• Ricardo B. de Oliveira – Juiz de Fora/MG
Harold Kushner, teólogo judeu e influente escritor norte-americano, escreveu um livro intitulado Quando coisas ruins acontecem às pessoas boas.
Essa obra surgiu após longas reflexões do autor, motivadas pela desencarnação do filho de 14 anos, vítima de leucemia aguda: como entender uma divindade, criadora do Universo, geratriz do amor e da misericórdia que permite que doença tão cruel ceife a vida de um jovem inocente, penalizando toda a família, incluindo o pai, rabino honesto dedicado às coisas espirituais?
Em suas meditações, concluiu o autor que só há uma justificativa para fato tão lamentável: Deus não possui todo o poder e, portanto, não pode impedir o mal e o sofrimento.
O raciocínio acima pode ser aceitável para quem desconhece a lógica da reencarnação, mas jamais para aqueles que sabem da realidade das vidas sucessivas.
Lamentavelmente autores espíritas, desencarnados uns, encarnados outros, insistem na tese de que mortes acometendo pessoas inocentes podem se dar sem vinculações cármicas com o passado.
Se assim fosse, Deus não seria absolutamente justo e bom, ao permitir sofrimentos gratuitos, o que contradiz com as ponderações apresentadas por Kardec nos primeiros itens de O Livro dos Espíritos.
Se tal linha de reflexão fosse correta, de duas uma: ou Deus não pode impedir atitudes cruéis e injustas, ou pode e não impede porque não quer. Na primeira assertiva, Deus não seria detentor de todo o poder, e na segunda, não seria soberanamente bom e justo.
Esse tipo de raciocínio destrói toda a linha de pensamento espírita no que concerne ao determinismo da morte apresentado por nosso codificador e referendado por diversos Espíritos por intermédio de Chico Xavier. Estaríamos todos nós à mercê de forças cegas, mortos por obra do azar ou do acaso. Existências programadas por anos a fio seriam interrompidas simplesmente porque o cidadão em determinado dia de sua vida encontrou-se com o bandido, no lugar errado e na hora errada. Isso fica a dever ao bom senso e à lógica kardequiana.
Examinando as mortes por homicídio, esses confrades alegam que o mal não é programado na escolha das provas e, portanto, as desencarnações que se dão por esse gênero de desencarnação não deveriam se dar.
Ora, desencarnações violentas podem se verificar de formas diversas. Se, na última hora, o homicida em potencial desistisse do crime, ainda assim a lei se cumpriria, através de um acidente, por exemplo.
Chico recebeu dezenas de mensagens de jovens que desencarnaram de forma trágica. Em nenhuma dessas psicografias há referência a desencarnações fortuitas, resultado de acidentes de percurso. Pelo contrário, os jovens afirmam, de maneira geral, que tudo se deu como estava previsto, como deveria acontecer em virtude de experiências pretéritas que precisavam ser corrigidas.
Em Ação e Reação, cap. XVIII, André Luiz se reporta a desencarnações em um desastre aéreo, referindo o fato como um caso de resgate coletivo, onde todos os envolvidos traziam importantes vínculos com o pretérito de equívocos morais.
No clássico da literatura espírita Memórias de um Suicida, o autor espiritual, Camilo Castelo Branco, diz que em sua próxima existência física ficará cego aos 20 anos e desencarnará aos 60.
Ernesto Bozzano, nos livros A Crise da Morte e Fenômenos Psíquicos no Momento da Morte relata casos de aviso de morte com dia, mês e hora de previsão, absolutamente corretos.
Relacionamos abaixo as principais referências ao tema, buscadas em O Livro dos Espíritos:
I. “Fatal no verdadeiro sentido da palavra, só o instante da morte. Chegado esse momento, de uma forma ou de outra, a ele não podeis furtar-vos.” (item 853)
II. “Assim, qualquer que seja o perigo que nos ameaça, não morreremos se a nossa hora não chegou? – Não, não morrerás, e tens disso milhares de exemplos. Mas quando chegar a tua hora de partir, nada te livrará.” (item 853-a)
III. “A fatalidade consiste nestas duas horas: aquela em que deveis aparecer e desaparecer neste mundo.” (item 859)
IV. “É na morte que o homem é submetido, de uma maneira absoluta, à inexorável lei da fatalidade, porque ele não pode fugir ao decreto que fixa o termo de sua existência, nem ao gênero de morte que deve interromper-lhe o curso.” (item 872)
V. “… um homem deve perecer; sobe então a uma escada, esta se quebra e ele morre. Foram os Espíritos que fizeram quebrar a escada, para que se cumpra o destino desse homem? – … No exemplo que citas, a escada se quebra porque está carunchada ou não era bastante forte para suportar o peso do homem; se estivesse no destino desse homem morrer dessa maneira, eles lhe inspirariam o pensamento de subir na escada que deveria quebrar-se com o seu peso…” (item 526)
VI. “… Um homem deve morrer de raio; esconde-se embaixo de uma árvore, o raio estala e ele morre. Os Espíritos poderiam ter provocado o raio, dirigindo-o sobre ele? -… O raio explodiu sobre aquela árvore, e naquele momento, porque o fato estava nas leis da Natureza. Não foi dirigido para a árvore porque o homem lá se encontrava, mas ao homem foi dada a inspiração de se refugiar numa árvore, sobre a qual ele deveria explodir.” (item 527)
VII. “Um homem mal intencionado dispara um tiro contra outro, mas o projétil passa apenas de raspão, sem o atingir. Um Espírito benfazejo pode ter desviado o tiro? – Se o indivíduo não deve ser atingido, o Espírito benfazejo lhe inspirará o pensamento de se desviar, ou ainda poderá ofuscar o seu inimigo, de maneira a lhe perturbar a pontaria…” (item 528)
E citamos, para concluir, Emmanuel:
“Com exceção do suicídio, todos os casos de desencarnação são determinados previamente pelas forças espirituais que orientam a atividade do homem sobre a Terra.” (Emmanuel-Chico Xavier, O Consolador, item 146.)