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quinta-feira 28 novembro 2024
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Coluna Espírita – Sentir-se inútil

• Márcio Costa – São José dos Campos/SP
Muitos carregam dentro de si o sentimento de inutilidade, como se suas vidas ou suas ações não tivessem nenhuma relevância para os demais. No trabalho, é a sensação de insegurança por acreditar que o colega ao lado faz melhor; em casa, nas atividades do lar, é a falta de motivação gerada na interminável rotina; e em qualquer lugar, sem nada a fazer, é a indiferença, vendo os carros e pedestres num vai-e-vem sem tréguas.
Todos nós, sem nenhuma distinção, estamos aqui por alguma finalidade. Acreditar que nossa vida possa ser inútil ou que ela em nada contribui para o todo em que vivemos é um ledo engano. Em realidade, é desacreditar nos desígnios da Providência Divina.
Tudo no imenso universo tem um propósito, por menor ou maior que seja. Do aglomerado de espíritos, reunidos em massas inumeráveis, surgem as tempestades [1]. Da ação voluntária de espíritos familiares ou simpáticos surge a proteção que nos guia e nos orienta pela senda do bem [2]. Espíritos caridosos e benevolentes guardam hospitais e casas de saúde, acolhendo aqueles que precisam de fluidos regeneradores. Nas zonas umbralinas, legiões devotadas à salvação dos que se encontram nas trevas esforçam-se na recuperação destes.
No plano material, tantos outros exemplos. Do aglomerado maravilhoso de estrelas formam-se as galáxias. Do pequeníssimo grão de areia formam-se as lindas praias. Por meio do voo incessante das abelhas o pólen se espalha, levando a beleza das flores a todo lugar.
Pelas mãos do médico, da enfermeira, da fisioterapeuta e de tantos profissionais desta área, mantém-se a sanidade dos que sofrem. Professores dedicam-se horas ao ensino daqueles que construirão o mundo de amanhã. Engenheiros, operários, arquitetos e pedreiros erguem cidades. Em pentagramas vazios, músicos traduzem a harmonia do universo, brindando-nos com melodias inigualáveis. Nos lares, na labuta diária do almoço, jantar, limpeza e manutenção, estabelece-se a base necessária para que a criança possa ir à escola preparada.
Tantos exemplos, tantas ações em uma dinâmica interminável da qual todos nós fazemos parte. Seja em maior ou menor grau a nossa participação, todos nós contribuímos com os desígnios da Providência Divina enquanto também nos depuramos.
Muitas dos papéis que exercemos nesta vida foram escolhidos por nós mesmos antes da encarnação [3]. Alguns, infelizmente, seguindo seu livre-arbítrio, colocam-se na condição de inutilidade, deixando de lado os propósitos pelos quais encarnaram. Lamentavelmente, à própria custa, perceberão mais tarde os resultados desta escolha e serão os primeiros a escolherem as tarefas mais difíceis em outra encarnação para tentar recuperar o tempo perdido [4].
Mesmo que nossas atividades ou o momento nos faça crer que estejamos sendo inúteis, olhemos à nossa volta. Sem nossos pequenos trabalhos nada de grandioso poderia ser realizado no campo material. No momento em que nos dedicamos a fazer bem-feito aquilo que esteja sob nossa responsabilidade, tudo no entorno material se beneficia. No entorno espiritual não é diferente. O nosso abraço, o nosso sorriso e o nosso acolhimento podem ter uma importância maior daquela que percebemos. Podem salvar o dia de alguém. Podem levar um irmão desanimado a encontrar forças para continuar.
Todos nós encarnamos com a missão de instruir os homens, em lhes auxiliar o progresso; em lhes melhorar as instituições, por meios diretos e materiais. Esta é a resposta que os espíritos apresentam à Kardec na questão número 573 do Livro dos Espíritos.
Logo, todos nós temos algo a fazer. E se não soubermos, basta começarmos pelo caminho da caridade. E já daremos um grande passo.
[1] O Livro dos Espíritos, pergunta 539;
[2] O Livro dos Espíritos, pergunta 491;
[3] O Livro dos Espíritos, pergunta 572;
[4] O Livro dos Espíritos, pergunta 574;
[5] O Livro dos Espíritos, pergunta 573.