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sábado 30 novembro 2024
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Coluna Espírita – Terapia de Vivências Passadas

• Rogério Miguez – São José dos campos/SP
Uma das providências de Deus para nos ajudar a bem conduzir as reencarnações é o provisório esquecimento do passado. Cientes desta dádiva divina, deveríamos aceitar esta determinação, e, entregarmos ao tempo o trabalho de nos tranquilizar diante das dificuldades inatas que não encontramos imediata explicação.
Infelizmente, este parece não ser o caso. Vemos com frequência, questionamentos sobre o tema dentro do meio espírita, justificando deste modo, a busca por qualquer proposta sinalizando a recuperação de nosso equilíbrio psíquico, através da recordação destas vidas.
Entre estas propostas temos a Terapia de Vivências Passadas – TVP. A técnica viabiliza um mergulho do Espírito, quando reencarnado, em seu passado, na tentativa de recolher informações explicando as razões de conflitos atuais. Munidos destas respostas, acredita-se poder superá-los. Entretanto, os envolvidos no fato passado que ocasionou e inibição de agora, serão também conhecidos. Como sabemos que as famílias, de modo geral, são constituídas de Espíritos que se relacionaram no passado, imaginemos as consequências se descobríssemos que nossos familiares e amigos estiveram envolvidos diretamente na causa de nosso infortúnio presente?
O descortinamento do passado não foi incentivado pelo Espiritismo, embora tenha sido prevista a sua possibilidade, pois se a Doutrina se esmera – e alcança este objetivo – em demonstrar a utilidade e a necessidade do esquecimento do passado, qual seria a razão de sugerir métodos para se recuperar a memória de vidas anteriores?
Em O Livro dos Espíritos (1): “Não pode o homem, nem deve, saber tudo. Deus assim o quer em Sua sabedoria”. Este ensino seria suficiente para nos aquietarmos. E mais, se a posição doutrinária era esta em 1857, data da publicação do livro, já teria mudado neste século e meio? A Humanidade terrena avançou tanto assim para desconsiderar esta sábia diretriz divina? Adquirimos segurança íntima para nos vermos face a face com o nosso conturbado passado?
A Doutrina orienta a tranquilizarmo-nos diante da dificuldade íntima, aguardando para, em futuro próximo, obter o total esclarecimento da situação. Todavia, tudo indica ser a posição espírita insuficiente, pois cada vez mais o tema é discutido dentro da casa espírita, como se fosse dever do centro prestar esclarecimentos profundos sobre esta técnica não espírita.
Pelo fato da Doutrina ensinar o princípio da reencarnação, consequência necessária da Lei de Progresso, como concluir que deveria também abrigar o trabalho de terapeutas para tentar desvendar estas vidas?
Observemos agora o argumento de que ninguém é obrigado a sofrer, deste modo seria lícito procurar qualquer recurso para se livrar da causa da aflição. Paulo advertiu: “tudo me é permitido, mas nem tudo convém (1 Coríntios 6:12)”. Somos senhores de nosso livre-arbítrio, mas, cientes estamos: a semeadura de agora determinará a colheita futura. E mais, na esteira do raciocínio de que ninguém é obrigado a continuar sofrendo, pode se esconder a tese da eutanásia e dos defensores do suicídio, ambos graves atentados contra o bem maior: a vida.
Por qual a razão se contesta o princípio do esquecimento do passado, ou seja: há uma limitação psicológica ou física, uma inibição, um trauma, um medo inato, entre tantos outros exemplos a citar, e entende-se estar a raiz do problema no passado; por outro lado, embora aceitando o esquecimento como lei divina, desejamos uma resposta e solução para o nosso incômodo agora! Seria razoável esta posição espírita? Seria a nossa fé raciocinada insuficiente para nos tranquilizar? O aprendizado da Doutrina é incapaz de trazer a alegria às nossas vidas permitindo conviver com, ou mesmo superar os nossos conflitos interiores?
Conforme ensina o Espiritismo, muitos pedem, antes de reencarnar, cônscios de que não se recordariam claramente desta escolha, esta ou aquela limitação, para o próprio bem. Ao solicitarmos, percebemos que precisávamos deste testemunho, havia motivos, por outro lado, se nos foi imposto antes de reencarnar, tem o mesmo efeito, estou sendo rebelde às determinações divinas, sempre educativas, jamais punitivas. Ademais, o espírita está informado sobre a inexistência do acaso, portanto, não há sofrimento sem causa justa, pode ser uma expiação, uma prova, ou ambos. Na dúvida: Oração e Vigilância.
Se esta técnica fosse absolutamente necessária para bem viver, como fizeram os antigos, quando superaram as suas limitações e daqui saíram vitoriosos diante de si mesmos? A Humanidade e os Espíritos, de modo geral, são os mesmos. Se alcançamos vitórias no passado, sem a TVP, qual a razão de não podermos repetir a receita de sucesso empregada anteriormente?

A Divina providência sugere: leitura, em momentos de crise, de uma mensagem destes livros espíritas tão bem escritos, é como o refrigério da alma, da alma em sofrimento, talvez dilacerada pelas dúvidas e agonias atrozes, mas sempre capaz de se superar e vislumbrar novos horizontes; uma conversa mental sincera com os guias espirituais, é opção válida para trazer paz e tranquilidade em momentos de suprema revolta ou desânimo; o esquecimento de nós mesmos em contato com o sofrimento alheio, pois quando nos ocupamos da dor do próximo, a nossa pode diminuir ou mesmo desaparecer, por encanto.
Há recordações espontâneas de vida(s), entretanto, este fato é uma condição de exceção, com um fim útil, talvez previamente acertado no plano espiritual e permitido por Deus.
Lembremo-nos da bondade de Deus, dos recursos oferecidos. Podemos superar ou conviver com as nossas barreiras ou limitações, sejam elas quais forem, pois Ele não dá fardo maior para se carregar do que podemos suportar.
Experimentemos de hoje em diante esta variante: Trabalho, Vigilância e Paciência – TVP, quem sabe reencontraremos a nossa paz interior tão desejada.
1 KARDEC, Allan. O livro dos espíritos. FEB Editora, 1987. q.392