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sexta-feira 15 novembro 2024
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Comilanças Históricas e Atuais – A Missão: a luta dos índios guaranis

I – Introdução
O cinema não tem caminho fixo; há na sua dianteira milhões de temas que esperam identificar o interior do homem, nas profundezas de uma sociedade criada na porta de entrada de uma caverna, na época em que o ser humano não possuía uma câmera na mão e uma ideia na cabeça. Ele tinha as mãos, o sangue, a parte líquida e colorida das frutas. O homem da caverna umedecia as mãos com as cores primitivas e escrevia roteiros rústicos nas paredes geladas, na superfície das pedras duras e úmidas.

II – Um problema emocional

Esta semana escolhi o filme “A MISSÃO”, de 1986, cujo roteiro foi escrito por Robert Bolt, após mergulhar no coração agitado da história. A direção foi entregue a Rolando Jaffé, profissional competente das câmeras, das psiques dos autores, do vai e vem da narrativa escrita no brilho do sol, na sexualidade da lua, ou no coral formado pelas estrelas. A minha escolha do filme A Missão tem por justificativa a vontade de sentir o cheiro do princípio das Américas, olhar o processo que ampara o desejo de engatinhar, dar os primeiros passos, as quedas, os aparadores, os sofrimentos, a agonia, a luta para existir como território, continente, pedaço de um universo revelado.

III – Os motivos
As Américas nasceram para mostrar os mistérios do grande universo. A preocupação imediata que agitou a corrente sanguínea do poder envolveu, num primeiro instante, a disputa pela posse da terra, um confronto entre portugueses e espanhóis. Na ponta da corda a Igreja Católica procurou-se estabelecer nas novas terras em busca da conversão dos selvagens, e do apoderamento de suas almas. Os Jesuítas atravessaram as águas azuis ou verdes dos oceanos, em nome do Papa que, sentado no além dos lugares comuns, sonhava com a multiplicação dos fieis da sua igreja.

O quadro para composição do filme A Missão catalogava o seu romance: índios selvagens, colonizadores brancos, jesuítas preparados para catequisar, converter, e assumir o danoso trabalho de exercer a violação cultural de um povo estabelecendo e preenchendo os vazios com os valores da cultura europeia.

IV – O filme
Robert Bolt colocou no enredo um narrador manifestado, funcionário da Coroa Portuguesa de nome Altamiro, tornando-se o olhar da política europeia nas terras de pés no chão. O Jesuíta Gabriel, interpretado por Jeremy Irons, é o responsável para realizar a catequese da tribo dos índios Guaranis que ocupavam a parte superior das Cataratas e erguer A Missão de São Carlos.

O mercador de escravos, Rodrigo Mendoza, vivido por Robert de Niro, um homem rude, violento, sedento de enriquecimento, conhecedor dos peabirus (caminho na linguagem indígena), e no tiro disparados nos ruídos da selva, representa o organograma político, econômico, militar, desleal, elaborado para dominar as Américas.

V – Amor, sedução, tragédia
Rodrigo ama uma dama representante do tempo. Os dois vivem esse amor durante a presença de Rodrigo e guarda o seu desejo na bolsa da ausência do caçador de escravo que, de acordo com a aventura pode durar meses. Mendoza tem um irmão chamado Felipe, bem mais jovem, que cuida de seus negócios na vila. Felipe se apaixona por Carlota, amante e obstinação do mercador de escravos, homem marcado pelo sonho e violência.

Os dois irmãos se desentendem, discutem, duelam na rua, e Felipe morre atravessado por um golpe de espada. O corpo de Felipe não é objeto das lentes da câmera, mas o rosto do irmão assassino é explorado em todas as possibilidades, revelando nos movimentos e na ação estática do olhar a crise de consciência, o ódio explodindo no inconsciente salta para fora da pele, carregando o remorso que massacra a alma.

O homem capaz de matar o irmão, o fratricida, se isola do mundo, paralisado num pequeno cômodo de uma estrebaria. Não fala, não come, não bebe, só o pensamento tenta dar uns passos no roteiro do inexplicado. O Jesuíta Gabriel, o visita no silêncio do espaço minúsculo e do ser humano acabado. A voz do Jesuíta penetra a extensão do corpo sem significado; o trabalho em nome de Deus suaviza a vida em desistência e aos poucos Rodrigo aceita acompanhar o Jesuíta à Missão de São Carlos. Como nas histórias infantis, a transformação do homem, desce do espaço incógnito; Rodrigo abandona a sua vida de mercador indígena, para assumir o papel de defensor do índio, dos Jesuítas, parte arrastando os seus pertences nas costas, numa rede em forma de bolsa onde carrega as armaduras, as armas, chicotes, objetos de caça. Caminha noites e dias sustentando o peso do seu passado; em momentos simbólicos é levado pelo peso da violência. Quando aquela bolsa cai na correnteza do rio, Rodrigo se liberta das suas culpas, dos seus pecados, dos seus crimes e chora convulsivamente.

