atriz Audrey Hepburn, novata, entrou no estúdio. Como é comum nos testes de cinema, representou uma cena do filme. Wyler gritou corta! Mas o técnico de filmagem esqueceu-se de desligar a câmera. As imagens gravadas fora do teste revelaram a espontaneidade da atriz, a sua simpatia, as expressões do rosto. Essas cenas, filmadas de surpresa, a aprovaram para o papel, para atuar ao lado de Gregory Peck.
VI – O filme
O roteiro parte da inversão completa do conto infantil Cinderela. A princesa Ann inicia um tour pela Europa para tratar de assuntos políticos, econômicos, culturais para o seu reino. No roteiro de suas viagens constava a cidade de Roma. Como princesa, representava uma mulher gentil, educadíssima, carismática aos olhos de um mundo escrito e dirigido pelo monopólio do interesse.
Ela, Ann, não conhecia a liberdade, a individualidade, os desejos internos, a vontade de ser gente, como milhões de seres no universo. Não conhecia o riso sem ser programado, não falava nada nascido em seu coração. Não escolhia um sapato, um vestido; ela era o fruto, os negócios, a política, o planejamento dos gestos elaborados por um mecanismo que a produzia.
A noite romana, resultado de milhares de anos, sentou-se em sua janela. Abriu seus olhos para um espaço cheirando vida, canto, dança, amores, paixões, choro e risos. A história romana, senhora envelhecida, agitava os risos nas ruas, longe dos astros e da princesa. A princesa sentiu em sua pele todas as revoltas do mundo e, por isso, gritou, agitou-se, tentou beber um gole de liberdade misturado com realidade. O médico da corte aplicou-lhe um sedativo, ela colocou a coroa em sua cabeça tentando sonhar e dormir.
VII – A mudança
De madrugada, momento do voo dos vampiros, vestiu uma roupa normal, com rótulo de simplicidade. Abriu a janela, fugiu do palácio, ganhou as ruas de Roma, com seu perfume, cheiro de bebidas caras e baratas, tentou caminhar entre o povo, mas o sono a venceu, e a princesa dormiu num banco de rua.
VIII – O jornalista Joe Bradley
O jornalista perdeu o pouco que tinha na mesa de jogo. O cinderelo saiu pelas ruas, observou que as antiguidades de Roma passavam por ele, mas não o percebiam. Sua cabeça dialogava com os seus sonhos, acontecimentos simples, conseguir escrever um furo de reportagem, delírio e objeto de todo jornalista.
Ao passar pelo banco da rua, percebeu a presença da princesa dormindo o sono dos que trazem no rosto o desenho da ansiedade. Tentou reanimá-la, ouvi-la, saber os motivos que a levaram a dormir ao relento. Sem saída, não conseguindo despertá-la, decide leva-la ao seu apartamento. Ela dorme em sua cama, usa o seu pijama e, na redação descobre pelo jornal que a moça que estava dormindo em sua cama era uma princesa. O plano toma conta do seu futuro possível, finge não saber que estava ao lado de uma princesa, caso que lhe dava a oportunidade de escrever a matéria de sua vida.
IX – Um dia sem rotina
Ele, despois de encontros, perseguições, a leva a conhecer Roma, o mundo dos conquistadores edificados em todas as esquinas, ao lado dos carros, ônibus, aviões cruzando o céu. A princesa sente a realidade das ruas e suas almas, o corre-corre do povo, o cheiro, os odores dos perfumes de marcas variadas, anda no meio da população como um ser humano livre, toma sorvete pela primeira vez; corta o cabelo, deixando no chão da barbearia, seus sapatinhos de cristal. Joe Bradley, pilotando uma lambreta a leva a conhecer os mistérios da cidade, juntamente com um fotógrafo seu amigo. Visitam o Coliseu, registro de luta, de vida e morte; param diante da “Boca das Verdades” e, no Muro das Verdades descobre que estão apaixonados. O beijo envolve o nascimento dos sentimentos mais profundos, do nascimento como um ser humano comum, sente a vida das pessoas que caminham pela estrada e pelo ato de existir.
X – Sobre rodas
Pilotando a lambreta do jornalista a princesa atropela bares e bancas de feira, chegando ao Barco Sant’Ângelo. Bebem, cantam, dançam; são perseguidos por investigadores, homens do palácio real, os frequentadores do barco famoso colaboram protegendo o casal. Eles brigam com os agentes, lutam, gerando uma confusão sem nenhuma explicação e entendimento e, na efervescência dos acontecimentos, são jogados ao mar. Nadam entre o sonho e a realidade, sentam num banco de pedra, beijam-se na impossibilidade da continuidade. Ela solicita a ele, com lágrimas nos olhos que a leve para casa. Corações apertados, almas compromissadas com o tempo, lágrimas que marcam somente o presente. No dia seguinte, por exigência do poder, a princesa dá uma coletiva para a imprensa.
