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segunda-feira 23 dezembro 2024
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Comilanças Históricas e Atuais – A aurora da vida

Esta semana, em uma noite qualquer, sonhei com o filme “2001, Uma Odisseia no Espaço”, do diretor Stanley Kublic. O meu sonho, povoado de imagens em movimento, de fragmentos do macrocosmo criado pelo cineasta, levou-me a escolher a odisseia de 2001, como assunto desse texto publicado no Diário de Taubaté, semanalmente, sobre filmes que marcaram a história do cinema e da culinária mundial.

Sabemos que a Odisseia de Kublic completará, no mês de abril, 54 anos. Considerando esse tempo e a permanência do filme até os dias atuais, constatamos que a ideia geradora do diretor despertou a atenção de milhares de críticos especializados, centenas de trabalhos científicos foram produzidos na tentativa de decifrar símbolos e enigmas nascidos sob o olhar penetrante das filmadoras repletas de grandes propósitos comunicativos. Todas essas visões nos levavam a uma certeza clara e transparente, isto é, o filme de Kublic reorganizou a técnica que envolve a história da cinematografia, levando e acordando milhões de adoradores das salas de projeção no mundo inteiro.

Portanto, esse meu texto é e será muito simples diante da produção da crítica especializada, enfocando esse delírio sonambúlico e real da arte produzida por Kublic.

I – O roteiro
O roteiro do filme foi escrito na tapeçaria de um tempo muito longo, pelo próprio diretor Kublic e o escritor Arthur C. Clarke, um intelectual destacado pela elaboração de romances e contos rotulados de ficção científica. O ponto de partida, a placenta literária que impulsionou a realização da nova odisseia se encontra no conto de Clarke “A Sentinela”.

Kubric caminhava pela sala do seu escritório, escreve, para, respira fundo, apaga o que foi escrito, corrige, aumenta ou diminui o texto produzido. Clarke escreve, pensa, questiona a física, a matemática, a filosofia, o misticismo, continua escrevendo, gerando verbos criados por Deus e, alguns, pelo Diabo. Clarke termina o texto, supera-se, apresenta o produto criado a Kublic. Ambos conversam, discutem, analisam e, de repente, tudo se transforma, novas ideias surgem, e o trabalho recomeça contornando tudo e o nada.

II – O namoro e a paixão
“2001, Uma Odisseia no Espaço” parte de um namoro com o texto “Odisseia de Homero”, um poeta grego do século 9 a.C..

Na Odisseia grega, Ulisses sai de sua casa, em Itaca, dirigindo-se ao mar; entra em seu navio, uma espécie de nave marítima da época, perseguindo a rota que o levará a Troia onde uma guerra acontece.

No desenvolvimento do conflito, Troia é uma cidade cercada por altas muralhas. O problema é vencer as muralhas, destruí-las, abrir fendas em sua estrutura. O exército de Ulisses constrói um enorme cavalo de madeira, colocando-o em frente aos portões da cidade. No interior do cavalo está o exército de Ulisses.

O cavalo foi colocado à noite, enquanto a lua dançava ciranda com os astros adolescentes. O rei de Troia, ao amanhecer, interpreta a presença do cavalo, como presente de um rei anônimo e amigo; ordena que o empurre para dentro da cidade.

À noite, os soldados saem do cavalo e derrotam o exército de Tebas, Troia foi conquistada. Ulisses, vencedor, retorna a Itaca de navio, enfrentando mares calmos e violentos, monstros marinhos, ciclopes, o canto das sereias, o silêncio e o tormento, os mistérios do mar explicando a tortura e os destinos, embalados com papel feito de mistérios, dentro de cada ser humano.

III – O filme de Kublic
O filme “2001, Uma Odisseia no Espaço” foi lançado em 02 de abril de 1968. O filme se desenvolve em duas horas e vinte e oito minutos, dos quais oitenta e oito minutos não possuem sons, diálogos, risos, murmúrios, fato que caracteriza a base de um processo, de uma revolução baseada no ideal de inovação técnica do cinema.

IV – O filme – O rosto arrebatador da Aurora do homem e do universo.
A palavra aurora representa a energia da poesia, a fração temporal que permite o amanhecer, o renascimento do sol, da luz, da claridade sobre o princípio de todas as vidas; é uma deusa mitológica, á a presença no profeta Isaias e nos Salmos, fatias mergulhadas no sabor do chamado Velho Testamento Bíblico. De certa forma, a odisseia de Kublic trabalha a ideia do velho e do novo, semblantes de uma face refletida nas águas que escorrem de uma fonte apocalíptica e permanente.