VI – Contextos históricos – para os alunos de colégios e cursinhos
A chamada Guerra Guaranítica ou dos Sete Povos aconteceu por volta de 1750, envolvendo os índios guaranis, portugueses, espanhóis e o Tratado de Madri. A organização chamada Missão surgiu no seio da Igreja Católica, tendo por finalidade básica a tentativa de abrandar os avanços do protestantismo. As Missões envolvendo igrejas, escolas, enfermarias, foram implantadas na China, Índia, África, Américas, principalmente no Brasil.

VII – O Tratado de Madri
A capital do Reino Espanhol recebeu representantes do Vaticano que na época era Bento XIV, do Rei de Portugal João V, do Rei da Espanha Fernando VI. Esse tal de Tratado, acontecido em 1750, propunha que os portugueses entregassem a região do Sacramento para a Espanha. O espaço de troca seria os Sete Povos das Missões que ficaria com os Portugueses.

O grande problema, que o poder não pensou, é que os índios que estavam em solo brasileiro, pelo tratado, deveriam partir em direção do lado especificado como terras da Espanha. Agora, sem muita pressa, vamos voltar ao filme.

VIII – Final – simbologia
Os Jesuítas recusaram a decisão estabelecida pelo acordo. A fé religiosa armou os índios para lutar pela sua terra, pela sua permanência. A guerra acordou o desespero da selva. Os colonizadores lutando pela posse, pelo domínio, pela terra, pela extração do ouro e pedras preciosas. Na verdade, agiam como os garimpeiros atuais destruindo os territórios indígenas. Na igreja, diante do altar, ao lado do Jesuíta Gabriel, as crianças e as mulheres oravam palavras que atravessaram séculos e séculos. No combate, na guerra, Rodrigo Mendoza é ferido de morte, o seu corpo não tem mais resistência, mas, os seus olhos querem ver a profecia final. O Jesuíta Gabriel levando o Santíssimo Sacramento em suas mãos sai da igreja em procissão. O Santíssimo Sacramento é a nossa relação com Deus, é a busca da reconciliação, a vida pela fé, a transformação da existência. Rodrigo, morrendo, acompanha os passos do Jesuíta Gabriel, os tiros voando pelos ares atingem o padre que, tentando permanecer em pé, tomba com o Santíssimo sobre o seu peito. Os olhares se cruzam, Rodrigo observa o final de Gabriel; o Jesuíta com lágrimas nos olhos sente e se comove com a morte de Rodrigo. Um indiozinho segura o Santíssimo e corre em direção ao rio e ao futuro.

IX – A tristeza histórica
A guerra aconteceu no mês de janeiro de 1750. Ainda há lembrança da fé caminhando diante de poderes insensíveis, doentes, loucos em si mesmos. Depois da luta, pela voz que boia sobre as correntezas, 1511 guaranis fecharam os seus olhos e deixaram de existir.

Aos alunos que estão se preparando para os vestibulares, por favor, fiquem atentos, as notícias ainda estão cimentadas nas telas das nossas televisões, permanecem em nossas salas, e as vozes falam de terras indígenas, garimpeiros ilegais, fome, doenças, mortes, contaminação. Em suas redações, texto difícil de ser construído; no entanto, lembrem-se no instante do seu vestibular, ainda há sombras de 1750 em nosso presente, em nossa respiração, no fundo dos nossos olhos! Lembrem-se dessas pequenas observações e que Deus os proteja.

RECEITA

TORTILLA ESPANHOLA

Ingredientes: 2 ovos; 1 batata; 1 cebola picadinha; 1 pitada de sal; 1 colher de sopa de óleo.

Modo de fazer: Descasques as batatas e corte-as em fatias de 0,5 cm. Bata bem os ovos e tempere com sal. Em uma frigideira antiaderente, coloque o óleo para esquentar e doure as fatias de batata, isso vai iniciar o cozimento e deixa-las no ponto certo. Vá reservando. Na mesma panela refogue a cebola e acomode todas as batatas. Despeje os ovos batidos, feche a panela e deixe cozinhar em fogo baixo. Vira a tortilla e deixe dourar bem. Se quiser pode rechear com presunto e queijo ou como preferir.

Por Adriana Padoan