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quinta-feira 23 janeiro 2025
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Comilanças Históricas e Atuais – A humildade de Francisco de Assis

I – Apresentação
Em momentos delicados como esse que estamos enfrentando, um disparate histórico que consegue alterar as batidas dos nossos corações, resolvi falar de Franco Zeffirelli e o seu filme sobre Francisco de Assis: ”Irmão Sol e Irmã Lua”, um encontro entre a ideologia cristã com o império econômico erguido, muitas vezes, sobre a imagem de um ódio sem o mínimo sentido.

II – Franco Zeffirelli
Sua mãe, Adelaide Garosi, sentiu uma paixão descontrolada pelo comerciante de tecidos Ottorino Corsi, embora ambos fossem casados com pessoas diferentes. Dessa relação nasceu um menino forte, lindo, observador. Sua mãe adorava Mozart. No silêncio das noites, marcada pelo distanciamento da vida ouvia a opera “Idomeneo”, rei de Creta, mencionada nos primeiros livros da Odisseia de Homero. Uma área dessa opera, brotada no olhar sem dimensão de Mozart, chamada “Zefferetti Lusen Gheri”, levava Adelaide Garosi a cavalgar sobre as ondulações das nuvens passageiras. Quando foi registrar o seu filho fruto de um amor proibido, deu-lhe o nome de Zefferetti, mas por motivos nascido sobre a dúvida, a secretária do cartório cometeu um erro grave, escreveu na certidão de nascimento “Zeffirelli” e, de silaba em silaba o menino tornou-se uma realidade predestinada.

O cineasta foi criado por várias tias; passou a infância e adolescência em uma casa que só havia mulheres. As suas férias, juntamente com as tias, eram passadas em Toscana, onde aprendeu inglês e se apaixonou por teatro. Estudou arte e arquitetura e, na segunda Guerra Mundial lutou na Guerrilha da Resistência Italiana. Foi tradutor, diretor de teatro, diretor de ópera e, por fim, chegou ao cinema. Realizou vários filmes, que pelo engajamento com o classicismo entraram para a lista dos grandes trabalhos realizados pelas ideias, câmeras, direção e beleza; por esse motivo é considerado o pintor que dá brilho as histórias contadas em movimento.

III – O seu filme “Irmão Sol, Irmã Lua”
A sua preocupação nesse filme centraliza-se na juventude de Giovanne di Pietro Bernardone, chamado pelo pai e mãe, de Francesco, em homenagem a França, fornecedora de tecidos para a loja do senhor seu pai. O início do filme apresenta o jovem Francisco retornando da guerra promovida pelas cruzadas, um movimento marcado pela violência, o qual abandonara. A sua figura é a imagem de um homem que entendeu a realidade do mundo; viu as lágrimas escorrerem diretamente da alma, percebeu as batidas do coração tentando ocultar os rastros dos pés que transportavam a vida em direção ao destino pintado em mil cores.

Na chegada da noite anunciada, a doença passou por Francisco e assumiu a dianteira dos acontecimentos sem pedir licença. A febre abriu as chamas que aquecem o inexplicado, o tremor no corpo, as visões descendo pelas paredes do quarto; as alucinações, impostos pelo jogo da memória. O jovem isolado em si mesmo, lembrando dos momentos passados nas tavernas. O riso, a bebida, a música, a delicadeza da guitarra, a dança, as mulheres respirando os desejos nublados, a madrugada embrulhando as incertezas de um novo tempo.

O pai era um representante da burguesia, que entregara a vida ao comércio, ao lucro, a ganância. Dentro dele havia apenas o tilintar das moedas, o seu rosto e as suas atitudes pareciam o balcão de madeira da loja de tecidos. A mãe, um pano lindo pintado com tintas do lirismo, da poesia, da fé, porém, os seus verdadeiros sentimentos estavam trancados nas mãos da Idade Média.

Francisco, numa manhã conduzida pelo sol, levantou-se, subiu nos telhados da casa, para acariciar um pequeno pássaro, uma pontuação colocada por Deus, nos discursos silenciados pela época medieval. Andou pelos campos; sorriu ao decifrar o voo das borboletas, emocionou-se ao conversar com as flores; não conseguiu entender o aperto no peito ao entrar na igrejinha destruída de São Damião, encontrando um Cristo de olhar acentuado no meio dos escombros. A voz que veio de alguma paragem e a agonia que invadiu a sua essência localizada no além de sua própria sombra; a voz que invadiu a morada de suas ideias dizia: “Francisco, reconstrua a minha igreja”. Nesse instante a sua fé explorou e lhe implantou uma nova existência, os seus movimentos romperam com a burguesia da Idade Média simbolizada na imagem do pai.

