I – Estúdios Werner
Em 1942, a Werner programou a produção de dois filmes de longa metragem ao mesmo tempo. Os dois projetos foram planejados, pesados, imaginados e amados antecipadamente.
Todos os recursos tecnológicos usados naqueles tempos foram colocados nas mãos do diretor, atores, funcionários da indústria fabricante de sonhos e conforto garantido para alma. A equipe, em seu conjunto organizado, idealizava as filas nas entradas dos cinemas, a caixa registradora emitindo bilhetes de acesso, ansiedade, paixão, casais de namorados, faturamento astronômico.
Nesse estúdio da Werner havia um galpão descomunal que, naquela ocasião, não estava sendo usado, parecia um espaço esquecido ou abandonado. O chefão da Werner, aproveitando a conjuntura que o mundo vivia diante do redemoinho de dor e tristeza, causado pela Segunda Guerra Mundial, teve uma ideia afortunada ou venturosa, não sabemos definir com exatidão, de fazer um terceiro longa metragem no insólito galpão, jogado às pulgas e insetos vindos de longe.
II – Terceiro filme
Esse terceiro filme, emergido ainda no amontoado de ideias, não possuía compromisso com a qualidade transparente ou promissora, não pretendia desvendar mistérios do mundo ou aguçar os limites dos efeitos técnicos e visuais. Ele seria um filme simples, liberal, livre, podendo, porém, trazer dividendos à companhia de cinema.
Primeiramente, seguindo os andares do pensamento, contratou três roteiristas disponíveis na oportunidade e, por sorte, entregou a feitura da fabulação a WoWard Koch, Július Epstein, Fhilip Epstein, que transformaram o devaneio em texto, enredo, imagem, movimento, luz, ou seja, a totalidade de emoções banhada em música e lágrima.
O ponto de partida dos roteiristas foi a peça de teatro “Everybody Comes To Ricks”, escrita por Murray Burnett e Joan Alison, no final dos anos 30. Pouco depois, aproveitando uma nuvem azulada, visitadora dos telhados enigmáticos das casas, criaram os personagens da fábula. Da nuvem passageira tiraram Rick Blaine, Ilsa Lund, Victor Laszlo, Captain Renault, Ugarte, Major Strasser, Signor Ferrari, Emil, Sam, o pianista. De uma chaminé sem fumaça, mas de mãos dadas ao vento, surgiu o diretor Michael Curtiz, trazendo na bagagem mais de 50 trabalhos na Europa e preparado para comandar mais de 100 produções cinematográficas no Estados Unidos.
III – Casablanca
O nome do filme “Casablanca”, dado pelos roteiristas é uma indicação que se tratava de um filme de espaço. O projeto enfrentou, logo no nascimento, terreno áspero para poder dar os seus primeiros passos. O primeiro problema do filme veio da sala de direção, um ensejo abateu sobre os escaladores de elenco, pois, no meio da presa e desequilíbrio, convocaram Ronald Reagan para viver o papel de Rick Blaine. Se a escolha vingasse, o filme estaria acabado, mas por sorte do projeto, Ronald Reagan foi convocado para servir o exército.
Os olhos voltaram-se, então, para o ator Humphrey Bogart, astro dos filmes de gangster, detetive, violência, força, heroísmo. No entanto, nunca fizera um filme romântico. Levaram tempo, retórica, para que o ator aceitasse o papel. Para interpretar a heroína romântica, e não poderia ser outra, a responsabilidade recaiu sobre Ingrid Bergman, atriz que não sentia química interpretativa com o ator Bogart, fato que deu muito trabalho nos ensaios. O ator galã Paulo Henreid, selecionado para atuar como Victor Laszlo não aceitava a sua posição no elenco, como ator secundário na trama. Além de todos esses problemas, no primeiro dia de filmagem não havia roteiro pronto; o que aconteceu, e que é muito raro, o roteiro foi escrito diariamente, conforme o avanço do material gravado.
IV – A Segunda Guerra Mundial
Os canhões de Hitler, em 1942, marchavam pela Europa. O mundo, assustado e nadando em dúvida, dividia-se em países aliados e forças do Eixo. O odor horrível de Hitler deslocava na dianteira da brisa. Nesse clima insalubre, o ditador alemão resolveu invadir a França.
V – O encontro
Era noite dividida com as estrelas mais próximas. Paris, segurando a angústia na ponta do coração tentava manter-se como a cidade luz. Um homem chamado Rick caminha pelos canteiros plantados por Luis XV; olha para a luz mortiça de um poste cheio de passado, bate os olhos em uma mulher que, solitariamente sonha. Conversam, comovem-se, umedecem os cantos do olhar, apaixonam-se ultrapassando todos os limites da normalidade. Iniciam um caso apoiado pelas mãos da noite, do medo, da história assombrada com sua própria escrita. Rick pertencera à resistência antifascista, a sua vida corria risco, não significando muita coisa no contexto.
Ouvindo a voz do coração e mentalmente a canção “As time Goes By”, ouvida nos momentos dos encontros dos lábios, Rick Blaine arquiteta um plano originado na emoção e na razão, fugir com a amante, a mulher de sua vida para um lugar distante, neutro, onde poderiam recomeçar a vida em um mundo cercado pela proteção. O plano os envolve; marcam um encontro na estação de trem; a chuva cai lavando as ruas, os homens, as consciências. Ilsa, o nome da mulher amada, não aparece. Em seu lugar manda-lhe uma carta dizendo que o ama, que não virá e que não poderá vê-lo nunca mais. Rick entra no trem; a carta se desfaz, lentamente, levada pela enxurrada.
