Search
domingo 24 novembro 2024
  • :
  • :

Coluna Espírita – Perda de entes queridos

• Márcio Costa – São José dos Campos/SP
Logo após o término da reunião pública, dona Flores se levantou e, como de costume, começou a cumprimentar os amigos que estavam presentes.
– Que bom vê-la sempre por aqui, dona Flores – esboçou um dos frequentadores da Casa Espírita ao ver a carismática senhora. Sua presença constante é uma alegria para todos nós!
– Ah, Fernando, muito obrigada pelo carinho – respondeu sorrindo timidamente. Aqui me sinto muito acolhida. Principalmente pelo conforto que sinto e que alivia a saudade que tenho de minha mãe.
Sensibilizado e surpreso com a resposta, Fernando completou:
– Ela desencarnou recentemente?
– Não, não, Fernando, veja a minha idade. Já há muitos anos que ela partiu. Mas até hoje não me conformo. Penso nela todos os dias, em todos os momentos.
Todos em volta, comovidos, foram tomados por completo silêncio. Em seguida, acolheram e orientaram a querida irmã. * * *
Não é fácil aceitar a perda de entes queridos. Até mesmo para muitos espíritas, a aceitação ocorre na mente, mas demora a chegar ao coração. No fundo do peito a saudade aperta e cria um vazio inexplicável, difícil de ser preenchido por quaisquer outras coisas.
São os pais que nos deixam, levando toda a nossa base e o porto seguro de nossas vidas (Pelo Espírito André Luiz, 2014). São amigos que partem em situações inusitadas de saúde ou acidentais, às vezes ainda na flor da idade. Parentes próximos, filhos, filhas e até mesmo netos queridos. E quanto mais novos, mais difícil aliar a razão aos sentimentos.
Nestes momentos, esquecemos a situação transitória na qual estamos inseridos em nosso planeta. Somos viajantes seculares pelos caminhos da reencarnação, alternando papéis e elos de ligação conforme nossas afeições terrenas ou espirituais (KARDEC, 1864).
Em épocas remotas entrelaçamos nossas relações com outros espíritos por meio das mais diversas afinidades no campo material ou espiritual, ou ainda, pelos débitos contraídos. Semelhantes a alunos em uma mesma fase escolar, frequentando um plano terrestre de expiações e provas por séculos, passamos a formar uma imensa família de relacionamentos dos quais somente uma parte é percebida em cada encarnação. Outros permanecem nos planos espirituais seguindo seu caminho; ou nos protegendo e amparando; ou, ainda, até mesmo nos obsediando, conforme aquilo que plantamos nestes relacionamentos em cenários pregressos.
Mergulhados na carne os nossos sentimentos se estreitam com aqueles que nos são próximos. Assim, sob a legítima intenção de acolher e amar, alguns até transformam aqueles a quem dedicam atenção em prisioneiros das próprias exigências, sem que percebam tal feito (Pelo Espírito Emmanuel, 2005).
Na hora da despedida temporária, pois somente o corpo físico se extingue, é justo que se extravasem os sentimentos gerados pela grande perda. Mas é importante que as lágrimas derramadas estejam acompanhadas por intenções motivadoras em relação àquele que parte. Em outras palavras, não chorar envolvendo o recém-desencarnado em laços fluídicos que lhe aprisionem na encarnação que deixou. O lamento triste neste plano pode se tornar um tormento para aquele que já se encontra em nova dimensão.
E quanto mais tempo mantermos “aprisionando” o irmão em nossos sofrimentos, mais dificuldade ele terá de se adaptar à nova situação e voltar a progredir (KARDEC, 1995).
Esta hora é difícil para todos e não há nenhuma dúvida disso. Mas busquemos acreditar nos desígnios da Providência Divina. Aquele que cedo deixou estes planos pode ter sido poupado das mazelas da carne ou das tentações materiais que lhes conduziriam a contrair novos débitos. Deus é soberanamente justo e misericordioso (KARDEC, 1995).
Cabe a nós, Espíritas ou não, mesmo no momento de dor, entoar preces em favor dos que partiram. Peçamos aos bons amigos de luz que transformem nossas palavras em pensamentos de acolhimento e conforto para aqueles que amamos. Que a resignação possa estar presente nos corações dos que partem e dos que ficam, confiantes nos sábios desígnios de Deus. A perda de hoje é temporária diante da eternidade do universo. Logo, consoladora é a verdade de que no futuro ambos poderão estar juntos novamente.
Sentir a falta é natural. Mas sempre que este sentimento tomar feições de apego e sofrimento, busquemos canalizar estas energias em quadros de amor direcionados aos nossos entes queridos. Tristeza pode ser plasmada em nossa mente em irradiações sinceras de incentivo e desejo de continuado progresso. O benefício ocorrerá nos dois planos. Ninguém, em nenhum lugar, nunca estará desamparado por Deus.

Referências:
KARDEC, A. Revista Espírita. 1864.
KARDEC, A. O Evangelho Segundo o Espiritismo. [s.l: s.n.]. v. 25
Pelo Espírito André Luiz. Nosso Lar. 64. ed. Brasília: FEB, 2014.
Pelo Espírito Emmanuel. Encontro Marcado. Brasília: FEB, 2005.