As suas mãos despiram o seu corpo; entregando as roupas burguesas a seu pai e passando a viver com e em nome de Deus. Abraça a pobreza como quem aperta o universo sobre a sua alma, prega nas ruas, nas praças, nas margens dos rios. Procura seguir o evangelho e o caminho de Cristo. Procura entrar nos problemas de seus semelhantes, amou a natureza e todas as criaturas, as suas palavras formaram as bases de uma filosofia que construiriam o Renascimento; de seus lábios partiram a primeira revolução em direção ao Catolicismo Medievalesco.

Segundo os historiadores, foi num Domingo de Ramos, de 1212, que a Irmã Lua, Clara de Favarone foi procurar Francisco; permitiram que seus olhares ultrapassassem os limites prováveis, e a semente da Fraternidade das Pobres Damas, brotou da temperatura do chão.

Na segunda feira, dia consagrado a São Damião, Francisco observava a passagem das águas de um pequeno riacho. De repente, sem justificativa prévia resolve partir para Roma onde pretende ter um encontro com o Papa Inocêncio III, para lhe explicar as suas ideias, pensamentos gerados no amor, na caridade, na confraternização de toda humanidade que, de algum modo, possui esperança e fé. Os guardas trataram-no com descaso, o bispo dá ordem para prendê-lo sobre a acusação de heresia. O seu discurso ao Papa é amparado pelas palavras de Jesus e o contraste entre a riqueza, a pompa, o luxo e a pobreza se estabelece diante do olhar dos possuidores e dos despossuídos, fazendo com que o Papa Inocêncio III reconheça que o salvador da Igreja, daqueles tempos estava diante de seus olhos.

Inocêncio se levanta e caminha na direção do maltrapilho Francisco de Assis; ajoelha-se e beija-lhe os pés; abençoa-o e o liberta para viver o mundo banhado pela humildade, pela fé, sabedoria em nome de um amor que os beija-flores entenderam há muito tempo.

O cineasta Zeffirelli termina o filme fazendo um encontro entre Francisco, o sol e a lua, não deixando de apontar a realidade que assolava o mundo na década de 70, ou seja, “Irmão Sol, Irmã Lua”, é um manifesto contra o horror das guerras, das infinitas formas de violentar o outro e a natureza. No momento em que o filme foi lançado havia uma enorme ferida pairando sobre o olhar assustado de um mundo cabisbaixo, triste, abalado, isto é, era o preciso momento que acontecia a Guerra do Vietnã, matando, destruindo, violando os direitos de um globo girando sem rumo, procurando entender as ações do gênero humano. Hoje, com toda certeza Zeffirelli colocaria Francisco caminhando, de pés no chão, socorrendo as crianças abandonadas nas ruas de um país chamado Ucrânia, por isso as palavras de Francisco continuam presentes em todas as divisões dos homens e da humanidade.

Receita
SANDÁLIA DE SÃO FRANCISCO

Ingredientes: 300 g de peito de peru picado; 300 g de mussarela ralada no ralo grosso; 1 copo requeijão; 2 colheres de sopa de queijo parmesão ralado no ralo fino; 1 envelope de fermento biológico em pó; 480 ml de água morna; 1 colher de sopa de açúcar; 1 colher de sopa de tempero completo (sal, alho e cebola); 60 ml de azeite; 750 g de farinha de trigo; 1 ovo ligeiramente batido; orégano a gosto

Modo de Preparo: Misture em uma tigela o peito de peru picado, a muçarela ralada no ralo grosso, o requeijão, o queijo parmesão ralado no ralo fino e reserve. Em uma tigela coloque o fermento, a água morna e mexa até dissolver o fermento. Adicione o açúcar, o tempero completo, o azeite e misture bem. Junte aos poucos, mexendo sem parar, a farinha de trigo. Transfira a massa para uma superfície lisa e enfarinha. Sove bem. Coloque mais farinha de trigo até a massa soltar completamente das mãos. Volte a massa para a tigela, cubra com um pano e deixe descansar por mais ou menos 40 minutos ou até dobrar de tamanho. Coloque novamente a massa em uma superfície lisa e enfarinhada. Abra com as mãos e depois com um rolo até ficar em um formado oval. No centro da massa aberta distribua todo o recheio no sentido do comprimento, deixando um espaço nas pontas (mais ou menos 5 cm no comprimento e 10 cm nas laterais). Com uma faca corte a massa fazendo tirinhas por toda a lateral onde não tem recheio (tiras de mais ou menos 2 cm). Não corte a massa que está nas pontas do comprimento. Dobre essas pontas para cima do recheio. Pegue uma tira de cada lado e vá colocando sobre o recheio trançado. Corte o excesso de massa se for necessário. Coloque o pão numa assadeira enfarinhada. Pincele ovo sobre toda a superfície do pão, polvilhe orégano a gosto e deixe descansar por 20 minutos. Leve ao forno pré-aquecido a 200°C por 25 minutos ou até dourar.

Por Adriana Padoan