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quarta-feira 12 fevereiro 2025
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Coluna Espírita – Quem mais sofre é quem tem mais tempo para si

• Ricardo Baesso de Oliveira – Juiz de Fora/MG
Um reumatologista amigo, às voltas com dores crônicas na coluna e nos joelhos, me disse, brincando:
– Quando um paciente começa a se queixar de dores, eu lhe pergunto: “Suas dores são maiores que as minhas? Porque, se não forem maiores, vamos deixar para lá”.
A dor é uma sensação tão íntima e subjetiva que ninguém pode avaliar a dor do outro. Mas, são condições inerentes à própria vida. Ninguém passa pela existência física imune a aflições, desencantos, dores físicas e morais.
Existem sofrimentos que são evitáveis, outros não. São evitáveis os sofrimentos que decorrem de ações equivocadas, de escolhas erradas, ou de comportamentos indesejáveis. A pressa, a imprudência, os excessos, os descuidos, a desinformação, a má fé, a ingenuidade ou a prática desonesta respondem por muitas vicissitudes humanas que poderiam ser evitadas.
Outros sofrimentos não podem ser evitados, pois estão no DNA da existência física: nascer, crescer, deparar-se com as angústias da adolescência, gestar e parir um filho, sepultar os pais, ou envelhecer são condições geradoras de sofrimentos, e quase ninguém pode se furtar a elas.
A forma de lidarmos com as dores vai definir o impacto delas em nossa vida.
Chico Xavier dizia que quem mais sofre no mundo é quem tem mais tempo para si mesmo. Quando o sofrimento alheio nos incomoda, o nosso não nos incomoda tanto… a gente tem a mania de dramatizar em excesso a própria dor.
Deparei-me, nestes quarenta anos de prática médica, com pessoas que me davam a impressão de se terem rendido ao sofrimento. Algumas foram perseguidas por uma série de situações tão dolorosas, que tiveram minadas todas as forças que lhes permitiam prosseguir. Precisavam mesmo de acolhimento, amparo e cuidado.
Outras, no entanto, eram felizes na infelicidade, porque, de alguma forma, se beneficiavam do infortúnio. Mantinham o marido ou a esposa, o filho ou a filha, ou os pais vinculados a elas em virtude da infelicidade. Ou, ainda, levavam a vida sem assumir as próprias responsabilidades, vivendo à custa de um forçado auxílio-doença previdenciário. Em relação a estes últimos, muitos de nós, por imaturidade, os víamos como coitadinhos. Isso em nada ajuda, podendo, até mesmo, agravar a situação. Afinal, defunto quando acha quem o carregue, balança.