VI – Casablanca
Era uma cidade do Marrocos, utilizada como rota de fuga para a américa. A cidade era dominada pela França, um resíduo do antigo neocolonialismo que dominou o mundo. Sendo rota de fuga do nazismo, Casablanca recebeu amantes e o calor do amor; recebeu aqueles que perderam o amor diante do desfile dos canhões nazistas. Os heróis, os intelectuais, artistas, políticos opositores, espiões, bandidos, traficantes, prostitutas que sentiram as ausências dos homens sedentos pela vida; preencheram as ruas de Casablanca.
VII – A cidade como suporte do tema
Casablanca tinha um perfil marcado pela contradição física e emocional, a ação e os sentimentos eram completamente antitéticos. A própria cidade era símbolo da contradição, estava sobre o domínio da França, mas não fora invadida. É nesse ambiente que o personagem central cria o Bar Café Rick’s, um espaço frequentado por nazistas, funcionários franceses, refugiados, criminosos, espiões, jogadores, negociadores do mercado negro, a maioria, no entanto, buscava vistos para a fuga.
VIII – Produto do passado
O seu passado produziu um Rick Blaine dotado de um comportamento duro, insensível, solitário, magoado; um homem que só encontrava alívio na bebida. O seu pianista Sam, o homem-show da casa, fora proibido de tocar a canção “As Time Goes By”, ponto de ligação entre o passado e o presente, som torturante e vivo como a luz do sol.
Uma noite, trazendo existências perdidas nos lábios de todos os ontens, Ilsa e o marido Victor Laszlo, refugiado e líder da resistência antifascista, fazendo parte da lista da Gestapo, procuram um visto para fugir em segurança e continuar a sua luta. A entrada de Ilsa no bar, a visão e o reencontro, reacende o amor entre Ilsa e Rick. Os olhares, a voz, o piano de Sam tocando o “As Time Goes By”, os gestos pronunciando frases, confissões de amor, juramentos, delírio, dor, respiração encurtada pela temperatura dos corpos. As horas passam como tormentos justificados. Rick e Ilsa passeiam nas ruas de Casablanca; os vendedores ambulantes anunciam produtos vindos do mundo, eles mergulham no mercado negro comandado pelo terrível capitão Renault.
Eles falam às pressas, confessam as palavras do passado até que o clímax do filme traz a dor e a verdade: “Quando eles tiveram um caso em Paris, ela já era esposa de Laszlo.” O julgamento entra na pele dos dois personagens e o calafrio percorre seus corpos e a vida presente.
IX – O nevoeiro
A névoa cobria o céu de Casablanca. Rick e o agente policial levam o casal até o aeroporto onde um avião os espera. Rick entrega os documentos a Laszlo. Despede-se de Ilsa dizendo: “Sempre teremos Paris”. O casal entra no avião, e como no encanto, desaparece no nevoeiro. Rick e Casablanca continuarão existindo, vivendo, sofrendo, amando; amando a ausência colada como um postal nas paredes do Ricks Bar.
Meus queridos leitores, as flores continuarão nascendo nos campos e o filme Casablanca continuará sendo o mais assistido no mundo. O seu roteiro feito dia a dia, permanecerá como o melhor texto para o cinema. A voz de Rick continuará no cosmo: “Estou de olho em você, garota”.
Receita
Filé de frango recheado com cuscuz marroquino
Ingredientes: 4 filé(s) de frango; Sal e páprica doce a gosto; 100 grama(s) de fundo de alcachofra em conserva (pode substituir por berinjela em fatias bem finas); 8 fatia(s) de bacon, 1 xícara(s) de chá de cuscuz marroquino cru; 2 xícara(s) de chá de água morna; 1 unidade(s) de cebola roxa picada; 2 dente(s) de alho amassados; 1/2 xícara(s) de chá de ricota defumada temperada; 10 folha(s) de hortelã; 1/2 xícara(s) de chá de pimentão vermelho picado; Sal e Azeite a gosto.
MODO DE PREPARO
Recheio: Hidrate o cuscuz com a água e aguarde até estar pronto. Refogue os dentes de alho, com o pimentão e a cebola. Solte as bolinhas de cuscuz, deligue o fogo do refogado, e misture o cuscuz no refogado. Acerte o sal, a pimenta-do-reino e adicione o restante dos ingredientes. Reserve
Frango: Tempere os filés de frango com o sal e a páprica doce. Coloque, em uma forminha de empada grande, duas fatias de bacon, uma sobre a outra na diagonal como se fosse um “X”. Acomode um filé de frango sobre essas fatias. Esse filé deve ser levemente batido com um martelo para que ele não fique grosso. Coloque no centro um pouco do recheio, apertando muito bem e feche o filé com mais duas as fatias de bacon. Vire de cabeça para baixo para tirar da forminha e coloque em uma assadeira untada com um pouco de azeite. Faça este procedimento em todos os filés e leve para assar em forno pré-aquecido (180 °C) por cerca de 25 minutos.
Por Adriana Padoan