VI – Odisseia e aurora
A câmara fixa, plantada no chão. O sol, ainda como uma curva, sobre a savana africana. O sol, a terra, a lua, amantes de uma só atividade, ou seja, nascer, iluminar, referenciar, morrer.
Um grupo de primatas, sem linguagem, movendo-se através de gestos repetitivos, alimentam-se de larvas, convivendo com antas e leopardos. Os indiferentes e os predadores, a inofensividade ao lado da brutalidade investida na sobrevivência. Um se isola, outro se agrupa, há pulos, grunhidos, corridas, subidas e descidas nos morros.

Um leopardo pula das pedras e destroça um primata, provocando medo inconsciente e desespero inexplicado. Um grupo rival de primata os ataca. A luta se justifica pela comida e pela água de um estreito riacho. É um dos primeiros conflitos documentados pelas lentes de uma câmera. No final, como tudo na vida, há um vencedor e um perdedor. O grupo perdedor, na chegada da noite, busca a proteção de uma caverna. Os sons da escuridão são indecifráveis, os raios desenham figuras estranhas no céu, uma sensação estranha assenhora-se dos corpos. Os machos procuram as fêmeas, sem declarações, beijos, sem linguagem, o corpo do macho internaliza-se no corpo da fêmea, grunhidos fortes, altos, gravam-se nas paredes da caverna.

Ao amanhecer, depois de uma extensa viagem sem portos, os primatas despertam-se e percebem a presença de um monolito cravado no coração da terra.

Aproximam-se vagarosamente. Olham a frente, os lados, o corpo. Tocam-no levemente. Gritam. Sabem que aquela presença é estranha e veio de cima. Um macaco se isola, localiza uma carcaça que fora devorada há tempos; segura o osso do fêmur; como uma criança, bate em outros ossos, com o osso que está na mão; os ossos que receberam os golpes partiram-se. O primata bate novamente, de novo, mais uma vez, e percebe que para espancar com mais força, é preciso ficar em pé. O primata em pé, ereto, veste o terno de Freud, é uma costura sobre nossas faltas existenciais, é a fecundidade, e o poder que doutrina a sexualidade.

O grupo inimigo retorna para um novo conflito; o primata descobridor do osso-ferramenta, do osso-arma, mata o líder da oposição e vence o conflito; no desenvolvimento do processo evolutivo, mata uma anta, dando origem ao primata caçador. Pela primeira vez o público vê o primata caçador alimentando-se de carne. A poesia nasce em cada mordida, o corpo desatinado se transforma, o cérebro avoluma-se. Esse primata se isola nas montanhas, os grunhidos são mais suaves pois a linguagem está nascendo. Ele agarra o osso e o lança no espaço, fazendo giros de malabarista, e a noite chega encontrando o medo amenizado e uma sensibilidade nascendo do chão para o corpo, do corpo para o cérebro, e tudo no primata estava ereto.

A humanidade aos olhos de Kublic e Clarke surgiram e evoluíram usando a defesa, a luta pela sobrevivência, o poder do domínio pela violência.

O diretor realiza, neste instante, um giro na câmera, avançando quatro milhões de anos no enredo base da narrativa, técnica nunca usada antes. O osso jogado pelo primata em direção ao espaço, girando, girando, penetra nas teorias darwirnianas e freudianas; cada giro permite o surgimento de um estudo de consciência, semiconsciência, inconsciente. O osso dança no espaço, transformando-se numa nave espacial que se assemelha ao osso, princípio da supremacia; da ereção, túnel do psíquico, e um fato, todos revelando e datando aonde o primata havia chegado em quatro milhões de anos. A nave, escorregando-se por um espaço destituído de gravidade, segue em direção a Estação Clavius, na lua, onde um fenômeno estranho acontecera.

Na Terra, em seu eterno giro, matam Martin Luther King, sangue derramado nas paredes de um hotel; Bob Kennedy, candidato a presidência, leva um tiro na cabeça, as suas ideias voaram gerando milhões de borboletas, no Vietnan a morte toma café nos balcões das padarias, os hippies rolavam um pílula anticoncepcional no meio da avenida, o musical “Hair” chacoalhava as visões estáticas de um mundo antigo e a guerra fria corria o corpo do planeta como um feto indecifrável, rodopiando os corredores escuros da humanidade, mas, no entanto, o homem não havia pisado o solo lunar.

O filme de Kublic, a nave pisa o solo lunar, os astronautas usam roupas espaciais imaginárias, caminham em direção a outro monolito, andando com passos imaginários em direção ao objeto cravado na terra. Aproximam-se devagar, como os antigos primatas, tocam o bloco de pedra suavemente, ouvindo um som ensurdecedor vindo de júpiter, talvez emitidos pela vida, que poderia existir no distante planeta.

