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domingo 22 dezembro 2024
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Coluna Espírita – Reflexões para a reunião pública

Márcio Costa – São José dos Campos/SP
Faltava pouco para começar a reunião pública. O ambiente já estava harmonizado com a suavidade das músicas e das preces, algumas pessoas nos assentos envolviam-se em silêncio, e outras chegavam aos poucos ocupando os poucos lugares restantes. Naquele dia era esperado que a Casa Espírita ficasse cheia, pois o expositor era um irmão cujo nome era muito bem citado nos corredores do Centro.

Em frente ao público encontravam-se à mesa a dirigente dos trabalhos e uma outra companheira que iria fazer a leitura inicial da noite. As expectativas e os murmúrios começaram a aumentar gradativamente no salão que se enchia de pessoas, agora buscando lugares em pé nos corredores.

Neste momento, ouve-se no corredor principal as vozes do expositor que chegava em companhia de um dos dirigentes da casa. E todos, curiosos, pararam para admirar a figura tão esperada daquela noite. Este, cruzando o meio do salão, ensaiava alguns sorrisos, mas não teve tempo de cumprimentar a todos.

Feita a abertura dos trabalhos e a prece inicial, o nosso orador começou a tratar do tema previsto para aquele trabalho. Com a palavra firme e a voz imponente, dispensava o uso do microfone para estar mais próximo de todos. E com tranquilidade e notória naturalidade, começou a realizar a tão esperada palestra.

O estudo foi conduzido com muita propriedade, o que denotava a preparação prévia e justificava a tamanha expectativa de todos. Sua palavra equilibrada não empregava comentários deletérios, ofensivos e muito menos fugia do assunto em pauta. Ainda outro ponto positivo era que o expositor empregava um vocabulário simples, mas não vulgar, que estava ao alcance de todos. E, além disso, empregava os verbos de forma muito disciplinada, evitando conotações passíveis de um mau entendimento e respeitando opiniões diversas.

Seguro em suas colocações, somente decepcionou no tocante ao seu “eu”. Eventualmente, empregava o “eu” em lugar do “nós”. Fazia menções à sua condição profissional e título, a qual também infelizmente foi destacada pela dirigente da mesa. Outra decepção em suas palavras foi a colocação de anedotas fora do contexto para manter a atenção do público. Se elas mantivessem a sintonia do ambiente seriam até válidas, mas conduziam os expectadores a outros cenários mentais fora dos objetivos de estudo daquela noite.

Era previsto que seu estudo fosse realizado em exatos cinquenta minutos. No entanto, furtou cerca de vinte minutos da atenção de todos, sem nenhuma advertência fraterna da mesa, permitindo que alguns desviassem a atenção para outros interesses.

Ao encerrar sua apresentação foi aplaudido por todos os presentes. Com a vaidade e o orgulho alimentados, cruzou os corredores após a prece final falando somente com o staff que apoiava a sua estadia no Centro.
Deste pequeno fato podem ser colocadas à reflexão diversas questões.

Em um Centro Espírita, todos independente de suas condições morais, sociais, cor, raça, títulos, etc. são irmãos no auxílio ou na busca do acolhimento e da fraternidade. Destacar as condições de uma única pessoa, por maior que sejam os seus dons é, indiretamente, minimizar ou anular a condição de outras. Em nenhum dos livros básicos a Doutrina Espírita orienta a exaltar um trabalhador ou missionário. Apenas referência como modelos a serem seguidos. Todos somos importantes!

O orador é responsável pelas imagens que plasma nas mentes de todos que o assistem.
Encarnados e desencarnados presentes podem levar para suas vidas e para a de outras pessoas os conceitos apresentados em uma reunião pública. Exemplos dados a cada minuto na tribuna podem levar a erros que só anos podem corrigir. Logo, o trabalho de um expositor assume uma responsabilidade não só para com os outros, mas como para si mesmo.

Colocações inadequadas também devem ser fruto da atenção do palestrante. Palavras colocadas a esmo denotam falta de caridade para com o coração de quem ouve. Todos estamos em uma reunião pública para nos sensibilizarmos e aprendermos com as máximas do Cristo, bem como descortinar a vida futura por meio do Consolador prometido.

Cumprir o horário denota disciplina a qual devemos vigiar a todo o tempo. Atrasos no início podem desequilibrar o ambiente preparado pelos que antes chegaram. Atrasos ao fim podem levar a dispersão dos propósitos iniciais do trabalho. Quando passamos do limite do tempo que nos foi concedido, adentramos no tempo de terceiros. O respeito deve ser mútuo entre o que fala e o que assiste.

Os aplausos são uma manifestação cultural e natural de nossa época, sendo compreensíveis em alguns momentos, mas que podem gerar desequilíbrios se o ambiente exigir uma sintonia com a tranquilidade e a paz. Ao invés do elogio que alimenta o orgulho e vaidade, busquemos trocar palavras e gestos pela gratidão aos trabalhos prestados pelo irmão que se dispõe a nos ajudar na reunião pública. Há várias formas de se agradecer sem nos inclinarmos à dispensável bajulação.

Por fim, integrantes de um plano de expiações e provas, ainda cometemos erros naturais e condizentes com as nossas vibrações intelecto-morais. Mas, sempre que possível, devemos buscar minimizar as fontes de nossas falhas. A Casa Espírita deve ser um local de acolhimento e amor. Longe de seus propósitos devem residir manifestações que valorizem expressões de ordem material.
REFERÊNCIA:
Vieira, Valdo. Conduta Espírita (pelo Espírito de André Luiz).