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sexta-feira 15 novembro 2024
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Comilanças Históricas e Atuais – A morte da Baixa Idade Média

I – Literatura fantástica
Fui conhecer o Parque dos Ipês encantados, uma reserva florestal das mais bonitas do mundo. Vi cachoeiras escorregando nas montanhas; observei o balançar das árvores seguindo a voz do vento; entrei por um túnel criado por primaveras lilases, as árvores foram plantadas nos dois lados da estrada; elas cresceram e se abraçaram sobre as cabeças dos visitantes, no final deste túnel, inexplicavelmente, sai no tempo, nas terras, nos pensamentos da Baixa Idade Média.

II- Baixa Idade Média
No portal de acesso à Baixa Idade Média encontrei um papagaio vermelho, designado a me acompanhar e explicar os caminhos onde os fatos acontecem. De início, disse-me, que nesse período aconteceu o ponto mais alto do feudalismo e, como sempre acontece, ocorreu também a sua morte, tudo isso para que o viver mudasse. O feudalismo usa uma gravata econômica, um chapéu político, camisa de tecido sociológico e sonhos ideológicos. Com esses trajes, surgem os nobres donos das terras, o senhor proprietário do castelo, o camponês que é explorado dia e noite, o costume é estabelecido pela vassalagem e a religião se apropria de terras, cultura, estabelece dogmas, enobrece e reprime.

III – Mudança
De repente, não mais que de repente, não surgiu doenças, epidemias e medo. O clima temperou todos os seus ingredientes, a produção agrária triplicou os seus resultados, a colheita engravidou os galpões, os silos, os terraços de proteção aos estoques.

O comércio recebeu o crescimento no rosto; as feiras multiplicaram-se, rodeando os castelos, as grandes áreas de plantio. Essas feiras deram à luz aos burgos, espaços gerenciados pelos comerciantes. Os camponeses abandonaram as suas terras, resolveram partir em direção aos burgos, jogar fora a especificação de homens da lavoura e receber o novo nome, uma designação mais forte, tornar-se burguês.

O papagaio vermelho pediu-me para não levar susto, mas os burgos fantasiaram-se de cidades; as cidades expulsaram os senhores feudais, entregando o poder aos reis. Esses reis, homens sedentos de riqueza, poder, amor e sexo; em noite que não gosta do sono, mas dos sonhos, levou os reis a criarem os Estados, os exércitos, a revigorar as forças, transformando a economia, a sociedade, o discurso político e organização das novas profissões humanas.

IV – Religião
A religião elaborou as paróquias, as dioceses, as arquidioceses, o papado. Por outro lado, fato inevitável, a religião assumiu a função de proprietária da cultura, conselheira política, sócia do poder, responsável pelo monopólio do mundo culto e letrado, patrocinadora dos reinados e, qualquer discordância de sua doutrina, qualquer postura ideológica contrária aos desígnios de Deus, passavam pela Inquisição. Nesse tempo, segundo o papagaio vermelho, os mosteiros assumiram a responsabilidade de cuidar das bibliotecas, de assumir a guarda dos livros da antiguidade e, assim, transformou-se na semente das universidades.

V – O livro “O nome da rosa”
O livro “O nome da rosa” foi escrito por Umberto Eco, no ano de 1980. Eco é escritor, professor, crítico literário, nascido na Itália e, segundo dizem, escreveu O nome da rosa tentando passar à humanidade os seus conhecimentos de semiótica aplicados ao mundo medieval.

VI – O filme “O nome da rosa”
O filme foi lançado em 17 de outubro de 1986. O diretor Jean Jacques Annaud, de acordo com a crítica cinematográfica, levou anos para convencer o autor do livro a concordar em transformar a obra literária em linguagem fílmica.

O roteiro foi escrito a quatro mãos. O trabalho levou noites e dias, diálogos, discussões, acertos e desacertos, concordâncias e modificações. Quando o processo acertava os seus caminhos, surgia uma esquina contornando a estrada. No final, compensando todos os entraves, Andrew Birrkin, Gerard Brach, Howard Franklin e Alain Godard entregaram o argumento definitivo.

VII – O argumento de O nome da rosa
Tudo aconteceu no ano de 1327, exatamente no instante em que o mundo medieval começa a enxergar as pontas dos dedos do Renascimento. No princípio, na escuridão da Idade Média, dois frades montados em seus cavalos, aproximam-se de um mosteiro no alto de um penhasco. Aves noturnas sobrevoavam sombras invisíveis, a profundidade da noite cruzava-se com um nevoeiro exalando cheiro de mistério e perfil de coisas sobrenaturais. Os cavaleiros são os frades Willian de Baskerville, conhecido como irmão Guilherme, franciscano, e seu aprendiz, neófito, o jovem Adson Melk. O motivo da chegada dos dois frades ao mosteiro marca o relevo que envolve a trama, ou seja, a morte de religiosos em circunstâncias estranhas e aterradoras, em vários pontos do convento.

