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sexta-feira 15 novembro 2024
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Comilanças Históricas e Atuais – A Guerra de Canudos: a dor, a seca e a poesia

I – O nascimento do filme
A câmera de cinema abre os seus olhos verdes, azuis, vermelhos, amarelos, retirados do arco- iris que paira sobre os acontecimentos históricos. A câmera pensa em planos que sobem pelas montanhas, dispara o corpo em movimentos, ramifica personagens e, no silêncio vazio das madrugadas, trabalha a montagem, parindo filmes que serão batizados, sacramentados e amados.

II – Paixão
As ideias partem de um ponto transbordante de paixão. Foi assim que Sergio Resende, diretor de cinema, encontrou a obra literária “Os Sertões”, escrito por Euclides da Cunha. O livro estava dormindo numa biblioteca, Sergio o despertou, acariciou-o, percebeu o enorme universo significativo, o resgate da história plantada em terra e sangue, o imaginário solto e girando no calor da seca. Embora as horas estivessem no século XX, a terra gretada, rachada, mostrando sua chaga fendida pelo sol, ainda estava lá, no mesmo solo.

III – Custo e arte
O coração de Sergio Resende jogou as palavras de Euclides na boca da câmera; o sonho de filmar a tragédia pintada pela seca invadiu o seu peito, porém, como vários projetos que nascem na vida, sua realização cinematográfica era caríssima. Era preciso achar um caminho, uma saída nas águas do mar fechado.

IV – A busca
Sergio leu a obra “Os Sertões” infinitas vezes. Por fim, obedecendo a inspiração filmou a história de “Lamarca” representado por Paulo Bette. O filme foi um sucesso, as bilheterias trabalharam dia e noite. O lucro obtido com o filme “Lamarca” o financiou para a realização do longa “A Guerra de Canudos”. No início Sergio viajou dias e dias pelos sertões a procura de um local que sustentasse a ideia de canudos, plantada em sua cabeça, um cenário próximo na aparência dos sonhos galopantes, do espaço histórico, quente e abafado. Encontrou um lugarejo chamado Junco do Salitre, perfeito para se erguer a respiração agoniada de Canudos na cinematografia.

V -O apoio do exército
O cineasta ergueu o cenário tijolo por tijolo com ajuda do exército nacional. As forças armadas emprestaram-lhe os canhões, fuzis e companhias de soldados para a figuração. Sergio escalou o ator José Wilker para viver o personagem Antônio Conselheiro; Paulo Bette atuou como líder da família Lucena, ao lado de Julieta Severo; Claudia de Abreu se entregou à personagem Luiza, uma metamorfose dos conflitos causados pela seca.

O filme, em seu todo, transcorre no ano de 1893. Realizado, ganhou preferencias jamais pensadas ou refletidas. Ele foi dividido em quatro episódios, transformando-se em uma minissérie e levada ao ar pela TV Globo.

VI – Antônio Conselheiro
Antônio Vicente Mendes Maciel, nasceu em 1830, na Nova Vila de Campo Grande. Foi professor primário, pedagogo dedicado e emotivo. Em 1857, casou-se com Brasilina Laurentina de Lima. Em 1861, flagra sua mulher em traição conjugal com um sargento da polícia, em sua residência na Vila do Ipu Grande. Envergonhado, humilhado, derrotado, sai pelo sertão realizando pregações religiosas a quem quisesse ouvi-lo.

Na condição de líder religioso arrasta multidões de famintos, desencantados, desesperados. Em 1896, funda o Arraial de Monte Belo, Canudos, chegando a uma população de 25 mil pessoas. Conselheiro falava em nome de Deus e era opositor da República, por isso, sonhava com o retorno da monarquia.

VII – A população
Eles vinham de longe, da alma mais escondida do sertão. A seca prolongava pela extensão da vista. A fome corria as veias do corpo, a miséria era uma espécie de esperança que já nascia morta, a violência invadia os restos de músculo e a consciência, o abandono pelos políticos era alimento temperado com o descrédito e o medo.

Antônio Conselheiro acreditava que havia sido enviado por Deus para acabar com as diferenças sociais e com os pecados republicanos, ou seja, o casamento civil, a cobrança de impostos, a injustiça contra o povo. A sua posição gerou conflito que opôs o presidente Prudente de Moraes, o exército brasileiro, surgindo uma guerra sem justificativa nacional.

