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domingo 24 novembro 2024
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Coluna Espírita – Religião sem templos

• José Passini – Juiz de Fora/MG
Encontram-se no Novo Testamento várias afirmativas a respeito da fundação de igrejas por Paulo. O Apóstolo não erigiu nenhum templo, nem estruturou instituição alguma. A palavra igreja – tomada por muitos como templo – no Novo Testamento não significava organização, mas núcleo, conforme a sua etimologia grega: ekklesia, que passou para o Latim ecclesia, chegando ao Português igreja. De acordo com sua origem, significava apenas reunião, núcleo, grupo. Portanto, Paulo fundou muitos núcleos familiares, conforme se verifica pela saudação em suas cartas:
Saudai a Priscila e a Áquila, meus cooperadores em Cristo Jesus. Os quais pela minha vida expuseram suas cabeças; o que não só eu lhes agradeço, mas também todas as igrejas dos gentios. Saudai também a igreja que está em sua casa. (Rm, 16: 3 a 5).
E à nossa irmã Áfia, e a Arquipo, nosso camarada, e à igreja que está em sua casa. (Fi, 1: 2).
As igrejas da Ásia vos saúdam. Saúdam-vos afetuosamente no Senhor Áquila e Prisca, com a
O Espiritismo não edifica templos, e não considera um centro espírita como casa de Deus. Essa ideia de santificação, de sacralização de um lugar, em detrimento de outros, é negativa, pois leva a criatura a ter dois comportamentos: um, respeitoso, para o templo, e outro liberado para o ambiente profano.
Jesus nunca sacralizou lugar algum, nem convidou alguém a buscar determinado lugar por ser sagrado. É de se notar que talvez evitasse repetir suas atuações nos mesmos lugares, como a montanha onde fez o memorável Sermão, a fim de não deixar a ideia de sacralização do local.
No diálogo com a Samaritana, à beira da fonte de Jacó, Jesus desautoriza a necessidade de orar num templo. Essa passagem é muito ilustrativa, no sentido de demonstrar por palavras aquilo que ensinava por atos:
(…) Jesus, pois cansado do caminho, assentou-se assim junto da fonte. Era isto quase à hora sexta. Veio uma mulher de Samaria tirar água; disse-lhe Jesus: Dá-me de beber. Porque os seus discípulos tinham ido à cidade comprar comida. Disse-lhe pois a mulher samaritana: Como, sendo tu judeu, me pedes de beber a mim, que sou mulher samaritana? (Lc, 4: 6 a 9).
A mulher estranhou o fato de aquele homem dirigir-lhe a palavra, por não ser comum um homem dirigir-se a uma mulher desconhecida, e, ainda mais, sendo ele judeu e ela samaritana, pois os judeus e samaritanos, por questões religiosas, não se falavam; até vestiam-se de maneira distinta. Jesus, que estava acima dessas coisas, conversando, demonstrou conhecer-lhe a vida como se fora um livro aberto. Nada lhe era oculto. Maravilhou-se a mulher, dizendo:
Senhor, vejo que és profeta. (Jo, 4: 19).
Os judeus e os samaritanos tinham muito respeito pelos profetas, assim chamados homens de Deus. A mulher, reconhecendo o poder espiritual de Jesus, disse-lhe:
Nossos pais adoravam neste monte, e vós dizeis que é em Jerusalém o lugar onde se deve adorar. (Jo, 4: 20)
Em verdade, essa foi uma conclusão dela, pois Jesus, que nada lhe indicara, nada lhe dissera nesse sentido, respondeu-lhe:
Mulher, crê-me que a hora vem, em que nem neste monte, nem em Jerusalém adorareis o Pai. Deus é espírito, e importa que os que o adoram o adorem em espírito e em verdade. (Jo, 4: 21 e 24).
Fica muito claro que Jesus chamava a atenção para o fato de que chegaria o dia em que o homem se conscientizaria de que Deus, por ser Espírito, não necessitaria de ser adorado num determinado lugar, em determinada hora. Quis o Mestre deixar registrado o seu ensinamento relativo à onipresença de Deus, contrapondo-o àquele ensinamento das religiões que afirmam às criaturas que devem comparecer à casa de Deus para orar.
Entretanto, se há um lugar recomendado por Jesus para a oração é o lar, conforme ensinou no Sermão da Montanha:
Mas tu, quando orares, entra no teu aposento, e, fechando a tua porta, ora a teu Pai que está em oculto; e o teu Pai, que vê secretamente, te recompensará. (Mt, 6: 6).
Esses ensinamentos são libertadores, talvez tenham sido um dos motivos mais fortes para que os sacerdotes desejassem o desaparecimento do Messias. Ele, com seus ensinamentos, estava dando carta de alforria aos escravos do poder sacerdotal, libertando-os daquele jugo terrível, da tirania mais cruel e daninha de que se tem notícia, aquela que usurpa o sentimento do sagrado, latente em todo espírito humano. Os sacerdotes sentiram seu poder fortemente ameaçado: Jesus libertava o homem, simultaneamente, do templo e do intermediário.
Buscando por em prática os ensinamentos e os exemplos de Jesus, o Espiritismo não tem templos para oração. As casas espíritas são locais de trabalhos, cujas realizações têm a precedê-los e a finalizá-los, uma prece. Por isso, o espírita, quando necessita apenas de orar, o faz em seu lar, que o considera como o seu santuário maior.