• Éder Andrade – Rio de Janeiro/RJ
Os evangelistas contam muitas histórias das passagens de Jesus, como as boas aventuranças e as parábolas. Ensinamentos que servem para nossa reflexão e uma reeducação de nossa conduta moral. Ensinamentos espirituais extremamente contemporâneos para o mundo em que estamos vivendo.
Entre muitas passagens encontramos a Parábola do Juiz Iníquo e faremos uma correlação com as atitudes humanas nos dias atuais, uma forma de refletir na contemporaneidade desse ensinamento doutrinário e uma visão espírita sobre esse comportamento.
Apesar da evolução tecnológica em alguns aspectos, moralmente falando evoluímos muito pouco, pois o egoísmo humano e a arrogância afastam as pessoas umas das outras, dificultando perceber a verdadeira necessidade do nosso próximo.
Até mesmo quando estamos numa posição de ajudar profissionalmente, socialmente ou até mesmo na política, onde poderíamos dar solução ou resolver um problema em relação ao semelhante, nos esquivamos em servir. Porém, por egoísmo, vaidade ou imprudência temos uma atitude de omissão em relação ao nosso compromisso reencarnatório, nos omitindo diante do dever ou da possibilidade do exercício da caridade para com aqueles que necessitam muito mais do que nós mesmos.
Tanto Cairbar Schutel1 como Rodolfo Calligaris2 desenvolveram obras procurando explicar melhor as Parábolas de Jesus. Esses ensinamentos podem perfeitamente ser encontrados nos dias de hoje em personagens que apresentam as mesmas características; a representação simbólica é praticamente idêntica.
Conta-nos então o apóstolo Lucas a Parábola do Juiz Iníquo, um importante ensinamento deixado pelo Cristo, como tantos outros. (Lucas 18:1-8.)
Existia em uma cidade um juiz que atendia às demandas que os cidadãos lhes apresentavam, porém esse juiz era insensível às necessidades das pessoas e nem sempre se interessava pelos problemas daqueles que o procuravam, pedindo que fizesse justiça. Era um homem descrente de Deus e não tinha consideração por ninguém. Julgava as questões de acordo com seus interesses pessoais e não segundo a lei.
Curiosamente, essa situação ainda é muito atual no mundo de hoje, pois a grande maioria das pessoas está mais voltads para seus interesses particulares de ordem material do que para as questões do próximo que nos pede ajuda de ordem existencial ou até mesmo espiritual. Estamos vivendo um momento mais centrados nas nossas questões de foro íntimo, ignorando aqueles que estão ao nosso redor.
Esse fato aconteceu com a Parábola do Juiz Iníquo (mau, perverso ou malévolo), que apenas se interessava pela necessidade dele e dos seus, legislava em causa própria, atendendo apenas a seus interesses. Essa passagem tem uma correlação com o cap. 91 do livro Pão Nosso3, psicografado por Chico Xavier, em que Emmanuel com base em uma passagem de Mateus 27:4 nos exorta a repensarmos as nossas atitudes para com os semelhantes, principalmente quando estivermos numa posição de superioridade material e profissional, porque um dia teremos de encarar a nossa consciência diante das coisas que sabíamos e nada fizemos para modificar.
Somos responsáveis diretos pelas nossas ações e, independentemente de nossas crenças, serão as nossas atitudes o elemento que vai contrabalançar na contabilidade da nossa consciência a questão do certo, do errado e até mesmo do comportamento que tomamos por conveniência, aparentando interesse.
Como excelente exemplo encontramos em O Evangelho segundo o Espiritismo4 a história de Uma Rainha de França (Havre, 1863), em que ela narra: “Que humilhação, quando, em vez de ser recebida aqui qual soberana, vi acima de mim, mas muito acima, homens que eu julgava insignificantes e aos quais desprezava, por não terem sangue nobre!”
Não nos resta dúvida que em algum momento teremos que responder pelas nossas atitudes, até mesmo quando realizamos ações por conveniência e não por amor ou pela justiça de Deus.
Na História do Juiz Iníquo, para ele se ver livre de aborrecimentos, porque não queria mais ser importunado, resolveu manipular, atendendo em favor das causas daqueles que vinham solicitando ajuda, para não mais ser aborrecido com seus pedidos.
Curiosamente encontramos na atitude do Juiz o lado materialista, perverso e mesquinho da humanidade terrestre, que não realiza o bem pelo bem, mas tem atitudes interesseiras, cuja reverberação vai se projetar além desta encarnação como a história acima de Uma Rainha de França.
O conhecimento oferecido pela Doutrina Espírita favorece aqueles que assim desejarem com a reeducação de valores e uma revisão na nossa conduta pessoal diante do semelhante e diante de nós mesmos.
Francisco Cândido Xavier, ao longo de todo seu mandato mediúnico, nos ensinou que: “Somos livres para decidir sobre nossos atos, muito embora nos tornemos escravos das suas consequências”.
Assim como:
“Suas crenças não fazem de você uma pessoa melhor, as suas atitudes sim”.
Referências:
1) Schutel, Cairbar; Parábolas e Ensinos de Jesus; Ed. Clarim.
2) Calligaris, Rodolfo; Parábolas Evangélicas; FEB.
3) Xavier, Francisco Cândido; Pão Nosso; cap. 91 – Isso é contigo; FEB.
4) Kardec, Allan; O Evangelho Segundo o Espiritismo; Cap. II – Uma realeza terrestre – 8; FEB.
5) Wikipédia (Enciclopédia Livre).