EUA e Portugal são apontados como os principais destinos desses brasileiros. Outros países, como Reino Unido e Japão, também têm recebido fluxo crescente
Mesmo com as inúmeras restrições à entrada em vários países por causa da pandemia, o brasileiro volta a tentar a vida fora do país. Dados da Polícia Federal indicam que as fronteiras brasileiras registraram 131,5 mil movimentos de saída de brasileiros que não voltaram entre janeiro e maio de 2021. Em um país em crise econômica e com desemprego recorde, a falta de perspectiva sobre o futuro parece ser a razão do novo movimento emigratório brasileiro.
O Sistema de Tráfego Internacional (STI) é a plataforma da Polícia Federal onde são registrados os movimentos de entrada e saída de pessoas no Brasil. Esse banco de dados é alimentado a cada vez que brasileiros e estrangeiros passam pelo controle migratório da PF em aeroportos, portos e fronteiras terrestres.
Em 2021, o sistema volta a mostrar um fenômeno que sempre aparece em momentos de desesperança. Desde janeiro, todos os meses têm saldo negativo na movimentação de brasileiros. “Estamos vendo a retomada de um fenômeno das décadas de 1980 e 1990. O brasileiro acha que vai ter trabalho e tenta a sorte em países como Estados Unidos e Portugal”, diz o coordenador estatístico do Observatório das Migrações Internacionais (OBMigra) e pesquisador do IBGE, Tadeu Oliveira.
EUA e Portugal são apontados pelo pesquisador como os principais destinos desses brasileiros. Outros países, como Reino Unido e Japão, também têm recebido fluxo crescente.
Oliveira nota que o movimento visto neste ano retoma o fenômeno que começou em meados da década passada. “Com a recessão vista em 2015 e 2016, muitos saíram do Brasil. É principalmente a pessoa de classe média baixa que, sem oportunidades por aqui, tenta a vida no exterior”.
A saída vista neste ano, porém, parece ter uma diferença: a dificuldade para entrar nos países. Com a pandemia, várias nações adotaram medidas de restrição à entrada de brasileiros. Isso faz com que o esforço para deixar o Brasil seja ainda maior – e parece que muita gente está disposta a enfrentar essa dificuldade extra.
Em 2021, foram registrados 437 mil movimentos de saída de brasileiros de janeiro a maio, mas 305,5 mil voltaram dias ou semanas depois. Assim, o saldo líquido acumulou a saída de 131,5 mil pessoas. Ou seja, praticamente um a cada três que embarcou rumo a outro país não voltou para casa. Em 2019, 115,4 mil deixaram o Brasil nos mesmos cinco meses. A proporção, porém, era muito diferente: só um a cada 29 não voltou.
A saída recente de brasileiros só foi interrompida em 2020, no auge da pandemia. “No ano passado, os países se fecharam e o Brasil seguiu obrigado a receber os próprios brasileiros mesmo com a pandemia. Isso gerou o fluxo positivo, com o retorno de muita gente”, explica o coordenador do Observatório das Migrações.