Fala de política, de relações exteriores, de cooperação econômica e cultural. Ela percebe no meio dos jornalistas a presença de Joe Bradley. Depois da coletiva, a princesa quer conhecer os representantes da imprensa. Os dois olham-se no fundo dos olhos; ele entrega-lhe as fotos, provas de um único dia que ela viveu no mundo sem repressão e assim se despedem.
XI – De volta a realidade
Ela retorna a comitiva e se integra ao meio das missões políticas e sociais. Ele sai sozinho, passo a passo, os seus olhos lacrimosos entendem a condição social interposta entre o amor dos dois. A impossibilidade de viver uma grande história de paixão dentro de um destino é uma realidade concreta, a única e real, se o mundo atendesse os seus sentimentos pessoais.
O sapatinho de cristal
Evaporou-se na verdade,
Do mundo frio, exato,
Calculado!
Receita
CROSTATA DE RICOTA E CEREJAS
INGREDIENTES:
PARA A MASSA (PARA UMA FORMA DE 28 CM): 100 g de manteiga; 400 g de farinha; 130 g de açúcar; 4 gemas; 2 claras de ovo, 5 g de fermento.
PARA O CREME: 25 g de creme de leite fresco; 100 g de leite integral; 35 g de açúcar; 15 g de amido de arroz; 2 gemas; meia vagem de baunília.
PARA O CREME DE RICOTA: 800 g de ricota; 280 g de açúcar de confeiteiro.
PARA O RECHEIO: 1 k de cerejas, 100 g de açúcar granulado.
PINCELAR: 1 ovo, 1 colher de sopa de creme de leite fresco
MODO DE FAZER
Derreta a manteiga em fogo muito baixo e deixe esfriar. Em uma tigela, despeje a farinha peneirada, o açúcar e o fermento. Rale as raspas de limão e faça um buraco no centro e despeje as gemas, a clara de ovo e por último a manteiga derretida. Misture os ingredientes diretamente na tigela, em seguida trabalhe a massa apenas o tempo suficiente para formar uma massa lisa.
Dê uma forma retangular e embrulhe em filme plástico em seguida, coloque-o na geladeira para endurecer por pelo menos 30 minutos.
Enquanto isso, prepare o creme: despeje as gemas e o açúcar em uma panela, misture com um fouet e acrescente o amido de arroz ( ou amido de milho ou fécula de batata). Junte o creme de leite fresco e o leite, mexa com um fouet para os misturar e ligue o fogo. Adicione as sementes de meia vagem de baunilha e cozinhe o creme, mexendo sempre com o batedor até obter a consistência cremosa ideal. Transfira o creme para uma tigela e cubra-as ainda quentes com película aderente. Quando estiver em temperatura ambiente, coloque na geladeira.
Enquanto isso, pegue a ricota (que você teve o cuidado de escorrer por pelo menos duas horas ou melhor ainda na noite anterior) e peneire com uma peneira de malha fina, repetindo a operação várias vezes para torná-la mais cremosa.
Adicione o açúcar de confeiteiro e mexa para misturar os ingredientes; cubra o creme e leve à geladeira.
Agora dediquem-se às cerejas: retirem o pé e o caroço de cada uma, em seguida, despeje-os na panela, adicione o açúcar e cozinhe-os em fogo moderado com a panela tampada pelo menos 20 minutos ou até que o líquido esteja quase completamente seco, mexendo de vez em quando. Nesse ponto, desligue o fogo e deixe esfriar.
Em seguida, pegue a massa e abra metade da massa em um disco com cerca de meio cm de espessura. Unte com manteiga e enfarinhe uma forma de 28 cm de diâmetro; enrole o disco de massa no rolo e desenrole na forma. Enrole o rolo nas bordas para remover o excesso de massa (pode juntar as sobras à outra metade da massa). Fazer com que a massa adira perfeitamente à forma e decorar o fundo com uma camada de creme, em seguida, despeje também as cerejas cozidas, agora frias e cubra tudo com o creme de ricota, distribuído uniformemente.
Abra a outra metade da massa de massa junto com as sobras e cubra a torta. Feche bem as bordas para que o recheio não saia durante o cozimento, depois pincele a superfície com um ovo batido com uma colher de creme de leite. Asse em forno pré-aquecido a 180° por cerca de 50 minutos.
Depois de cozido, retire e deixe esfriar, decore a gosto e sirva.
Por Adriana Padoan