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domingo 13 outubro 2024
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Coluna Espírita – Passe e fluido vital

• Rogério Miguez – São José dos Campos/SP
Todas as Doutrinas, não importa sobre o que versem, após serem elaboradas e divulgadas por seus autores, estão sujeitas a interferências daqueles para quem foram preparadas: os leitores, aprendizes ou seguidores.
Entretanto, tudo indica existir uma tendência no homem para modificar a proposta original, não importa quem seja o seu autor, tampouco qual seja o seu conteúdo. Isto se deu com Jesus, embora Ele não tenha deixado nada escrito, porém, como alguns escreveram sobre seus exemplos e ditos, os Evangelistas, estes escritos sofreram inúmeras adulterações e modificações.
Com o Espiritismo não poderia ser diferente. Há inúmeras “criações” de aprendizes da Doutrina, não se sabendo bem por qual razão, modificando os textos originais.
Entre tantas, temos: “O passista não transfere fluido vital para o assistido.” Não se sabe quem criou esta novidade, tampouco de onde veio a proposta, mas, infelizmente, tem sido ensinada.
O princípio vital, como aprendemos dos Espíritos, dá vida à matéria, sem ele, só há matéria inerte. Sem fluido vital a matéria permanece inanimada ou inativa. Todos nós recebemos uma cota deste fluido, impregnando os órgãos do corpo físico, de modo a mantê-lo em funcionamento ao longo da vida, contudo, devemos providenciar a absorção de novos fluidos, pois há um desgaste natural destes para manter o funcionamento da máquina corporal.
Usamos fluidos até para pensar1: “É que, com efeito, o pensamento é uma emissão que ocasiona perda real de fluidos espirituais e, conseguintemente, de fluidos materiais, de maneira tal que o homem precisa retemperar-se com os eflúvios que recebe do exterior. […] um pensamento bondoso traz consigo fluidos reparadores que atuam sobre o físico, tanto quanto sobre o moral.”
Uma das formas de se restituir este fluido acontece através do passe magnético.
O passista, por força de sua vontade, transmite fluidos, não sendo estes apenas os fluidos espirituais oriundos dos Espíritos, são também fluidos mais materiais, fundamentais no processo de reajuste ou reequilíbrio físico de quem os recebe. Estes fluidos combinados podem promover o equilíbrio material e mesmo literalmente curar um organismo doente, depende da qualidade do fluido inoculado no perispírito e organismo do necessitado.
Esta possibilidade foi documentada por Allan Kardec em O Livro dos Espíritos. Ao comentar a resposta à questão 70, assim se expressou2: “O fluido vital se transmite de um indivíduo a outro. Aquele que o tiver em maior porção pode dá-lo a um que o tenha de menos e em certos casos prolongar a vida prestes a extinguir-se.”
Observa-se não ter sido dito ser esta transmissão possível de acontecer apenas por um passista, não, este mecanismo divino contempla todos os humanos, e cremos até os irracionais. É possível transferir fluido vital de uma pessoa a outra, sendo esta a razão de indivíduos, ao se encontrarem, por exemplo, um bem cansado, desanimado e em depressão, e o outro bem disposto, alegre, de bem com a vida; após o encontro a situação pode se inverter, pois ao dialogar, apertar as mãos, trocando olhares durante a conversa, é possível àquele com mais fluidos transferi-los para o mais necessitado, inclusive sem o desejar, há uma absorção, entre um e outro. Entretanto, se houver doação em demasia, o transmissor poderá se sentir desgastado instantaneamente.
Durante um passe, o fluxo de fluidos se dá, em princípio, com mais intensidade, havendo uma transferência maior de fluido vital para o receptor do passe.
O Sábio Gaulês registrou outra menção direta a esta possibilidade3: Por meio de cuidados dispensados a tempo, podem reatar-se laços prestes a se desfazerem, e restituir-se à vida um ser que definitivamente morreria se não fosse socorrido? ? “Sem dúvida e todos os dias tendes a prova disso. O magnetismo, em tais casos, constitui, muitas vezes, poderoso meio de ação, porque restitui ao corpo o fluido vital que lhe falta para manter o funcionamento dos órgãos.”
Neste caso, não é apenas saúde a se restituir ao doente, é possível mesmo impedir a desencarnação do Espírito.
É de se perguntar, se de fato não transferíssemos fluido vital entre nós, o que o passista estaria fazendo ao trabalhar no passe? Mero condutor dos fluidos espirituais? Mas se fosse assim, acreditamos, os Espíritos poderiam dispensar totalmente os passistas e magnetizadores encarnados promovendo a transferência de fluidos mais etéreos diretamente aos doentes em desarmonia psíquica e física. Contudo, nesta última forma, os resultados seriam diferentes, pois faltariam os fluidos mais densos característicos e necessários dos encarnados.
É de notar, quando uma possibilidade é verdadeira ela é repetidamente reescrita. O leitor está convidado a ler ou reler os registros em A Gênese, cap. XIV, sobre Curas nos itens 31 a 34.
E quando se fala em fluido magnético, fala-se em fluido vital, basta revisitar mais uma questão em O Livro dos Espíritos, para certificar-se desta realidade4: De que natureza é o agente que se chama fluido magnético? ? “Fluido vital, eletricidade animalizada, que são modificações do fluido universal.”
Cientes deste mecanismo divino, todos aqueles a se apresentarem nas atividades de passes, devem se esmerar para portar os melhores fluidos vitais, de modo a transmitir de fato saúde e harmonia, pelos fluidos, a todos aqueles que os procuram, sejam nos centros espíritas, sejam no dia a dia, pois a lei não se restringe aos ambientes espíritas, ela funciona em qualquer lugar e situação; se expressa através de um aperto de mão, um abraço bem dado, uma troca de olhares com caridade e carinho, conforme anteriormente citado.
São muitas as formas de se transmitir os salutares fluidos magnéticos: Transmitamo-los, pois!
1 KARDEC, Allan. A Gênese. cap. XIV, Qualidade dos fluidos, item 20
2 _____. O Livro dos Espíritos. q. 70
3 _____._____. q. 424
4 _____._____. q. 427