VIII – A visão do cineasta
No filme de Sergio Resende uma família sertaneja se divide quando a filha mais velha, filha Luiza se recusa a acompanhar os pais na peregrinação liderada pelo conselheiro. Luiza foge e se torna prostituta, passando a viver de forma independente. Sua família vai para Monte Belo, região de Canudos.

Canudos foi o nome dado pelos inimigos referindo-se aos bambus que cresciam em suas terras em formato de pequenos canudos. O local era uma fazenda abandonada pertencente ao Barão de Cana Brava.
Houve quatro expedições militares para combater os esfomeados da região de Canudos, as quatro foram derrotadas. Após 11 meses de combate, a guerra chegou ao seu fim. Mais de 25 mil sertanejos, seguidores de Conselheiro foram massacrados. Cinco mil soldados não retornaram as suas casas e o arraial foi completamente destruído.

Os vencedores cortaram a cabeça de Antônio Conselheiro como se fosse um troféu. Correram as praças públicas das cidades nordestinas expondo a cabeça de um homem que, por muitos anos, distribuiu fé, alimento, casebres, e esperança de derrotar os abusos da República.

A história poética em processo
Ele era apenas um homem.
A fome do povo estava colada em seu rosto.
Ele pregava, na terra seca, a voz de Cristo.
Tornando-se o símbolo da monarquia
Enfrentando o Golias republicano.

O Nordeste era filho da crise econômica.
Neto da sociedade falida, sem vida.
Os latifundiários, homens milionários
Preferiam não produzir o alimento sonhado.
A Nação brasileira decidiu parar:
De sonhar.
De idealizar.
Viver.

A cabeça de Antônio Conselheiro
Viajando pelas praças mudas.
Era o documento da violência.
Era a fotografia da barbaridade.
Era o tiro de canhão causando o silêncio.

Os soldados tinham fuzis
Conbrain
O modelo era um número tosco
1974
O calibre, cheiro de morte tinha, 11 mm
O sangue corria devagar.
Na secura da terra.

O filme “A Guerra de Canudos”
Apresentou o início da loucura.
A animalização do homem.
O profeta que não saiu de livros
Nasceu na realidade
Vamos à luta.
Vamos assistir a covardia. O medo.
A destruição!

O amanhecer em Canudos.
A pregação das palavras de Jesus.
O plantio do milho.
O bolo, a pamonha, o curau e o fubá.
As folhas dos pés de feijão
Cantiga na passagem do vento
A batata acordando a terra.
O país vivendo histórias infantis
Narradas por adultos.

O sertanejo, como disse Euclides
É a metáfora geológica da nação
O índio
O europeu
O negro
A pedra sobre o solo
O mandacaru, o imbuzeiro
Silêncio! Ninguém quer ver!

RECEITA
MOQUECA DE PEIXE A MODA BAIANA

INGREDIENTES: 600 g de peixe; 2 Tomates; 1 Cebola; 1 xícara (chá) de coentro; 1/2 pimentão vermelho ou amarelo; 1/2 xícara (chá) de azeite de dendê; Suco de 2 limões; 1/2 xícara (chá) de azeite de oliva; 500 ml de leite de coco; 1 dente de alho amassado para refogar; 4 dentes de alho amassados; Sal a gosto; Salsinha e cebolinha; 300 g de camarão fresco e limpo (opcional)

MODO DE PREPARO: Num liquidificador, bata metade das folhas de coentro, os 4 dentes de alho, ½ tomate, ½ cebola, o suco dos 2 limões e sal até formar uma pasta. Em uma travessa, despeje a pasta sobre os peixes, cobrindo todas as postas. Cubra com plástico filme e deixe descansar na geladeira por 30 minutos. Enquanto isso, pique os pimentões e o restante da cebola e tomate em rodelas. Coloque as postas numa panela e cubra com a pasta da marinada. Cubra com os pimentões, cebola e tomate e leve ao fogo médio. Regue com azeite de oliva e azeite de dendê. Quando levantar fervura, abaixe o fogo, tampe a panela e deixe cozinhar por mais 40 minutos. Durante o processo, regue a moqueca com o próprio caldo, sem mexer muito para não desmanchar o peixe. Adicione o leite de coco e cozinhe por mais 2 minutos. Acrescente o camarão cru e deixe cozinhar por mais 5 minutos. Desligue o fogo, decore com folhas de coentro e sirva.

por Adriana Padoan