Dezoito meses após a viagem à lua, a nave Discovery One, comandada por um robô chamado Hal, incapaz de errar, humano, um representante perfeito da inteligência artificial, acompanhado dos astronautas Dave Bowman e Frank Poole.

O robô Hal, ao passar das horas, inicia um lento processo de desenvolvimento, seja no mundo das ideias, seja no mundo emocional.

Hal mente, ao dizer que existe um defeito na estrutura da nave mãe, afirma que é um erro humano e obriga os dois astronautas a entrar numa capsula e deslocar-se em direção à nave mãe. Desconfiados, os dois astronautas resolvem desativar o robô. Na imensidão modulada pelo silêncio, Hal, o robô desativa a tubulação de ar existente nas roupas de Frank e seu corpo é desligado, abandonado na imensidão do espaço sem fim.
David consegue voltar à nave. Hal recusa-se a abrir a porta da nave.

Arrisca a sua vida ao aproximar da nave, operando manualmente uma única e possível porta de entrada. Dave consegue entrar, invade a sala de computação, iniciando o processo de desprogramação de Hal. O robô se desespera, suplica, pede perdão, implora, morrendo e cantando uma canção que fala: amor por Dayse, a sua loucura nos céus e se desenvolveu em Dayse, fala de carruagem, fala da beleza de Dayse e, lentamente morre, isto é, desprogramado.
Dave continua sua jornada, observa a grandeza do universo e a pequenez dos significados, da compreensão. A velocidade da máquina, a profusão de cores, o olhar do astronauta, velocidades e conflitos, cores desfigurando e as confissões, desesperos, entendimento, e a pressa que determina a vida. A tranquilidade chega desafiando o universo.

A chegada a um cômodo de uma casa num espaço indeterminado, a pouca decoração, alguns móveis em estilo renascentista, do tempo de Michelangelo e Leonardo da Vince. Dave caminha, vê-se a si mesmo com sua roupa de astronauta, parece a duplicidade do infinito, observa uma mesa reta onde tem um idoso jantando. Em câmera lenta, se volta a direção onde está Dave, e o idoso é o próprio astronauta. O homem velho quebra uma taça tombada no chão, ritual do casamento judaico. Há uma cama reta, o idoso aparece deitado, sua imagem reflete o cenário das coisas, o tempo e a morte; ao lado dessa cama, encontra-se o monolito. Como se fosse o final de todas as épocas, o moribundo aponta o dedo indicador ao monolito, uma espécie de réplica da pintura de Michelangelo no momento que Deus cria o Adão. Dentro do monolito há um feto, olhos abertos, mãos proféticas, movimentos que acompanham o giro dos planetas. Silêncio. Ele pode ser a nova geração aproximando-se do nascimento; pode ser o Deus presentificado, o retorno de Jesus ou o pensamento do primata no exato segundo que atirou o osso ao espaço.

Cuidado!
Uma flor acabou de nascer
Não houve mortes
E a odisseia transformou-se
Em certeza e esperança.

Receita
BOLO SALGADO DE FRANGO
Ingredientes: 4 colheres (sopa) de azeite;1 cebola picada;3 xícaras (chá) de peito de frango cozido e desfiado;1 tomate picado;1 lata de milho verde escorrido;1 cenoura ralada; 1 pote de requeijão; 250 gs de queijo ralado; 1 cabeça de alface; sal e cheiro-verde picado a gosto;1 pacote de pão de forma sem casca (350g);1 xícara (chá) de creme de leite; Batata palha e tomates-cerejas para decorar.
Purê: 2 colheres (sopa) de manteiga; 600g de batata cozida e amassada; 1/2 xícara (chá) de creme de leite; 250 g de maionese, sal a gosto

Modo de preparo
Para o purê: aqueça uma panela com a manteiga, em fogo médio, adicione a batata cozidas e amassadas, o creme de leite, sal e cozinhe, mexendo até ficar homogêneo, deixe esfriar e misture a maionese. Reserve.
Aqueça uma panela com o azeite, em fogo médio, e frite a cebola até murchar. Adicione o frango, o tomate e refogue por 3 minutos. Acrescente o milho, sal, cheiro-verde e refogue por mais 5 minutos. Misture o requeijão. Desligue e deixe esfriar.

Para a montagem, em uma fôrma de bolo inglês forrada com papel-alumínio, faça uma camada de pão de fôrma, passe o purê de batata, coloque o alface picado, a cenoura ralada e o queijo ralado. Faça outra camada de pão de forma e agora coloque o frango. Repita as camadas terminando em pão e reservando parte do purê para cobrir. Leve à geladeira por 2 horas. Retire, desenforme sobre uma travessa e cubra todo o bolo com o purê restante, alisando com uma espátula. Decore com batata palha e tomates-cerejas antes de servir.

Por Adriana Padoan