VIII – A intertextualidade
O nome do frade, Willian de Baskerville, determina um jogo literário de Umberto Eco, remetendo o leitor à estrutura do romance policial. O criador do detetive Sherlock Holmes, Artur Conan Doyle, escreveu o romance “O cão dos Baskervilles”, onde o policial é contratado para desvendar a estranha morte do personagem central.

IX – Retorno
Retornando ao romance de Eco, os frades do mosteiro orientados pela teologia medieval acreditavam que as mortes dos religiosos se relacionavam com a presença do demônio, com a desobediência aos dogmas da igreja, ao pecado plantado por forças malignas nos corpos dos monges mortos.

O frade Willian de Baskerville, homem comprometido com o conhecimento renascentista e, portanto, tendo como aliados o racionalismo, o uso da razão, a busca da verdade, a explicação lógica proposta por Aristóteles, passa a observar os detalhes que, filosoficamente, valorizam o pensamento guiado pelo empirismo aristotélico.
Os corvos voam sobre o cemitério, os mortos apresentam a língua e os dedos roxos e, de alguma forma estão ligados a biblioteca.

X – A imagem da lógica medieval
O monge Jorge, um dos mais idosos do mosteiro, cego no corpo e na alma, é o responsável pela biblioteca, uma das maiores da Idade Média. Em uma das cenas do filme, Jorge é interrogado sobre a necessidade da presença da Inquisição na investigação dos assassinatos. Ele, recusando qualquer mudança no sistema, prefere deixar que os jovens decidam sobre a participação inquisitorial.

XI – Os fatos e a razão
Os corvos no cemitério indicam a morte de um irmão acontecida recentemente. A cena do abate do porco, pela sua violência antecipa a chegada da Inquisição. A presença do frade Ubertino deitado à frente de uma santa, orando pela proteção dos frades belos e jovens, levados pelos demônios, invocam o medievalismo dominante no mosteiro. A imagem do frade Venâncio lendo um texto na biblioteca e gargalhando, justifica a sua morte dentro de um enorme caldeirão, cheio de sangue.

A entrada de Willian e Adson na biblioteca para verificar o local de trabalho dos frades mortos, retirando dos bolsos da batina um óculos, tipo lente de aumento, para observar detalhes, assustam os outros monges, pois a lente de aumento não fazia parte do universo medieval. No entanto, vendo por meio das lentes é que Willian observa o pergaminho com o desenho de três figuras: um burro ensinando a escritura aos bispos; o papa como raposa; o abade como um macaco. O burro é um signo afastado da inteligência, a raposa invade desonestamente os galinheiros e o macaco aproxima-se do homem corrompido.

XII -A Inquisição
Nesse clima, interposto de contrastes, a Inquisição chega ao mosteiro, representado por Bernardo Gui, um personagem real no contexto histórico. A narrativa começa a se fechar quando o frei Jorge mostra a sua fúria contra o riso, um dos maiores pecados praticado pelo homem, pois o riso mata o temor, e sem temor não pode haver fé. O monge Jorge, tentando impedir que o riso vivesse no mosteiro, envenenara as páginas de um livro de Aristóteles,

“Poética”, onde o filósofo grego afirmava que o riso, a arte, estão e fazem parte do homem. Jorge, enlouquecido, coloca fogo na biblioteca; a Inquisição coloca na fogueira os filhos do diabo, Willian salva os livros dos filósofos gregos contendo os conhecimentos que embasarão o Renascer; Adson encontra a camponesa que lhe ensinara o amor; ela é o nome da rosa que sustentará o novo mundo. E tudo termina, da mesma forma que começara sempre buscando o recomeço, e no meio das chamas, a Baixa Idade Média agoniza.

Receita

Panna Cotta de Baunilha com Molho de Framboesas ou Morangos

Ingredientes:

Creme: 1 1/2 xícaras de creme de leite fresco; 1 xícara de leite integral;
3/4 xícara de açúcar; 1 colher (chá) de extrato de baunilha (ou 1 fava de baunilha); 2 colheres (chá) de gelatina em pó sem sabor; 3 colheres (sopa) de água

Calda:
450g de framboesas congeladas (espere descongelar) ou morangos frescos; 3/4 xícara de açúcar; 1 colher (sopa) de maisena; 100ml de água; suco de meio limão

Modo de Preparo da Panna Cotta de Baunilha

Creme: Em uma panela coloque o creme de leite, o leite, o açúcar e a essência de baunilha.Leve ao fogo, mexendo sempre, até que o açúcar dissolva (não deixe ferver) e desligue. Em uma xícara hidrate a gelatina na água e junte com ao creme ainda morno. Misture bem e coloque em quatro potinhos, xícaras, taças, forminhas ou onde preferir. Espere esfriar e leve à geladeira por pelo menos 6 horas para firmar, sirva com a calda de framboesas ou morangos.

Calda: Em uma panela coloque as framboesas ou morangos, o açúcar e o suco de limão e leve ao fogo. Separadamente misture a maisena e a água até dissolver e junte à panela. Mexa até ferver e deixe cozinhar por cerca de 5 minutos. Espere esfriar antes de servir.

Por Adriana Padoan